Matheus Leitão em lançamento do livro "Em nome dos pais",
em Brasília. (Sérgio Lima/Poder360).
Em nome dos pais, Autor: Matheus Leitão, Editora: Intrínseca,
Ano: 2017, Páginas: 448.
Publicado originalmente no site Poder360, em 04 de junho de 2017.
Livro narra jornada do autor em busca de responsáveis pela
tortura dos pais
Jornalista reconstitui fatos inéditos do período militar
Obra conta a história de Míriam Leitão e de Marcelo Netto
Por Rodrigo Zuquim.
Em 3 de dezembro de 1972, na capital do Espírito Santo, os
jornalistas Míriam Leitão e Marcelo Netto foram abordados por homens armados. O
país vivia uma ditadura. À época estudantes universitários –ela cursava
filosofia; ele, medicina–, os jovens seguiam rumo à praia, numa manhã de
domingo. Os homens desembarcaram de uma Veraneio militar, disfarçada de veículo
civil. Levaram o casal. Míriam tinha 19 anos. Marcelo, 22. No lugar do mandado
de prisão, mostraram uma metralhadora. Em vez da praia, o destino foi o 38º
Batalhão de Infantaria, onde Míriam e Marcelo seriam torturados.
“Em nome dos pais” é o resultado da busca obsessiva de 1
filho, Matheus Leitão Netto, para recuperar a história dos pais, esclarecer
pontos obscuros e, ao contar o que aconteceu, fazer-lhes alguma justiça. Não a
das leis, mas a das luzes. Iluminar fatos então submetidos à sombra dos porões.
Conferir-lhes existência, a fim de que se possa, enfim, superá-los.
Também a obsessão jornalística (Matheus seguiu a profissão
dos pais) num empenho de investigação que o levaria a reconstituir fatos
decisivos para a desarticulação do Partido Comunista do Brasil durante o regime
militar.
A maneira pela qual o jornalista conta a história explora
bem as possibilidades do livro-reportagem. Ora trama detetivesca e registro
histórico, ora relato pessoal e biográfico, a narração perambula pelo passado e
pelo presente e intercala a voz dramática da memória com a letra fria dos
documentos.
O objetivo inicial que move o autor é a busca pelo delator
de seus pais. Ao encontrá-lo, rearranja seu alvo. Dá-se conta de que o mal não
está no traidor que sucumbiu ao medo da tortura e decidiu entregar os
parceiros. Havia um responsável pelo que acontecia no 38º Batalhão, conhecido
por Guilherme. Capitão Guilherme. Era no ato deliberado, na escolha voluntária
daquele comando, que residia o mal. Encontrar o capitão passa a ser a nova
meta.
Há alguns trechos que poderiam talvez ter sido abreviados em
nome da fluidez geral do texto. Por exemplo, os diálogos mantidos com seus
documentaristas no transcurso das viagens que fazem para as entrevistas ou as
divagações de teor religioso. Essas passagens têm relevância menor para a
história principal. Entretanto, não diminuem a força da obra.
Em dado momento, suspende-se a narração dos fatos (tão duros
e ásperos) e cede-se espaço à voz ficcional, que introduz uma aventura
imaginada. Um breve interlúdio ao leitor. Matheus transcreve algumas páginas de
1 romance inacabado, encontradas por acaso nas estantes do pai. Dois amigos
planejam explodir as pontes que ligam Vitória ao continente, com o plano de
ocupar a capital do Espírito Santo e dar início a uma revolução. Apesar da
premissa extrema, lê-se naquelas páginas apenas o sonho febril, em parte
ingênuo, de uma aventura idealista. Uma história de amigos.
“Em nome dos pais” trata, por fim, do gesto de 1 filho a
correr em socorro dos pais, depois de tudo, para dizer à jovem Míriam e ao
jovem Marcelo que tudo ficaria bem.
Texto e imagem reproduzidos do site: poder360.com.br
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