domingo, 31 de agosto de 2025

'Soberania além da propaganda', por Fernando Gabeira

Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 29 de agosto de 2025

Soberania além da propaganda 
Por Fernando Gabeira (in blog)

A momentânea crise entre Brasil e EUA colocou a soberania no topo da agenda. É o tema central do discurso do governo, deve se tornar slogan e, possivelmente, ocupar um espaço de destaque na campanha presidencial. Mesmo sem subestimar a importância simbólica da soberania com seus discursos e bonés, é preciso aproveitar a oportunidade para um exame objetivo da real independência de um país. De nada adianta apenas cantar: “Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”. É preciso examinar, serenamente, os caminhos da soberania, e isso inspira um bom debate para o ano eleitoral que se aproxima.

Um dos temas que me parecem não resolvidos na nossa soberania é o controle efetivo do território. Importantes cidades como o Rio de Janeiro são parcialmente dominadas por grupos armados que impõem suas próprias leis. Uma orientação soberana seria reconquistar essas áreas e liberar milhões de pessoas do jugo do crime organizado. Mesmo o controle efetivo das fronteiras e um pacto de defesa com países amazônicos é essencial porque a Amazônia, principalmente, também tem importantes bolsões dominados pelo tráfico de drogas, animais e contrabando.

Para ser soberano, é também necessário ter uma capacidade de defesa própria, com uma indústria bélica nacional, inteligência estratégica e capacidade de dissuasão. O Congresso tem se omitido na discussão desse tema. Durante a pandemia, constatamos num momento de grande dramaticidade que não tínhamos insumos médicos nem equipamentos para enfrentar a tragédia. Já que o tema é soberania, as eleições de 2026 deveriam fazer um balanço em nossa vulnerabilidade: é menor hoje, quais são os passos para reduzi-la?

No campo tecnológico e digital temos enfatizado o controle das big techs, submetendo-as às leis nacionais. É um importante aspecto da soberania. Mas precisamos desenvolver a capacidade de produzir alguma tecnologia própria (semicondutores, IA, satélites). Nesse caso, estaríamos mais protegidos diante da possibilidade de boicote. Tenho escrito sobre isso e talvez a campanha presidencial possa ser um espaço de discussão do tema.

Outro tema que pode suscitar algum debate é o controle sobre os recursos naturais. O Brasil caminha para uma transição energética. Pode ter energia abundante e barata. Mas é preciso ter um controle maior de seus recursos: água, florestas e minerais estratégicos. Estes estão na ordem do dia. O Brasil precisa ter um levantamento completo dos minerais estratégicos. E uma política de exploração. Dificilmente, será algo estreitamente nacional. Como já não é a esta altura embrionária. Em Goiás, a Serra Verde Mining, que explora terras raras, é de capital norte-americano. Recentemente, o The New York Times revelou que o Brasil e os EUA estudavam um projeto conjunto de mapeamento e exploração desses minérios. Não só o tarifaço, como a hostilidade e a desconfiança entre os governos dificultaram a continuidade dessas conversações.

A ideia de soberania não é contraditória com o multilateralismo. Na verdade, eles podem se reforçar mutuamente. Neste momento de recomposição internacional, quase todos os atores nacionais estão em movimento, se reajustando. São as chances de o Brasil avaliar sua soberania no novo quadro. No caso militar, por exemplo, a dependência dos EUA precisará ser superada com abertura para a Europa, embora o momento não seja bom: os europeus estão se rearmando. Enfim, como a soberania subiu ao topo da agenda, fica a esperança de um bom debate em 2026. Essa esperança existe sempre, mas sempre se frustra. Agora, pelo menos, temos um fio condutor: soberania, quero uma para votar. É possível discutir o tema sem um antiamericanismo estéril. Da mesma forma, não é preciso, como diz o governador Tarcísio, dar uma vitória a Trump. Ele é de um narcisismo sem fim. Basta dizer que se interessa pelas guerras do mundo porque gostaria de ter um Prêmio Nobel da Paz.

As sanções políticas como a Lei Magnitsky também podem nos levar a uma reflexão sobre nosso sistema financeiro. Até que ponto pode se tornar relativamente autônomo, sem uma dependência excessiva de moedas ou bancos estrangeiros?

A verdade é que o tema soberania abre uma avenida para grandes debates e seria uma pena que se limitasse apenas ao lado simbólico das manifestações de afeto pelo Brasil. Se assim acontecer, de uma certa forma vamos ver a passagem de Trump como algo que nos estimulou a avançar, ao invés de ficarmos apenas estupefatos com suas loucuras.

Ele nos colocou num dilema: voltar ao velho discurso nacionalista ou afirmar um projeto soberano que é, na verdade, um antídoto ao isolamento e um passo a mais na maturidade democrática?

Não se trata de um projeto apenas de esquerda ou apenas do tipo Yankees, go home do passado. Na verdade, por mais que tenhamos a tendência de acionar mecanismos passados, eles simplesmente ignoram que o passado passou. Não estamos na revolução industrial, com estradas de ferro e fábricas: hoje as big techs dominam e analisam nossos dados – o que vale uma discussão sobre como trazer isso ao espaço público.

Um projeto de soberania significa também um alto nível de unidade nacional, uma oportunidade de superação de uma atmosfera polarizada. Vê-lo como um simples ativo eleitoral envolto numa superfície politicamente mercadológica é uma forma de reduzir nosso futuro.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira com br

O tamanho da máfia brasileira

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 30 de agosto de 2025

O tamanho da máfia brasileira

Operação Carbono Oculto revelou que o PCC chegou à Faria Lima – e pode ir além. Parar a organização mafiosa exigirá do Estado coragem política, força institucional e legislação adequada. Editorial do Estadão:

O País tomou conhecimento do descomunal alcance dos tentáculos do Primeiro Comando da Capital (PCC). A Operação Carbono Oculto revelou em minúcias como o PCC se beneficiou de um sofisticado esquema financeiro que não se limitava a operações clandestinas. A organização criminosa se infiltrou no centro nervoso do sistema financeiro nacional, a Avenida Faria Lima, valendo-se de fintechs, fundos de investimento e empresas legítimas do setor de combustíveis para ganhar, lavar, sonegar e valorizar bilhões de reais. Por si só, a complexidade dessa engrenagem ilustra bem a transfiguração do PCC nos últimos anos: de uma facção penitenciária voltada ao tráfico de drogas para uma organização mafiosa extremamente diversificada.

Segundo as investigações, o PCC dominou a cadeia de combustíveis, desde a produção de cana-de-açúcar e etanol até a revenda em postos de sua propriedade. Empresários honestos foram coagidos a vender seus negócios para os bandidos a preço de banana, sob risco de morte. Materiais químicos foram importados para adulterar combustíveis, ampliando margens de lucro e distorcendo o mercado legal. Essas práticas extrapolaram o limite de danos até então conhecido para a delinquência do PCC. Como se viu, trata-se, também, de concorrência desleal, de prejuízos diretos aos consumidores e de perdas bilionárias para o Estado, vítima da sonegação fiscal. Essa exploração de atividades lícitas com propósitos ilícitos mina as bases da liberdade econômica consagrada pela Constituição.

O mais perturbador de tudo o que veio a lume é constatar que o PCC se transformou num player, para usar um jargão do ramo, no mercado financeiro. Em entrevista ao Estadão, a superintendente da Receita Federal em São Paulo, Marcia Meng, sintetizou bem a mudança de paradigma. Segundo ela, os criminosos não precisam mais recorrer a paraísos fiscais para ocultar seus recursos ilícitos. Basta abrir conta em uma fintech e movimentar os valores que, depois, serão transferidos para fundos de investimento. Assim, o dinheiro criminoso não apenas é lavado, como valorizado. Uma dessas fintechs, o BK Bank, é apontada como o “banco do PCC”, enquanto fundos de investimentos e gestoras, como a Reag, teriam servido para a aquisição de empresas e usinas sucroalcooleiras, dando verniz legal aos ativos da máfia.

É de justiça reconhecer o mérito da cooperação institucional que deu azo à Operação Carbono Oculto. Polícia Federal (PF), Ministério Público, Polícia Militar de São Paulo e Receitas Federal e Estadual atuaram em conjunto para enfrentar uma agressão que, de fato, só há de ser repelida por meio da cooperação entre as forças a serviço da lei. A disputa entre o presidente Lula da Silva e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pela “paternidade” da operação é irrelevante à luz da gravidade do caso e só interessa a seus objetivos políticos. Para a sociedade, o que importa é que o caminho está dado: a integração, o espírito público e o profissionalismo de servidores abnegados dão resultado.

