domingo, 28 de setembro de 2025

Gad Saad: "o politicamente correto se tornou um câncer na sociedade".



Entrevista compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 27 de setembro de 2025

Gad Saad: "o politicamente correto se tornou um câncer na sociedade".

Crítico da cultura woke, o psicólogo afirma que os seres humanos podem ser parasitados não só por vermes que atacam fisicamente o cérebro, mas também por vermes ideológicos. Entrevista a José Fucs, da Oeste:

O psicólogo Gad Saad, de 60 anos, é um crítico rigoroso do politicamente correto e das políticas identitárias que contagiaram o mundo ocidental nas últimas décadas. Por suas posições bem fundamentadas contra a cultura woke e pela forma direta e clara de comentar acontecimentos globais, como a invasão do Ocidente por imigrantes islâmicos, tornou-se um dos principais influenciadores digitais em sua área de atuação.

No X, onde é mais ativo, alcançou 1,1 milhão de seguidores, entre eles o empresário Elon Musk, controlador da plataforma, que outro dia republicou um post seu adicionando o seguinte comentário: “Todo mundo deve ler os livros de Gad”. Ele tem também 350 mil inscritos em seu canal no YouTube, onde apresenta um podcast chamado The Saad Truth (“A verdade de Saad”), e outros 200 mil seguidores no Facebook e no Instagram.

Nascido numa família judia no Líbano, de onde saiu no início da guerra civil, em 1975, e naturalizado canadense, Saad foi professor e pesquisador durante 32 anos da Universidade Concordia, localizada em Montreal, e agora está de mudança para a Universidade do Mississippi, nos Estados Unidos. Dedicou a sua vida acadêmica principalmente ao estudo do comportamento do consumidor e do comportamento humano de forma geral, pela lente da biologia e da psicologia evolucionistas.

Nesta entrevista a Oeste, feita por videoconferência, Saad fala sobre os temas tratados em seu best-seller A Mente Parasita, publicado no Brasil em 2021 pela Editora Trinitas, como os “patógenos” que estão dominando a mente das pessoas, levando-as a negar a realidade e a adotar “posições idiotas”. “Os seres humanos podem ser parasitados não apenas por vermes que atacam fisicamente o cérebro, mas também por vermes ideológicos”, afirma. “O politicamente correto tornou-se um câncer para perseguir objetivos que deveriam ser baseados no mérito.”

Saad fala também sobre a “cultura da ofensa”, o “vitimismo” e o “stalinismo” que tomou conta das universidades, hoje transformadas, segundo ele, em “campos de treinamento de polícias politicamente corretas”. E dá a receita para as pessoas enfrentarem os “parasitas ideológicos”: “É preciso ativar o seu texugo-do-mel, que é considerado o bicho mais feroz do reino animal. É claro que não estou falando para as pessoas serem fisicamente violentas, mas para não se acovardarem num canto e ficarem chupando o dedo e tendo medo de suas sombras”.

“O maior perigo do politicamente correto e da polícia do pensamento não é o governo mandar você ficar quieto. É a autocensura.” Confira os principais trechos da entrevista:

No seu livro, o senhor diz que há “uma pandemia de ideias ruins” assolando o Ocidente e que isso está levando muitas pessoas a adotar “posições idiotas”. Que ideias e posições são essas a que o senhor se refere?

Antes de a gente entrar nesta questão, deixe-me voltar um pouco no tempo e lhe contar como foi a minha trajetória científica e como isso me levou a escrever A Mente Parasita. Como eu aplico a biologia evolucionista e a psicologia evolucionista no estudo do comportamento, é claro que acredito que os seres humanos são criaturas biológicas, como o gato, o cachorro, o leão e a girafa. Mas, por alguma razão, os cientistas sociais passaram a acreditar que há apenas uma espécie na qual a biologia não importa: a dos seres humanos, chamada de Homo sapiens. Isso me levou a perguntar: como as pessoas podem ser tão idiotas? Como algo tão claro pode se tornar tão controvertido, quando tento publicar um artigo científico sobre a evolução humana, com base nas diferenças de sexo, nas diferenças entre homens e mulheres? Foi aí que me dei conta do que estava acontecendo e procurei desenvolver um arcabouço que me ajudasse a entender o que leva as pessoas a negar uma realidade tão óbvia. E, ao estudar a literatura sobre os animais, encontrei um campo da ciência que se tornou o ponto central do meu livro: a neuroparasitologia.

