terça-feira, 23 de agosto de 2022

'Descobri que sou do mal', por Paulo Roberto Dantas Brandão

Foto de Nelson Almeida/AFP e reproduzida do site G1 Globo, postada aqui pelo blog 'Ideias &  Lideranças', para simples ilustração do presente artigo

Artigo compartilhado do Perfil do Facebook de Paulo Roberto Dantas Brandão, de 23 de agosto de 2022

Descobri que sou do mal 
Por Paulo Roberto Dantas Brandão

Descobri que sou do mal. Como descobri? Desde que li postagens dizendo que Bolsonaro é o bem, que com ele o Brasil vencerá na guerra do bem contra o mal. Como não estou rezando por Bolsonaro, não espero que ele vença, e votarei em qualquer um, menos nele, então sou do mal. 

Há muito que desconfiava que sou do mal. Tenho mania de defender a democracia representativa, o estado democrático de direito, como diz a nossa Constituição. Então não tem jeito, eu sou do mal. Defendo essa Constituição que estabelece a separação de poderes, e repudio qualquer tentativa de emparedar ou comprometer o funcionamento de tais instituição. Como sou avesso ao arbítrio, então eu sou do mal.

Quando tentam fechar o Congresso Nacional, esse Congresso ruim, mas cujos representantes, muitos corruptos, não tiveram um mandato divino, e foram colocados lá por nós. Quando acredito que o Judiciário, com todas as mazelas, tem que funcionar dentro das regras do sistema democrático. E quando defendo que a vontade do presidente não é a lei, fico convencido que eu sou do mal. 

Há algum tempo estou do lado errado da força. Repudio ditaduras, sinto asco de regimes autoritários. Acho que regimes militares são ruins. Que a Revolução de 64 foi um mal. Que o AI-5 foi uma aberração. Que tortura é crime, e que torturador é um degenerado que não pode ser considerado humano; portanto homenagear torturadores é atentar contra o que é humano. Não acredito que a segurança vem com a liberação de armas, nem aceito o fortalecimento de milícias. Sou do mal. 

Claro que tenho erros, mas entre eles não há qualquer concessão contra a democracia. Ah! A democracia, essa prostituta que tem me atraído sobremaneira. Esse regime que o abilolado do Churchill disse que é o pior de todos, com exceção de todos os outros. Claro, eu sou do mal.

Não acredito em teorias conspiratórias. Acho que o globalismo é uma tendência aperfeiçoadora da humanidade. Não vejo comunistas em todos os cantos, nem acho que eles comem criancinhas; aliás, acho que eles nem existem mais. Não acho que os esquerdistas são “o grande mal” do mundo. Logo eu que dia desses tive o desplante de dizer que me via distante dos extremismos, mas não há como fugir à conclusão óbvia que sou do mal.

Não acredito que a terra seja plana. Acho que a cultura e a educação devem ser valorizadas, que o aquecimento ambiental global deve ser uma preocupação, que a Amazônia deve ser cuidada, que a questão ambiental é séria e deve ser alvo de políticas públicas responsáveis. Por isso eu sou do mal. 

Tenho encontrado companhias estranhas. Não me considero mais católico, mas ando concordando com o Papa Francisco. Desde João XXIII que não apreciava a parolagem dos Senhores Papas. Mas esse “Papa Comunista” tem dito para mim algumas coisas que acho coerentes. Não posso fugir da constatação que tal companhia me coloca do lado do mal. 

Não aceito esse Estado de confrontação permanente. Não acho justo essa eleição de inimigos a cada momento. Nem acho lícito essa predominância dos ataques gratuitos que hoje chamam de fake News, que não passam de mentiras, mesmo. Ao contrário, tenho cometido o crime de bradar sobre o que considero desvios, atitudes antidemocráticas, e chamar pessoas para um debate franco e aberto. Tal comportamento, o meu que fique claro, deve ser mesmo abominável. Portanto, sou do mal.

Pelo que tenho visto nas Redes Sociais a maioria da classe média tem posição diametralmente oposta à minha, com raras exceções. Ora, se a grande maioria, da classe média que fique claro, não está errada, e é do bem, é porque eu sou do mal.  Mas aqui e ali encontro algumas pessoas que concordam comigo. Devem ser almas desgarradas. 

Mas não tem jeito. Sou do mal, e tenho me orgulhado disso.

Texto reproduzido do Perfil Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão

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