Robson Santos Melo vive há 7 anos nas ruas de Aracaju (SE)
Foto: Anderson Barbosa/G1 SE.
Jovem coleta material reciclado nas lixeiras.
Foto: Anderson Barbosa/G1 SE.
Publicado originalmente no site G1/SE., em 22/12/2017
'Já comi várias coisas do lixo', revela jovem que vive nas
ruas de Aracaju
No dia do aniversário, Robson Santos conta que queria ter um
lugar para descansar depois de passar um dia inteiro catando material
reciclado.
Por Anderson Barbosa, G1 SE, Aracaju
Sexta-feira (22) de dezembro de 2017. Há 24 anos nascia o
sergipano Robson Santos, um jovem que a equipe do G1 Sergipe encontrou
circulando com um carrinho cheio de material reciclado, recolhido nas lixeiras
de Aracaju (SE).
"Rapaz, se eu botar mesmo pega até 400 quilos. Aí tenho
que esvaziar. Quando eu coloco esses quilos eu procuro um ferro velho para
esvaziar”, conta Robson Santos Melo.
De corpo esguio, o rapaz passou o dia do aniversário em meio
a uma maratona, que se repete há sete anos, desde que resolveu abandonar a
família em São Cristóvão (SE) para morar nas ruas da capital.
Ainda meio assustado, ele revela que saiu de casa depois que
o irmão foi assassinado. E a violência parece perseguir o rapaz. “Esses dias
tocaram fogo em meu barraco e perdi tudo, inclusive meus documentos. Tenho que
tirar tudo novamente”, lamenta.
Enquanto conversava, Robson não parava de remexer a lixeira
à procura de latas de alumínio, papelão e garrafas pet. De tanto frequentar
esses ambientes, o cheiro forte parecia não incomodar o rapaz, que trabalhava
com pressa para adiantar a visita a outros locais na cidade.
Quando a fome aperta, se falta dinheiro para comprar alguma
coisa, as sobras de comida encontradas nas latas de lixo também alimentam. “No
lixeiro da padaria eu cato bolo, pão. Quando eu vejo que está bom, que não tem
rato, pego a comida. Já comi várias coisas do lixo”, revela.
Questionado sobre o presente de aniversário que gostaria de
receber nesta sexta-feira, ele diz que gostaria de sair das ruas e ter algum
local para descansar quando chegasse do trabalho. “Um lugar sem ninguém para
incomodar. Outra coisa, eu não sei negar nada a ninguém. Se eu tiver comendo e
a pessoa chegar com fome eu pego e divido meu pão com a outra pessoa. Porque
Deus disse: dai água a quem tem fome e dá comida a quem tem sede. E eu nunca
neguei nada para ninguém", diz.
À noite nas ruas
Quando chega à noite, as dificuldades parecem aumentar para
essa comunidade que tenta resistir às armadilhas da cidade. Solidão, desespero,
medo e a incerteza do amanhã são conflitos que precisam encarar a cada dia.
"No dia-a-dia dessas pessoas em situação de rua, a psicologia
favorece nesse processo de entendimento do ser no mundo, nos processos de
vinculação, de retomada de vida, de reconstrução, de entendimento mesmo, de
como as pessoas se enxergam, de como essas pessoas querem se ver. Aí a gente
vai também para os transtornos específicos, os sinais de sintomas que
dificultam o processo de tratamento, de relacionamento, que pode gerar uma
agressividade excessiva", explica a psicóloga do programa municipal
Consultório na Rua, Kamila Fialho.
Solidariedade
No processo de reconstrução, o socorro aos moradores em
situação de rua chega em doações de grupos de apoio que levam alimentos, uma
boa conversa e até mesmo música para aliviar o sofrimento.
Um desses é o Projeto Manaim, que usa o evangelho para
retirar das ruas uma população mergulhada no mundo das drogas. "Nós
trabalhamos com base na Palavra de Deus. Não é algo simplesmente religioso, mas
as orientações que Cristo dá que é a cura de caráter", explica o pastor
Manuel Ferreira Neto.
O trabalho do grupo é feito por voluntários que um dia
também passaram pelas ruas e depois de conhecerem o projeto decidiram mudar de
vida. Há sete anos, o missionário André Santos Silva mendigava nas ruas de
Itabuna (BA).
"Dá uma emoção muito grande quando eu lembro que dormia
na rua,
que bebia, fumava, roubava e me prostituía.
Já fiz muita coisa errada e
o que não quero mais pra mim,
não quero pra mais ninguém" - Roberta Bruna.
“A Bíblia diz que a fé move montanhas. E é essa fé que nos
traz a esses locais pra que outras pessoas recebam a oportunidade de mudança.
Eu tive a oportunidade dada pelo projeto Manaim e para glória de Deus hoje
estou transformado", justifica.
Roberta Bruna é outra ex-moradora de rua de Aracaju. Há
menos de dois meses também aceitou o chamado e toda semana retorna ao lugar que
viveu por anos. O reencontro com os amigos é sempre difícil.
“Dói ver meus amigos ainda nessa vida, porque eu saí daqui.
Então, dá uma emoção muito grande quando eu lembro que dormia na rua, que
bebia, fumava, roubava e me prostituía. Já fiz muita coisa errada e o que não
quero mais para mim, não quero para mais ninguém", desabafa Roberta.
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/se
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