Opinião – “A imprensa deve servir aos governados, não aos
governantes”
Por Edson Júnior (da Coluna Aparte) *
O título deste artigo extraio do excelente filme “The Post – A Guerra Secreta”, dirigido por Steven Spielberg, que mostra a vitória da imprensa norte-americana no direito de denunciar as mentiras do governo sobre a Guerra do Vietnã, conflito ocorrido entre 1959 e 1975.
Processados pelo presidente Richard Nixon, os jornais New York Times e Washington Post ganharam na Suprema Corte dos EUA o direito de publicar documentos secretos da Casa Branca sobre a posição americana na guerra.
“A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”, diz trecho da memorável sentença, lida pelo juiz Hugo Black, e que dispensa interpretações.
É uma gigantesca lição de respeito e zelo à democracia, que cabe muitíssimo bem ao presidente Jair Bolsonaro, governante brasileiro que trata a imprensa como uma inimiga e sobre quem despeja todo seu ódio e descortesia.
É impressionante como Bolsonaro se descontrola a um mínimo questionamento formulado pelos profissionais da imprensa, que estão cumprindo seu papel profissional de forma digna e honesta.
Ora, se o que lhe é questionado contém algum erro, alguma imprecisão, ou mesmo que seja inverossímil, que ele faça a correção, mas com civilidade. “Quem não deve não teme”, ensina a sabedoria popular.
O último destempero ocorreu na última quinta-feira, 28, quando o repórter da Fan FM, Marcos Couto, questionou o presidente acerca da polêmica dos gastos do Governo Federal com leite condensado, totalizando R$ 15 milhões. “É pra enfiar no rabo da imprensa”, respondeu Bolsonaro, para êxtase dos seus seguidores.
Que vergonha! Em qualquer país civilizado, com povo evoluído, o comportamento teria gerado indignação e cobrança de compostura ao chefe da nação.
Aqui houve euforia, gozo, gente que vê no gesto tresloucado do presidente uma espécie de vitória do bem sobre o mal. A vingança do povo contra a “criminosa” imprensa.
Mas, quais crimes cometidos pela imprensa? Cobrar respostas das autoridades sobre fatos que prejudiquem a população? Dar luz aos subterrâneos dos poderes? Denunciar escândalos? Proteger a sociedade dos tubarões? Cobrar ética, honestidade e respeito à Constituição àqueles que tentam se insurgir a ela?
Para esclarecer: a imprensa não defende projetos políticos. Defende interesses da sociedade. A imprensa denuncia atos de corrupção, não os pratica. A imprensa não é governo, cobra ações e transparência dos governos.
Ataques à imprensa não são novidades e nossa história guarda registros de períodos autoritários. Já tentaram vendá-la, amordaçá-la e calá-la, mas ela jamais temeu. Sempre venceu. Sua espada é a verdade. Seu inimigo, o arbítrio.
O presidente Jair Bolsonaro precisa se mostrar à altura do cargo que exerce e entender que “a imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”, como ensinou a Suprema Corte dos EUA.
Aqueles que comemoram festivamente os descontroles e ataques do presidente Jair Bolsonaro à imprensa demonstram falta de cognição sobre os papéis de um e de outro.
Imprensa livre é sinal de normalidade democrática. Ataques a ela prejudicam a sociedade e beneficiam quem deseja seu silêncio.
Felizmente, governantes autoritários passam e não deixam saudades. E a imprensa, sempre fica.
*É jornalista.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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