Isso posto, é forçoso dizer que o caso também revelou fragilidades que têm de ser sanadas com urgência. Dos 14 mandados de prisão expedidos, só seis foram cumpridos. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, admitiu que pode ter havido vazamento de informações. É um perigo. O PCC, mas não só, já demonstrou capacidade de infiltração em diferentes esferas, do sistema financeiro ao sistema político, passando pelo sistema judicial. É nesse contexto que a chamada PEC da Blindagem tem de ser enterrada de uma vez por todas pelo Congresso. Nada pode ser mais nocivo ao combate ao crime organizado do que sua infiltração no coração da democracia representativa.

O PCC e outras organizações criminosas já não são bandos de traficantes. São máfias que exploram negócios lícitos, corrompem agentes públicos e contaminam setores econômicos inteiros. O de combustíveis é só “a ponta do iceberg”, como salientou o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Parar inimigos dessa magnitude exigirá do Estado coragem política, força institucional e legislação adequada. A Carbono Oculto mostrou que é possível avançar, mas também deixou clara a dimensão do desafio.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Jozailto Lima ENTREVISTA João Vicente Goulart

Legenda da foto: João Vicente Goulart: “O PT se burocratizou no governo e isso é um problema grave”

Entrevista compartilhada do site JLPOLÍTICA, de 28 de agosto de 2025

João Vicente Goulart: “Creio que o campo progressista do Brasil ainda ganha a eleição de 2026”

Da Coluna Aparte, de Jozailto Lima*

O Brasil e os brasileiros democráticos descuidaram da democracia tão logo debelaram a ditadura militar em 1985, permitindo que hoje todos corram um tenebroso perigo vindo da frente fria nazifascista liderada pela extrema-direita. 

Sobretudo a extrema-direita que tem o umbigo encastoado ao ideário de Jair Messias Bolsonaro e de seus familiares. Este é, na essência, o ponto de vista do filósofo, escritor e ex-deputado federal João Vicente Goulart, 68 anos.

Filho do ex-presidente da República João Goulart, João Vicente Goulart adverte: “Hoje nós estamos vivendo um momento de crescimento enorme da extrema direita e eu diria que esse crescimento se deve ao nosso descuido”, diz.

Apesar de filho do gaúcho João Goulart, João Vicente Goulart nasceu no Rio de Janeiro, foi deputado federal em 1982 e hoje mora em Brasília, onde preside o PCdoB do Distrito Federal.

Mas João Vicente Goulart não perde a esperança na democracia e em dias mais justos e menos sombrios para o Brasil. Para ele, essa extrema-direita com viés fascista não retorna ao poder central do país no ano que vem.  

“Eu creio que o campo progressista do Brasil ainda ganha a eleição de 2026. Eu acho que essa questão da soberania que o Donald Trump colocou na mão do povo brasileiro deu uma ressuscitada na esperança”, disse ele à Coluna Aparte.

Na última segunda-feira, 25, a Câmara Municipal de Aracaju fez a entrega in memoriam dos Títulos de Cidadania Aracajuana ao pai dele e a Leonel Brizola, e João Vicente Goulart, em companhia do primo João Leonel Brizola, sobrinho de Leonel Brizola, esteve em Aracaju para receber as honrarias.

Depois do evento, ele conversou com a Coluna Aparte e o resultado é o que vai a seguir, no qual João Vicente Goulart lamentam, ainda, a inclinação acentuada a que o Sul da sua família tem dado para o pensamento de direita. 

Aparte - Enquanto herdeiro de um brasileiro que sofreu muita intolerância política e que foi importante para a democracia, como é que senhor vê esse momento nos últimos 15 anos do Brasil do ponto de vista político?

João Vicente Goulart - Nós vemos como uma preocupação acentuada. Entendo que passamos 21 anos de ditadura, contra a qual muitos lutaram, muitos companheiros tombaram pelo caminho da redemocratização e só viemos ter eleições em 1989. A nossa democracia resistiu, conseguiu retirar o polo ditatorial sem traumas maiores e depois nos descuidamos da democracia. E hoje nós estamos vivendo um momento de crescimento enorme da extrema direita e eu diria que esse crescimento se deve ao nosso descuido.

Aparte - O que é que o Brasil erra a partir de 1989 para se encaixar nesse descuido?

JVG - Olha, eu acho que a Constituinte nos trouxe uma Constituição ampla em 1988, com grandes conquistas sociais, mas uma constituição que não conseguimos regular. Então, creio que o nosso grande problema de hoje se assemelha ao de 1962, que foi aquele a composição de um Congresso Nacional no qual a CIA, através do Instituto Brasileiro de Ação Democrática – IBAD -, financiou 500 parlamentares. Hoje estamos vivendo uma situação parecida. 

Aparte - Por quê? 

JVG - Porque lá em 1962, com as reformas de base, nós propugnávamos a reforma eleitoral com uma das reformas. Hoje estamos com um Congresso similar, ou talvez pior do que aquele de 62, com falta de credibilidade e muita falta de conteúdo ideológico. Por quê isso? Porque hoje o Brasil vota em nomes das pessoas e não de projetos. Eu, por exemplo, tenho vários amigos no Rio de Janeiro e conheço várias pessoas que votaram no Bolsonaro e na nossa camarada Jandira Feghali para deputada federal. Estranho, mas existe muito isso no Brasil.

Aparte - Para além disso, o senhor teria uma justificativa para esse nosso viés de direita que surge a partir de Temer, de Jair Messias Bolsonaro e que está vivíssimo hoje? O senhor tem uma explicação para um certo apelo quase fascista de boa parte dos brasileiros hoje?

JVG - Tenho: quando a gente não ocupa espaços, os espaços são preenchidos outros. E hoje nós vemos aí uma dificuldade muito grande, primeiro pela legislação eleitoral. Hoje não temos voto em lista, ou seja, o voto no projeto partidário, e como consequência temos aí a criação de bancadas da Bala, da Bíblia, do Boi, que são bancadas extremamente de direita com viés de serem as donas de uma verdade.

Aparte - O senhor supõe ou estima que possa haver mudanças em 2026 do ponto de vista da composição do Congresso Nacional?

JVG - Eu estimo que não. Lamentavelmente, acho que não. Eu acho que como consequência de 2026 nós vamos enfrentar ainda um parlamento pior do que o que temos hoje.

Aparte - Mas o senhor acredita que a direita pode voltar ao poder central do Brasil em 2026?

JV - Aí eu acho que não. Eu creio que o campo progressista do Brasil ainda ganha a eleição de 2026. Eu acho que essa questão da soberania que o Donald Trump colocou na mão do povo brasileiro deu uma ressuscitada na esperança.

Aparte - O senhor não vê Lula um pouco desprovido de partido? O PT não estaria fragilizado hoje?

JV - Não. Eu acho que o PT é um partido que se estruturou muito bem. Entendo que o PT tem condições políticas, porque ainda tem Lula. Mas, evidentemente, o PT perdeu a estrutura de base. O PT se burocratizou no governo e isso é um problema grave.Mas temos que preparar quadros do campo progressista, porque em 30 nós não teremos mais um Lula.

Aparte - Uma pergunta fatal para sua pessoa: o senhor se sente feliz como descendente sulista ao ver que no Sul do Brasil está se adensando, se concentrando, a maior capilaridade de direita nacional?

JVG - Isso é lamentável. O Sul sempre teve um espírito público de soberania, de independência, e hoje vemos por lá a direita extremamente grande com o viés de nazismo, e a crescer.

Aparte - Sobretudo em Santa Catarina e no Paraná. O Rio Grande do Sul ainda consegue se preservar um pouco ou não?

JVG - Não. Nós do Rio Grande do Sul estamos vendo um crescimento multiplicado da extrema-direita. Nós temos aí candidatos e deputados, que não vou citar os nomes, extremamente nazistas, extremamente fascistas, que têm essa orientação de macular tanto o trabalhismo quanto a esquerda socialista ou comunista.

Aparte - O governador do Estado da sua família, Eduardo Leite, é meio termo do ponto de vista ideológico?

JV - Eu acho que o nosso governador do Rio Grande do Sul é o governador que surgiu em cima do palco. Que está aí querendo dar um pulo maior do que as suas possibilidades. Já se filiou a outro partido, mas eu acho que não tem nenhuma chance de vir a ser candidato à Presidência da República.

