quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

"Brasil de todos os escândalos", por Fernando Gabeira

Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 23 de dezembro de 2025 

Brasil de todos os escândalos 
Por Fernando Gabeira (In Blog)

No passado, creio, um escândalo esperava o outro antes de aparecer. Agora já não se respeita a fila. Eles aparecem a todo instante, se chocam, se encavalam um no outro, a gente precisa escolher o que vai acompanhar.

Quem os segue por dever profissional acaba se tornando graduado em escândalos. Um dos traços mais importantes aparece no caso do Banco Master. É um escândalo, sem dúvida. Mas, logo em seguida a sua aparição, surgem novos, típicos do Brasil: os escândalos do abafa.

No caso do Master, o escândalo foi continuado. Primeiro a explosão, depois a relação com ministros do Supremo e, finalmente, a decretação do sigilo numa tentativa de bloquear seu curso. O Supremo contribuiu com Toffoli, que nesse esporte joga em várias posições: sua mulher já foi sócia de advogados do Master, ele próprio viajou para Lima com um advogado do Master e finalmente assumiu o inquérito e decretou um pesado sigilo.

O contrato da mulher de Alexandre de Moraes com o Master é, se quiserem, outra forma de escândalo: R$3,6 milhões mensais para defender o Banco tão discretamente que ninguém consegue achar os processos em que ela atuou. E agora vem à tona que Moraes falou pelo menos quatro vezes com o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, interessado no destino que seria dado ao banco.

Como se não bastasse, o Tribunal de Contas da União, por meio de um ministro que era deputado de Rondônia, acusa o BC de uma intervenção prematura na liquidação do Master. O ministro queria esperar que um número maior de investidores e entidades fossem lesadas.

O outro escândalo que está em cartaz, o roubo dos aposentados, tem característica distinta. É o escândalo vulcão. Passa umas semanas adormecido, de repente entra de novo em erupção. O filho do presidente é acusado de relações com a quadrilha e deve depor na CPMI.

A PF fez várias ações de busca e ficou mais ou menos claro o envolvimento do senador Weverton Rocha (PDT-MA). Ele é apontado como sócio oculto da quadrilha que roubava os velhinhos. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, decretou cem anos de sigilo nas informações sobre a visita do chefe da quadrilha ao Senado. Isso confirma de novo a lógica do escândalo à brasileira: depois da eclosão, o segundo e grande momento é o abafa.

Um dos funcionários de Weverton foi preso. Outro dia fizeram buscas na casa de uma funcionária do ex-presidente da Câmara Arthur Lira. Ele é citado 25 vezes no inquérito, mas a maneira como a investigação foi conduzida e divulgada dá a impressão de que a funcionária destinou irregularmente R$ 4 bilhões em emendas a seu bel-prazer e contemplou Alagoas só para fazer um agrado ao chefe.

A PF fez questão de afirmar, e a imprensa repete disciplinadamente: Lira não é investigado. No Brasil, a culpa é sempre do mordomo, outro importante ensinamento no curso avançado de escândalo.

Foi por denunciar Lira que o deputado Glauber Braga quase perdeu o mandato. É outro ensinamento que o curso de escândalo no Brasil reserva para o estudioso: ai de quem denunciar, certamente pagará caro pela ousadia.

Na política brasileira, ao lado das clássicas contradições, existe uma que nasce desse turbilhão de escândalos: transparência versus sigilo. O sigilo de cem anos é sempre o vencedor, pois está na mão do poder e é uma arma que desequilibra o jogo. Alguém segura a bola é diz: acabou o jogo, voltem no próximo século.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira.com.br

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