terça-feira, 1 de julho de 2025

Mulheres são a esperança do Irã

Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 30 de junho de 2025 

Mulheres são a esperança do Irã
Por Fernando Gabeira (In Blog)

A guerra nos bombardeia com fatos e versões. No curto tempo que sobra, tento entender um pouco melhor seus grandes atores: Israel e Irã. A história de Israel como Estado é curta, mas cheia de peripécias. No caso do Irã, tentei revisitar alguns textos, enquanto caíam as bombas.

Um documento muito discutido na época foi a série de reportagens de Michel Foucault no Irã, feitas na véspera da Revolução Islâmica. Ele foi a Teerã duas vezes em 1978, a convite do jornal italiano Corriere della Sera. O regime do xá Reza Pahlavi estava no fim, com o Exército massacrando milhares na Praça Jaleh.

A leitura da Revolução Islâmica realizada por Foucault foi tema de muita discussão. Ele parecia mais interessado na emergência de novas ideias, vindas de baixo, fora dos círculos universitários, que traziam um sopro de modernidade à política: a variável espiritual.

A modernização representada pelo governo do Xá era limitada e tinha fortes componentes arcaicos. Mas a Revolução Islâmica, no meu entender, não poderia ser vista apenas como introdução da espiritualidade. Era a vitória de uma visão religiosa rígida, que determinava como os iranianos deveriam se comportar em suas vidas. As meninas passariam a usar véu.

Por isso, além da visão de Foucault, me interessou muito há alguns anos a leitura do livro de memórias de Azar Nafisi, “O que eu não contei”. Uma professora de literatura ocidental cuja família de políticos e intelectuais nos dá, por meio de sua história, um vislumbre da evolução do país. Nafisi é uma estudiosa de Vladimir Nabokov e escreveu um best-seller mundial: “Lendo Lolita em Teerã”. A mãe de Nafisi foi deputada, o pai prefeito de Teerã. Aos olhos de mulher, a Revolução Islâmica foi um grande retrocesso:

— Vimos as mulheres tornando-se ativas em todos os setores da vida, governando no Parlamento, entre elas minha mãe, e tornando-se ministras. Então em 1984, minha filha, nascida cinco anos depois da Revolução Islâmica, volta a viver as mesmas leis repelidas por minha avó e minha mãe. Sua geração terá de encontrar seu próprio caminho de coragem e resistência.

Uma importante profecia. De lá para cá, as mulheres resistem bravamente ao regime teocrático. Na verdade, o livro de Nafisi fala do primeiro protesto. Por causa da decretação do uso obrigatório do véu (hijab), houve uma grande manifestação no 8 de março de 1979. Vigilantes do novo regime chegaram a usar ácido contra mulheres sem véus, que gritavam:

— A liberdade não é ocidental nem oriental, é global.

Em 2006, elas realizaram a campanha por 1 milhão de assinaturas para exigir mudanças em leis discriminatórias sobre divórcio e guarda de filhos. Em 2009, o Movimento Verde, para denunciar fraudes nas eleições, foi amplamente divulgado no mundo, com a imagem de Neda Agha-Soltan, assassinada durante os protestos.

A luta das mulheres jamais parou. A partir de 2017, elas subiram em postes e retiraram o hijab em sinal de protesto. Em 2022, de novo grandes protestos pelo fim da jovem curda Mahsa Amini, que morreu sob a custódia da polícia moral, presa sob a acusação de uso inadequado do véu. A polícia moral era uma decorrência da visão religiosa rígida, que não é subproduto da espiritualidade.

Nafisi, que nasceu e viveu no Irã, refletindo sobre a vida de suas antepassadas, talvez tenha percebido melhor que Foucault a trajetória da Revolução Islâmica. A aplicação da sharia, a lei islâmica, ou mesmo a substituição de um texto constitucional pela Bíblia, como querem alguns no Brasil, deveriam ser rejeitadas. As sociedades se tornam complexas, e a tolerância com a diversidade é essencial.

Dito isso, é preciso reconhecer que regimes revolucionários não caem por impulso externo. Será preciso que a oposição derrube. Assim como a destruição do aparato nuclear por meio das bombas não é o melhor caminho, diante da possibilidade de acordo, no quadro do Tratado de Não Proliferação. No momento de guerra, essas teses são subestimadas. Logo, logo, sua força se imporá.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira com br

Irã perdeu a guerra, mas vai atacar com máfias, proxies e terror

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 29 de junho de 2025

Irã perdeu a guerra, mas vai atacar com máfias, proxies e terror.

Enquanto as atenções do público se concentram no Oriente Médio, o Irã já fincou suas bandeiras em terras latino-americanas. Leonardo Coutinho para a Gazeta do Povo:

A guerra, ao contrário do que romantizam os tratados, raramente tem um fim. Ela muda de forma, de campo de batalha, de intensidade, mas continua ainda que de forma fria. Nesta semana, vimos Irã e Israel selarem um acordo de cessar-fogo que deu uma pausa no ciclo de hostilidades que muitos temiam evoluir para um conflito de grandes proporções. No centro das decisões que inverteram a lógica destrutiva do embate está um homem que, para muitos de seus críticos, é sinônimo de guerra, mas que, na prática, agiu para evitá-la: Donald Trump.

A ordem de Trump para bombardear as instalações nucleares iranianas foi interpretada por uns como uma escalada irresponsável.

Mas, para quem observa com atenção os movimentos estratégicos por trás das decisões, ela foi uma ação cirúrgica. Um ataque de força, sim, mas motivado por um impulso paradoxal: evitar uma guerra total que arrastaria os Estados Unidos para mais um conflito sangrento no Oriente Médio.

Trump conhecia bem o adversário. Durante seu primeiro mandato, ele desmantelou o acordo nuclear com o Irã e impôs um regime de sanções sem precedentes. Não por capricho ideológico, mas porque compreendia que o Irã revolucionário não negocia para fazer concessões. Negocia para ganhar tempo. E foi justamente o tempo, e mais do que urânio, que os aiatolás acumularam nas sombras desde o acordo assinado por Barack Obama, em 2015.

Ao ordenar o bombardeio, Trump impôs um novo tipo de lógica. Demonstrou que, embora se recuse a envolver os EUA em aventuras militares prolongadas, não hesitará em usar a força para impedir que o pior aconteça. No cálculo de Trump, permitir que o Irã se tornasse uma potência nuclear significaria abrir as portas do inferno: proliferação no Golfo, chantagem contra aliados, ataques diretos a Israel, e um impulso renovado aos braços assimétricos de Teerã espalhados pelo mundo.

O cessar-fogo que se seguiu não é, portanto, uma vitória. É uma pausa. Uma suspensão armada. Para o Irã, que sempre foi mestre na arte da guerra indireta. O país dos aiatolás sabe que não pode vencer uma guerra convencional contra os Estados Unidos ou Israel. Mas pode desgastá-los. E é justamente aí que o jogo muda de hemisfério.

Enquanto as atenções do público se concentram no Oriente Médio, o Irã já fincou suas bandeiras em terras latino-americanas. Em um relatório recente, o Center for a Secure Free Society (SFS) expõe o aprofundamento da presença iraniana na América Latina. Através de sua principal ferramenta de projeção externa, o Hezbollah, Teerã construiu uma teia de alianças com regimes autoritários, redes criminosas e grupos ideológicos radicais ao longo das últimas quatro décadas.