O que é exatamente a neuroparasitologia e como ela se relaciona com o politicamente correto e as políticas identitárias que o senhor aborda no livro?

A parasitologia é o estudo das interações de parasitas hospedeiros. A tênia, por exemplo, é um parasita que pode viver e se alimentar no intestino humano. Já um neuroparasita é um parasita que se hospeda no seu cérebro, alterando os seus circuitos mentais para atender os seus interesses. Veja o caso do grilo-da-madeira ou grilo do bosque. Ele detesta água, mas quando é alvo de um verme de cabelo, age contra as suas próprias características. O verme de cabelo precisa que o grilo pule na água e cometa suicídio, para poder completar o seu ciclo reprodutivo. O grilo se torna um zumbi. Seu cérebro é sequestrado para servir ao parasita. Esse foi o meu momento de eureca. Foi quando me dei conta de que poderia usar o arcabouço da neuroparasitologia para mostrar que os seres humanos podem ser parasitados não apenas por vermes que atacam fisicamente o cérebro, mas também por vermes ideológicos.

Voltando à pergunta inicial, então, que “vermes ideológicos” são esses a que o senhor se refere?

Vamos começar com o maior de todos, que é um grande parasita do cérebro, inclusive no Brasil: o pós-modernismo. O pós-modernismo acredita que não há verdades objetivas, que tudo é definido pela subjetividade, pela posição relativa de cada um. Não há padrões universais. E, se não há padrões universais, subida é descida, esquerda é direita, masculino é feminino, liberdade é escravidão, guerra é paz. Uma tela em branco se torna uma bela pintura, porque quem é você para julgar o que é arte. Não há medidas estéticas objetivas. Isso é uma forma de niilismo, do que eu chamo de “terrorismo intelectual”. Então, o que eu faço no livro é apresentar uma série desses parasitas ideológicos que agem no nosso cérebro e procurar oferecer uma vacina mental contra esse tipo de coisa.

Além do pós-modernismo, o senhor pode citar outros “parasitas ideológicos” que estão por aí atacando o cérebro das pessoas?

O relativismo cultural é outro exemplo. O relativismo cultural, como o próprio nome já diz, é um conceito que rejeita a ideia de um padrão cultural absoluto. De acordo com o relativismo cultural, quando você está analisando algo sobre uma cultura, tem de levar em conta os seus aspectos específicos. Se uma sociedade decide que deve cortar o clitóris das garotas de cinco anos, quem é você, racista, para julgar os seus valores culturais? Não há normas morais universais, como não há verdade científica universal, assim como não há preferências estéticas universais. O construtivismo social é mais um exemplo, que também é muito forte no Brasil. O construtivismo social defende a ideia de que os seres humanos nascem como tábula rasa, de que nascemos sem nada no nosso cérebro e apenas a socialização faz com que nós sejamos quem somos. Então, se eu prefiro mulheres de um determinado tipo, não é por causa da minha biologia. É porque eu devo ter assistido vídeos de música para ter aprendido isso. Se sou uma mulher que gosta de caras grandes e fortes, não pode ser por causa da biologia. Deve ser porque eu li romances que me ensinaram isso. Então, pelo social-construtivismo, todos nós nascemos iguais, com potencial igual, sem influências biológicas.

Isso não é algo positivo, por colocar em xeque a ideia de que a nossa vida é determinada no nascimento?

Essa é uma mensagem que pode até trazer esperança, mas é totalmente equivocada. É claro que é auspicioso acreditar que, quando o meu filho nascer, poderei transformá-lo no próximo Lionel Messi, se eu encontrar o momento exato para reforçar as suas habilidades futebolísticas. Se eu puder abraçar o meu filho o suficiente — ou talvez não o abraçar o suficiente — ele poderá se tornar o próximo Messi. Se eu puder lhe dar a dose certa de hambúrguer, ele poderá se tornar o próximo Messi. Ou o próximo Einstein. Ou quem for. Trata-se de uma mensagem encorajadora, mas completamente desvinculada da realidade. Todos esses patógenos de ideias partem de objetivos nobres, mas, ao buscá-los, estamos assassinando e estuprando a verdade.

