Foto: reprodução da internet
Publicado originalmente no site do CINFORM, em 10 de dezembro de 2018
Expansão da religiosidade
Por Thayná Ferreira
Ao contrário do que muitos sociólogos e filósofos imaginaram
há cerca de 50 anos, cresce em todo o mundo a busca do homem pelo espiritual
Esta semana, movido pelo movimento da sociedade em busca de
valores espirituais, o CINFORM empreendeu esta reportagem acerca da expansão
dos movimentos religiosos pelo Brasil afora.
Nos dias atuais, as emissoras de televisão e rádio, os
jornais impressos, as revistas voltadas para qualquer segmento trazem em suas
programações, quase que obrigatoriamente, inserções que têm pautado os
movimentos religiosos no seu mais amplo leque. Isso sem falar dos veículos
exclusivos das diversas religiões e suas diversificações doutrinárias e
comportamentais.
COMO FICA A SOCIOLOGIA?
Nos anos de 1970, sociólogos com perfis semelhantes ao do
americano Peter Berger vaticinaram que as religiões, porque não responderiam
aos verdadeiros anseios do homem, estariam fadadas ao extermínio.
Ao contrário do que pensaram muitos desses profissionais, as
religiões proliferaram pelo mundo afora, mesmo que, segundo estudos do filósofo
e sociólogo francês Pierre Bourdieu, façam parte de um largo mercado da fé,
como explicou no seu escrito de instigante tema “A economia das trocas
simbólicas”.
Outro sociólogo famoso, o romeno Mircea Eliade, que
popularizou o tema “O sagrado e profano” em livro homônimo de sua lavra,
traçou, com rara eficiência o perfil do homem religioso como sendo um ser
especial, que consegue estar na terra sem pertencer a ela. Eliade demonstra uma
potente remagicalização do mundo quando, pela fé, e por explicitação, o
religioso consegue promover uma ruptura na natureza e abrir um portal para
ligar um espaço sagrado (um templo) ao céu, através de um dossel sagrado.
Nesse quadro, o CINFORM procurou ouvir lideranças de
diversos cultos para que o leitor, ou leitora, forme sua concepção de mundo sob
o prisma da velha, e sempre nova religiosidade humana.
CANDOMBLÉ
Yalorixá Edvania José dos Santos.
Foto: arquivo pessoal
Eu acredito que o aumento das religiões nos dias atuais,
independente do que se acredita, tem sido e como sempre foi, uma porta de
escape para esse mundo que tem se tornado tão cruel, violento e sem compaixão.
As pessoas estão necessitando de amor. Esse mundo frenético tem deixado as
pessoas carentes, e nós acreditamos que buscar uma fé nos traz a esperança de
volta, pois sentimos na pele o amor que procuramos quando temos no que
acreditar e pessoas que também acreditem e sigam conosco na caminhada da vida.
Digo isso por experiência própria, de pessoas que recebo em
minha casa, em um desses ensejos recebi um casal no Ilê Axé qual presido, e ao
nos despedirmos, como é de meu costume, desejei axé dando um abraço. Nesse
momento, a senhora que me visitava se emocionou e chorando me relatou que
precisava muito daquele abraço. E é isso que as pessoas necessitam, dessa
energia de afeto, corpo no corpo, de união, se sentirem acolhidas e também de
se reconhecerem, se entenderem no mundo e serem amadas pelo que são. É o olho
no olho, o aperto de mão, o fazer o bem. No nosso exercício de fé deixamos a
alma se elevar, sentimos na pele a energia acolhedora dos nossos Protetores.
Gostaria de deixar claro que não posso falar pelo Candomblé
por ser Yalorixá, existem muitas outras sacerdotisas e sacerdotes de nossa
religião que possuem seu caminho, sua espiritualidade, seu modo de agir, de
viver e de educar os seus. Eu posso falar pela minha casa, pelas minhas
experiências e pelo modo como percebo o mundo através do Candomblé. Acredito
que somos um povo escolhido e cuidado pelos nossos ancestrais e Orixás que
atravessaram Continentes para nos proteger e cuidar, e que como força de
resistência chegou até os dias atuais e que me ensinam a pensar o mundo e minhas
relações pessoais. Sendo assim, se esse florescimento religioso for pautado no
amor e no respeito, independente do credo, aquece o meu coração pensar que
exista um crescimento da fé e do bem.