O eixo formado por Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Cuba funciona como uma plataforma estratégica para a ação iraniana no continente. Na Venezuela, o Hezbollah atua com liberdade logística e proteção institucional. Usa a fachada de centros culturais e instituições islâmicas para doutrinação e recrutamento. No submundo, participa de esquemas de lavagem de dinheiro, tráfico de ouro e contrabando de armamentos. A convergência entre terrorismo e crime organizado, já identificada em anos anteriores, atingiu um novo patamar de sofisticação.

O Brasil também está no mapa das assimetrias do Irã. O país é berço de células adormecidas com histórico de atividades já letalmente conhecidos. O atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina, em 1994, contou com a participação de membros do Hezbollah e prepostos do Irã estacionados no Brasil. No Chile, recentemente, alertas de inteligência detectaram tentativas de infiltração em comunidades árabes. No México, as rotas do narcotráfico já servem como canais de entrada para armamentos e recursos. Na Argentina, onde o Hezbollah já esteve envolvido diretamente em dois atentados, as autoridades registram diversos casos de iranianos tentando entrar no país portando documentos falsos.

Essa infraestrutura é vital para a estratégia assimétrica do Irã. Em vez de confrontar diretamente com potências rivais militarmente mais poderosas, prefere usar de seus proxies para atos de terrorismo, gerar instabilidade ou até mesmo conflitos por procuração. Um atentado contra uma sinagoga em Buenos Aires, uma explosão contra diplomatas em Bogotá, um sequestro em Manaus; qualquer um desses atos pode ser interpretado como parte de um padrão. Um padrão de guerra sem frente, sem uniforme, sem fim.

Trump sabia disso. Foi por isso que tratou o Hezbollah como uma ameaça de segurança nacional e pressionou para que mais países o classificassem como organização terrorista. Foi também por isso que reforçou a aliança com governos latino-americanos dispostos a resistir à infiltração iraniana. Não se tratava apenas de diplomacia regional era contenção geoestratégica.

O mundo pós-21 de junho data dos bombardeios às instalações iranianas ficou mais seguro, mas não menos revolto. Sabemos, com dolorosa evidência, que o Irã não desistirá de seu projeto revolucionário. Sabemos que o mesmo Hezbollah, que agoniza decapitado no Líbano, segue intocável em seus redutos no exterior.

Há tempos, o Oriente Médio se mostrou ser um cemitério de promessas diplomáticas onde a paz é apenas um soluço no constante estado de guerra. No caso do Irã, a guerra nunca cessou. Ela mudará de continente e forma.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

A fadiga do discurso conspiratório e autocentrado de Bolsonaro na Av.Paulista

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 29 de Junho de 2025

A fadiga do discurso conspiratório e autocentrado de Bolsonaro na Avenida Paulista

O ex-presidente mostrou-se incapaz de entregar mais do que ideias repetidas para reafirmar as convicções e emoções de seus apoiadores. Diogo Schelp para o Estadão:

Nem a sonoplastia dramática, acionada quando a voz ganhava certa intensidade, salvou o discurso de Jair Bolsonaro do marasmo. O público de verde e amarelo reunido na Av. Paulista neste domingo, 29, certamente saiu dali satisfeito com a oportunidade de prestar apoio ao seu líder político e de reafirmar as próprias convicções, como a teoria de que os atos de 8 de janeiro foram fabricados pela esquerda, e emoções, como o ódio a Alexandre de Moraes e a Lula, mas Bolsonaro já não é mais capaz de entregar muito mais do que isso.

A fadiga com o que ele tem a dizer é evidente. A repetição de bordões, como “Deus, pátria, família e liberdade”, e da retórica messiânica (“valeu a pena o sacrifício”) nem é o maior problema. A questão é que há uma desconexão entre o que Bolsonaro tenta ser para seus apoiadores, ou seja, o salvador da pátria (“a missão do capitão não acabou, ele ainda vai contribuir muito com o Brasil”, disse o governador Tarcísio de Freitas), e o que o ex-presidente realmente pode fazer por eles.

O máximo de esperança que Bolsonaro consegue oferecer aos seus admiradores é o de “mudar o destino do Brasil” se eles elegerem “50% da Câmara e 50% do Senado”. Uma fala que, analisada pelo ângulo correto, expõe a esperança que ele tem de mudar o próprio destino se seu grupo político conseguir a maioria absoluta no Congresso Nacional.

Bolsonaro quer mesmo é salvar a si próprio, não a pátria.

Tão entediante quanto falar mais uma vez que comprou vacina para todos, mas não tomou por causa da sua “liberdade”, ou que o Tribunal Superior Eleitoral “colocou” Lula na presidência foi a tentativa de dar visibilidade ao menos carismático de seus filhos, o Carlos, cuja pretensão é se lançar ao Senado por Santa Catarina. “O marqueteiro aqui me botou na presidência da República”, disse Bolsonaro, enquanto Carluxo, ao seu lado, colocava a mão de forma desajeitada, quase constrangida, sobre seu ombro.

O que deveria ser o ponto alto do discurso do réu por golpe de Estado, a julgar pelo tom de voz e pela quantidade de vezes que ele repetiu a frase, soou mais como uma confissão do que como a descrição de um ato de coragem: “Algo que me fez sair do Brasil não era apenas não passar a faixa. Jamais eu passaria faixa para ladrão. Jamais passaria faixa para ladrão.” E seguiu a ladainha sobre anistia, sobre injustiça, sobre ser preso ou ser morto, sobre a verdade que liberta e sobre pacificação. A Av. Paulista assistiu a um show de fadiga política.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

quinta-feira, 26 de junho de 2025

O novo pobre. Triste fim aguarda o “novo pobre”

Imagem extraída do YouTube e postada pelo blog, 
para simples ilustração da presente postagem

Publicação compartilhada do Blog de Cláudio Nunes/Infonet, de 26 de junho de 2025

O novo pobre. Triste fim aguarda o “novo pobre”

Blog Cláudio Nunes: a serviço da verdade e da justiça

“O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter.” Cláudio Abramo.

O novo pobre.

Texto para reflexão do cidadão e leitor deste espaço Ricardo Porto de Miranda

 O termo emergente virou moda nos anos 80 fazendo referência à nações em desenvolvimento que ansiavam por mais espaço e participação nos blocos econômicos de poder.

Associou-se também por analogia, na mesma época, àquelas pessoas físicas que ascenderam socialmente nas classes sociais, em virtude dos ganhos de determinada parcela da população, que em virtude do crescimento do terceiro setor (serviços), passaram a ocupar espaços relevantes entre a elite tradicional, ainda que sem o verniz cultural e histórico da burguesia quatrocentona.

Eram os “nouveau riche” , expressão francesa que se espalhou ao se referir à esses grupos de novos ricos.

O Brasil, por sua vez, não poderia passar incólume à essas questões sociais, e em contribuição “Sui Generis” à sociologia moderna, inovou e renovou a sociedade com a criação de um curioso tipo, o “novo pobre”.

E ele está por aí, livre, leve e solto.

Tal qual os emergentes, não tem cultura e conhecimento sobre a luta, a origem e as conquistas das classes trabalhadoras . Nem sobre seu real status social. Idiotizado pelo baixo nível de instrução formal, só consegue se informar através de grupos de Whatsapp dos quais participa (na verdade prefere ver imagens e vídeos).