Agora, afinal, como isso se relaciona com o politicamente correto e com as políticas identitárias que contagiaram as universidades e a sociedade ocidental de forma geral?

Eu vou lhe dar um exemplo ocorrido na Universidade Concordia, em Montreal, onde fui professor por 32 anos. A Universidade Concordia queria ser muito amável, muito empática e ter muita compaixão. Achou, então, que não era justo, que não era bom que todos os físicos que estudavam a física da luz, a física óptica, fossem brancos, e que deveria haver maior diversidade. De repente, a física da luz deixou de ser totalmente verdadeira, porque quem gerou esse conhecimento tinha uma característica dermatológica específica. Eu tenho sorte, porque venho do Oriente Médio e a minha pele é um pouco mais escura. Agora querem “indigenizar” e “descolonizar” todos os campos de estudo. Este é um exemplo de como o politicamente correto — que é a ideia de que nós devemos favorecer pessoas que pertencem a certos grupos sociais, como mulheres, povos indígenas, pessoas com deficiência e minorias, para que sejamos todos iguais — tornou-se um câncer para perseguir objetivos que deveriam ser baseados no mérito.

No livro, o senhor chama esse conjunto de vírus ideológicos de Síndrome do Parasita de Avestruz (SPA). Por que o senhor escolheu esse nome?

Há uma metáfora de que o avestruz, que é um grande pássaro que não voa, esconde a cabeça na terra para evitar a realidade. Embora não seja verdade que isso aconteça, a metáfora passou a ser usada por todos nos casos em que as pessoas querem evitar a dura realidade. Muita gente prefere esconder a cabeça na terra para não ter de enfrentar os seus problemas. Então, eu chamei esse conjunto de vírus ideológicos que agem sobre o cérebro humano de Síndrome do Parasita de Avestruz, porque há certas realidades que as pessoas não deveriam esconder a cabeça na terra para evitar. Se elas fizerem isso, vai acontecer o que acontece com o grilo-da-madeira, que pula na água e comete suicídio, quando hospeda o verme de cabelo. Quando você pensa, por exemplo, que todas as religiões são igualmente capazes de promover atos terroristas, parabéns: você é um avestruz. Porque há uma coisa chamada dados, há uma coisa chamada realidade. Nós podemos escolher ignorar a realidade ou admiti-la e agir de acordo com ela.

O senhor poderia dar mais um exemplo de como a Síndrome do Parasita de Avestruz funciona?

A política de imigração de fronteiras abertas é outro exemplo. Quando a gente defende uma política de fronteiras abertas, estamos sendo empaticamente suicidas, que é o tema do meu próximo livro. Estamos dizendo que é injusto, que não é bom, que não é solidário argumentar que nem todas as pessoas são igualmente capazes de se assimilar na sociedade brasileira. Mas até uma criança de três anos saberia que, se eu vier de Portugal, a probabilidade de me assimilar no Brasil, mesmo que seja apenas por falar a mesma língua, pode ser maior do que se eu vier do Paquistão. Isso não quer dizer que não existam pessoas bonitas, amáveis e pacíficas no Paquistão. Mas os valores culturais importam. As culturas não são intercambiáveis. Agora, se eu sou infinitamente suicida e empático, rejeito essa ideia. Agora, um exemplo perfeito da Síndrome do Parasita de Avestruz é o que aconteceu no 11 de Setembro de 2001, há 24 anos. Desde o ataque ao World Trade Center, houve mais de 48 mil atos terroristas cometidos por pessoas de origem islâmica em quase 70 países. 48 mil apenas nos últimos 24 anos — e o número continua aumentando. Mas, no Ocidente, se você perguntar a professores e jornalistas famosos, no Brasil e em outros países — muitos dos quais sofrem da Síndrome do Parasita de Avestruz — qual é o principal fator que está levando terroristas islâmicos a cometer esses atos, eles não vão lhe dizer que há uma passagem no livro sagrado deles que justifica a explosão de uma estação de trem, em meio a gritos de “Allahu Akbar” (Alá é o maior). É assim que ela funciona. É como se um médico lhe dissesse que você está com um câncer muito perigoso e você afirmasse que não tem câncer e só está se sentindo mal porque está com fome.