SOBRE SINCRESTISMO NEOPENTECOSTAIS – Acredito que as bases
ideológicas e o exercício da fé das duas religiões comparadas, são um tanto
antagônicas e por isso não existe uma mistura entre o culto neopentecostal e as
práticas de religiões afro. Embora possa parecer em alguns aspectos para quem
não conhece bem ambas religiões, na prática é bastante distante para os que são
adeptos destes segmentos.
FUTURO DAS RELIGIÕES – Existem dois caminhos que se difundem
quando paro para pensar sobre o futuro das religiões no mundo. É certo que
enquanto existirmos enquanto humanidade acreditaremos em algo maior,
consequentemente se as religiões forem meios de disseminar amor, paz,
esperança, amor ao próximo e fazer o bem, temos tudo para que a humanidade
cresça, cada um dentro de sua fé pautada no respeito com a finalidade de evolução
no intuito de gerar nas pessoas o sentimento de mais amor, respeito ao próximo,
aceitação de si e do outro. Só temos a crescer se a humanidade sepultar as
diferenças e cultivar o respeito, deixando as críticas de lado, preservando o
espaço do outro.
No entanto, a fé e a espiritualidade em alguns casos
confundem as pessoas e as tornam propensas a gerar determinados conflitos que
segregam ao invés de unir. Não devemos deixar que isso imponha limites, e se
for dessa forma, é nocivo, não deve acontecer. Tenho esperança no futuro das
religiões enquanto porto seguro das pessoas. Prezamos que as religiões promovam
amor, carinho, cuidado com a natureza pois fazemos parte dela. A palavra-chave
é RESPEITO.
DA ESSÊNCIA DAS RELIGIÕES AFRO – As comunidades tradicionais
de matriz africana não acreditam numa necessidade de salvação. As bases de
nossa religiãoproveniente de África, não possuem em sua crença e no seu modo de
pensar o mundo, algo que se assemelhe com uma necessidade de salvação.
Acreditamos que nossa vida aqui na Terra é uma passagem e enquanto estamos nela
devemos evoluir enquanto seres humanos, alcançando tanto uma elevação pessoal
quanto coletiva, se ajudando enquanto família.
Dessa forma, nós nos deixamos salvar das intempéries dessa
vida com o amor, e pensamos que fazer o bem nos faz crescer e evoluir enquanto
parte da humanidade desse modo estaremos contribuindo para algo maior. E
devemos fazer isso enquanto estamos vivos. É por isso que em nossas conversas
no terreiro, em família, falamos muito sobre nossa evolução enquanto pessoas
inseridas na sociedade.
ATOS COMO O COPO D’ÁGUA – De antemão posso dizer que essas
práticas não têm a ver com a nossa religião. As coisas que mais possam se
aproximar enquanto nomenclatura e efeito já que estamos falando de limpezas
espirituais, se distanciam na prática, uma vez que, nós candomblecistas temos
uma liturgia completamente diferente e uma forma distinta de exercer nossa
espiritualidade dentro dos nossos ritos de purificação.
Temos em nossos ritos de limpeza algo ancestral e que possui
uma energia, o tão conhecido AXÉ, que é emanado da nossa Natureza, através da
cura proveniente das Águas, das Ervas, dos nossos cantos e rezas. O que é feito
nas igrejas é liturgicamente diferente e nesse sentido não tenho nada a dizer
com relação a isso e nem queremos suscitar esse tipo de conflito dentro de
nossos limites de respeito. Dessa forma, uma vez que não convém com o nosso
Sagrado, não consigo enxergar um elo entre as práticas.
EVANGÉLICOS
Pr. Zoar Assuero
Estas são religiões milenares, que sempre tiveram adesão num
índice muito elevado em toda história, agora contam com ferramentas poderosas
de divulgação e agregação, nos meios de comunicação, principalmente a internet.
