segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Artigo de Ricardo Amorim, sobre o episódio de Roberto Jefferson

Publicado originalmente no Perfil do Facebook/Ricardo Amorim, em 23 de outubro de 2022

O episódio de Roberto Jefferson atacando com granadas e tiros de fuzil policias federais que foram executar ordem de prisão contra ele é mais um exemplo do desarranjo que líderes irresponsáveis criaram no país.

Jefferson já foi aliado de Lula e do PT e cumpriu prisão por seu envolvimento no mensalão.

Mais recentemente, em agosto de 2021, agora como membro da tropa de choque de Bolsonaro, foi preso por usar milícias digitais para atacar instituições e o processo eleitoral. Em janeiro deste ano, Moraes liberou-o para cumprir apenas prisão domiciliar desde que respeitasse medidas cautelares, que ele respeitou. A gota d’água, que levou à nova ordem de prisão contra ele, foi um vídeo publicado por sua filha Cristiane Brasil nas redes sociais em que ele chama a ministra do STF, Carmén Lúcia, de “prostituta”, “arrombada” e “vagabunda”.

A ordem está desmoronando no país. Se este processo não for revertido, caminhamos para a anarquia. A maioria no Brasil parece convencida de que nenhuma instituição presta. Portanto, não precisa ser respeitada. Cada um tem o direito de fazer o que bem entender.

A esculhambação no Brasil começou com a reversão da condenação de Lula pelo STF. O senso de justiça foi para o espaço.

Desde então, Bolsonaro aproveita o fato para descredibilizar a Justiça e o processo eleitoral - o que lhe é conveniente considerando-se investigações de denúncias de corrupção contra seu próprio governo e sua família e o risco de derrota nas eleições.

Para completar, a Justiça abusa de seus poderes e o Congresso é indiferente à população, reforçando a narrativa.

O Brasil sente-se rachado por todos os lados: minorias contra maiorias, pobres contra ricos, Executivo contra Legislativo e/ou contra Judiciário, governo federal contra estados e municípios e, principalmente, bolsonaristas contra lulistas.

Neste processo tudo - saúde, educação, justiça, economia, etc - foi politizado. Discussões técnicas ficam de lado e a credibilidade das instituições cai cada vez mais.

Muitos apoiadores de um lado e de outro parecem convencidos de que estão em uma guerra santa. Qualquer prova contra seu salvador só pode ser parte de uma conspiração contra sua luta sagrada para salvar o país do mal representado pelos adversários políticos.

Como já disse diversas vezes, a economia brasileira tem tudo para ter um desempenho melhor do que a maioria imagina no ano que vem. Dificilmente, um próximo governo Bolsonaro ou Lula errarão tanto tão rapidamente para impedir que isto aconteça.

O que me preocupa não é a economia, ao menos não em 2023. O que me preocupa é mais fundamental: democracia, estabilidade institucional, justiça e respeito à lei; todos cada vez mais frágeis.

Em si só, estes já são valores tão importantes quanto a economia. Além disso, se continuarem a ser fragilizados, vão acabar enfraquecendo substancialmente também a economia e indicadores sociais por melhores que sejam as políticas econômicas e sociais do próximo governo.

Ou o Brasil acaba com a polarização ou a polarização acaba com o Brasil.

Texto e imagem reproduzidos do Perfil do Facebook/Ricardo Amorim

Link post original no Facebook > https://bit.ly/3z8AQGV

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