Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 25
de março de 2021
A conversão de Cármen Lúcia
A nova discípula de Gilmar acha que vilão é um juiz que
enfrentou o bando de Lula. Augusto Nunes:
Em 15 de agosto de 2017, Sérgio Moro deixava o hotel onde
abrira um seminário sobre a Justiça brasileira, promovido pela Jovem Pan,
quando avistou Cármen Lúcia, que chegava para a palestra de encerramento. Ao
lado do juiz que simbolizava a Lava Jato, acompanhei a curta troca de frases
cifradas.
— Ministra, estou preocupado com questão da segunda
instância — disse Moro.
— Eu não mudei — replicou a presidente do Supremo Tribunal
Federal.
— Não é a senhora que me preocupa, são os outros — sorriu o
juiz.
— Não vou pautar essa coisa — prometeu a ministra.
Naquele momento, a bancada chefiada por Gilmar Mendes
intensificava a pressão para que Cármen Lúcia pusesse em votação a proposta que
sepultava a possibilidade do início do cumprimento da pena logo depois da
condenação em segunda instância (interpretação adotada três anos antes com o
enfático apoio de Gilmar). A presidente do STF cumpriu a promessa. Mas a
mudança para pior ocorreu logo depois da sua substituição por Dias Toffoli, já
convertido em discípulo do impetuoso Maritaca de Diamantino.
Aquela Cármen Lúcia não existe mais, atestou nesta terça-feira
o voto que garantiu o final infeliz de outro faroeste à brasileira. Ao
juntar-se a Gilmar e Ricardo Lewandowski para asssegurar a maioria na segunda
turma do STF, e assim decretar que Moro agiu com parcialidade no processo sobre
o triplex do Guarujá, a ministra aderiu à conspiração urdida para transformar o
vilão em mocinho e o xerife em bandido. Nas últimas semanas, em conversas com
amigos, Gilmar vinha se jactando de ter atraído Cármen Lúcia para o bando que
comanda. Procurei acreditar que aquilo não passava de gabolice. Era tudo
verdade.
Os 11 titulares do Timão da Toga sabem que as provas contra
Lula e seus comparsas são robustas, contundentes e copiosas. Sabem que o
ex-presidente esteve no topo do organograma em que figuraram empreiteiros bilionários,
políticos do PT e outras siglas delinquentes, diretores de estatais nomeados
pelo chefão e ministros de estado, fora o resto. Sabem que a Lava Jato
desmontou o maior esquema corrupto de todos os tempos. Sabem que Moro e os
procuradores de Curitiba não perseguiram Lula; perseguiam uma quadrilha de
doleiros quando tropeçaram no mundaréu de evidências que levaram ao Petrolão.
Sabem, enfim, quem defendeu a lei e quem a violou.
A contra-ofensiva que mira a Lava Jato foi desencadeada
quando a devassa do pântano se aproximou perigosamente de alguns patifes de
estimação de Gilmar. Até então admirador declarado da operação, o juiz do
juízes transformou-a em inimigo a abater. Faltava uma terceira toga para que
Gilmar consolidasse a hegemonia na segunda turma. Ele e Ricardo Lewandowski
decidiram que chegara a hora da conversão da ministra mineira.
Neste 23 de março, saiu oficialmente de cena a cativante Cármen Lúcia modelo 2017. Foi substituída pelo modelo 2021 — insosso, inseguro e nada confiável. Carmen Lúcia, quem diria, já ganhou até codinome: “Carmendes”.
Texto e imagem reproduzidos do site: otambosi.blogspot.com
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