O Cristianismo continua sendo a maior religião do mundo, e que mais cresce. Mas
um estudo do Pew Research Center, uma organização que conduz pesquisas
independentes sobre diferentes temas e em escala global, procurou traçar um
panorama sobre as religiões no mundo. Até 2050 o islamismo, segundo essa
pesquisa de projeção, estará com o número de seguidores bem próximo do número
de cristãos. Em particular a migração de povos árabes para países europeus e
América, tem acelerado esse crescimento. A globalização aproximou mais as
pessoas e suas etnias. Religiões fortes para uma cultura, um povo e etnia,
acabaram se aproximando do mundo através da globalização.
SINCRETISMO NEOPENTECOSTAL – Não acho que exista sincretismo
dentro do culto neopentecostal. Nem que haja mistura no culto neopentecostal,
com práticas de religiões afro. Penso que pode haver semelhanças. São vertentes
religiosas completamente distintas. Assim como, no culto protestante, há também
semelhança com práticas judaicas. Que continue sendo assim, cada viés religioso
com suas tradições, crenças e práticas.
No estudo que citei acima, afirma que, todas as estimativas
são baseadas em tendências atuais e levam em conta indivíduos que se designam
especificamente de uma religião para outra, de povo para outro. Uma coisa é
certa, as pessoas cada vez mais procurarão a religião como recurso de abrigo,
alento, socorro, fuga. Esse mesmo estudo diz que nos próximos 50 anos, o número
de pessoas sem religião vai percentualmente reduzir. As pessoas estão em busca
de respostas, e vão continuar buscando nas religiões essa fonte de respostas.
Nós, cristão, acreditamos que Jesus Cristo é essa fonte.
SESSÃO DE DESCARREGO – Penso que há um equívoco no
pensamento. Se o que se chama de “sessão de descarrego”, seja a ação ou método
de enfrentamento de forças sobrenaturais, espíritos malignos, demônios. Há
registros históricos nos evangelhos bíblicos, mostrando Jesus Cristo, seus
apóstolos e discípulos, em momento de expulsão de espíritos malignos. Se isso é
o que quer chamar de “sessão de descarrego”, não seria então uma prerrogativa
ou prática de doutrinas da umbanda/candomblé. Históricas igrejas pentecostais
presentes no Brasil no início do século 20, tinham em normalidade, momentos não
programados dos seus cultos, situações de enfrentamento de forças sobrenaturais
e espíritos malignos.
ESPÍRITAS
João Batista Medeiros
Vice-presidente da Federação Espírita do Estado de Sergipe –
FEES.
Na verdade, essa ideia de que as religiões estariam fadadas
à extinção vem desde o final do século XVIII, aprofundou-se no final do século
XIX, tendo Nietzsche, na sua obra Gaia Ciência, colocado na boca do personagem
homem louco que a civilização ocidental se afastou de Deus. Entretanto é
necessário observar a imagem antropomórfica que os homens têm de Deus, o que
leva à compreensão da sábia frase de Voltaire: “Eu não acredito no Deus que os
homens criaram; eu acredito no Deus que fez os homens”. Esse Deus não entendido
à imagem da imperfeição do homem está mais vivo do que nunca e é Aquele
apresentado por Jesus: Pai comum de toda a humanidade, que ama de forma igual
todos os seus filhos (faz chover sobre bons e maus e faz nascer o sol sobre
injustos e justos) e que a resposta à questão primeira de O Livro dos Espíritos
define como “Inteligência Suprema e Causa Primeira de todas as coisas”.
É preciso separar o amor a Deus da questão da religião. E é
preciso diferenciar as acepções conceituais de religião. As religiões que estão
perecendo ou que perecerão serão as dogmáticas, aquelas que se preocupam com
exterioridades muito mais do que com a vivência dos valores espirituais e
morais que proponham a evolução moral do homem, no sentido de amar ao próximo
como a si mesmo.
Quanto a essa assertiva, a questão 842 de O Livro dos Espíritos
é muito elucidativa ao pontuar as condições para que se possa dizer que esta ou
aquela religião é boa. Como todas as doutrinas têm a pretensão de ser única
expressão de verdade, por que sinais podemos reconhecer a que tem o direito de
se apresentar como tal?
“Essa será a que produza mais homens de bem e menos
hipócritas, quer dizer, que pratiquem a lei de amor e caridade na sua maior
pureza e na sua aplicação mais ampla. Por esse sinal reconhecereis que uma
doutrina é boa, pois toda doutrina que tiver por consequência semear a desunião
e estabelecer divisões entre os filhos de Deus só pode ser falsa e perniciosa.