Segue influenciadores de direita que repetem chavões de fácil compreensão sem nenhum aprofundamento ou seriedade intelectual.

Acredita que por ser motorista de aplicativo, está no caminho certeiro de se tornar milionário dono de transportadora, que por ter uma bodega na periferia da cidade, está mais próximo ideologicamente de um dono de rede de supermercados do que do seu vizinho CLT.

E para tanto defende políticos e políticas que atacam as classes sociais mais baixas. É contra o bolsa família e acha um absurdo “sustentar”, na sua visão, aqueles que se negam a trabalhar pois só querem receber bolsas e auxílios temporários de R$ 600,00.

Sem entender absolutamente nada sobre política econômica, imposto sobre a renda das classes dominantes, e benefícios a grupos econômicos que privatizam o lucro e socializam o prejuízo, se alia aos poderosos feliz e convicto de que está na vanguarda do positivismo transformador.

Enfim, reclama do SUS, fala mal dos feriados e endeusa blogueiros e blogueiras que reproduzem dancinhas e chavões enquanto se esbaldam nas festas e viagens bancadas pelos novos pobres.

O final dessa história não será saboroso. Quando mais velhos e sem tanta disposição pra trabalhar e sustentar aqueles que o exploram, terá a apoiá-lo apenas o SUS que ajudou a sucatear, e o INSS (pra quem não contribuiu) com proventos abaixo do mínimo necessário pra sua sobrevivência.

Triste fim aguarda o “novo pobre”.

Política é algo muito sério e de impactos poderosos na vida das pessoas. Tratar esse tema sem aprofundar as discussões e enfrentar as verdadeiras causas é perigosíssimo.

Melhor despertar antes!

E sobre sua ascensão social… eu conto ou vocês contam????

Artigo reproduzido do site: infonet com br

terça-feira, 24 de junho de 2025

Em entrevista no 'Mano a Mano', Lula diz ser o povo que chegou à Presidência


'Empatia com quem sofre na guerra', por Fernando Gabeira


 Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 23 de junho de 2025

Empatia com quem sofre na guerra.
Por Fernando Gabeira (In Blog)

Escritores têm uma característica comum: o impulso irresistível de se colocar no lugar do outro. Logo, não importa onde estoura uma guerra, a tendência é estar mentalmente no teatro de operações. Sofri muito com o frio e a bruma sobre o oceano na Guerra das Malvinas. O desconforto voltou na madrugada em que Israel iniciou uma série de bombardeios em Teerã, e alguns mísseis foram disparados contra Tel Aviv. Fui ao banheiro e lembrei-me da guerra começando. Acendi a luz, abri a torneira e tive certo alívio: a água corria, havia eletricidade.

Pensei em Teerã e Tel Aviv. Será que, com esses bombardeios, tudo está funcionando? Tel Aviv dispõe de abrigos subterrâneos; logo, as pessoas têm para onde ir. E Teerã, uma cidade com 10 milhões de habitantes, sem nenhum abrigo? Não há saída, exceto deixar a capital.

Milhões se deslocando criam enormes engarrafamentos nas estradas. Os postos de gasolina fecham ou reduzem suas vendas a 10 litros. Lembrei-me de uma reportagem no Jornal do Brasil na década de 1960: Copacabana pode morrer de susto. Se todos saíssem de carro ao mesmo tempo, seria um desastre no bairro. Imaginei-me vizinho de um cientista nuclear. Minha garganta estaria em fogo, os olhos ardendo pela fumaça das explosões. E a fuga? Para onde ir de repente?

Leio o relato de um poeta iraniano. Ele foi para uma cidade do interior, onde moram parentes. Mas a pequena cidade já estava cheia; os mercados esgotados com tanta procura. Já que tinha perdido o sono, imaginei-me em Tel Aviv. Sirenes tocando, corrida para os abrigos. Passei a tarde lendo um livro sobre o Mossad, “Rise and kill first”, de Ronen Bergman. É sobre o serviço secreto israelense, cuja história se confunde, a partir de certo momento, com a própria História do país.

Leio que existia uma discussão interna sobre o que fazer com o programa nuclear iraniano. Bombardear ou matar seletivamente os cientistas? Matar era mais fácil. No princípio, seis cientistas foram mortos, e o método era relativamente simples: motociclistas armavam as bombas nos carros deles. Imaginar-se em Tel Aviv significa conviver com algo que nem todos os países têm: a sensação de perigo existencial.

Foi ela que determinou os passos do Mossad e o transformou, parcialmente, num órgão especializado em matar. No princípio, era preciso matar cientistas alemães, ex-nazistas que foram ao Egito ajudar a produzir mísseis. Depois, foi necessário matar alguns militares egípcios que ajudavam árabes a realizar atentados; em seguida, foi necessário matar alguns líderes palestinos; finalmente, os cientistas iranianos e alguns generais que comandam a Guarda Revolucionária.

Foi tanta necessidade de matar diante da ameaça existencial que, em certo momento, um líder político indagou: como pode uma nação tão idealista e sensível adotar tal política? Parece que as durezas do destino acabaram chegando à tese de um famoso agente do próprio Mossad, Natan Rotberg, que acabou formulando uma saída para conciliar idealismo e assassinato seletivo:

— Você precisa aprender a perdoar o inimigo. No entanto, não temos autoridade para perdoar gente como Bin Laden. Isso, apenas Deus pode fazer. Nosso trabalho é arranjar um encontro entre eles.

A ameaça existencial é um forte argumento, assim como a punição aos terroristas do Hamas que invadiram Israel. No entanto o sofrimento da população de Gaza mostra que essa longa luta arruinou a visão humanitária do jovem país. É um caminho de que não se sai incólume.

A ameaça existencial criou uma dívida de gratidão com o Marrocos. Segundo o livro de Bergman, o Mossad ajudou a matar o líder marroquino Ben Barka, em Paris, causando um grande trauma na França. O Mossad contribuiu com uma técnica que ajuda a dissolver o corpo da vítima, por meio de uma combinação química que o elimina com a chuva. O que restou de Ben Barka foi sepultado na área construída da Fundação Louis Vuitton.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira com br

segunda-feira, 23 de junho de 2025

É hora de ouvir as iranianas

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 22 de junho de 2025

É hora de ouvir as iranianas

Em meio à guerra, onde estão as vozes das mulheres que lutam contra a brutalidade do regime teocrático? Lygia Maria para a FSP:

Segundo a Carta da ONU, os ataques de Israel e dos EUA ao Irã configuram crime de agressão. Também é notório que o Irã financia grupos terroristas, como Hamas e Hezbollah, e que prega a eliminação do Estado judeu. Sabe-se, ainda, que a teocracia censura, tortura, mata e direciona sua brutalidade às mulheres.

No meio da guerra, contudo, pouco se sabe sobre o que pensam as iranianas. Tal conhecimento é crucial pois há chances de queda do regime, e esse é o objetivo de muitas das que lutam por liberdade.

Derrubadas violentas de ditaduras nem sempre resultam em democracia, como sabe o povo iraniano. Com a saída de Reza Pahlavi, em 1979, os aiatolás tomaram conta, infringindo direitos humanos, como o antecessor.

Mas vias institucionais estão bloqueadas. Não há liberdade de imprensa, a oposição é massacrada, e a atuação de organismos internacionais é débil.

A própria ONU fornece respaldo simbólico ao Irã. Permitiu que o país presidisse o Fórum Social do Conselho de Direitos Humanos e uma das etapas da Conferência do Desarmamento.

