quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Marina foi monitorada pela ditadura

Marina Silva, ao lado de José Genoino, acompanha o julgamento do asssassinato 
de Chico Mendes, em Rio Branco - Arquivo Pessoal

Publicado originalmente no site da revista ÉPOCA, em 30/07/2018 

Marina foi monitorada pela ditadura

Documentos de serviços de inteligência registram militância política da pré-candidata
  
Por Daniel Gullino 

A pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, é citada em diversos relatórios de serviços de inteligência, elaborados durante a ditadura militar e nos anos seguintes, devido à sua militância política, primeiro no Partido Revolucionário Comunista (PRC) e depois no Partido dos Trabalhadores (PT). Os documentos, disponíveis no acervo digital do Arquivo Nacional, registram a participação de Marina em diversos eventos, incluindo protestos, congressos e até no Encontro dos Povos da Floresta.

O encontro ocorreu em abril de 1989, em Rio Branco, capital do Acre, simultaneamente ao II Encontro Nacional dos Seringueiros, de acordo com um relatório elaborado pela Polícia Federal (PF), que na época foi classificado como confidencial. A organização foi realizada pelo Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e pela União das Nações Indígenas (UNI). Na época, Marina era vereadora de Rio Branco, pelo PT.

A Polícia Federal registrou que, no ginásio onde foi realizado o encontro, havia faixas em homenagem ao ambientalista Chico Mendes, assassinado meses antes, que foi um dos mentores políticos da Marina. Na mesa principal, havia uma cadeira vazia, com a foto de Chico Mendes. De acordo com o relatório, aproximadamente 700 pessoas estavam presentes.

O Encontro dos Povos da Floresta teve uma segunda edição em 2007, dessa vez em Brasília, quando Marina era ministra do Meio Ambiente no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em maio de 1989, outro documento registra que Marina enfrentava resistências dentro de setores religiosos do PT. A informação está em um relatório sobre a Central Única dos Trabalhadores do Acre (CUT-AC), também classificado na época como confidencial.

De acordo com o texto, Marina não era aceita devido à sua militância no PRC. A oposição ao nome dela teria ficado clara nas eleições de 1988, “quando o clero progressista, na pessoa do seu líder, o bispo D. Moacir Crechi, trabalhou ostensivamente contra a candidatura”.

Os documentos do Arquivo Nacional também evidenciam o monitoramento de Marina nos últimos anos da ditadura militar. Em 1984, o Serviço Nacional de Informação (SNI) acompanhou um congresso de estudantes da Universidade Federal do Acre (UFAC) e destacou um discurso da então estudante contra o governo.

Além de Marina, o texto ressalta os discursos de Marcos Afonso Pontes de Souza, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), e de Pascoal Torres Muniz, presidente da Associação dos Professores do Acre (ASPAC) e traz uma fala, sem deixar claro, no entanto, qual dos três disse ela.

“Marcos Afonso Pontes de Souza, Pascoal Torres Muniz e Marina Osmarina Silva de Souza fizeram uso da palavra, para criticar o regime e acusar os militares ‘por todos os males do país’, pois ‘preferem gastar o dinheiro com as Forças Armadas, do que investir em educação em saúde’”, diz o texto.

Outros documentos registram a presença de Marina no 1º Congresso Nacional da CUT (Concut), realizado em agosto de 1984 em São Paulo; em uma manifestação de trabalhadores rurais, com outros 500 pessoas, em frente à sede do governo do Acre, em outubro do mesmo ano; e nolançamento do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em julho de 1985, entre outras atividades.

O nome dela também é citado em um relatório de 1990, que compilou todos os parlamentares eleitos naquele ano que tinham ligações com movimentos sociais. Na ocasião, Marina foi eleita deputada estadual.

Na semana passada, o portal “Metrópoles” revelou documentos do SNI sobre a eleição para o DCE da UFAC, em 1983. Marina presidia uma das chapas, mas acabou sendo derrotada. Um dos relatórios traz um texto escrito por ela: uma avaliação sobre o cenário eleitoral na universidade. Em um trecho, ela afirma que “os estudantes já não mais se contentam com as verdades inquestionáveis”.

Após a revelação, durante evento em Piracicaba, Marina disse que ela e outros estudantes desconfiavam que um dos seus colegas era um policial federal infiltrado:

"Investigaram minha vida na época do movimento estudantil. Era uma chapa do DCE, de um bando de meninos sonhadores querendo ganhar o DCE. Na época, a gente desconfiava de um policial, assim, loirão, grandão, que fazia história. Mas ele não dizia que era policial federal, não. A gente sabia que ele era porque eles ficavam em dois, numa sala de história, bisbilhotando aluno", explicou.

A pré-candidata se disse feliz por, mesmo sendo investigada desde a década de 1980, não ter nenhum processo contra ela.

"E eu fico muito feliz. Porque se tem um acompanhamento da minha ficha desde lá, chegar aos 60 anos, com quase 33 anos de vida pública, e não ter absolutamente nada de processo contra mim em relação a nada, eu fico muito feliz."

(Colaborou Dimitrius Dantas)

Texto e imagem reproduzidos do site: epoca.globo.com

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