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* Jozailto Lima - É jornalista há 42 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Com colaboração da jornalista Tatianne Melo.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica com br

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

'Fogo e Fumaça na era Trump', por Fernando Gabeira

Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 26 de agosto de 2025  

Fogo e Fumaça na era Trump 
Por fernando Gabeira (In Blog)

Desde muito jovem sou ligado às notícias. Durante algum tempo, minha tarefa no Jornal do Brasil era ler todos os jornais pela manhã e planejar a edição do dia seguinte. Sou, portanto, um grande consumidor de informação.

De uns tempos para cá, com o advento das redes sociais, o volume se amplificou. Não só jornais e revistas, como blogs, podcasts, robôs, grupos, opiniões, comentários e influenciadores invadiram a cena. O que era uma grande onda virou tsunami, impossível de surfar.

Dentro desse contexto, no entanto, procuro analisar um dado importante em nosso cotidiano: a posição dos Estados Unidos em relação ao Brasil e à América Latina. Para alguns, trata-se apenas de uma repetição da velha tendência imperial de determinar a vida dos países do continente. Acontece que há fatos novos: além da cacofonia das redes, há um presidente especializado em bombardear o mundo com uma sucessão de notícias. É um presidente que tem uma rede própria e usa parte do tempo para postar projetos, ideias, avisos e devaneios.

A incompreensão dessa tática de Trump acaba produzindo um nervosismo inútil e prejudicial. É o caso da Lei Magnitsky aplicada a Alexandre de Moraes. Bastou o anúncio, sem detalhes de como será usada, para que se desencadeasse um psicodrama nacional. Um ministro escreveu um despacho, as ações dos bancos brasileiros caíram na Bolsa de Valores, e as redes estão cheias de ameaças anunciando que o país quebrará.

A Lei Magnitsky se aplica às empresas e indivíduos nos Estados Unidos. Moraes é apenas alguém que vive de salário e faz a maioria de suas compras no território brasileiro. O máximo que pode acontecer é migrar para o Pix. É possível dizer muito sobre isso, menos afirmar que é uma tragédia.

Uma noite dessas, fui dormir depois de ler inúmeros posts sobre um avião da CIA que pousou em Porto Alegre e foi para São Paulo. Eram muitos os boatos. Chegaram a extravasar para a mídia convencional. Fui dormir tranquilo porque sei que a CIA é uma agência que trabalha discreta e clandestinamente. Usa aviões, helicópteros, barcos, carros, ônibus e motocicletas, enfim, o que for necessário. A última coisa que teria é um avião que, ao pousar num país, seria facilmente identificado como sendo da CIA.

Outra notícia que segui de perto: o envio de três destróieres americanos ao Caribe, com a missão de pressionar a Venezuela. Deveriam chegar em 36 horas. Passado o tempo, li no site venezuelano TalCual que os três estavam muito longe: um em Guantánamo, Cuba; outro, no Panamá; o terceiro, na costa americana.

Maduro convocou 4 milhões de milicianos, fez discursos e desfilou com aquele casaco com a bandeira da Venezuela. Os navios americanos não apareceram porque, no seu lugar, o Furacão Erin sacudiu o Caribe. Choveu muito na Venezuela, houve até apagão em Caracas. Se os venezuelanos tivessem se preparado para as inundações, no lugar da invasão americana, talvez tivessem mais eficácia.

O jornalismo explora muito as tensões. Temo estar me transformando num antijornalista porque, na maioria dos casos, vejo crises cheias de som e fúria significando nada. Estou pronto para iniciar um novo gênero: o Correio Zen, órgão destinado a mostrar que, na maior parte das vezes, é melhor não se deixar levar pela confusão das redes e pelas bravatas dos políticos. Preciso apenas de um patrocinador que aceite perder dinheiro com serenidade.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira com br

A vileza de Eduardo Bolsonaro contra a “anistia light”

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 25 de agosto de 2025

A vileza de Eduardo Bolsonaro contra a “anistia light”

Lula é quem vem tirando vantagem da articulação de Eduardo Bolsonaro com Trump contra o Brasil. Embora não muito bem avaliado, a rejeição ao atual presidente diminuiu. Catarina Rochamonte para O Antagonista:

Na algazarra em torno das baixarias contidas no celular de Jair Bolsonaro apreendido pela Polícia Federal muito se tem comentado sobre a falta de inteligência do ex-presidente em – nessa altura dos seus rolos com a lei e a ordem, réu em processo e cumprindo penas cautelares – ter deixado ao alcance de qualquer batida policial um aparelho com mensagens tão comprometedoras e constrangedoras.

De todo modo, a divulgação das mensagens no relatório da PF deixou, mais uma vez, escancarado o charco político onde se atolaram os brasileiros.

Os protagonistas das mensagens reiteram e confessam certos cometimentos que as investigações poderão concluir que sejam crimes. A linguagem com que o fazem é um constrangimento à parte.

Por ter sido considerado imaturo por Jair Bolsonaro, o filho Eduardo respondeu chamando o pai de “ingrato do c******” e mandando um “VTNC”.

Já o pastor Silas Malafaia, pregador evangélico de quem seria de se esperar alguma compostura verbal, também apelou para palavras de baixo calão, empenhado que estava em gerar intrigas entre Bolsonaro e o governador de São Paulo:

“Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se f**** e se aquecendo para 2026”. Adiante, completou: “Você está com a faca e o queijo na mão. Se errar a estratégia, sifus!”.

Vê-se que Malafaia pretende monopolizar Bolsonaro, mas sua avaliação do quadro jurídico e político-eleitoral é equivocada: faz tempo que o ex-presidente Jair Bolsonaro não está “com a faca e o queijo na mão”; a bem da verdade, ele está com a faca no pescoço, em situação ruim e destino pior previsto para muito breve.

Embora o apoio declarado do presidente do país mais poderoso do mundo não deixe de ser um trunfo nas mãos dos bolsonaristas, o próprio Malafaia questionou a solidez deste apoio e detonou o autodeclarado estrategista dos ataques do governo Trump ao Brasil, Eduardo Bolsonaro, como um “babaca” e um“estúpido de marca maior”.

Tudo é estúpido neste teatro de absurdos, mas me causou especial indignação a declaração de Eduardo Bolsonaro contra o projeto de Anistia aos invasores da praça dos Três Poderes: “Se a anistia light passar, a última ajuda dos EUA terá sido o post de Trump. Eles não irão mais ajudar…”, escreveu o deputado ao seu pai.

O que Eduardo chama de “anistia light” é a anistia destinada a tirar da prisão os “bagrinhos” que, tendo se prestado a serem bucha de canhão e massa de manobra dos “tubarões” que efetivamente planejaram um golpe de Estado, foram condenados a penas escandalosamente abusivas por Alexandre de Moraes e seus pares no STF.

Aos Bolsonaro, e a Eduardo em particular, apenas os Bolsonaro interessam. O resto do Brasil e dos brasileiros que se danem.

Novo fôlego para Lula

Desde que, derrotando um regime de atraso, Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República em 2018, o bolsonarismo tornou-se outro fator de atraso para o Brasil. Tão ruim foi o governo Bolsonaro que Lula voltou.

No combate ao atual governo, o bolsonarismo revelou-se como a mais antidemocrática e estúpida de todas as oposições: começou tentando um golpe de Estado e está chegando ao fim em meio a uma pérfida traição internacional contra o seu próprio país.

Lula vem tirando enorme vantagem da estupidez bolsonarista. Segundo as últimas pesquisas de opinião, embora não muito bem avaliado, a rejeição do atual presidente diminuiu e ele venceria qualquer candidato na eleição presidencial de 2026.

As pesquisas apontam também que os eleitores anseiam por alguma alternativa fora da polarização lulopetismo X bolsonarismo. Todavia, nenhum nome consistente – ou sequer promissor – tem aparecido para representar este ainda muito difuso desejo eleitoral.

Tudo indica que o buraco do atraso político bolsonarista vai ser fechado; é preciso cuidar, porém, para que o Brasil não continue sendo tragado pelo buraco mais fundo do atraso petista.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Usina de dogmas: o medo da perseguição nas universidades.

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 25 de agosto de 2025

Usina de dogmas: o medo da perseguição nas universidades.

Pesquisa mostra que metade dos alunos evita discutir temas polêmicos nas universidades por temer perseguição e retaliação. O câmpus, que deveria ser o lugar das ideias, virou usina de dogmas. Editorial do Estadão:

As universidades vieram à luz como templos da liberdade intelectual, carregando já no nome a promessa de brilhar como um “universo” de saberes, onde ideias rivais se enfrentam sem medo, dogmas são desafiados e consensos só existem enquanto resistem ao fogo do debate. Mas essa promessa foi traída. O câmpus, que deveria ser laboratório do pluralismo, tornou-se casamata da intolerância.