Dado o descaso da comunidade internacional, iranianas e afegãs —incluindo quatro laureadas com o Nobel da Paz— criaram em 2023 uma campanha global para tipificar a situação em seus países como apartheid de gênero.

EUA e Israel não estão preocupados em libertar o Irã, mas basta pesquisar as redes sociais de exiladas para ver que a queda dos aiatolás é saudada, apesar de críticas a ações militares que podem atingir seus entes queridos.

Uma delas é a jornalista Masih Alinejad, presidente do World Liberty Congress que, em 2015, foi premiada pela ONU por sua defesa dos direitos humanos.

"Quando vejo chefes da Guarda Revolucionária que me caçaram sendo caçados agora, claro que sorrio, e eu não estou sozinha. Só há uma solução para acabar com essa guerra: acabar com o regime. Agora é o momento de apoiar o povo iraniano. É assim que protegeremos as vidas de civis inocentes", disse Alinejad. Que sua voz e a de milhares de iranianas sejam ouvidas.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

domingo, 22 de junho de 2025

O Irã é tudo aquilo que acusam Israel de ser

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 21 de junho de 2025

O Irã é tudo aquilo que acusam Israel de ser

Esse Estado pária, belicista e genocida aterroriza o Oriente Médio e seu próprio povo há tempo demais. Tim Black, da Spiked, para a Oeste:

Há décadas, um Estado agressivo e quase imperial tem sido o epicentro dos conflitos no Oriente Médio. Ele antagoniza seus vizinhos constantemente e, em alguns casos, ameaça a própria existência deles. E, por meio de seus obscuros agentes militares, tem buscado impor sua vontade tanto a aliados quanto a inimigos.

Esse Estado é a República Islâmica do Irã. É tudo aquilo que os esquerdistas burgueses do Ocidente imaginam que Israel seja. Possui um governo genuinamente “pária” e de extrema direita. Um regime que, por meio de seu infame Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica e de seus representantes regionais fortemente armados, busca projetar seu poder e influência por todo o Oriente Médio. Ao contrário de Israel, ele tem até um objetivo genocida de fato — a saber, a erradicação do Estado judeu, ou a “entidade sionista”, para usar a própria linguagem de seus líderes. Como disse seu governante supremo, o aiatolá Ali Khamenei, em 2020, Israel é um “tumor cancerígeno” que “será, sem dúvida, desenraizado e destruído”.

É por isso que a perspectiva de a República Islâmica desenvolver armas nucleares sempre aterrorizou os líderes de Israel. Porque, para um regime ideologicamente comprometido com a destruição de Israel, as armas nucleares são muito mais do que um meio de retaliação — são um meio para a aniquilação dos judeus.

A ameaça iraniana

E é por isso que, na manhã da sexta-feira, 13 de junho, as Forças de Defesa de Israel realizaram ataques aéreos letais contra instalações nucleares iranianas, cientistas vitais nos planos atômicos do Irã e vários generais de alta patente. A liderança de Israel estava preocupada, com razão, porque o Irã logo estaria em posse de suas próprias ogivas nucleares.

De fato, na quinta-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que monitora os signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear, decidiu que o Irã havia violado suas obrigações. Ela alega que aquele país acumulou 400 quilos de urânio altamente enriquecido, ideal para uso militar. Poucas horas depois do anúncio da AIEA, Israel iniciou uma operação destinada, nas palavras do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a reverter “a ameaça iraniana à própria sobrevivência de Israel”.

Não precisava ser assim. Apenas nas últimas décadas o Irã passou a representar uma ameaça. Após a fundação de Israel, em 1948, o Irã, sob o regime do xá Mohammad Reza Pahlavi, tinha uma relação cordial com o recém-criado Estado judeu. O Irã era visto por Israel como um mediador regional, em alguns momentos até mesmo um aliado. E vice-versa — o romancista iraniano e crítico antiocidental, Jalal Al-e Ahmad, visitou Israel em 1963 e, posteriormente, elogiou o espírito coletivista do Sionismo.
Enquanto a violência antissemita devastava nações árabes como Egito, Iraque, Líbia e Síria durante as décadas de 1950 e 1960, não houve pogroms ou expurgos no Irã. Embora cerca de 60 mil judeus iranianos tenham partido para Israel durante suas três primeiras décadas de existência, em 1978 ainda havia uma próspera comunidade judaica de 85 mil pessoas dentro do Irã. Constituiu talvez a maior população judaica no Oriente Médio fora de Israel.

Mas tudo isso mudou em 1979, com a Revolução Iraniana e a ascensão do Aiatolá Khomeini e sua camarilha. Com a fundação da República Islâmica, a relação do Irã com Israel tornou-se reconhecidamente hostil quase da noite para o dia. Seus líderes, ardendo em zelo antissemita, transformaram efetivamente a destruição de Israel em uma razão de ser, e tornaram a vida dentro do Irã quase intolerável para sua população judaica. Apenas 9 mil judeus vivem lá hoje.

Apesar da eleição ocasional dos chamados presidentes reformistas, o ódio do Irã a Israel, na verdade, só se intensificou nas últimas décadas. Nas palavras do negacionista do Holocausto Mahmoud Ahmadinejad, presidente entre 2005 e 2013, a “entidade sionista” deveria ser “apagada das páginas da história”.

Isso sempre foi mais do que meras palavras. Ao longo de 40 anos, o Irã cultivou uma temível rede de representantes regionais. Essas milícias islâmicas grandes e poderosas podem ter tido suas próprias causas locais e particulares, mas seu objetivo primordial sob a égide do Irã era a destruição de Israel. E elas foram apoiadas em seus esforços pelo poder militar do regime islâmico, incluindo sua própria força de proteção militar de 200 mil homens, a Guarda Revolucionária.

No sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, a influência maligna e regional dos governantes teocráticos do Irã foi exposta ao mundo. Seu representante, o Hamas, cruzou a fronteira de Gaza e realizou o pior ato de massacre antissemita desde o Holocausto. E, com o início da guerra Israel-Hamas, outros representantes iranianos começaram a atacar, desde o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e milícias menores sortidas na Síria e no Iraque. Então, em outubro do ano passado, o próprio Irã atacou, lançando quase 200 mísseis balísticos em direção a Israel.

O que temos visto se desenrolar no Oriente Médio nos últimos 20 meses tem sido, de muitas maneiras, o ápice da campanha de longa data da República Islâmica contra Israel. Isso sempre foi mais do que uma guerra entre Israel e o Hamas. É a guerra de sobrevivência de Israel diante de um ataque islâmico liderado e apoiado pelo Irã.

Os últimos 20 meses expuseram não apenas a guerra silenciosa do regime iraniano contra Israel, mas também a fraqueza do regime iraniano. As forças representantes que o Irã têm usado contra Israel, do próprio Hamas ao Hezbollah, foram dizimadas. O regime de Assad na Síria, apoiado pelo Irã, desmoronou. E o próprio Irã foi degradado militarmente. De fato, a destruição de suas defesas aéreas por Israel durante os ataques retaliatórios, em outubro passado, aparentemente tornou possível o ataque aéreo desta semana.