O senhor afirma também que o “stalinismo ideológico” se tornou uma realidade diária nas universidades e que elas servem hoje como “campos de treinamento de polícias politicamente corretas” e de “guerreiros da justiça social”. Quem são esses guerreiros e como eles costumam agir? Qual o efeito que isso tem na vida acadêmica e na sociedade como um todo?

As pessoas pensam que você precisa de um milhão de guerreiros de justiça social no campus para causar o caos, mas não é verdade. Voltando ao 11 de Setembro, quantos terroristas você acha que foram necessários para mudar a paisagem de Nova York? 19 milhões? 190 mil? Não. Só foram necessários 19 terroristas, que eram muito comprometidos com os seus objetivos de derrubar as Torres Gêmeas. Só 19. Então, não precisa de 19 milhões de loucos, nem de 190 mil, no campus, para manter o resto de nós em silêncio. Não digo isso por mim mesmo, porque eu nunca fico quieto. Mas muitas pessoas têm medo de falar o que pensam. Então, na minha visão, o maior perigo do politicamente correto e da polícia de pensamento não é o governo mandar você ficar quieto. É a autocensura. Muita gente pensa: “Se eu for um aluno e disser na aula que talvez goste do Donald Trump, será que o professor vai me dar uma nota baixa? Será que os outros alunos vão pensar que eu sou uma pessoa ruim, por dizer que talvez o Donald Trump não seja um cara tão mau? Talvez seja melhor eu ficar quieto. Assim, eu não corro o risco de receber uma nota baixa e os meus amigos vão continuar a gostar de mim”. Hoje, o efeito de censura no Ocidente não vem tanto do governo, mas da criação de um ambiente em que todos ficamos com medo de pensar. É isso que é o stalinismo ideológico. Você é enviado para o Gulag por falar as coisas erradas.

Essa autocensura atinge também os professores? Eles também acabam ficando em silêncio para não serem perseguidos?

Posso lhe mostrar artigos muito dolorosos, escritos por professores, em que eles afirmam que têm medo de dizer uma palavra que leve algum estudante a se sentir ofendido e a denunciá-los para o diretor ou o reitor por causa disso. Os estudantes têm medo de falar na classe e os professores têm medo de dizer algo que possa ofender alguém. Nesse ambiente, é melhor você não fazer nenhuma pesquisa que ofenda alguém. É melhor você não encontrar nenhuma diferença de gênero. Agora, se a sua pesquisa sobre diferença de gênero mostrar que as mulheres são superiores aos homens em alguma coisa, aí você pode publicá-la com orgulho. Mas, se você, Deus nos livre e guarde, descobrir que os homens podem fazer algo melhor do que as mulheres, por favor deixe isso escondido na sua mesa, porque eles não querem propagar estereótipos sexistas. Só que não é assim que a ciência funciona. A ciência é a busca incessante da verdade, independentemente do que é politicamente correto e de ferir os sentimentos das pessoas. Hoje, a proibição de falar qualquer coisa que possa ofender, irritar ou insultar alguém que seja considerado “minoria” ou “progressista” se tornou parte do espírito do Ocidente.

Como o politicamente correto e as políticas identitárias estimulam essa cultura da ofensa e do vitimismo?

Uma sociedade construída com base na dignidade individual tem as suas raízes na ética da meritocracia. Você e eu podemos entrar no ringue e ambos sabemos as regras do jogo. Se eu ganhar, recebo a medalha. Se você ganhar, você recebe. Nós entramos no ringue com oportunidades iguais. O que a ética do vitimismo faz é dizer que “não, nós não podemos entrar no ringue com oportunidades iguais para competir, porque talvez você tenha a mesma cor da pele de alguém que sofreu por causa disso há 300 anos. Nenhuma das pessoas que foram vítimas naquela época nem os perpetradores têm nada a ver com ninguém hoje, mas as pessoas usam isso para se beneficiar na escala social.