Professores e alunos admitem que se calam por medo das patrulhas ideológicas. Segundo uma pesquisa do Instituto Sivis, 47% dos estudantes brasileiros consultados relutam em discutir assuntos controversos. Os mais afetados são os estudantes que se consideram de centro: 57% deles se autocensuram, contra 43% dos alunos de esquerda e 39% dos de direita. Discussões políticas (39%) lideram o cardápio de temas que costumam ser evitados.

A mordaça não vem de decreto nem da polícia, mas do medo de ser linchado nas redes sociais, sabotado pelos pares, hostilizado em sala de aula. A autocensura se tornou forma mentis. O preço de pensar fora da cartilha é a difamação, o cancelamento e até o veto a pesquisas ou à docência.

Naturalmente, há fanatismos de direita rondando os portões da universidade, tentando minar a legitimidade da ciência e instrumentalizar a ignorância. Mas a verdade incômoda é que, dentro dos muros, os maiores carrascos da liberdade não são reacionários caricatos, e sim a esquerda iliberal hegemônica nas humanidades. Sob a máscara da “inclusão” e da “justiça social”, essa nova ortodoxia impôs um código de fé progressista, em que divergências são escorchadas como blasfêmia. A universidade, que deveria ser antídoto contra o pensamento único, abastardou-se em sua encarnação mais zelosa.

Uma academia sem dissenso não forma lideranças democráticas: fabrica inquisidores de toga acadêmica, adestrados para silenciar o adversário em vez de refutá-lo. A retórica do respeito a grupos marginalizados virou desculpa para marginalizar dissidentes. A depauperação do debate interno repercute na sociedade: onde a discordância vira ofensa, a política degenera em polarização tóxica. Ao abdicar da liberdade acadêmica, a universidade legitima o populismo que diz combater, abrindo espaço para que demagogos de direita se apresentem como paladinos da “verdade proibida”.

A degradação não foi imposta de fora para dentro. Foi construída por anos de covardia institucional e conformismo ideológico. Diretores coniventes com protestos truculentos; colegiados que chancelam cursos com uma versão única da História; professores que se calam para não perder prestígio ou verbas. A cultura do cancelamento floresce porque encontrou terreno fértil na militância disfarçada de docência e no silêncio cúmplice da administração.

Há antídotos. Universidades que adotam a neutralidade institucional – recusando-se a endossar causas políticas ou manifestos partidários – preservam maior diversidade intelectual. Experiências internacionais mostram que regras de convivência, centradas na defesa intransigente da liberdade de expressão, criam ambientes mais férteis para a ciência e mais resilientes a modismos ideológicos. No Brasil, manifestos de intelectuais que denunciam a asfixia do pluralismo são sinais tímidos, mas encorajadores, de resistência. Porém, só terão efeito se acompanhados de reformas institucionais: desde códigos de conduta que protejam vozes divergentes até currículos que ofereçam perspectivas contrastantes, em vez de catecismos disfarçados de disciplinas.

A liberdade de se expressar não é luxo nem bandeira partidária. É a quintessência da vida acadêmica. Sem ela, a universidade deixa de ser espaço de investigação crítica e se converte em megafone de dogmas; deixa de formar cidadãos esclarecidos e passa a moldar militantes biônicos – alienando todo o resto. Uma universidade que cancela palestras, silencia teses e criminaliza a divergência trai sua missão e se torna caricatura de si mesma. Ou as universidades resgatam sua vocação para o livre debate e experimentação de ideias, ou continuarão a se desmoralizar – e se desfigurar – como tribunais ideológicos. E quem perde não são só os acadêmicos – é a própria democracia brasileira.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

A Presença Americana Muda a Política no País

Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 19 de agosto de 2025 

A PRESENÇA AMERICANA MUDA A POLÍTICA NO PAÍS

Por Fernando Gabeira (In Blog)

Um amigo editor de uma revista portuguesa pediu um artigo sobre o Brasil. Escrevi a respeito da crise, mostrando o que o país tem de bom para garantir sua soberania: florestas, água, minerais estratégicos, alimentos, uma lista invejável.

Depois de enviar o artigo, me dei conta de que não abordei como deveria o que me parece a grande novidade na situação política nacional. Parece que ela mudou completamente. Estávamos acostumados com a polarização entre o governo e a oposição bolsonarista. De repente, entrou em cena um ator gigantesco: o governo americano de Donald Trump. A oposição bolsonarista deixou sua condição de protagonista e se tornou coadjuvante. Ela celebra ações americanas e se dedica a anunciar novas incursões punitivas. Tarifaço, supressão de vistos, Lei Magnitsky, e alguns deliram com a possibilidade de fechamento de bancos e desligamento do Waze. Parecem meninos que se agarram na perna do irmão mais velho que vai brigar por eles.

O resultado disso é que o problema da soberania nacional se tornou decisivo e deverá influenciar fortemente as próximas eleições. Isso fortalece o favoritismo de Lula. A intromissão americana no Brasil é rejeitada pela maioria, ao contrário da Venezuela, onde há uma ditadura, e a eleição foi roubada.

Se o risco de o governo perder as eleições se tornou menor, outros riscos se apresentam no horizonte. Um deles é fantasiar a China como aliado solidário, esquecendo que se trata de uma potência com seus interesses estratégicos bem definidos. No momento, a China negocia com os Estados Unidos a compra de soja americana, o que seria uma perda para os exportadores brasileiros. O ideal para o Brasil é diversificar, fechando o acordo Mercosul-Europa e ajustando sua posição ainda meio ambivalente sobre a guerra na Ucrânia.

Outro perigo é confundir governo Trump com os Estados Unidos e se perder num antiamericanismo estéril. Nem todos concordam com a política para imigrantes, universidades, cientistas, nem com como Trump atropela o sistema legal do país. A verdade é que a resposta ainda é tímida, houve alguma capitulação, mas há uma lenta tomada de consciência.

Um terceiro perigo é entender a questão da autonomia nacional como algo principalmente retórico, subestimando os passos objetivos para que ela possa se afirmar. Há muito o que fazer em infraestrutura digital, redes de alta velocidade, satélites, data centers. O cargo de ministro das Comunicações não pode ser mais algo que se barganhe com o Centrão, como se não tivesse nenhuma importância estratégica.

Finalmente, uma vez que o tema é muito vasto, é preciso tomar consciência da dimensão do adversário que entrou em cena. É simplesmente o mais poderoso do mundo. Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos derrubaram 70 governos, em operações abertas ou clandestinas. Trump assinou um decreto autorizando o Exército a fazer operações contra o tráfico nos países latino-americanos, independentemente da autorização de governos. Logo teremos problemas na fronteira norte, com a Venezuela.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira com br

domingo, 24 de agosto de 2025

Barraco bolsonarista

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 22 de agoosto de 2025

Barraco bolsonarista

Mensagens confirmam frituras de governadores e articulações para submeter o país aos interesses da família. Duda Teixeira para a revista Crusoé:

As relações entre os membros da família Bolsonaro e seus amigos próximos sempre foram repletas de ameaças, gestos de ciúmes e xingamentos, intermeados por demonstrações emotivas de lealdade.

Essas atitudes tóxicas e a insistência em colocar a família em primeiro lugar afastaram aliados próximos, geraram desafetos e isolaram o clã ao longo dos anos.

A divulgação do relatório final da Polícia Federal (PF) que pediu o indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito no Supremo Tribunal Federal (STF) deverá ter o mesmo efeito.

Nas mensagens de WhatsApp e áudios divulgados pela PF, fica evidente que os Bolsonaro articularam para beneficiar a si próprios, sem se preocupar com as consequências negativas do tarifaço para a população brasileira.

Além disso, as mensagens mostram como o deputado federal Eduardo avançou contra o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, cotado como possível candidato nas eleições presidenciais do ano que vem.

Se antes da divulgação do relatório da PF já se notava que os governadores de direita estavam tomando uma distância segura do bolsonarismo raiz, agora eles devem ficar ainda mais à vontade para seguir um rumo distinto em 2026.

“Os governadores precisam contratar bons institutos de pesquisa e analistas eleitorais para identificar se vale a pena disputar o público bolsonarista ensandecido, correndo o risco de perder o eleitor moderado. Talvez fazer isso seja nadar contra a maré”, diz o estrategista eleitoral Roberto Reis, colunista de Crusoé.