”
Portanto, o Espiritismo ao se referir a religiosidade assim
o faz concebendo-a desvestida de dogmatismo e cultos exteriores, mas sim como
aproximação com Deus e vivência dos ensinamentos de Jesus, Modelo e Guia da
Humanidade, defendendo, assim, a frase dita por Kardec: “fora da caridade não
há salvação”.
SOBRE RELIGIÕES MILENARES – Inicialmente se deve pontuar que
as religiões aqui citadas: xamanismo, budismo, islamismo, não são de hoje,
embora o mundo ocidental ultimamente esteja se familiarizando mais com elas e
outras. Quanto ao Xamanismo, evidências arqueológicas e antropológicas indicam
que essa prática já existe há mais de 20.000 anos e nela vemos lições do amor
incomensurável de Deus por todos os Seus filhos. Quanto ao Budismo, data
aproximadamente do século VI a. C., e embora não seja considerada uma religião
teísta, há de se pontuar que ela nega mesmo Deus antropomórfico, conforme se vê
nesta resposta do Lama:
O mundo vai mudando e Deus não fala de novo. Mas agora nós
podemos olhar com o olho de Deus e falar. É extraordinário, Deus ficou vivo de
novo. Então esse Deus o budismo pensaria que seria possível. Na visão budista,
não dá muito para personificar esse aspecto primordial. Ele não é um ser que
está em algum lugar. Mas eu acredito que, com algumas exceções, os teólogos
também não estão pensando em Deus como um ser antropomórfico em algum lugar.
(In: http://www.cebb.org.br/budismo-e-deus/)
E quanto ao islamismo, fundada pelo Profeta Maomé no ano
622, suas principais características são: a crença em Deus; os livros sagrados,
profetas (inclusive consideram Moisés e Jesus Profetas), anjos e fatalismo.
Conforme se pode observar a concepção de Deus não
antropomórfico é a que felizmente começa a imperar, tal como a questão 13 de O
Livro dos Espíritos se refere: Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial,
único, onipotente, soberanamente justo e bom.
Em primeiro ligar torna-se interessante esclarecer o que J.
Herculano Pires*, referindo-se ao Centro Espírita, dizia: “Podemos figurá-lo
como um espelho côncavo em que todas as atividades doutrinárias se refletem e
se unem, projetando-se conjugadas no plano social geral, espírita e não
espírita”. Não se aceita, pois, nos dias
atuais um Centro Espírita estanque, fechado em suas quatro paredes, a que
Leopoldo Machado chamava Espiritismo de “mortos”, quando propugnou fizéssemos o
Espiritismo de “vivos”.
*Nascido em Avaré, estado de São Paulo (1914-1979),
jornalista, destacou-se como um dos mais ativos divulgadores do espiritismo no
país. Traduziu os escritos de Allan Kardec e escreveu tanto estudos
filosóficos, quanto obras literárias inspiradas na Doutrina Espírita.
SOBRE OS TEMPLOS – E, neste diapasão, O Reformador, Revista
Semanal de Divulgação Espírita, janeiro de 1951, afirmou que o Centro Espírita
deve revestir as características de Templo, Lar, Hospital, Oficina e Escola.
Assevera Emma¬nuel: “Quando se abrem as portas de um templo espírita-cristão ou
de um santuário doméstico, dedicado ao culto do Evangelho, uma luz divina
acende-se nas trevas da ignorância humana e através dos raios benfazejos desse
astro da fraternidade e conhecimento, que brilha para o bem da comunidade, os
homens que dele se avizinham, ainda que não desejem, caminham, sem perceber,
para a vida melhor”.
Seguindo essa mesma linha de pensamento o que o espiritismo
espera é que nessas práticas que cominam com abertura de novos templos
religiosos, que os objetivos perseguidos sejam no sentido de divulgar os
ensinamentos do mestre Jesus, num ambiente de fraternidade, oração e trabalho com
a vivência dos valores espirituais e morais que proponham ainda a evolução
moral do homem, no sentido de amar ao próximo como a si mesmo, evitando o toar
simples das promessas mesquinha de riqueza e prosperidade. Perdendo o
testemunho, o templo religioso como um todo perde também a autoridade para
falar. Aquele que abre novo Templo deve se preocupar com o que as pessoas sob o
seu comando passam nele a enxergar. Não deverá esse novo líder ser considerado
um aproveitador da boa índole do povo.
