domingo, 16 de novembro de 2025

Gaza: terroristas se recompõem e a guerra está de volta

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 15 de novembro de 2025

Gaza: terroristas se recompõem e a guerra está de volta.

O cessar-fogo trouxe alívio, mas não paz. Gaza divide-se entre a ocupação e o terror, enquanto o Hamas se recompõe e o mundo adia decisões que poderiam evitar o retorno da guerra. Editorial do Estadão:

Um mês após o início do cessar-fogo, Gaza parece suspensa entre o escombro e a espera. As bombas cessaram, mas não a violência que corrói o território. Nas ruas ainda cobertas de destroços, nas escolas transformadas em abrigos, nas listas de mortos sem fim, a sensação de alívio se mistura a um silêncio de exaustão. O que muitos celebram como o início da reconstrução assume cada vez mais as feições de um intervalo tático – um compasso de espera entre guerras.

A trégua produziu uma estranha geografia: metade de Gaza sob controle israelense, metade entregue de volta ao poder que a arruinou. Nesse vácuo político, nenhuma autoridade legítima se impôs. A “força internacional de estabilização” prometida pelos EUA continua apenas no papel. Israel se recusa a se retirar completamente. Os países árabes evitam qualquer compromisso militar. E a Autoridade Palestina segue desacreditada. O resultado é um território dividido, sem governo reconhecido nem forças capazes de garantir a segurança ou a reconstrução.

Enquanto diplomatas discutem mandatos e resoluções, o Hamas preenche o vazio. Sob o pretexto de restaurar a ordem, os terroristas reinstalaram postos de controle, impuseram taxas sobre bens básicos e retomaram a patrulha de bairros devastados. Seus agentes substituem governadores mortos, intimidam clãs rivais e executam dissidentes. Nos túneis ainda intactos, combatentes reorganizam arsenais. Gaza vive hoje sob uma ocupação dupla: a israelense, militar e parcial; e a islamista, pervasiva e subterrânea. A cada dia, o Hamas avança um pouco mais em direção ao mesmo domínio absoluto que levou o enclave à ruína.

O plano de paz do presidente dos EUA, Donald Trump, que parecia oferecer um caminho de saída, enfrenta agora sua prova mais difícil. Sua fase dois – retirada israelense, desarmamento do Hamas e implantação de uma força multinacional – está emparedada entre debates sem cronograma. A incerteza é o seu novo estado natural. Nenhum país quer enfrentar o Hamas em campo; poucos aceitam o risco político de patrulhar Gaza; e Israel rejeita devolver o território à Autoridade Palestina. A precariedade dessa arquitetura diplomática revela um paradoxo: quanto mais o mundo sonha com a “reconstrução”, mais o tempo consolida a divisão de fato entre uma “nova Gaza” sob tutela israelense e uma “velha Gaza” nas garras do terror. O otimismo inicial se dilui em fadiga e resignação. Na prática, já não se discute como construir a paz, mas como administrar o impasse.

Diante do bloqueio, surgem soluções cada vez mais ousadas – e controversas. Especialistas sugerem recorrer a empresas militares privadas para executar as tarefas que nenhum exército quer assumir: limpar túneis, desarmar milícias, proteger comboios de ajuda. A proposta tem méritos práticos, mas também riscos morais e políticos: transformar a reconstrução de Gaza num negócio de segurança terceirizada é um sintoma da exaustão internacional. Ainda assim, diante de um mundo que deseja a paz, mas reluta em garanti-la, essa talvez seja uma solução viável.

Longe dali, nas universidades, praças e redes sociais do Ocidente, parte da militância que se diz “pró-Palestina” celebra o cessar-fogo como vitória da “resistência”, ignorando que a mesma resistência que exaltam tiraniza o próprio povo palestino. O Hamas tortura dissidentes, rouba ajuda humanitária, extorque concidadãos e converte hospitais em prisões. Ainda assim, intelectuais e ativistas, sob o manto do “anticolonialismo”, oferecem ao grupo terrorista a absolvição moral que negam a Israel. É um humanismo pervertido, que subverte a solidariedade com os palestinos em cumplicidade com seus verdadeiros algozes.

Nada em Gaza hoje é estável. A trégua repousa sobre um terreno que afunda. A cada dia, os túneis se multiplicam, as armas reaparecem e a rede administrativa do Hamas se recompõe. A reconstrução não começou e o desarmamento não passou do discurso. O tempo trabalha contra a paz – e a favor do retorno da guerra. O mundo pode iludir-se com o silêncio das armas, mas esse silêncio não é paz: é, cada dia mais, o intervalo antes do próximo estrondo.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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