“Podemos chegar em 2026 com o meio político chegando à seguinte conclusão: Bolsonaro é menor do que antes e seu custo é muito alto”, afirma Reis.

Ciúmes

No relatório da PF de 170 páginas ficou patente o ciúmes de Eduardo em relação ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Em 15 de julho, Eduardo criticou a tentativa de Tarcísio de conversar com o encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, para evitar um tarifaço contra produtos brasileiros.

“Prezado governador Tarcísio, se você estivesse olhando para qualquer parte da nossa indústria ou comércio estaria defendendo o fim do regime de exceção que irá destruir a economia brasileira e nossas liberdades. Mas como, para você, a subserviência servil as elites é sinônimo de defender os interesses nacionais, não espero que entenda”, escreveu Eduardo nas redes sociais.

O documento da PF esta semana mostrou o que Eduardo conversou com Jair Bolsonaro por esses dias.

Em junho, Eduardo já vinha criticando o governador em mensagens para o seu pai.

“A narrativa de Tarcísio te sucedendo, que já há acordo para isto, está muito forte. Precisamos segurar isso para nos mantermos vivos aqui”, escreveu Eduardo em 25 de junho.

Eduardo, portanto, já temia que o protagonismo de Tarcísio levaria à perda de apoio à família Bolsonaro.

A preocupação é compartilhada com Carlos Bolsonaro, que no início desta semana saiu atacando os “governadores de direita”.

Carlos disse que os governadores “estão preocupados apenas com seus projetos pessoais e com o que o mercado manda”, o que seria “desumano, sujo e canalha”.

E mandou uma dura mensagem: “A verdade é dura: todos vocês se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e não são em nada diferentes dos petistas que dizem combater”. Eduardo, o irmão, compartilhou a publicação.

Encarregado de negócios

Quando Tarcísio se reuniu com Gabriel Escobar, em 11 de julho, o filho Eduardo fez questão de deixar claro ao pai que só ele próprio poderia ajudá-lo, negociando com os americanos diretamente dos Estados Unidos.

"Se [Tarcísio] quiser acessar a Casa Branca ele não conseguirá", escreveu Eduardo. "Só eu e Paulo Figueiredo temos acesso."

“Só para te deixar ciente: Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo vc se fuder e se aquecendo para 2026”, escreveu Eduardo.

"Agora ele [Tarcísio] quer posar de salvador da pátria. Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer. E pode ter certeza, uma 'solução Tarcísio' passa longe de resolver o problema, vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima", escreveu Eduardo.

Ingrato

Em 15 de julho, Jair Bolsonaro deu uma entrevista ao site Poder360, dizendo que atuou para “botar uma pedra em cima” das disputas entre Eduardo e Tarcísio.

“O Tarcísio é governador de um estado, ele não é presidente da República. Ele tem que estar vendo o empresariado lá de São Paulo, que por tabela é todo mundo. No meu entender ele está fazendo o possível. Vai conseguir? Não sei. Porque essas decisões são pessoais do presidente Trump. (…) Ele [Eduardo Bolsonaro] apesar de ter feito 40 anos de idade agora, né… ele não é tão maduro assim, vamos assim dizer, talhado para a política… tá bem. Ele acerta 90% das vezes, 9% quando meio e 1% está errando”, disse Jair Bolsonaro na entrevista.

Eduardo demonstrou irritação com o pai e chegou a xingá-lo.

“Eu ia deixar de lado o histórico do Tarcísio, mas graças aos elogios que vc fez a mim no Poder360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se vc aprender. VTNC SEU INGRATO DO C*!”, escreveu Eduardo.

“Me fudendo aqui! Vc ainda te ajuda a se fuder aí! Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PARA BAIXO, quem vai se f* é vc E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA PORRA AQUI! TENHA RESPONSABILIDADE.”

“Anistia light”

Eduardo não apenas mostra que desejava a benção do pai para ele próprio se candidatar à Presidência, como entendia que somente poderia haver um apaziguamento com os Estados Unidos caso seu pai fosse poupado pelo STF.

E Jair Bolsonaro concordava com o filho, tanto que no dia 13 de julho enviou a seguinte mensagem ao pastor Silas Malafaia: “O que eu mais tenho feito é conversar com pessoas mais acertadas, vamos assim dizer, no tocante, que se não começar votando a anistia, não tem negociação sobre tarifa. Não adianta um ou outro governador querer ir para os Estados Unidos, ir para embaixada, para não sei onde quer que ele vá, tentar sensibilizar. Não vai conseguir. Da minha parte, é por aí, pô”.

Não é segredo para ninguém que, quando os bolsonaristas falam em anistia para os condenados no 8 de janeiro, o que estão procurando é uma maneira de livrar Jair Bolsonaro.

O relatório da PF também descortina esse ponto, quando Eduardo usa o termo “anistia light”, que poderia ser interpretado como uma anistia que não inclui o ex-presidente.

“Se a anistia light passar [no Congresso], a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do [Donald] Trump. Eles não irão mais ajudar. (…) Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto”, escreveu Eduardo.

Ajudar a reduzir a pena dos condenados no 8 de janeiro, assim, seria contrariar os planos da família.

Julgamento

Os governadores reagiram aos ataques de Eduardo e de Carlos com serenidade, dizendo que entendem o desespero da família a e até se solidarizam com ela, mas não responderam as agressões, nem prometeram qualquer coisa.

Tarcísio, na quinta, 21, evitou entrar no barraco bolsonarista.

“Primeiro eu não vou comentar, é uma conversa privada de pai para filho, é uma questão que só interessa aos dois e eu não sei nem porque essas conversas foram divulgadas, realmente não vejo interesse público nisso”, disse o governador durante agenda na região de Marília, no interior do estado.

“Segundo, a minha relação com o Bolsonaro vai ser como sempre foi, relação de lealdade, relação de amizade, relação de gratidão com uma pessoa que eu entendo fez muito pelo Brasil, fez muito por mim, me abriu a porta, sempre foi muito amigo e eu vou ser amigo, vou estar sempre do lado, vou estar sempre trabalhando para ajudar na medida do possível”, acrescentou.

Filhos x governadores

A disparidade no comportamento dos governadores e dos filhos de Bolsonaro se explica porque, enquanto a família se aflige vendo seu capital político diminuir, os governadores fazem calmamente seus planos para o futuro.

“O poder de comando de Jair Bolsonaro encolheu. Quando estava no Planalto, Bolsonaro atraía governadores pela força da máquina federal. Hoje, com processos e prisão domiciliar, ele perdeu a autoridade que antes impunha obediência”, diz o estrategista eleitoral Wilson Pedroso, sócio da Real Time Big Data e novo colunista de Crusoé.

“O que sobrou para os Bolsonaro foi capacidade de mobilização. O clã ainda faz barulho e cria custos para quem desafia, mas é uma força reativa, não de liderança. Governadores já calculam melhor o risco de se associar, porque Bolsonaro não entrega benefícios e ainda carrega alto desgaste judicial”, diz Pedroso.

Indulto ou anistia

A esperança dos Bolsonaro era de que os governadores estariam com a família até o final, elevando o tom de suas declarações contra o STF e questionando a legitimidade das eleições sem Jair Bolsonaro.

Na mente dos Bolsonaro, os governadores ainda estariam em uma disputa entre si, agradando ao máximo o ex-presidente para, ao final, conseguir sua indicação para concorrer à Presidência.

Em vez disso, os governadores têm demonstrado unidade entre eles. Falam em “projeto político da direita” e consideram que todos ali são legítimos pré-candidatos desse campo político.

Eles também têm sido cautelosos ao falar do Judiciário. “Os Bolsonaro estão pedindo algo que é impossível. Eles querem que os governadores se indisponham com o STF e com as outras instituições. O que a família quer é uma declaração de guerra, e isso os governadores não podem fazer”, diz o cientista político Leonardo Barreto, colunista de Crusoé.

Além de ser impossível agradar ao clã, os governadores fazem a conta de que, uma hora ou outra, Jair Bolsonaro será obrigado a dar seu apoio político a um pré-candidato da direita, provavelmente um governador.

A condenação de Bolsonaro na trama golpista é dada como certa, e ele precisa ter, ao menos, a garantia de que o próximo presidente lhe prometeu anistia ou indulto, para cobrar isso depois, em 2027.

Se o indicado de Bolsonaro não for o vencedor das eleições do ano que vem, não haverá como solicitar um perdão no futuro.

