quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Diário da Crise CCCXXXV, por Fernando Gabeira

Publicado originalmente no site do GABEIRA, em 17 de fevereiro de 2021

Diário da Crise CCCXXXV
Por Fernando Gabeira (in blog)

Hoje, pensava em pegar mais leve. Mas surgiu essa crise da prisão do deputado Daniel Silveira. Ela é um pouco mais séria do que parece.

O ideal seria uma solução negociada na qual a Câmara o punia pelos crimes contidos em sua fala. Não seria necessário nenhum tipo de confronto com o STF. Mas a Câmara é muito lenta em punir. O caso da deputado Flordelis é um exemplo: até hoje não aconteceu nada e ela é acusada de assassinato.

A crise é seria porque o deputado é um provocador. Ele sabia precisamente que iria indignar o STF e usou os termos mais grosseiros possíveis.

Mas há uma lógica na provocação, lógica que escapou aos comntaristas da tevê: o objetivo dele era ampliar as divergências entre o Supremo e militares.

A base do texto é uma provocação desafiando Fachin a prender o general Villas Boas, ou mesmo a prender um general.

Ele aproveita a conjuntura em que Villas Boas deu uma entrevista confessando sua pressão sobre o Supremo, em 2018, e Fachin o crititicou por isso.

Se você abstrair as grosserias de Silveira, verá que no fundo ele quer a reprodução do AI-5 com cassação de ministros do supremo.

Teoricamente, isso não deveria incomodar. Afinal, 13 de dezembro de 1968 está distante.

Mas nem tanto. Existe uma certa tensão entre militares e o STF e o bolsonarismo radical está jogando com ela.

No meu entender, sem deixar de .punir, tudo tem ser feito com a maior habilidade para que Silveira não atinja seu objetivo.

Infelizmente no Brasil de hoje o termo negociação, no sentido político, não é mais tão utilizado.

É dificil para a Câmara salvar Silveira e se indispor com o Supremo. Mas também é difícil internamente aceitar a prisão de um deputado, pois muitos acham que o termo “em flagrante” não se aplica no caso.

Ainda há alguma chance de se atenuar a crise. Mas a decisão do STF de confirmar a prisão não deixa outro caminho a não ser a confirmação ou negação do plenário da Câmara.

A única saída é prolongar alguns dias a decisão e negociar nesse período.

Amanhã volto ao tema, que deverá estar ainda no topo da agenda. O topo da agenda para mim, no jornal da manhã, foi tentar convencer o governo que é preciso uma estratégia diante da nova variante do coronavírus. O problema é que negaram o próprio coronavírus, para negar a variante é apenas um passo.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira.com.br/blog

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