Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, 18 de
março de 2021
Bolsonaro próximo da linha vermelha
Para muitos brasileiros, Jair Bolsonaro já cruzou a 'linha
vermelha' há muito tempo. Para os líderes do Centrão, contudo, ainda há uma
margem de tolerância. Editorial do Estadão:
Para muitos brasileiros, Jair Bolsonaro já cruzou a “linha
vermelha” há muito tempo. Para os líderes do Centrão, contudo, ainda há uma
margem de tolerância para seu desgoverno – mas essa margem se estreitou
consideravelmente nos últimos dias.
“Não teremos paciência com ele”, disse o vice-presidente da
Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), referindo-se ao futuro ministro da Saúde,
Marcelo Queiroga. “É acertar ou acertar”, continuou o deputado, aliado do
presidente da Câmara, Arthur Lira, hoje um dos principais avalistas do governo
Bolsonaro. E arrematou: “A situação não permite que o ministro da Saúde tenha
tempo para aprender a ser ministro. As respostas terão que ser rápidas e
efetivas”.
A “linha vermelha”, disse o deputado Ramos, é a vacinação
contra a covid-19. Segundo o parlamentar, o Centrão não terá como continuar a
apoiar o presidente se o programa de imunização não deslanchar. Para o deputado
Ramos, o ministro Queiroga “começa com todo o apoio e com toda a torcida para
que dê certo”, mas, “se ele errar, serão outros milhares de brasileiros
mortos”.
Os líderes do Centrão ficaram agastados com a decisão de
Bolsonaro de contrariá-los no processo de substituição de Eduardo Pazuello no Ministério
da Saúde. A troca no Ministério foi uma imposição do Centrão, diante da
escalada da crise causada pela pandemia, agravada pela incompetência cavalar do
intendente Pazuello.
Políticos experientes, ao anteverem desastres eleitorais,
esses parlamentares e dirigentes partidários compreenderam que era preciso
urgentemente dar um rumo racional e profissional ao Ministério da Saúde, o que
seria impossível sob a gestão de Pazuello. Ofereceram alguns nomes a Bolsonaro,
mas todos foram recusados pelo presidente. Bolsonaro preferiu o médico Marcelo
Queiroga, cuja qualidade determinante para sua escolha foi o fato de ter sido
indicado pelo filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro.
Queiroga é amigo do sogro de Flávio.
Ao descartar os indicados pelo Centrão, optando por um
chegado da família, Bolsonaro “perdeu a chance de dividir (com o Congresso) a
responsabilidade” pela gestão do Ministério da Saúde, disse o deputado Fausto
Pinato (Progressistas-SP). “Se o ministro acertar, ótimo. E se errar? E se
aceitar as interferências (de Bolsonaro) e o País entrar em colapso?”,
questionou o parlamentar, outro integrante do Centrão.
As “interferências” a que o deputado Pinato se referiu são
sobejamente conhecidas: Bolsonaro sabotou a aquisição de vacinas, obrigou o
Ministério da Saúde a encampar tratamentos inócuos, fez campanha contra o uso
de máscaras e estimulou aglomerações, contrariando as orientações do próprio
Ministério. A esse respeito, o deputado Ramos foi enfático: “Bolsonaro nunca
teve apoio do Centrão para promover aglomerações nem para negar o uso de
máscara ou a gravidade da pandemia”.
Com isso, o Centrão começa a demarcar claramente o
território que pode definir sua manutenção como sustentáculo político do
governo – determinante até aqui para que não prosperassem nem os pedidos de CPI
para apurar responsabilidades sobre o desastre sanitário e humanitário nem os
inúmeros processos de impeachment já encaminhados ao Congresso.
O derretimento da popularidade de Bolsonaro explica em parte
a aflição do Centrão. Pesquisa do Datafolha divulgada na terça-feira mostra que
54% dos entrevistados consideram ruim ou péssimo o modo como o presidente está
lidando com a pandemia; em janeiro, eram 48%.
Na mesma pesquisa, 43% disseram considerar Bolsonaro o
principal responsável pela situação atual, enquanto apenas 17% atribuem essa
responsabilidade aos governadores. Ou seja, a campanha sistemática de Bolsonaro
para culpar os governadores pela crise parece ter fracassado.
Por fim, mas não menos importante, subiu de 50% para 56% o
porcentual de brasileiros que entendem que Bolsonaro não tem condições de
liderar o País. Depois de dois anos de desastre, é incrível que ainda haja 42%
que o vejam como um líder capaz. Mas esse contingente diminui a olhos vistos – e
o Centrão, que não joga em time que perde, já percebeu isso.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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