Soren Kierkgaard (1813-1855), teólogo dinamarquês,
brindou-nos com uma parábola que ilustra bem esse conceito. Conta-nos que um
grande circo acampou nas cercanias de uma cidade. Na tarde que antecedeu a
estreia, quando saltimbancos, mágicos e trapezistas, se preparavam para o
espetáculo, começou um incêndio no circo. O palhaço, já trajado e pintado,
correu para a cidade em busca de socorro. Desesperado, ele gritava em praça
pública, clamando por auxílio. Porém, quanto mais elevava sua voz e corria de
um lado para o outro, mais as pessoas se divertiam. Pensavam que ele usava de
um ardil excelente para lotar o circo. Exausto e em desespero, caiu de joelhos:
“Por Deus, por Deus! Ajudem-nos! O circo está em chamas. ” Os meninos
gargalhavam. Os mais velhos se maravilhavam dizendo: “Quão extraordinário ator
se mostra o figurante do circo, que sabe chorar para fazer graça”. E o circo
foi destruído pelas chamas.
ACERCA DE SINCRETISMO – Na acepção do termo, Sincretismo é a
fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma nova, seja de caráter
filosófico, cultural ou religioso. O sincretismo mantém características típicas
de todas as suas doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos,
ideologias e etc. É a fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma
nova, seja de caráter filosófico, cultural ou religioso.
Por essa ótica o que se pode afirmar é que os
neopentecostais formam um grupo coexistente com os pentecostais, mas com uma
identidade distinta. Possuem uma forma muito sobrenaturalista de ter sua fé,
com ênfase na busca de revelações diretas da parte de Deus, de curas milagrosas
para doenças e a batalha espiritual entre forças espirituais do bem e do mal,
que afirmam ter consequências diretas em sua vida cotidiana.
Entendo que a partir do momento quando os religiosos
estiverem convencidos de que só existe um Deus no Universo e que, em
definitivo, Ele é o mesmo que o adorado por eles sob o nome de Jeová, Oxalá,
Tupã, Alá, Arquiteto do Universo, Olodum ou Deus, e que quando se puserem de
acordo com os atributos essenciais da Divindade, compreenderão que, sendo único
esse Ser, única tem de ser a vontade suprema, estender-se-ão as mãos uns aos
outros, como os servidores de um mesmo Mestre e os filhos de um mesmo Pai.
Assim, quando todos os homens, estiverem convencidos de que
Deus é o mesmo para todos, de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de
injusto pode querer; e que o mal vem não Dele, mas dos homens, todos se
considerarão filhos do mesmo Pai e estenderão as mãos uns aos outros. E, neste
aspecto Allan Kardec afirma que é esta a Fé que o Espiritismo dá, acreditando
que no futuro esse será o eixo em torno do qual irá girar o gênero humano,
quaisquer que sejam os cultos e as crenças particulares.
Pouco conheço acerca dessas práticas utilizadas pelas
igrejas neopentecostais.
INTOLERÂNCIA E CARIDADE – Por outro lado, ouso afirmar que o
professor Vagner Gonçalves da Silva, do Departamento de Antropologia da USP,
desenvolve pesquisas na área das populações afro-brasileiras, enfocando temas
como religiosidade (candomblé, umbanda, neopentecostalismo, intolerância
religiosa), relações entre religião e cultura brasileira (festas populares,
música, capoeira, literatura, cinema etc.), artes afro-brasileiras e
representação etnográfica (trabalho de campo e etnografia em hipermídia). Ele
também é coordenador do CERNE – Centro de Estudos de Religiosidades
Contemporâneas e das Culturas Negras, grupo de pesquisa certificado pelo
CNPq-USP, autor de várias obras acerca do assunto, se constituindo, portanto,
na fonte basilar para quem tenha dúvidas e deseja saber com profundidade acerca
do assunto.
