Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 4 de novembro de 2025
Entre a civilização e a barbárie
O silêncio do Estado não significa paz, mas submissão ao crime. A omissão custa mais vidas que qualquer operação. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
O processo vem de décadas, não começou ontem. Mas, especialmente nos últimos anos, parece evidente que parte da elite cultural, política e midiática do país abraçou com força a narrativa que criminaliza as forças de segurança e vitimiza facções criminosas. No longo prazo, essa inversão moral é devastadora para a sociedade.
Como escrevi em meu último artigo, “De que lado você está?”, a operação da semana passada no Rio de Janeiro foi uma resposta firme, ainda que tardia, do Estado a um poder paralelo que impõe um regime de terror e uma rotina de medo a milhões de pessoas inocentes.
Nenhum país sério tolera poderes paralelos. Nenhum país sério combate o crime pedindo desculpas por se defender. Mas, no Brasil, ações eficazes contra o crime organizado costumam ser inviabilizadas por gente que prefere, por conveniência ou covardia, manter o status quo. A operação simboliza uma ruptura com essa lógica.
O apoio popular à operação sinaliza que a narrativa de "execuções sumárias" não colou. Essa narrativa ignora que criminosos resistiram à prisão com fuzis e granadas, transformando as comunidades que dominam em campos de batalha. Ora, em qualquer Estado de Direito, resistir com armas pesadas a mandados de prisão é um convite ao uso da força letal legítima.
A sociedade não pode continuar refém de facções armadas que faturam bilhões de reais com tráfico de drogas e extorsão de trabalhadores. Mais uma vez: não se trata de uma guerra contra os pobres, mas de uma guerra contra quem escraviza inocentes. É preciso entender isso para não cair no jogo da manipulação ideológica.
O elevado número de mortos na operação é triste, mas o verdadeiro massacre é o que acontece todos os dias nas comunidades dominadas por facções: execuções, torturas, estupros e desaparecimentos que não ganham manchetes nem causam indignação em ONGs progressistas.
O silêncio do Estado não significa paz, mas submissão ao crime. A inação custa mais vidas que qualquer operação. Cada vez que o Estado hesita, o tráfico avança. Quando o Estado se omite, quem morre não é o bandido, é o cidadão comum.
A pergunta “De que lado você está?”, portanto, não é retórica; é um convite à clareza moral em meio ao caos. Existem, essencialmente, dois lados em guerra – civilização e barbárie.
Do lado da civilização estão policiais, bombeiros, professores, motoristas de aplicativo, donas de casa, estudantes e comerciantes que pagam impostos, acordam às 5h e rezam para voltar vivos para casa. É o lado da lei, da ordem e da tentativa — ainda que frágil — de resistir à barbárie.
São as mães que não deixam filhos jogar bola na laje por medo de bala perdida. São os pequenos empreendedores extorquidos pela cobrança de taxas de segurança. São os 4 PMs mortos – Marcus, Rodrigo, Cleiton e Heber – que trocaram mensagens de amor com suas famílias, antes de morrer em combate.
Esse lado não quer mortes. Quer escolas funcionando, UPPs reformadas, inteligência policial e integração com políticas sociais sérias. Quer que o traficante seja preso e julgado – e, se ele resistir armado, que assuma as consequências. Esse lado não celebra mortes, mas entende que, quando o inimigo usa um arsenal de guerra, o Estado não pode responder com flores e discursos vazios.
Do outro lado está a barbárie, o projeto de poder das facções criminosas. É o narcoestado com hierarquia, finanças e leis próprias, que impõe a gente humilde sua própria justiça e financia uma economia de morte. São bandidos que comandam execuções, controlam o território com armas e traficam drogas, vidas e esperanças. Transformam comunidades em fortalezas criminosas, onde não existem direitos nem liberdade.
Esse lado quer exercer o monopólio da violência nas áreas que ocupa. Já está acontecendo. Quando a polícia entra, o tráfico manda queimar dezenas de ônibus, em retaliação. Quando perde território, infiltra simpatizantes em ONGs e conselhos tutelares. Quando é criticado, mobiliza artistas, acadêmicos e ativistas para gritar “Genocídio!” – mesmo quando só morrem bandidos armados até os dentes. O objetivo final desse lado é transformar o Rio de Janeiro (e quiçá, mais tarde, o país inteiro) em uma Medellín dos anos 80, onde o Estado já não governa, apenas negocia.
Entre esses dois lados, há uma zona cinzenta perigosa: a da neutralidade hipócrita, ocupada por setores da elite política, acadêmica e midiática, que condenam a violência policial, mas se calam diante da violência criminosa. Essa neutralidade é cumplicidade disfarçada: não há neutralidade possível quando traficantes detêm o poder de vida e morte sobre a população.
São as ONGs internacionais que comparam PMs a carrascos sem mencionar as execuções promovidas pelo tráfico; jornalistas que contam mortos sem informar quem atirou primeiro; ativistas que pedem diálogo com quem usa crianças e moradores inocentes como escudo.
A própria ONU se apressa a condenar a ação policial, mas se cala sobre as 1.200 execuções do CV só em 2024. Não derrama uma lágrima pelos mortos por balas de traficantes. Defende direitos humanos para quem empunha fuzil, mas esquece os direitos humanos de quem quer apenas viver em paz.
A grande mídia não condena explicitamente a operação porque já percebeu de que lado está a a maioria da população. Mas adota uma postura ambígua: diz ser contra a criminalidade, mas critica toda ação que busca contê-la. Em vez de informar com honestidade, distorce a realidade para encaixá-la em uma narrativa ideológica.
Quando jornais noticiam “mortos em operação” sem contextualizar que eram criminosos fortemente armados, o resultado é a demonização da polícia e o enfraquecimento da confiança social nas instituições.
A paz verdadeira não nasce da omissão, mas da coragem de enfrentar o mal. Apoiar a polícia contra facções criminosas não é defender abusos, mas reconhecer que, sem lei e ordem, não há escola, não há emprego, não há futuro. Porque o verdadeiro Estado democrático não é aquele que teme agir, mas o que tem coragem de defender os inocentes.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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