‘Morte ao ditador’

A fraqueza do regime iraniano não é meramente militar — é também política. No contexto de uma economia em colapso, níveis de desemprego sempre crescentes e um Estado repressivo, muitos iranianos estão ficando inquietos. Vimos protestos de grande escala contra o regime em 2019, com manifestantes cantando “morte ao ditador” para o aiatolá Ali Khamenei, e pedindo o fim da República Islâmica. Também vimos repetidas demonstrações de resistência corajosa por parte de mulheres que se opõem à lei do hijab obrigatório, especialmente depois do assassinato de Mahsa Amini pela polícia da moralidade, em 2022.

Mais importante de tudo, a guerra do regime iraniano contra Israel não conta com grande apoio público. Os iranianos querem empregos, investimento. Eles não querem um regime teocrático apoiando milícias antissemitas com dinheiro que poderia ser usado para resolver problemas domésticos crônicos. De fato, tem sido revelador que, nos últimos 20 meses, a maioria dos iranianos mostrou pouco entusiasmo pelos conflitos em Gaza e no Líbano. Houve alguns protestos anti-Israel com baixa adesão, encenados em Teerã desde o início da guerra, envolvendo no máximo alguns milhares de pessoas.

Como observa um analista, os protestos genuinamente populares recentes dentro do Irã apresentam o coro revelador: “Nem Gaza, nem Líbano, minha vida pelo Irã!”. Os iranianos estão pedindo uma vida melhor, não “morte à América” e leis de hijab. Há muito mais apoiadores do Hamas nos campi universitários ocidentais do que no Estado-nação que realmente financia esses lunáticos genocidas.
Sem dúvida, o ataque de Israel à República Islâmica mobilizará mais iranianos em apoio à sua nação ou ao próprio regime. Mas este continua sendo uma teocracia cada vez mais impopular.

Isso poderia tornar a guerra agora em curso ainda mais perigosa. Uma República Islâmica acuada, atacada e militarmente humilhada pela “entidade sionista” tem que responder. Isso pode envolver uma barragem de mísseis e drones contra Israel que diminua a salva do ano passado. Ou algo ainda mais drástico. É crucial também que os falcões de guerra do Ocidente, que anseiam por um conflito direto com o Irã há décadas, não consigam o que desejam. Se este regime terrível tiver que cair, ele deve ser derrubado por dentro, pelo povo.

De qualquer forma, não devemos derramar lágrimas pelos teocratas à frente da República Islâmica. Eles se apossaram da casa dessa grande civilização por tempo demais. Quanto mais cedo a República Islâmica se for, e os iranianos forem libertados, melhor.

Texto e imagens reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Irã: o que esperar de um regime que põe crianças carregando mísseis?

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 19 de junho de 2025

Irã: o que esperar de um regime que põe crianças carregando mísseis?

Se Donald Trump entrar na guerra, como dizem múltiplos vazamentos, tem que ser mais efetivo ainda do que Israel contra inimigo de instinto suicida. Vilma Gryzinski:

Meninas de dez, doze anos, já embrulhadas na cobertura que deixa apenas o rosto de fora, antecipando o que as espera pelo resto da vida, carregam maquetes de mísseis e de caixões com a bandeira de Israel. É uma cena chocante do passado recente que mostra o nível de fanatismo que é a doutrina oficial do regime iraniano – e como os Estados Unidos têm que agir de forma contundente se realmente for tomada a decisão de entrar no conflito para desmantelar o programa nuclear bélico dos aiatolás.

Diplomaticamente, não se avistam saídas e as declarações agressivas do líder supremo, título oficial do aiatolá Ali Khamenei, prometendo “consequências irreparáveis” aos interesses americanos, só confirmaram isso.

Trump está mantendo a doutrina da ambiguidade, também conhecida como tática do cachorro louco, como ao dizer que “ninguém sabe o que eu vou fazer, mas garanto que o Irã está encrencado”. Segundo múltiplas fontes, a decisão já está tomada e já foi comunicada ao comando militar.

Todo mundo já antecipa o que será – e as movimentações militares confirmam. A transferência para bases próximas do Irã de seis bombardeiros B-2, o avião em forma de morcego, prognostica a destruição das instalações nucleares no fundo de uma montanha em Fordo com a bomba de 13,6 toneladas que só ele transporta. O avião foi projetado para enganar radares, mas nem precisa disso. Israel já detonou as defesas antiaéreas do Irã e não perdeu uma única aeronave em seis dias.

‘TRABALHO MANUAL’

As plataformas de lançamento de mísseis, o único sistema bélico iraniano em operação, na falta do que fazer para as tropas terrestres, estão sendo progressivamente bombardeadas, o que diminui o risco para a população civil israelense e para as bases americanas em países vizinhos, como o Iraque, apesar de choques como o ataque de hoje contra um dos mais conhecidos hospitais israelenses, o Soroka, com dezenas de feridos.

Seria inteligente para o Irã provocar os Estados Unidos com um ataque desse tipo? Claro que não. Além disso, dariam a desculpa necessária, sem a qual os Estados Unidos agirão com poucos aliados e nenhum aval internacional, ao contrário do que fizeram os dois presidentes Bush, pai e filho, que procuraram o consenso da ONU ou de países importantes para, no primeiro caso, tirar o Iraque do Kuwait, e no, segundo tirar Saddam Hussein do Iraque.

Mas pessoas inteligentes são ofuscadas pelo fanatismo. Líderes militares e civis sabem perfeitamente as consequências de um ataque a bases americanas. Ou então vão pagar o preço pela falta de visão. Já se enganaram em relação a Israel e demonstraram uma vulnerabilidade enorme, sofrendo golpes devastadores.

Conseguiria Israel sem ajuda americana e a superbomba capaz de penetrar até 60 metros destruir os pontos mais importantes do programa nuclear? As instalações subterrâneas de enriquecimento de urânio em Natanz já foram atingidas. Em Fordow, não é impossível que, na falta de munição para conseguir isso, forças especiais venham a fazer o “trabalho manual” de explodir por terra. Parece uma opção extrema, de altíssimo risco, mas Israel não pode ter subestimado essa possibilidade.

Aliás, todas as possibilidades estão sendo levadas em conta e as forças israelenses estão bombardeando também os centros de documentação do programa nuclear iraniano. Sem contar o assassinato de cientistas nucleares. O jornalista Thomas Friedman escreveu no New York Times que Israel não joga pelas regras das convenções de Genebra, o que é verdade – joga pelas regras vigentes no Oriente Médio, contra inimigos do mesmo jaez. Mas também não está fazendo ataques indiscriminados e dirigidos contra a população civil, como faz o próprio Irã.

AVIÃO DO FIM DO MUNDO

Tem Israel condições de reverter um programa nuclear que estava a muito pouco tempo de enriquecer urânio na proporção necessária para produzir nove artefatos nucleares? E onde está o material físsil? Poderia o Irã produzir uma bomba suja ou receber ajuda para isso do único país que manifestou apoio a ele, o Paquistão?

São perguntas monumentais e as respostas estão em aberto. Inclusive para as pobres meninas doutrinadas desde pequenas a gritar “Morte a Israel” e “Morte à América”, como na foto acima. Elas também são vítimas de um regime que conseguiu provocar ataques diretos de Israel e possivelmente dos Estados Unidos ao mesmo tempo.

Para aumentar o nível de stress do planeta inteiro, o “avião do fim do mundo”, um Boeing E-4B adaptado para transportar o centro de comando dos Estados Unidos em caso de crise grave, pousou em Maryland, encostado em Washington. Ele tem condições de ser reabastecido no ar e voar por até uma semana sem pousar.