Onde vamos parar com essa coisa toda?

Quando a gente mistura políticas identitárias com vitimismo, chega ao socialismo e ao comunismo de forma muito rápida. O E. O. Wilson (Edward Osborne Wilson), que era um professor e um biólogo muito famoso na Universidade Harvard, estudou o comportamento social das formigas e disse algo sobre isso que vale a pena mencionar. As formigas são comunistas, porque há uma rainha reprodutiva e todas as outras fazem parte de castas indistinguíveis de trabalhadoras e guerreiras. Então, quando perguntaram ao professor Wilson as suas opiniões sobre o socialismo e o comunismo, ele deu uma das melhores respostas que eu já ouvi: “É uma grande ideia, mas para a espécie errada”. No Brasil, quando vocês implementam o seu maldito socialismo, estão tentando aplicar um sistema político, econômico e social que pode ser ótimo para as formigas, mas é totalmente inadequado para os seres humanos. É por isso que tentamos implantar o comunismo em muitas, muitas culturas diferentes, para demonstrar mais empatia, mais compaixão e nos sentirmos mais amigáveis, sempre com o mesmo resultado. Afinal, não é justo que você possa ganhar mais dinheiro do que eu. Não seria melhor para o Estado benevolente e generoso pegar todo o seu dinheiro para me dar? Aí, nós seríamos iguais. Isso pode trazer um bom sentimento, se você for uma criança de três anos. Mas, se você entende como a vida funciona, percebe que sempre vai falhar.

O senhor conhece o comediante britânico Ricky Gervais? Ele tem uma frase que resume bem essa questão da cultura da ofensa e do vitimismo. Ele diz que “só porque alguém se sente ofendido por algo ou por alguém, não significa que está certo”. O senhor concorda com ele?

Concordo 100%. Conheço o Ricky. Tivemos contato no passado e ele me segue nas redes. Ele é meu fã e eu sou fã dele. Em A Mente Parasita e também no livro que escrevi depois, chamado “A Triste verdade sobre a felicidade”, menciono uma ideia do Sêneca, que era um filósofo romano estoico, quando abordo essa questão. Basicamente, o Sêneca argumentava que as árvores mais fortes são as que enfrentam muito vento, porque têm de desenvolver a habilidade de resistir a ele. Aí, elas ficam com troncos fortes, raízes fortes. Em outras palavras, para elas terem maior capacidade de lidar com o ambiente, têm de enfrentar ventos estressantes. Ser ofendido é como enfrentar o vento. Isso nos torna mais fortes. Se eu viver em um mundo totalmente higienizado, apenas cantando Imagine, de John Lennon, não estarei preparado para enfrentar os momentos mais difíceis da vida. Isso pode ser muito romântico, mas não é assim que a vida funciona. Uma das razões pelas quais a minha voz alcança milhares de pessoas é porque atuo no mundo real, tendo enfrentado fatores reais de estresse. Então, não, eu não tenho o direito de não ser ofendido. Isso é parte da vida. Espero que eu possa lidar com isso com ideias melhores.

O seu livro A Mente Parasita foi publicado originalmente em 2020. O que mudou nos temas que o senhor aborda desde a sua publicação, cinco anos atrás?

Depende de que país estamos falando. No Canadá, a situação só está piorando. Sabe como o animal se torna o mais perigoso quando está ferido? Então, no Canadá, eles estão dobrando, triplicando a aposta na loucura. Há zero autocorreção. O Justin Trudeau, do Partido Liberal, que se tornou primeiro-ministro em 2015, é um exemplo ambulante de cada ideia parasita que discuto no livro. É um degenerado lobotomizado. As meias que uso com os meus sapatos são substancialmente mais sofisticadas do ponto de vista intelectual do que o Justin Trudeau. Mas, veja, ele é alto, tem lindos cabelos, é jovem. Isso pareceu bom o suficiente para muita gente. Então, os canadenses votaram nele uma vez e ele chegou ao poder. O resultado foi que o Canadá entrou numa decadência desastrosa em todas as métricas em que você possa pensar. Aí, a solução foi “vamos votar nele mais uma vez” — e o Canadá continuou a ir para o inferno. Depois, a solução foi “vamos levantá-lo uma terceira vez” — e ele acabou renunciando. A saída, dessa vez, foi trazer um cara que talvez não fosse tão woke quanto o Trudeau, o Mark Carney, para substituí-lo. Mas ele é exatamente igual ao Trudeau, o mesmo elitista, o mesmo “wokista”.

