sábado, 7 de maio de 2022

'Bolsonaro tem medo da democracia', por Marco Antonio Villa

Publicação compartilhada do site da revista ISTOÉ, de 29 de abril de 2022 

Bolsonaro tem medo da democracia

Por Marco Antonio Villa

A campanha presidencial deste ano caminha, ao menos até o momento, a privilegiar temas que são instrumentais para obter a vitória eleitoral, mas não são os que realmente importam para o futuro do País. Os candidatos escolhem o terreno que preferem palmilhar, porém é fundamental redirecionar o debate eleitoral para os grandes problemas nacionais. O privilegiamento da pauta de costumes por parte de Jair Bolsonaro faz parte de uma estratégia de campanha que busca ocultar o desastre do combate à pandemia, os casos de corrupção e a falta de vitrine de realizações – afinal, o governo foi o pior da história republicana. Desviando para a pauta de costumes – e Lula já caiu recentemente nesta armadilha –, Bolsonaro reforça seus laços com sua base evangélica, legitima o discurso dos pastores e sinaliza para os bolsonaristas-raíz que ele continuará realizando o que eles chamam de “guerra ideológica.”

É importante destacar que a pauta de costumes tem sua relevância. Contudo, Bolsonaro rebaixa a discussão da questão com palavras vulgares e conclusões pueris. Demonstra uma ira pré-fabricada e constrói um passado que nunca existiu. A negação do presente e das novas contradições do mundo contemporâneo é um meio de buscar a polarização para fidelizar seus fanáticos seguidores. A eleição, portanto, é um mero pretexto para envenenar a sociedade brasileira com novos e velhos preconceitos distribuídos a esmo e sem nenhuma base científica.

O objetivo do nazifascista bolsonarista é de produzir o caos no processo eleitoral. Os extremistas não conseguem conviver com a pluralidade de ideias

Ao invés de tratar de milhões de crianças que passam fome, não têm acesso à escola, vivem em condições miseráveis e sem perspectivas de um futuro melhor, Bolsonaro vai, por exemplo, direcionar seu discurso para a proibição do aborto e a tentativa da “esquerda” de editar uma Bíblia gay – que deverá ser um dos motes da campanha desse ano substituindo o “kit gay” de 2018. Tudo sempre com muita mentira e temperado com teorias conspirativas e tendo no “gabinete do ódio” o instrumento para espalhar rapidamente as fakes news.

O objetivo central do nazifascista bolsonarista é de produzir o caos no processo eleitoral. Os extremistas não conseguem conviver com a pluralidade de ideias, com o debate democrático, com a divergência. Seu mundo é o do confronto, do ódio, da ignorância, do ressentimento, da vulgaridade. Teremos a eleição mais importante desde a redemocratização. O desafio aos democratas é de não cair na armadilha bolsonarista, que fará de tudo para transformar o processo eleitoral em uma guerra do Brasil consigo mesmo.

Sobre o autor

Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos (1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993). É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia (USP) e Doutor em História (USP)

Texto e imagem reproduzidos do site: istoe.com.br

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