Só isso já dá uma ideia do poderio americano. Só podemos torcer que seja usado com sabedoria.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

terça-feira, 17 de junho de 2025

Flávio Bolsonaro quer um novo golpe | Ponto de Partida

O médico que viu Rubens Paiva morrer






Publicação compartilhada do site JORNAL NOTA, de 7 de março de 2025

O médico que viu Rubens Paiva morrer: o testemunho que revelou o assassinato do deputado
Por Clarissa Desterro*

Quinze anos depois do desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, um depoimento mudou o rumo da história. Em 1986, o médico Amilcar Lobo, que atuava como avaliador dos limites da tortura durante a ditadura militar, quebrou o silêncio e revelou o que sabia – e que muitos já suspeitavam: Paiva foi assassinado pela Polícia do Exército no Rio de Janeiro.

A declaração de Lobo veio dias após a determinação do procurador-geral da Justiça Militar, Francisco Leite Chaves, com respaldo do então ministro da Justiça, Paulo Brossard, para a reabertura do inquérito. Em entrevista à Veja, publicada em 3 de setembro daquele ano, o médico relatou ter atendido Paiva no quartel da rua Barão de Mesquita, na Tijuca. Ele descreveu um quadro brutal: um homem coberto de hematomas, com suspeita de hemorragia interna, e poucas palavras antes de morrer.

O médico que viu Rubens Paiva morrer

Amilcar Lobo era segundo-tenente médico do Exército quando, em uma madrugada de 1971, foi chamado para atender um preso. O relato que fez à Veja foi chocante:

“Quando cheguei ao quartel, fui à última cela do lado direito do 2º andar, na área que se chamava presídio. Na cela, onde habitualmente ficavam cinco ou seis pessoas, havia só um preso, deitado sobre uma cama. Ele era uma equimose só. Estava roxo da ponta dos cabelos à ponta dos pés. Ele havia sido torturado, mas, quando fui examiná-lo, verifiquei que seu abdômen estava endurecido, abdômen de tábua, como se fala em linguagem  médica. Suspeitei que houvesse uma ruptura do fígado ou do baço, pois elas provocavam uma brutal hemorragia interna. Eu nunca havia presenciado um quadro desse tipo. Aquele homem levara uma surra como eu nunca vira. Fiquei na cela com ele durante uns 15 minutos. Durante todo esse tempo ele esteve deitado. Estava consciente. Não gemia. Disse só duas palavras – Rubens Paiva.”

O médico recomendou que fosse levado imediatamente ao hospital, mas mais tarde soube da pior notícia:

“’Olha, aquele cara morreu’, me disseram. Perguntei se ele foi para o hospital. ‘Não, morreu aqui mesmo’.”

De acordo com ele, o caso ficou gravado em sua memória por conta da repetição do nome. “Eu nunca havia ouvido esse nome, não sabia quem era. Não o esqueci porque a situação em que ele estava me impressionou e também porque eu nunca sabia o nome dos presos que atendia. Nunca tomava a iniciativa de perguntar quem eram”

A versão falsa do Exército:

O testemunho de Lobo desmoronou a versão oficial da ditadura, que sustentava que Paiva havia sido sequestrado por um grupo de “terroristas” enquanto era transportado por militares em um Volkswagen. A narrativa, recheada de contradições, registrada em sindicância conduzida pelo major Ney Mendes, referendada pelo general Sylvio Frota e endossada pelo Ministério da Guerra e pelo comando do I Exército, já não se sustentava. Por quinze anos, Lobo guardou o que sabia, temendo pela própria vida e pela segurança da família. Mas, ao ver no Jornal Nacional que o caso seria reaberto, decidiu falar.

Assim, a revista Veja, em edição de 10 de setembro de 1986, expôs os detalhes da operação de acobertamento. Segundo a publicação, sargentos do DOI, junto com um capitão, forjaram o sequestro para justificar o sumiço do ex-deputado. Era uma narrativa inverossímil: como um homem de quase 100 quilos, sob custódia militar, poderia ter escapado de um carro escoltado por soldados armados? A reportagem dizia ainda que os nomes dos oficiais diretamente envolvidos no acobertamento do assassinato de Paiva eram: Sargento Jacy Ochsendorf e Souza, Sargento Jurandir Ochsendorf e Souza e capitão Raimundo Ronaldo Campos. A versão do exército citava os dois primeiros como a escolta de Paiva, e o último como motorista.

O caso foi uma das farsas mais marcantes do período da ditadura, e a reportagem da Veja foi uma peça central na exposição do crime. O filme Ainda Estou Aqui utilizou trechos dessa edição para reconstituir a luta de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado, em busca da verdade.

A reação de Eunice: “Meus filhos sabem que são órfãos.”

Com o depoimento de Amilcar Lobo, Eunice Paiva rompeu um silêncio de mais de uma década. Em entrevista à Veja, declarou:

“Agora posso me considerar viúva, e meus filhos sabem que são órfãos.”

O filho de Rubens, o escritor Marcelo Rubens Paiva, definiu a atitude do médico como “um ato de coragem”. Eunice, por sua vez, afirmou que lutaria pelo reconhecimento oficial da morte do marido e pela responsabilização do Estado.

A entrevista de Lobo foi o início de uma reviravolta no caso. Dias depois, o médico foi chamado para prestar depoimento oficial na Polícia Federal. O jornal Diário do Pará noticiou que o interrogatório ocorreu a portas fechadas e durou três horas. Ao deixar o prédio, Lobo se limitou a dizer que repetira ao delegado o que já havia contado à imprensa.

Quem foi Amilcar Lobo?

Formado em medicina em 1969, Amilcar Lobo especializou-se em psicanálise antes de servir ao Exército. Ele entrou para a instituição após adiar o serviço militar durante os anos de faculdade, mas, ao ser designado para o quartel da Polícia do Exército, encontrou-se no centro do aparelho repressivo da ditadura.

Lá, foi apelidado de “doutor Cordeiro”. Por três vezes, tentou dar baixa, sem sucesso. Acabou permanecendo até 1974, quando foi desligado e passou a atuar como psiquiatra em clínica particular.
O médico foi a primeira testemunha capaz de comprovar a morte de Paiva sob custódia e com a aquiescência do Estado.

Lobo morreu em 1997, aos 58 anos, por complicações cardíacas. Sua entrevista de 1986 permanece como um dos depoimentos mais contundentes sobre os crimes cometidos pelo regime militar no Brasil.

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* Clarissa Desterro - Estudante de História na Universidade Federal do Amazonas. Criadora da página Behindherglasses_ no Instagram.
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Texto e imagens reproduzidos do site: jornalnota com br

domingo, 15 de junho de 2025

Jozailto Lima ENTREVISTA Airton Martins, Pref. Barra dos Coqueiros

Legenda da foto: Airton Martins diplomado pela 4ª vez prefeito da Barra dos Coqueiros

Entrevista compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 14 de junho de 2025

Airton Martins: "Volto com muita preocupação com a mobilidade urbana"

“Se eu fosse ruim, não teria sido eleito e reeleito tantas vezes”

Jozailto Lima, entrevista Airton Martins

Com quatro mandatos de prefeito (2005-2008, 2013-2016, 2017-2020, 2025-2028) e três como vereador, aos 63 anos Airton Martins, PSD, é um dos sujeitos mais longevos e influentes da política da Barra dos Coqueiros. Com sua experiência acumulada ao longo de décadas na vida pública, ele volta à Prefeitura pela quarta vez, assumindo as rédeas de um município em acelerado crescimento demográfico e urbanístico, onde a preocupação com a mobilidade urbana desponta como prioridade máxima.