No caso dos Estados Unidos, com a volta de Donald Trump à Casa Branca, o quadro mudou bastante. Qual a sua visão sobre o que está acontecendo lá?

Nos Estados Unidos, sim, nós temos o Donald Trump, e estamos vendo um recuo, mas isso não vai acabar num passe de mágica. O mandato do Trump termina em 2028. E se aparecer outro presidente como a Kamala Harris (ex-vice-presidente dos EUA e ex-candidata à presidência em 2024)? Bom, aí voltaremos ao que havia antes do Trump. Então, o que é preciso fazer éerradicar de forma permanente e definitiva essas ideias amaldiçoadas. E isso não vai acontecer em um ano, três anos ou cinco anos. Vai levar uma geração para tornar descaradamente idiota acreditar nessas coisas.

Na sua avaliação, qual é a melhor forma de enfrentar essa situação? Que vacinas podemos aplicar contra esses vírus ideológicos?

Como falo em A Mente Parasita, é preciso ativar os seus texugos-de-mel interiores. O texugo-de-mel é considerado o bicho mais feroz do reino animal. É um título grandioso, porque há muitos animais ferozes por aí, mas ele é o número 1. É apenas do tamanho de um cachorro pequeno ou médio, mas, mesmo assim, anda num território muito perigoso na savana africana em meio a leões e hienas. Quando os leões veem o texugo-de-mel passando por perto, eles dizem “desculpe-me, senhor, não quis incomodar” e vão para o outro lado da rua. Agora, quando digo para as pessoas ativarem seu texugo-de-mel, é claro que não estou dizendo para elas serem fisicamente violentas. O que estou pedindo é para que elas sejam ferozes ao defender a realidade, o senso comum, a decência, a ciência, a razão, a lógica, as liberdades de pensamento e de expressão, e para não se acovardarem num canto e ficarem chupando o dedo e tendo medo de suas sombras.

Como o senhor disse há pouco, algumas pessoas têm medo de perder os seus amigos, o seu trabalho. Têm medo de ser canceladas. Como elas podem “agir como o texugo-do-mel” nessa situação?

Como Aristóteles nos explicou há milhares de anos, “todas as coisas boas com moderação”. Muito pouco não é bom. Demais não é bom também. Muito da vida é sobre encontrar esse ponto de equilíbrio. Isso é algo que abordo em detalhes no meu livro sobre felicidade. Se você é um soldado covarde, isso não é bom, porque você não conseguirá lutar. E, se você é tão corajoso a ponto de ser imprudente, vai morrer em 15 segundos. Entendo o reflexo para modular qual será a sua contribuição para a luta em função de sua própria avaliação de risco. Mas isso não significa que você deve ficar quieto e não dar nenhuma contribuição para a batalha, porque estará jogando a responsabilidade nos meus ombros. Então, acho perfeitamente razoável você decidir quanto risco quer assumir. Mas você não tem o direito de não assumir risco algum.

Em paralelo às suas críticas sobre a cultura woke, o senhor tem se mostrado muito preocupado com a expansão do islamismo no Ocidente. Em sua avaliação, quais são os riscos que isso apresenta?

As culturas e as religiões têm muitas coisas parecidas, mas muitas coisas diametralmente opostas. O badmínton, por exemplo, é um esporte. O boxe, também. Ambos são esportes e começam com a letra b. Isso não significa que eles sejam igualmente capazes de criar danos cerebrais. A maioria das pessoas concorda que é mais provável você ter um dano cerebral se lutar boxe do que se jogar badmínton. Agora, vamos aplicar isso à imigração. Na Islândia, um pequeno país com apenas 400 mil habitantes, onde dei uma palestra recentemente, eles são muito, muito empáticos e muito progressistas. Quando estava lá, diante de um grande público, eu disse: “Se eu despejar aqui 150 mil imigrantes da Dinamarca ou do Iêmen, alguém acredita que as pessoas do Iêmen têm maior probabilidade de assimilação? Se alguém concordar com isso, por favor, levante a mão.” Sabe o que aconteceu? Todo mundo ficou desconfortável e abaixou a cabeça, porque sabia qual era a resposta, mas não queria dizer porque achava que era algo ruim.

