Publicado originalmente no site JLPolítica, em 23 de Abril de 2018
OPINIÃO
De partidos políticos a gangues partidárias: o atual cenário
político do Brasil
Por Eliano Sérgio Azevedo Lopes *
Que é muito grave a situação política que o Brasil
atravessa, não se discute. É fato. Pode-se discutir a natureza da crise - se
política, econômica, moral ou tudo junto e misturado. Jamais a sua existência e
os seus desdobramentos na vida social brasileira.
Que isso tem reflexo imediato nas eleições de 2018, estão aí
para provar o desencantamento da população com a política e com os partidos e
políticos que lhe dão concretude.
Onze em dez consultados vociferam contra “tudo isso que está
aí”, afirmam que votarão nulo ou que preferem pagar a multa à justiça eleitoral
a sair de casa para votar nesses “ladrões e enganadores do povo”.
A corrupção em grau jamais visto, com as principais
lideranças dos maiores partidos brasileiros (PT, PSDB, MDB) na cadeia ou na
antessala dela - à espera de serem os próximos atores a “tocarem piano” e
receber o kit-presídio - lençol, escova de dente, sabonete e uniforme cáqui -
compõe o cenário cotidiano desse “Brasilzão de meu Deus”.
Em suma, razões não faltam aos que assim pensam e,
infelizmente, o PT, ao embarcar nessa nau dos salteadores e piratas dos
recursos públicos, parece ter colocado a pá de cal que faltava na “demonização
da política e no nivelamento por baixo de todos os políticos” - o que não é nem
saudável nem verdadeiro, convenhamos.
Quem viveu no período da ditadura sabe muito bem do que
estou falando. Quem não viveu, pode se inteirar consultando sites e redes
sociais os mais diversos, antes de cair no canto da sereia dos Bolsonaros da
vida, sobre a brutalidade e o retrocesso que foram para o país essas duas
décadas em que esteve sob a bota dos milicos e da rapinagem dos donos do poder.
Não bastassem os assassinatos cometidos contra os
adversários do regime, as prisões de inocentes, o atraso na economia e a
exacerbação das desigualdades sociais, também no campo político impediu-se a
formação de novas lideranças - o que explica a presença ainda hoje de velhos e
reacionários coronéis a controlar o aparelho estatal e o jogo político.
De modo que, qualquer democracia, por mais tênue e frágil
que seja, é preferível a uma ditadura, não importa a roupagem que veste: se de
esquerda ou de direita. Nada mais importante que a garantia das liberdades
individuais, da livre manifestação do pensamento, do poder do ir e vir. Valores
que ditadura abomina e as primeiras vítimas quando ela se instaura.
A extinção dos partidos políticos tradicionais - UDN, PSD,
PTB, PSB -, a proibição e perseguição dos partidos comunistas, notadamente o
PCB e o PC do B, e a adoção do bipartidarismo, representado pelo PMDB e pela
Arena, o primeiro para fazer uma oposição consentida, e este para defender o
governo ditatorial, manietaram a ação política, com consequências graves no que
diz respeito à formação de novos quadros políticos e na renovação do próprio
fazer político.
Nem mesmo o retorno ao multipartidarismo conseguiu livrar o
país da chaga do conservadorismo e da nefasta forma de pensar e exercer a
política na sua dimensão mais nobre: atender as demandas e reivindicações da
maioria da população, suas necessidades primárias e o seu desenvolvimento
socioeconômico.
Educação de qualidade, saúde para todos, habitação digna,
saneamento básico e segurança, entre outros, ainda estão por serem atendidas
com eficácia e eficiência pelo poder público. Menos ainda constituem
preocupação da expressiva maioria dos políticos que deveriam representar os
interesses do povo, a quem ele delega representá-lo nas diversas instâncias do
Parlamento - municipal, estadual e federal.
Com mais de três dezenas de partidos políticos - e uma penca
enorme tentando conseguir o registro na Justiça Eleitoral -, o resultado só
poderia ser esse, o de um presidencialismo de coalisão (ou não seria melhor
chamar de cooptação?), dominado pelo fisiologismo e pela negociata entre o
Executivo e o Congresso Nacional, respaldado por uma parcela do Judiciário,
envolvidos em tenebrosas transações, como diria a canção do Chico Buarque.
O “é dando que se recebe” e as “divinas tetas” dos recursos
do Fundo Partidário constituem o favo de mel para onde correm os oportunistas e
sanguessugas, a criar partidos políticos sem nenhum cunho ideológico e
programático e expressão zero de base social ou com respaldo de organizações
sindicais, ou ainda, vinculados a confissões religiosas, por exemplo.
São os Partido Republicano Brasileiro - PRB - (da Igreja
Universal do Bispo do Edir Macedo), Solidariedade, (do Paulinho da Força
Sindical), Partido da República - PR - (do “mensaleiro” Valdemar Costa Neto) e
o Partido Trabalhista Brasileiro - PTB - (do famigerado e também “mensaleiro”
Roberto Jéferson), dentre as duas dezenas ou mais de agremiações partidárias de
mesmo naipe.
Nada mais são que gangues partidárias, na feliz expressão do
jornalista J.R. Guzzo, a disputar o butim dos roubos e assaltos aos cofres
públicos, seja da administração direta seja das empresas estatais, a exemplo da
Petrobras, Eletrobras, Correios e Telégrafos, entre tantas outras a serem ainda
investigadas.
Partidos de aluguel que aproveitam os anos de eleições para
mercantilizarem tempo de televisão em troca de grana e de cargos em eventual
vitória daquele que lhe paga pela falta de caráter. É esse o cenário -
incompleto, parcial e até mesmo superficial - que constitui o pano de fundo das
próximas eleições de outubro desse ano.
Separar o joio do trigo e escolher os melhores candidatos em
quem votar, tem sido cada vez mais difícil, desde a redemocratização do Brasil.
Mesmo assim, melhor votar - ainda que tampando as narinas - do que não exercer
o direito do voto e contribuir, mesmo que não perceba, para a manutenção do
status quo. Em outros termos, ser conivente com as velhas e decrépitas figuras
políticas - Temer, Renan, Collor, Aécio, Roberto Jeferson, Sarney et caterva -,
que tanto mal têm feito para o país ao colocar como norte de sua ação política
os seus interesses e de grupos que representam. Ao povo, uma banana bem
dada!
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* É doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ e professor aposentado na Universidade Federal de Sergipe - UFS.
* É doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ e professor aposentado na Universidade Federal de Sergipe - UFS.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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