“Volto com muita preocupação com a mobilidade urbana, que é importante, porque não adianta você ter um bom imóvel na Barra, mas não conseguir sair da cidade e não conseguir se locomover. Então, minha principal preocupação é com a mobilidade urbana”, declara o gestor.

Para enfrentar esse gargalo, Airton Martins apresenta propostas concretas. “Vamos agir sobre rodovias, melhorias nas ruas, avenidas e abertura de novos acessos para a Barra dos Coqueiros. Vou abrir duas rodovias agora: uma que segue do Centro até o fundo do Alphaville e outra na Avenida Mangabeira, saindo do Colorado e pegando a SE-100”, informa.

A construção de um viaduto na rotatória e a duplicação da rodovia que liga o centro da Barra a Atalaia Nova e à própria SE-100 integram o  pacote de intervenções que, segundo o prefeito, são essenciais para que a Barra dos Coqueiros continue crescendo de forma ordenada.

“Tudo isso representa crescimento, melhoria para quem vive e para quem quer chegar lá. Vai facilitar para elas se locomoverem. Porque, se a gente não fizer essas intervenções, a Barra vai ficar inviável. Você até pode ter uma casa lá, mas não vai querer ir, por dificuldade de mobilidade”, pontua Airton Martins.

O prefeito projeta que a população da Barra poderá chegar a 80 mil habitantes até 2030. Para ele, esse salto populacional é fruto de um planejamento urbano responsável, iniciado ainda em 2007, durante uma gestão sua. “Organizamos a cidade: definimos as áreas que podem receber investimento, as áreas sociais, os critérios para construções. Fizemos isso para que não aconteça, por exemplo, um condomínio de luxo ser construído ao lado de uma favela”, explica, referindo-se ao plano diretor que também contempla diretrizes ambientais.

Além do crescimento urbano, a sustentabilidade é outra pauta constante da gestão de Airton Martins. Ele fala com entusiasmo sobre a preservação de recursos naturais e aposta na retomada do turismo hídrico, com a reabertura do canal do Rio Pomonga. “Já temos uma licença ambiental para reabrir esse canal e retomar a navegação que a gente tinha. Eu sempre fui para Pirambu de lancha, de barco. É uma região muito boa de ver”, afirma.

Quando o assunto é a política em si, Airton Martins mostra que continua sendo um habilidoso articulador. Ao vencer a eleição em outubro de 2024 – derrotando Alberto Macedo, MDB, seu antecessor na gestão da Prefeitura e ex-aliado –, ele contava com o apoio de apenas sete dos 13 vereadores eleitos para a Câmara Municipal. Mas, com sua reconhecida capacidade de articulação e liderança, foi ampliando sua base de forma progressiva. Hoje, apenas dois parlamentares não integram seu grupo, o que demonstra sua força política e o poder de agregação.

Airton Martins não economiza críticas ao ex-prefeito Alberto Macedo e não vê mais futuro político nele. Sem meias palavras, ele o acusa de ingratidão, má gestão, com obras mal executadas, e descompromisso com a cidade. “Estamos agora refazendo o projeto, porque ele foi feito tudo errado, às pressas, por causa de política. Foi tudo construído errado”, diz, se referindo à orla do Rio Sergipe. Ele também denuncia um rombo de R$ 15 milhões deixado pelo ex-gestor. “Esse dinheiro era para uso próprio, mas ele deixou a dívida e não deixou o dinheiro em caixa”, relata.

Airton Martins defende que sua gestão trouxe de volta a ordem nas finanças. “Na gestão passada, chegava qualquer um e mandava em tudo, um secretário isoladamente mandava em tudo. Era bagunçado lá. Agora, não. Agora, tem comando”, argumenta. Como medidas para equilibrar as contas, o prefeito menciona a implementação de um Programa de Recuperação Fiscal – Refis – e a redução do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbano – IPTU – em 10%.

Filho de Esther Sampaio Martins e Adailton Martins de Oliveira, Airton Sampaio Martins nasceu no dia 25 de agosto de 1961, na cidade da Barra dos Coqueiros. É casado com Maria Eliana Silva Martins, professora, funcionária pública municipal e atual secretária municipal da Assistência Social da Barra. Ele é pai de Airton Sampaio Martins Júnior, 33 anos, e avô de Airton Sampaio Martins Neto, 15 anos.

Teólogo formado pela Universidade Federal da Bahia – UFBA –, contador de nível médio e especialista em Gestão Pública, Airton Martins é funcionário de carreira do Tribunal de Justiça de Sergipe – TJSE –, na função de técnico judiciário. Já trabalhou como bibliotecário na Câmara Municipal da Barra dos Coqueiros e como assessor parlamentar. Além dos quatro mandatos de prefeito, foi eleito vereador três vezes e presidiu a Câmara Municipal por dois mandatos.

Airton, em janeiro, tomando posse como prefeito ao lado do seu vice, Fernando Freitas

Na área social, sob a batuta da primeira-dama, Airton Martins ressalta a importância do programa ‘Comida na Mesa’, criado por ele em outro mandato. Ofertado no valor de R$ 250 na antiga gestão, agora – cumprindo promessa de sua campanha eleitoral – o auxílio chega a R$ 600 e atende a duas mil famílias, com previsão de ampliação para 2.500. O trabalho de Eliana Martins é motivo de orgulho para o prefeito. “É um trabalho muito bom. Ela trata o povo com respeito e carinho. Se preocupa com os mais humildes e não é acomodada”, elogia.

Para conhecer em detalhes os planos, os desafios e as visões do prefeito da Barra dos Coqueiros, um dos municípios que mais cresce populacionalmente e socialmente em Sergipe...

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica com br

> Clique no Link abaixo, para conferir entrevista do JLPolítica & Negócio com Airton Martins:

https://jlpolitica.com.br/entrevista/airton-martins-volto-com-muita-preocupacao-com-a-mobilidade-urbana

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Reinaldo e Walfrido ENTREVISTAM Juca Kfouri

Previsões econômicas de Marx: mais de 150 anos de fracasso.

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 12 de junho de 2025

Previsões econômicas de Marx: mais de 150 anos de fracasso.

As previsões econômicas de Marx não estavam apenas erradas, eram profundamente falhas em sua base. O capitalismo, apesar de suas imperfeições, superou a visão marxista ao proporcionar prosperidade em uma escala jamais vista. Riochard W. Fulmer para o Instituto Mises:

A partir da base falha da teoria do valor-trabalho, Karl Marx fez uma série de previsões sobre o capitalismo que o tempo demonstrou serem incorretas. Entre elas estão o empobrecimento das massas devido à acumulação de capital, a superprodução crônica, o imperialismo impulsionado pelo capitalismo e o inevitável surgimento de monopólios.

Empobrecimento

Mesmo durante a vida de Marx, o capitalismo melhorava as condições materiais dos trabalhadores e elevava os padrões de vida. A Revolução Industrial, juntamente com os avanços em tecnologia e produtividade, permitiu que trabalhadores com baixa qualificação alcançassem um padrão de vida que, em outras épocas, seria inimaginável até mesmo para os mais ricos.

