Marina Silva, ao lado de José Genoino, acompanha o julgamento do asssassinato
de Chico Mendes, em Rio Branco - Arquivo Pessoal
Publicado originalmente no site da revista ÉPOCA, em 30/07/2018
Marina foi monitorada pela ditadura
Documentos de serviços de inteligência registram militância
política da pré-candidata
Por Daniel Gullino
A pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, é
citada em diversos relatórios de serviços de inteligência, elaborados durante a
ditadura militar e nos anos seguintes, devido à sua militância política, primeiro
no Partido Revolucionário Comunista (PRC) e depois no Partido dos Trabalhadores
(PT). Os documentos, disponíveis no acervo digital do Arquivo Nacional,
registram a participação de Marina em diversos eventos, incluindo protestos,
congressos e até no Encontro dos Povos da Floresta.
O encontro ocorreu em abril de 1989, em Rio Branco, capital
do Acre, simultaneamente ao II Encontro Nacional dos Seringueiros, de acordo
com um relatório elaborado pela Polícia Federal (PF), que na época foi
classificado como confidencial. A organização foi realizada pelo Conselho
Nacional dos Seringueiros (CNS) e pela União das Nações Indígenas (UNI). Na
época, Marina era vereadora de Rio Branco, pelo PT.
A Polícia Federal registrou que, no ginásio onde foi
realizado o encontro, havia faixas em homenagem ao ambientalista Chico Mendes,
assassinado meses antes, que foi um dos mentores políticos da Marina. Na mesa
principal, havia uma cadeira vazia, com a foto de Chico Mendes. De acordo com o
relatório, aproximadamente 700 pessoas estavam presentes.
O Encontro dos Povos da Floresta teve uma segunda edição em
2007, dessa vez em Brasília, quando Marina era ministra do Meio Ambiente no
governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em maio de 1989, outro documento registra que Marina
enfrentava resistências dentro de setores religiosos do PT. A informação está
em um relatório sobre a Central Única dos Trabalhadores do Acre (CUT-AC),
também classificado na época como confidencial.
De acordo com o texto, Marina não era aceita devido à sua
militância no PRC. A oposição ao nome dela teria ficado clara nas eleições de
1988, “quando o clero progressista, na pessoa do seu líder, o bispo D. Moacir
Crechi, trabalhou ostensivamente contra a candidatura”.
Os documentos do Arquivo Nacional também evidenciam o monitoramento
de Marina nos últimos anos da ditadura militar. Em 1984, o Serviço Nacional de
Informação (SNI) acompanhou um congresso de estudantes da Universidade Federal
do Acre (UFAC) e destacou um discurso da então estudante contra o governo.
Além de Marina, o texto ressalta os discursos de Marcos
Afonso Pontes de Souza, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), e
de Pascoal Torres Muniz, presidente da Associação dos Professores do Acre
(ASPAC) e traz uma fala, sem deixar claro, no entanto, qual dos três disse ela.
“Marcos Afonso Pontes de Souza, Pascoal Torres Muniz e
Marina Osmarina Silva de Souza fizeram uso da palavra, para criticar o regime e
acusar os militares ‘por todos os males do país’, pois ‘preferem gastar o
dinheiro com as Forças Armadas, do que investir em educação em saúde’”, diz o
texto.
Outros documentos registram a presença de Marina no 1º
Congresso Nacional da CUT (Concut), realizado em agosto de 1984 em São Paulo;
em uma manifestação de trabalhadores rurais, com outros 500 pessoas, em frente
à sede do governo do Acre, em outubro do mesmo ano; e nolançamento do Partido
Comunista Brasileiro (PCB), em julho de 1985, entre outras atividades.
O nome dela também é citado em um relatório de 1990, que
compilou todos os parlamentares eleitos naquele ano que tinham ligações com
movimentos sociais. Na ocasião, Marina foi eleita deputada estadual.
Na semana passada, o portal “Metrópoles” revelou documentos
do SNI sobre a eleição para o DCE da UFAC, em 1983. Marina presidia uma das
chapas, mas acabou sendo derrotada. Um dos relatórios traz um texto escrito por
ela: uma avaliação sobre o cenário eleitoral na universidade. Em um trecho, ela
afirma que “os estudantes já não mais se contentam com as verdades
inquestionáveis”.
Após a revelação, durante evento em Piracicaba, Marina disse
que ela e outros estudantes desconfiavam que um dos seus colegas era um
policial federal infiltrado:
"Investigaram minha vida na época do movimento
estudantil. Era uma chapa do DCE, de um bando de meninos sonhadores querendo
ganhar o DCE. Na época, a gente desconfiava de um policial, assim, loirão,
grandão, que fazia história. Mas ele não dizia que era policial federal, não. A
gente sabia que ele era porque eles ficavam em dois, numa sala de história,
bisbilhotando aluno", explicou.
A pré-candidata se disse feliz por, mesmo sendo investigada
desde a década de 1980, não ter nenhum processo contra ela.
"E eu fico muito feliz. Porque se tem um acompanhamento
da minha ficha desde lá, chegar aos 60 anos, com quase 33 anos de vida pública,
e não ter absolutamente nada de processo contra mim em relação a nada, eu fico
muito feliz."
(Colaborou Dimitrius Dantas)
Texto e imagem reproduzidos do site: epoca.globo.com
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