Bolsonaro, assim, precisa escolher um candidato com boas chances, o que praticamente elimina a chance de seu filho Eduardo Bolsonaro, que agora poderá ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República.

Contra o Brasil

Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta, 20, mostrou que os brasileiros têm visto de maneira muito negativa a atuação de Eduardo nos Estados Unidos.

Para 69% dos entrevistados, Eduardo defende os interesses próprios dele e da família Bolsonaro. Somente 23% acham que ele defende os interesses do Brasil.

Eduardo vai mal entre os brasileiros que não têm posicionamento político, o grupo que costuma decidir o resultado das eleições. Entre eles, 78% acham que Eduardo só pensa na família, e não no país.

A família ainda mantém um eleitorado fiel, em torno de 15% a 20% do eleitorado, mas aproximar-se demais de seus membros pode ser fatal na eleição do ano que vem, e isso os governadores preferem evitar.

“O clã mantém peso eleitoral e capacidade de veto, mas já não dita os rumos da direita”, afirma Wilson Pedroso.

Os governadores, assim, podem seguir tranquilos.

O tempo está a favor deles e contra a família Bolsonaro.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Ruína de Bolsonaro é chance para a direita

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 22 de agosto de 2025

Ruína de Bolsonaro é chance para a direita

Tendo ficado claro que o ex-presidente só pensa em si mesmo e está se lixando até para aliados, cabe aos verdadeiros conservadores abjurar o clã que lesa o Brasil para se safar da Justiça. Editorial do Estadão:

O indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro pelos crimes de coação no curso do processo e abolição violenta do Estado Democrático de Direito escancarou, de uma vez por todas, aquilo que já estava implícito no comportamento do clã: sua única preocupação é garantir, a qualquer custo, que o ex-presidente jamais seja responsabilizado pela pletora de crimes que o fizeram réu perante o Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Penal 2.668, que trata da tentativa de golpe de Estado. Qualquer outro objetivo, seja de interesse nacional, partidário ou voltado a um movimento político mais amplo, não tem a menor importância para Bolsonaro e sua grei.

O relatório da Polícia Federal (PF), divulgado com autorização do ministro Alexandre de Moraes, indica que Bolsonaro, Eduardo e o pastor Silas Malafaia tramaram desavergonhadamente meios concretos de interferir no bom andamento da Ação Penal 2.668. Do ponto de vista jurídico-penal, a tipificação dessas condutas ainda tem de passar pelo crivo da Procuradoria-Geral da República. Entretanto, do ponto de vista político, o material obtido pela PF não poderia ser mais devastador para os Bolsonaros.

As conversas trazidas a público confirmam a supremacia dos interesses mesquinhos da família sobre o interesse nacional e até mesmo sobre os de seu grupo político, o que atesta a absoluta falta de compromisso do bolsonarismo com o Brasil. A imposição de uma sobretaxa de 40% sobre as exportações brasileiras pelo presidente dos EUA, Donald Trump, somada às sanções impostas ao ministro Moraes pelo governo americano no âmbito da Lei Magnitsky, evidenciam o preço da cruzada delinquente de Jair e Eduardo Bolsonaro, este homiziado nos EUA desde março: incalculável prejuízo para o País em nome da impunidade de um só homem.

Em mensagens ao pai, Eduardo foi explícito ao dizer que a tal “anistia ampla, geral e irrestrita” jamais passou de um artifício retórico. O que importa, disse ele, é tão somente livrar Bolsonaro da cadeia. Caso contrário, segundo Eduardo, Trump poderia sustar suas ações para subjugar o STF em favor do pai. Esse reconhecimento expresso de que uma solução intermediária – o que o vulgo “zero três” chamou de “anistia light”, ou seja, um perdão que aliviasse apenas a situação dos bagrinhos do 8 de Janeiro – não satisfaria ao clã só reforça a convicção de que toda a energia negativa da família sempre esteve direcionada a um único fim: livrar Jair Bolsonaro, e apenas ele, da cadeia.

Nesse projeto personalista, atropelar aliados é fato da vida. O governador Tarcísio de Freitas, por exemplo, tido como candidato a herdeiro do espólio eleitoral de Jair Bolsonaro, tornou-se alvo da fúria de Eduardo apenas por tentar abrir canais de diálogo com autoridades americanas a fim de reduzir os impactos do tarifaço, particularmente duros para São Paulo. Em termos chulos, o filho do ex-presidente não só insultou o pai, como ameaçou desferir mais agressões contra Tarcísio caso Bolsonaro continuasse a defendê-lo em público. Em respeito ao leitor, decidimos não reproduzir a vulgaridade das conversas.

A cada revelação, fica mais evidente que a causa bolsonarista jamais foi a defesa da democracia, da soberania, da liberdade de expressão ou dos idiotas úteis que tomaram Brasília de assalto naquele dia infame. Trata-se de um projeto de autopreservação familiar que explora seguidores e sacrifica o Brasil. É nesse contexto que os verdadeiros conservadores, aqueles que repudiam a ruptura e prezam as instituições democráticas, devem avaliar a conveniência de permanecer ao lado de um golpista desqualificado como Jair Bolsonaro. Com tudo o que se sabe, só o fanatismo explica a fidelidade canina de alguns ao “mito”. Lideranças com pretensões eleitorais que se consideram decentes não podem continuar a se associar a um clã que já demonstrou ser capaz de trair os interesses mais vitais do País em troca da liberdade do líder da facção.

É de justiça reconhecer que, no campo da direita, já há quem se movimente pela construção de uma alternativa política democrática ao governo Lula da Silva, considerando que Bolsonaro é um zumbi político. Que assim seja, pois o Brasil não pode seguir refém de uma família que intoxica o destino nacional com sua desgraça particular.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com 

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Documentário: 'Apocalipse nos Trópicos' de Petra Costa


 
Apocalipse nos Trópicos | Trailer oficial | Netflix Brasil

Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa - diretora do documentário indicado ao Oscar Democracia em Vertigem. No filme, a cineasta examina com profundidade a influência de líderes evangélicos na vida política do país.

> Já disponível na Netflix

Petra Costa: um país em transe em “Apocalipse nos Trópicos”. 
Com Reinaldo e Walfrido. Reconversa 100

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Leia a sinopse oficial de Apocalipse nos Trópicos:

“Em Apocalipse nos Trópicos, Petra Costa investiga o aumento da participação de líderes evangélicos nas decisões políticas do país. Com acesso exclusivo a figuras emblemáticas como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o famoso televangelista Silas Malafaia, a cineasta investiga o papel profundo que o movimento evangélico desempenhou na recente turbulência política do Brasil. Como em seu indicado ao Oscar® Democracia em Vertigem, Costa documenta um período de grande incerteza com lucidez e olhar poético. Entrelaçando passado e presente, o filme nos conduz através das contradições de uma jovem e frágil democracia, e ao fazê-lo oferece uma imagem que ecoa muito além das fronteiras do Brasil.”

Texto compartilhado do site: cultura uol com br

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Quem é Petra Costa, cineasta brasileira indicada ao Oscar por 
"Democracia em Vertigem" (Foto: Wikimedia Commons)

Publicação compartilhada do site GALILEU, de 4 de fevereiro de 2020 

Quem é Petra Costa, cineasta brasileira indicada ao Oscar

Confira algumas curiosidades sobre a família e a carreira da documentarista que concorre ao prêmio de melhor documentário por "Democracia em Vertigem"

Por Marília Marasciulo

A mineira Ana Petra Costa pode ser a primeira cineasta latino-americana a receber um Oscar. Diretora de Democracia em Vertigem, no qual acompanha a crise político-econômica no Brasil e o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Costa concorre ao prêmio de melhor documentário. A cerimônia de premiação ocorre no domingo (9), em Los Angeles. Conheça a trajetória da cineasta:

Avô empreiteiro e pais ativistas

Costa é neta de Gabriel Donato de Andrade, um dos fundadores da Andrade Gutierrez, uma das maiores construtoras do Brasil. Seus pais, por sua vez, são o político Manoel Costa Júnior e da socióloga Marília Andrade. Ambos foram militantes de esquerda durante a ditadura militar e o nome de Petra é uma homenagem a Pedro Pomar, fundador do Partido Comunista do Brasil assassinado durante um ataque à casa onde o comitê do partido estava reunido. O histórico político da família não só é mencionado no documentário, como foi fundamental para o seu desenvolvimento e faz parte do enredo.