Na verdade, o capitalismo concretizou muitas das promessas que antes eram feitas pelo socialismo. Marx imaginava um futuro em que a classe trabalhadora alcançaria prosperidade, tempo livre e desenvolvimento cultural, objetivos que, em grande parte, foram realizados sob sistemas capitalistas. Hoje, os trabalhadores desfrutam de salários reais mais altos, jornadas de trabalho mais curtas, melhores condições no ambiente laboral e maior acesso à saúde e à educação do que em qualquer outro momento da história. Inovações que antes eram consideradas luxos, como encanamento interno, refrigeração e comunicação global instantânea, agora são padrão para grande parte da população mundial.

Equipamentos de capital

Marx acreditava que as novas tecnologias:

- Eliminariam empregos e forçariam os trabalhadores a ocupações com salários mais baixos. Ele teorizava que a automação criaria um “exército industrial de reserva” permanente de trabalhadores desempregados, pressionando os salários para baixo.

- Reduziriam os trabalhadores a meros operadores de máquinas. Ele argumentava que a especialização e a mecanização retirariam dos trabalhadores suas habilidades e seu poder de barganha.

- Extraíram mais trabalho em menos tempo. Ele temia que os capitalistas usassem a tecnologia para aumentar os lucros, estendendo os turnos, reduzindo os intervalos e acelerando o ritmo da produção.

No entanto, o que aconteceu foi o oposto: a tecnologia aumentou a produtividade dos trabalhadores, tornando-os mais valiosos para os empregadores, que, por sua vez, passaram a oferecer salários mais altos para atraí-los e mantê-los. Embora alguns empregos tenham sido eliminados, surgiram novas indústrias e ocupações, muitas vezes exigindo níveis mais elevados de qualificação. Hoje, os operários de fábricas realizam menos tarefas repetitivas e mais funções complexas, como programação de máquinas CNC (controle numérico computadorizado), manutenção e supervisão de sistemas automatizados.

Em vez de jornadas de trabalho mais longas, o tempo médio dedicado ao trabalho diminuiu de forma significativa. Na época de Marx, era comum que operários de fábricas trabalhassem de 60 a 80 horas por semana. Hoje, na maioria dos países industrializados, a carga horária semanal varia entre 35 e 40 horas, e benefícios como folgas remuneradas, licenças médicas e planos de aposentadoria são amplamente difundidos. Além disso, a automação eliminou em grande parte as tarefas mais perigosas e fisicamente exaustivas.

Marx via o progresso econômico como um jogo de soma zero, no qual os ganhos dos capitalistas necessariamente representavam perdas para os trabalhadores. No entanto, os avanços tecnológicos ampliaram a produção econômica, criaram novas indústrias, elevaram os salários e melhoraram as condições de trabalho.

Superprodução

Marx afirmava que os empregadores capitalistas suprimiriam os salários até o ponto em que os trabalhadores não teriam condições de comprar os bens que produziam, o que levaria a estoques encalhados e ao colapso econômico. No entanto, em nenhum sistema econômico se espera que os trabalhadores comprem tudo o que produzem.

Considere, por exemplo, um sapateiro na Europa medieval que fabricava 30 pares de sapatos por mês. Ele obviamente não poderia comprar todos — precisava vendê-los para adquirir alimentos, roupas e materiais para fazer mais sapatos. Ainda assim, o mercado de calçados não entrou em colapso porque a demanda não se limitava aos sapateiros — outras pessoas também precisavam de sapatos.

Da mesma forma, nas economias modernas, as empresas não dependem exclusivamente de seus próprios empregados como consumidores; elas vendem para um mercado amplo, que inclui consumidores tanto domésticos quanto internacionais. O capitalismo tem conseguido superar, de forma consistente, os desequilíbrios entre oferta e demanda por meio de mecanismos de preços, expansão de mercados e inovação.

Imperialismo

Marx acreditava que os capitalistas lucravam ao extrair a chamada “mais-valia” dos trabalhadores, pagando-lhes menos do que o valor que produziam. Ele argumentava que, à medida que a automação e a concorrência reduzissem as margens de lucro, os capitalistas passariam a explorar os trabalhadores cortando salários ou aumentando a carga horária, e buscariam novas fontes de mão de obra barata, recorrendo, por fim, à conquista de territórios para manter os lucros.

Essa previsão falhou em vários aspectos. Primeiro, a capacidade dos trabalhadores de mudar de emprego, negociar salários mais altos ou abrir seus próprios negócios impede que os empregadores reduzam os salários ao nível de mera subsistência, algo que não se pode dizer das sociedades marxistas-leninistas, nas quais o estado é o único empregador.

Segundo, o comércio, e não a conquista, demonstrou ser o caminho mais eficaz para a expansão econômica. Como observou Adam Smith em A Riqueza das Nações, a guerra e a colonização são mais caras, menos produtivas e menos lucrativas do que a troca voluntária. A razão pela qual guerras e imperialismo são, às vezes, associados ao capitalismo é que o estado, aliado a capitalistas favorecidos, se aproveita da riqueza gerada pelo capitalismo para expandir seu próprio poder.

Por fim, o capitalismo incentiva a inovação, criando novos mercados e setores. O crescimento econômico não veio da expansão territorial, mas do desenvolvimento de novos produtos, serviços e modelos de negócios que aumentam a riqueza em toda a sociedade.

Monopólio

Marx previu que a concorrência acabaria inevitavelmente levando pequenas empresas à falência, restando apenas um punhado de monopólios com poder suficiente para suprimir salários, controlar preços e sufocar a inovação.

Embora monopólios realmente surjam, eles tendem a ser de curta duração em mercados competitivos. Sempre que um empreendedor lança um novo produto ou serviço, ele pode desfrutar temporariamente de uma posição dominante no mercado, mas logo surgem concorrentes, desde que o governo não impeça a entrada de novos participantes. Na verdade, essa situação nem sequer caracteriza tecnicamente um monopólio, já que monopólios, por definição, envolvem privilégios legais concedidos pelo estado a empresas com conexões políticas.

Além disso, à medida que as empresas crescem demais, frequentemente enfrentam deseconomias de escala, ineficiências que aumentam os custos e reduzem a agilidade. Burocracia, lentidão nas decisões e complexidade organizacional frequentemente enfraquecem grandes corporações, abrindo espaço para concorrentes menores e mais inovadores.

No fim das contas, é a intervenção governamental, e não o livre mercado, que tem sido o principal fator de sustentação de monopólios duradouros. Regulamentações, subsídios e exigências de licenciamento frequentemente atuam como barreiras que protegem empresas já estabelecidas contra a concorrência.

Conclusão

As previsões de Karl Marx sobre o capitalismo fracassaram de forma consistente. Em vez de empobrecimento, o capitalismo elevou os padrões de vida. Em vez da destruição de empregos, a tecnologia criou novas indústrias e oportunidades. Em vez do colapso econômico causado pela superprodução, o comércio global prosperou. Em vez da conquista, o capitalismo promoveu a expansão econômica por meio da troca voluntária. E em vez da estagnação monopolista, a concorrência e a inovação continuam impulsionando o progresso econômico, apesar da intervenção dos estados.

As previsões econômicas de Marx não estavam apenas erradas, eram profundamente falhas em sua base. O capitalismo, apesar de suas imperfeições, superou a visão marxista ao proporcionar prosperidade em uma escala jamais vista.

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Este artigo foi publicado originalmente no Mises Institute.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com