Na sua visão, o que explica essa diferença nas perspectivas de assimilação dos dois grupos?

Não é porque as pessoas do Iêmen são todas más. É porque culturas, religiões, podem ou não se misturar bem. O que fez o Ocidente grande é que temos certos valores que são extraordinariamente únicos na história: liberdades individuais, liberdade religiosa, liberdade de associação, liberdade de questionar, liberdade de expressão. Esta é uma realidade única em toda a história da humanidade. O islamismo não defende esses valores. Isso não diz nada sobre os muçulmanos individualmente. Posso ter mais em comum com um muçulmano que é muito secular do que com um judeu ortodoxo, mesmo que eu seja judeu. Então, não estamos falando de indivíduos, estamos falando sobre uma coisa chamada realidade estatística. A vida é navegar através de realidades estatísticas.

O senhor pode dar um exemplo de como essa “realidade estatística” funciona no nosso dia a dia, para esclarecer o que isso significa?

Se estou caminhando por uma rua escura e há quatro rapazes vindo atrás de mim, faz todo o sentido eu ficar mais preocupado do que se fossem quatro freiras idosas. Não porque eu seja sexista em relação às freiras idosas, mas porque reconheço que, na média, estatisticamente, os rapazes tendem a ser mais perigosos do que elas. Então, quando se trata da imigração para o Ocidente, se você permitir a entrada de milhões de pessoas que não compartilham os seus valores fundamentais, não precisa de um professor badalado para lhe dizer que vai ter problemas. É algo tão claro quanto o que acontece com quem tem diabetes. Sabemos exatamente o que acontece com quem tem diabetes. Sabemos exatamente o que vai acontecer se deixarmos pessoas que não compartilham os nossos valores imigrarem para o Ocidente. Individualmente, os muçulmanos podem ser as pessoas mais lindas do mundo, mas o islamismo pode não ser perfeitamente congruente com os valores ocidentais.

Como o senhor explica a aliança entre a esquerda e o radicalismo islâmico, que persegue homossexuais, subjuga as mulheres e essa coisa toda que vai contra as suas bandeiras?

O primeiro objetivo que os muçulmanos radicais e a extrema esquerda têm em comum é o ódio ao Ocidente. Algumas ramificações desse ódio têm origens comuns, outras, não. Mas o que os une em torno da mesa de jantar é que todos odeiam o capitalista e o malvado e nojento Ocidente. Então, por que não unirmos as nossas forças para sairmos do capitalista e malvado Ocidente? E, obviamente, tanto a extrema-esquerda quanto os muçulmanos radicais pensam que, quando acabarem com o capitalismo e o Ocidente nojento, eles é que vão assumir o poder. Mas a esquerda radical não sabe da pequena surpresa que a espera quando eles se livrarem do Ocidente. Considere, por exemplo, o grupo Queers for Palestine (Gays pela Palestina). Que tipo de pessoa pode realmente acreditar nisso? Se você é gay, beleza. Você quer ser gay, tudo bem, mais poder para você. Viva e deixe viver. Mas, se a questão central da sua identidade for a sua homossexualidade, será que você deve dar o seu apoio à Palestina ou a Tel-Aviv, que é um dos lugares mais amigáveis para os gays do mundo, depois de São Francisco, Nova York e Montreal? Por outro lado, em Gaza, há uma terapia muito eficaz para conversão de gays. É chamada “terapia de conversão baseada na força da gravidade”. Jogamos você do telhado, você se espatifa no chão e resolve a sua homossexualidade. É exatamente por isso que uso os termos mente parasita e empatia suicida.

Aproveitando o gancho, o que o senhor pode nos dizer sobre o seu próximo livro, cujo título será justamente Empatia suicida. O que ele vai abordar e quando será lançado? Vai ser lançado também no Brasil?