Anos de estudo

Nascida em Belo Horizonte em 1983, Costa se mudou para São Paulo quando ainda era um bebê. Aos 14 anos, começou a estudar teatro e, aos 17, entrou para o curso de artes cênicas na Universidade de São Paulo (USP). Ficou no curso por dois anos, trocando-o por antropologia na Universidade Columbia, em Nova York. Em seguida, ingressou em um mestrado em Comunidade e Desenvolvimento na Escola de Economia de Londres.

Carreira

De volta ao Brasil em 2007, aos 24 anos, passou a se dedicar ao cinema. Em 2009, produziu e dirigiu o curta-metragem Olhos de Ressaca, sobre amor e envelhecimento, contado sob a perspectiva de seus avós. Seu primeiro longa foi Elena, de 2012, sobre a viagem de sua irmã mais velha a Nova York.

Elena, 13 anos mais velha que Petra, suicidou-se quando Petra tinha sete anos. O filme foi aclamado pela crítica, recebeu dezenas de prêmios e foi o documentário mais assistido no Brasil em 2013. Em 2015, lançou Olmo e A Gaivota, uma investigação de uma vida real em estrutura ficcional feita em parceria com a dinamarquesa Lea Glob.

Texto e imagem reproduzidos do site: revistagalileu globo com

terça-feira, 19 de agosto de 2025

'Muitas Crises e Alguma Oportunidade' por Fernando Gabeira


Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 15 de agosto de 2025

Muitas Crises e Alguma Oportunidade

Por Fernando Gabeira (In Blog)

O Brasil não vive uma crise. Vive muitas ao mesmo tempo. Algumas são universais, como a climática e a do comércio internacional, completamente revirado pelas iniciativas de Donald Trump.

É pretensioso supor que uma só pessoa consiga abordar esse punhado de crises, em busca de caminhos para o País. No passado, escrevíamos teses bastante gerais que eram uma espécie de roteiro de discussão ou mesmo um estímulo à pesquisa.

A ordem internacional do comércio foi subvertida por Trump. Isso é irreversível pelo menos durante seu mandato.

Que papel o Brasil pode encontrar neste novo arranjo em que todos se movem em busca de novos mercados? Há consenso de que devemos buscar também novos compradores para nossos produtos. O multilateralismo fortalecido pode ser uma resposta mundial a Trump.

É consensual, também, que devemos ter uma posição serena na defesa da soberania, buscando pacientemente restaurar os vínculos diplomáticos com os EUA.

Não é consensual tanto como a diversidade na exportação, a possibilidade de o Brasil se abrir mais, simplificando sua estrutura tarifária, reduzindo barreiras não tarifárias. Naturalmente, isso deve ser feito com os devidos cuidados, mas não podemos mimetizar a visão primária de Trump, segundo a qual quem vende é sempre um explorador e que o déficit comercial significa perdas. Ele considera que um déficit de, suponhamos, US$ 1 bilhão é um dinheiro jogado fora, abstraindo a mercadoria comprada que poderia ser mais cara se produzida internamente.

Outro aspecto da crise comercial que acaba convergindo para a crise ambiental é o dos recursos brasileiros vitais para a transição energética: sol, vento, água, florestas, minerais estratégicos, tudo isso deve ser levado em conta numa reavaliação geopolítica do Brasil.

Já produzimos lítio no Vale do Jequitinhonha, começamos a explorar terras raras com a Serra Mining em Goiás, temos uma reserva de nióbio que pode abastecer todo o planeta – enfim, o Brasil tem um papel central na superação do modelo poluidor e suicida.

No campo digital, a ideia de soberania tem sido sintetizada no poder do Brasil de impor suas leis às big techs que aqui funcionam. Mas ela precisa ser estendida à própria infraestrutura – já escrevi artigos mostrando, por exemplo, a dependência que um setor da economia tem do WhatsApp.

O Brasil é um importante espaço para data centers, pois dispõe de energia e água, fatores consumidos em larga escala. Pode oferecer isso às big techs, mas pode também construir os seus próprios.

Já escrevi artigos mais amplos sobre os passos para um nível de autossuficiência, já alcançado pela China, por exemplo. Satélites, redes de alta velocidade, plataformas de cloud, tecnologias de inteligência artificial e algoritmos – um caminho que permite não apenas aplicar a lei às big techs, mas sobreviver a um possível boicote.

Toda essa temática precisa repercutir nas eleições de 2026 e funcionar como estímulo para a escolha de pelo menos um pequeno núcleo de parlamentares que aborde as necessidades do País.

A tendência à escalada da tensão com os EUA é muito forte no campo político. Além das pressões de Trump no caso Bolsonaro, ele assinou um decreto autorizando ações militares na América Latina para o combate ao tráfico de drogas. Essas ações independem da autorização dos governos. Provavelmente, começarão pelo México e virão para a Venezuela, onde o governo de Nicolás Maduro foi considerado envolvido com o tráfico. Os EUA acusam Maduro de participar de um cartel e de ter relações com outros dois: Tren de Aragua e Sinaloa.

Essa disposição de combater o tráfico de drogas em alguns casos, como o da Venezuela, converge com a vontade de derrubar o governo. Um exemplo histórico é o de Manuel Noriega, no Panamá.

Qualquer operação na Venezuela terá repercussão no Brasil, que, por sua vez, já foi instado por Trump a considerar o PCC e outros grupos de crime organizado como terroristas.

O Brasil recusou, mas, de qualquer forma, o decreto é o anúncio de problemas, pois a volta da guerra às drogas com tropas americanas é um filme antigo, que saiu de cartaz por falta de eficácia.

A melhor forma de navegar neste mar tão revolto é ter objetivos claros neste mundo em mudança.

O governo tem possibilidade de prosseguir até 2030. Tanto a serenidade como a definição de objetivos são fatores essenciais nessa transição.

No momento, a polarização domina o cenário político. Tem sido assim nos últimos anos. O dado novo é a entrada de um ator muito mais forte que a extrema direita brasileira. Em outras palavras, um dos decisivos temas é a relação Brasil-EUA.

A soberania é um tema inescapável. Mas ela não pode ser apenas um discurso empolgado. Demanda serenidade, passos concretos e uma visão de mais longo prazo. Isso tudo é artigo raro num processo eleitoral. Mas, infelizmente, não temos mais tempo. É hora de nos reposicionarmos no mundo.

Apesar de todos os obstáculos, é mais uma oportunidade de o Brasil alcançar a grandeza sempre postergada em nossa história.

Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira com br

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

É a Constituição, estúpido!

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 17 de agosto de 2025

É a Constituição, estúpido!

Há quem acredite que a verdadeira explicação para a diferença entre o progresso americano e o atraso brasileiro esteja no arcabouço institucional dos EUA. Roberto Motta para a Oeste:

Morei quase cinco anos nos Estados Unidos e já voltei como turista inúmeras vezes. Sempre me impressionam a segurança, a estabilidade e a abundância. Na minha primeira visita, o que mais me impressionou foram as casas. Com poucas exceções, as casas americanas não têm cercas ou muros. A segunda coisa que me chamou a atenção foram os supermercados. São inacreditáveis a fartura, a variedade e o preço acessível dos produtos. Essas duas coisas não são acidentais; elas são o resultado de um projeto deliberado de construção de uma nação que foi conduzido por alguns dos estadistas mais brilhantes da história.

Considerado por muitos um império, os Estados Unidos começaram sua história como uma simples união de 13 colônias inglesas instaladas no nordeste do continente norte-americano. Os colonos não tinham intenção de formar um novo país; isso só aconteceu porque a intransigência da Coroa britânica lhes negou seus direitos de cidadãos ingleses —principalmente o direito à representação política. Os Estados Unidos da América foram se expandindo através de exploração, da conquista e até da compra de grandes partes do território. A região central foi adquirida de Napoleão Bonaparte (uma operação que ficou conhecida como a Louisiana Purchase), a Flórida foi negociada com a Espanha em troca da quitação de dívidas e o Alasca foi comprado da Rússia. Outros territórios foram conquistados através das armas: a guerra com o México resultou na anexação dos territórios da Califórnia, Nevada, Novo México, Arizona e partes do Colorado e Utah, enquanto a guerra com a Espanha resultou na conquista de Porto Rico, Guam e Filipinas e na independência de Cuba (isso mesmo: Cuba deve sua independência aos EUA).

Os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial como uma grande potência e saíram da Segunda Guerra como o poder hegemônico — para o bem e para o mal, mas, principalmente, para o bem. Depois da vitória na Segunda Guerra, os EUA poderiam ter transformado a Europa em uma colônia. Ao invés disso, criaram o Plano Marshall, que financiou a reconstrução europeia e a OTAN, que garantiu sua segurança. Japão e Alemanha, derrotados, foram reinventados como democracias, protegidas até hoje pelo escudo nuclear americano. Foi a influência americana que impediu o ditador Vargas de aliar o Brasil ao Eixo fascista.

Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial como uma grande potência e saíram da Segunda Guerra como o poder hegemônico. Memorial de Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos no condado de Arlington, em Virgínia (EUA)

Por incrível que pareça, no início de sua história, Brasil e Estados Unidos tinham indicadores econômicos similares. Segundo o economista Stephen Haber, em seu livro How Latin America Fell Behind, no ano 1800, o PIB per capita do Brasil era igual ao PIB per capita dos Estados Unidos. Cem anos depois, por volta do ano 1900, o PIB per capita americano já era sete vezes maior que o PIB do Brasil. Hoje essa relação é de 8 para 1: o trabalhador americano produz, em média, oito vezes mais do que um brasileiro. Por que o Brasil ficou para trás?

Stephen Haber aponta duas causas principais. A primeira seria a inexistência, no Brasil, de um mercado de capitais desenvolvido, o que tornava extremamente difícil captar o investimento necessário a empreendimentos. A outra causa seria o atraso na implantação de ferrovias, o que dificultou o transporte e elevou seu custo. Em 1900, o Brasil tinha apenas 15 mil quilômetros de ferrovias, enquanto os EUA já tinham 300 mil quilômetros.

Mas há quem acredite que a verdadeira explicação para a diferença entre o progresso americano e o atraso brasileiro esteja em outro lugar: no arcabouço institucional dos Estados Unidos, baseado em uma Constituição em vigor desde 1789.

Depois da guerra de independência, em 1787, os delegados de 12 estados se reuniram em uma convenção constitucional para revisar os Artigos da Confederação, o documento que regulava até então a união das colônias. Entre maio e setembro, foi escrita a constituição dos EUA, um processo intenso, marcado por debates entre federalistas, que defendiam um governo central forte, e antifederalistas, que defendiam as liberdades individuais e a soberania dos estados. Em dezembro de 1787, Delaware tornou-se o primeiro estado a ratificar a constituição. New Hampshire foi o nono estado a aprová-la, em junho de 1788, cumprindo os requisitos para sua adoção. A constituição entrou em vigor em março de 1789.

A constituição dos Estados Unidos foi concebida como um documento estrutural, focado em criar um governo central forte e dividido em poderes legislativo, executivo e judiciário. Os federalistas argumentavam que era desnecessário listar direitos específicos no texto constitucional, pois os poderes do governo já eram limitados e definidos, deixando as liberdades individuais implícitas. Muitas constituições estaduais já incluíam cartas de direitos, o que levou alguns delegados a acreditar que proteções adicionais no documento federal eram redundantes.

Mas a ausência de uma carta de direitos gerou forte oposição dos antifederalistas, que temiam que um governo federal se tornasse autoritário. Essa preocupação, alimentada pela lembrança do domínio britânico, colocou em risco a ratificação da Constituição. A solução veio com um compromisso: os federalistas prometeram adicionar uma carta de direitos após a ratificação. Assim, entre 1789 e 1791, James Madison elaborou as emendas que se tornariam a Declaração de Direitos (Bill of Rights), ratificada em 1791. Essas dez emendas garantiram liberdades fundamentais como expressão, religião, reunião e devido processo legal. A inclusão separada da Declaração de Direitos foi crucial para assegurar a aceitação da Constituição, equilibrando o poder do governo com a proteção dos direitos individuais e consolidando o sistema político americano.

Esse processo, marcado por compromissos e debates, estabeleceu as bases do sistema político americano que dura até hoje e que tornou os Estados Unidos o país mais rico e poderoso do planeta.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

Leandro Demori ENTREVISTA Deputado Lindbergh Farias


Deputado Lindbergh Farias é o convidado do Dando a Real com Leandro Demori

TV Brasil, em 12 de agosto de 2025  

O deputado federal Lindbergh Farias conversa sobre o cenário político atual. 

Ele avalia as sanções do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a situação do deputado Eduardo Bolsonaro; relembra os desdobramentos dos ataques do 8 de janeiro e analisa as possibilidades para as eleições do próximo ano. 

sábado, 16 de agosto de 2025

Guinada: ucranianos agora aceitam trocar territórios por acordo de paz?


Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 14 de agosto de 2025

Guinada: ucranianos agora aceitam trocar territórios por acordo de paz?

A mudança na opinião pública é um ponto vital para a intermediação de Trump e a cúpula com Vladimir Putin amanhã no Alasca. Vilma Gryzinski:

Irá Donald Trump conseguir um acordo aceitável sobre o fim da guerra na Ucrânia – ou pelo menos sua suspensão? As probabilidades não são exatamente altas, mas o presidente americano tem um fator inesperado a seu favor: depois da brava resistência, e de um número estimado em até 500 mil mortos e feridos, a maioria dos ucranianos está disposta a engolir um remédio tóxico. Segundo uma pesquisa Gallup, 69% aceitam um fim negociado da guerra e apenas 24% apoiam continuar lutando até expulsar os russos.

Em 2022, era exatamente o oposto: 73% favoreciam a guerra até a vitória e 22%, uma saída negociada.

A realidade falou mais alto, mesmo que contrariando os princípios mais elementares da justiça. Embora não tenham conseguido tomar o país inteiro e implantar um governo títere, graças à resistência dos militares e da população civil, além do exemplo encarnado por Volodymyr Zelensky, os russos são a força preponderante. Não há como não reconhecer isso.

A mudança na castigada opinião pública pode ajudar Zelensky a acatar um acordo de cessar-fogo, além de sobreviver politicamente à ala militar que não aceita negociar o inegociável, o próprio território nacional.

Como acontece no Brasil, a constituição ucraniana estabelece que esse território é uno e indivisível. É um trauma enorme mudar isso, mas dificilmente existe, hoje, alguma alternativa que tire os russos da faixa que já conquistaram – e incorporaram a seu próprio país.

PAZ DOLOROSA

Segundo o Telegraph, Trump tem uma série de incentivos a oferecer a Putin, inclusive a exploração de terras raras na área da Ucrânia que a Rússia engoliu e até exploração de gás na região do estreito de Bering, em torno do Alasca, onde os dois vão se reunir. Outro incentivo: a suspensão da sanções sobre a venda de peças para aviões, uma das áreas mais vulneráveis da economia russa, com uma parte da frota parada ou canalizada.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o primeiro-ministro britânico era Boris Johnson, que disse uma frase famosa: Putin tinha que perder e parecer que havia perdido. A realidade hoje é que Putin vai praticamente consagrar a conquista territorial pela força, uma abominação pelos princípios que deveriam reger as relações entre os países. Vai sair ganhando e parecer que ganhou.

É uma injustiça insuportável, mas a maioria dos ucranianos entende a situação no campo de batalha e também as mudanças que a eleição de Donald Trump trouxeram. A paz trumpiana é dolorosa – e também incerta.

Qual a garantia de que Putin não vá usar a força de novo? Na prática, nenhuma. Ele tem a plena convicção de que Rússia e Ucrânia são “um só povo” – mesmo que até os ucranianos de origem russa rechacem isso.

DESFILE DOS CAIXÕES

As cerimônias fúnebres segundo os ritos da religião ortodoxa, seguida pela maioria dos ucranianos, são comoventes. Quando um militar é enterrado, as pessoas se ajoelham à passagem do caixão. Às vezes, são colocados pães sobre os caixões, um símbolo da vida na hora final.

A mudança na opinião pública sobre a guerra significa que muitos já se cansaram de ver o desfile constante dos caixões. Mesmo aceitando a perda de territórios, que em termos nacionais também é morrer um pouco, eles são pessimistas: 68% acham que é improvável ver o fim da guerra até o fim do ano.

Conseguirá Trump mudar isso? Nada menos que 73% dos ucranianos têm uma visão negativa do presidente americano, mas é dele que dependem para parar o desfile de caixões.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com 

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Democracia no Brasil está ou não ameaçada? Professor responde


Democracia no Brasil está ou não ameaçada? Professor responde

Jovem Pan News - 15 de set. de 2024  JornalDaManhã

O programa Jornal da Manhã recebeu o professor de direito constitucional Gustavo Sampaio para falar sobre o Dia Mundial da Democracia, comemorado neste domingo, dia 15 de setembro. O especialista repercutiu a importância dos valores deste sistema, respondendo se a democracia brasileira está ameaçada.