Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 23
de março de 2021
Forças Armadas: quem vai esticar a corda?
O que se coloca hoje é qual será a atitude do Exército se
Bolsonaro tentar alguma medida excepcional, escreve Merval Pereira:
Do jeito que a coisa vai, o Exército brasileiro será
colocado à prova muito em breve, quando o presidente da República resolver
decretar o estado de sítio, ou estado de defesa, ou qualquer medida emergencial
para calar os que o criticam e controlar as instituições.
O ex-comandante do Exército e general Eduardo Villas Bôas
revelou em entrevistas que a instituição foi sondada por emissários petistas
para apoiar a decretação de estado de defesa durante a tramitação no Congresso
do processo de impeachment que acabou tirando Dilma Rousseff da Presidência da
República. O general disse que assessores militares no Congresso foram
procurados, mas o Exército rechaçou a sondagem.
A ex-presidente negou ter acontecido tal episódio e desafiou
Villas Bôas a revelar quem foi o emissário petista, mas não obteve resposta. De
qualquer maneira, no relato do general, um ícone do Exército, autor de um
famoso tuíte, às vésperas do julgamento de um habeas corpus para Lula no
Supremo Tribunal Federal (STF), interpretado como pressão sobre os ministros
para que não soltassem o ex-presidente, o Exército brasileiro rejeitou uma
tentativa de golpe, o que seria uma atitude em defesa da democracia e do estado
de direito.
O que se coloca hoje é qual seria a atitude do Exército, do
qual Bolsonaro é oriundo e de cujo governo diversos militares, inclusive da
ativa, fazem parte, se o presidente tentasse recorrer a uma regra
constitucional excepcional para impedir que seus adversários políticos se
pronunciem ou que manifestações a favor do impeachment prosperassem?
O presidente Bolsonaro usa o que chama de “meu Exército”
para respaldar suas sandices, como fez domingo, em frente ao Palácio da
Alvorada, saudado por centenas de apoiadores. Voltou a chamar os governadores e
prefeitos que estão decretando medidas de restrição social, e em alguns casos
lockdown, de “tiranetes ou tiranos” que, segundo ele, “tolhem a liberdade de
muitos de vocês”.
Anteriormente, ele já dissera que estava chegando o momento
“de tomar medidas duras” e comparou o fechamento de comércio e outros
estabelecimentos a uma medida de exceção como o estado de sítio. Mais uma vez,
fazendo prognósticos sombrios sobre fome dos cidadãos, perguntou: “Será que o
governo federal vai ter que tomar uma decisão antes que isso aconteça? Será que
a população está preparada para uma ação do governo federal dura no tocante a
isso?”.
No domingo, retomou o tema, afirmando que poderiam contar
“com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade”. O presidente voltou a
advertir que “estão esticando a corda” e que faria qualquer coisa “pelo meu
povo”. Esse discurso delirante leva novamente à discussão sobre a tendência de
Bolsonaro usar o Exército como arma de ataque aos que considera seus inimigos,
agora sendo a vez de governadores e prefeitos. Tendo entrado no Supremo contra
medidas de isolamento social adotadas no Distrito Federal e nos estados da
Bahia e do Rio Grande do Sul, o presidente Bolsonaro faz uma pegadinha com os
ministros.
Ele sabe que a tendência é negarem seu pedido, ou simplesmente nem o examinarem, pois o Supremo já decidiu sobre o assunto, dando poderes aos estados e municípios para tomar as medidas necessárias, sem retirar do Executivo qualquer iniciativa que deva ser adotada. Quer simplesmente Bolsonaro reafirmar sua tese de que o STF e os governadores não o deixam governar, uma tese mentirosa e perigosa, pois pode embasar a tentativa de golpe que ameaça sempre.
O fato é que Bolsonaro, com o desastre que patrocina no
combate à Covid-19, está perdendo apoio, o que demonstra a carta dos
economistas divulgada na coluna de domingo, que desmascara a tese de que é a
esquerda que está contra seu governo. E também apoio político, pois até mesmo o
Centrão já está temeroso de continuar uma aliança acriticamente, só pensando
nas benesses imediatas, sem medir as consequências de longo prazo de estar
abraçado a um presidente que pode naufragar nessa travessia.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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