Atualmente, estou trabalhando no rascunho. Estou quase terminando a primeira versão. É difícil dizer exatamente quando será lançado, mas diria que provavelmente será no meio de 2026. O lançamento será global. O livro nem está disponível e já se tornou totalmente viral. Ao fazer uma pesquisa online com o título do livro, vejo que ele já foi citado em 60 ou 70 línguas. E acredito que a razão disso é porque as pessoas sabem exatamente o que eu quero dizer com essas duas palavras. Em A Mente Parasita, abordo o que acontece com as mentes humanas quando elas são parasitadas e sequestradas por ideias ruins. No “Empatia suicida”, eu mostro basicamente como uma série de políticas nacionais e internacionais é desastrosa. A empatia é uma nobre virtude totalmente apropriada. Somos uma espécie social. Faz todo o sentido para sentirmos empatia. Para você e eu termos uma interação significativa, nós dois temos de ter o que se chama de “teoria da mente”. Preciso me colocar na sua mente e você, na minha, para que possamos ter uma troca expressiva. Agora, como dizia Aristóteles, todas as coisas boas devem ter a sua quantidade certa, em certas situações, para os alvos certos. O que a empatia suicida faz, antes de qualquer outra coisa, é ser hiperativa. E, depois, atira no alvo errado.

Na prática, como se dá efetivamente essa “empatia suicida”?

Hoje, por exemplo, os integrantes das gangues da Guatemala merecem mais a nossa empatia do que os veteranos americanos que lutaram pelos Estados Unidos. As pessoas também acham que todos os imigrantes têm a mesma probabilidade de assimilação, como falei há pouco. Se eu sentir empatia de forma suicida, vou ter uma grande empatia com os sem-teto que estão injetando Fentanil num parque público, mesmo que eles estejam impedindo que os meus filhos possam brincar lá. Os meus filhos não merecem a minha empatia como os nobres sem-teto. Há um caso que ilustra isso de forma perfeita. Um norueguês foi estuprado por um imigrante da Somália. Depois que esse imigrante foi preso, ele ficou na prisão por pouco tempo, algo em torno de três anos, porque os noruegueses são muito atenciosos e empáticos. Quando ele saiu da prisão e iria ser deportado de volta para Mogadíscio (capital da Somália), o cara que ele havia estuprado se sentiu muito culpado pelo fato de que ele não poderia se desenvolver plenamente na sociedade norueguesa e intercedeu em seu favor. E eu estou aqui para lhe dizer que o nosso sistema emocional não evoluiu para sentir empatia por nossos estupradores. Isso é empatia suicida.

No livro, o senhor se diz um libertário. Qual é a sua visão sobre a ascensão do presidente da Argentina, Javier Milei, e seu governo? E como o senhor vê o presidente americano, Donald Trump, nesse ambiente?

Ambos são produtos do mesmo tecido e se contrapõem a todas as ideias parasitas, ao comunismo, ao socialismo, ao Estado de bem-estar social, ao Estado babá. Eles desprezam essas coisas. Veja o caso do Milei. Por qualquer métrica que se possa usar, a gente vê o quanto a sociedade argentina está saudável hoje e como ela era antes de ele assumir o poder. Então, parece que o Milei está indo na direção certa. O Donald Trump, que é alguém que construiu coisas antes de se tornar presidente, também. É por isso que eu detesto políticos de carreira. Porque tudo o que um político de carreira faz é ir da escola para a universidade e daí direto para o parlamento. Eles nunca foram cirurgiões, advogados, professores, jornalistas, empresários. Qual é a experiência de vida que eles podem trazer para enfrentar os problemas do mundo real? É por isso que os “pais fundadores” dos Estados Unidos diziam que você só deveria se tornar um político depois de ter uma carreira de sucesso em outra área. Os políticos de carreira não são forjados na realidade. Os acadêmicos também não, porque se isolam em suas torres de marfim. Abraçam ideias totalmente dissociadas da realidade, sem qualquer mecanismo de autocorreção. Então, eu apoio o que o Milei e o Trump estão fazendo. Espero que a gente possa ter o nosso próprio Trump no Canadá.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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