Mas, para não fugir de um todo acerca da pergunta formulada
devo acrescentar que o Espiritismo não se considera dono de toda a verdade. Por
isso não diz: Fora da verdade não há salvação, máxima que dividiria em vez de
unir, e perpetuaria o antagonismo e a incompatibilidade entre os segmentos
religiosos.
Como espírita defendo a máxima de Kardec: “Fora da caridade
não há salvação”, que significa a consagração do princípio da igualdade perante
Deus e da liberdade de consciência.
Importante considerar que a palavra caridade é interpretada
como amor em algumas traduções do Evangelho, mas o significado de “ação em
benefício do próximo” permanece. A prática da caridade promove a evolução
espiritual do ser, quando se considera os seguintes princípios: (a) a pessoa
caridosa ou amorosa jamais desampara o próximo, independentemente da situação,
gravidade ou tipo problema existentes; (b) a caridade é sempre manifestação de
amor a Deus e ao próximo; (c) a caridade promove o desenvolvimento de outras
virtudes, daí se revelar como o principal instrumento da salvação humana, por
vivenciar a Lei de Amor.
Allan Kardec esclareceu que o amor e a caridade são o
complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que
nos seja possível e que desejaríamos que nos fosse feito. A caridade, segundo
Jesus, não se restringe à esmola; abrange todas as relações com os nossos
semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais ou nossos superiores.
Ela nos prescreve a benevolência para com todos; a indulgência para com as
imperfeições alheias, porque nós mesmos precisamos de indulgência que nos
proíbe humilhar os desafortunados, ao contrário do que comumente fazemos e,
finalmente, o perdão das ofensas, como está escrito no Livro dos Espíritos,
questão 886.
Inúmeros foram os bons Espíritos que falaram acerca da
caridade, valendo aqui mencionar o que afirmou o Apóstolo Paulo: “Meus filhos,
na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão contidos os destinos dos
homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles
viverão em paz; no céu, porque aqueles que a tiveram praticado encontrarão
graça diante de Deus. Essa divisa é a chama celeste, a coluna luminosa que guia
o homem no deserto da vida conduzindo-o à Terra Prometida. Ela brilha no céu,
como uma auréola santa na fronte dos eleitos, e, na Terra, está gravada no
coração daqueles a quem Jesus dirá: ide à direita, vós os abençoados de meu
Pai. […]”.
Chico Xavier em dado momento afirmou: “Se Allan Kardec
tivesse escrito que fora do Espiritismo não há salvação, eu teria ido por outro
caminho. Graças a Deus ele escreveu: Fora da Caridade, ou seja, fora do Amor não
há salvação”.
Concluindo, lembraria o breve diálogo entre o teólogo
brasileiro Leonardo Boff e o Dalai Lama.
Leonardo Boff explica: No intervalo de uma mesa-redonda
sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos (eu e o Dalai Lama)
participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe
perguntei em meu inglês capenga:
– “Santidade, qual é a melhor religião?”
(Your holiness, what`s the best religion?)
Esperava que ele dissesse:
“É o budismo tibetano” ou “São as religiões orientais, muito
mais antigas do que o cristianismo.”
O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou
bem nos olho – o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia
contida na pergunta – e afirmou:
“A melhor religião é a que mais ti aproxima de Deus, do
Infinito. É aquela que te faz melhor.”
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta,
voltei a perguntar:
– “O que me faz melhor?”
Respondeu ele:
-“Aquilo que te faz mais compassivo”.
(e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoista de sua
resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais
humanitário, mais responsável…Mais ético… A religião que conseguir fazer isso
de ti é a melhor religião…”
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando
sua resposta sábia e irrefutável…
Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tem ou
não tem religião. O que realmente importa é a tua conduta perante o teu
semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo…
Lembremos:
“O Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos”.
A Lei da Ação e Reação não é exclusiva da Física.
Ela está também nas relações humanas.
Se eu ajo com o bem, receberei o bem.
Se eu ajo com o mal, receberei o mal.
Aquilo que nossos avós nos disseram é a mais pura verdade:
“terás sempre em dobro aquilo que desejares aos outros”.
“Para muitos, ser feliz não é questão de destino… É de
escolha. Pense nisso”…
Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br
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