Publicado originalmente no site Alô News, em 15/12/2018
Consciência e (R)Existência: uma nova etapa na vida de Linda
Brasil
A ativista transfeminista fala ao Alô News, sobre a atuação
como colunista do site
Alô News
Desde a última semana, o Portal Alô News está contando com
um novo espaço opinativo, que se diferencia por muitos elementos de qualquer
produção jornalística tradicional. Com o objetivo de promover e difundir a
reflexão a respeito de temas relacionados à vida e à luta de grupos feministas
e LGBTs e de impulsionar o espaço de fala dos mesmos, o Alô convidou a ativista
transfeminista Linda Brasil para escrever semanalmente em uma coluna no site.
Muito entusiasmada, Linda aceitou na mesma hora a ideia, e
assim criou a Consciência e (R)Existência, um espaço, onde ela vai poder se
apropriar de sua experiência de luta e de sua formação acadêmica para abordar
temas referentes às dificuldades de populações que ainda sofrem muito com o
preconceito, os estereótipos, a falta de oportunidades e a violência.
E justamente, para falar sobre essa nova empreitada em sua
vida, Linda, nos concedeu uma entrevista onde vai explicar como trabalhará
estes assuntos, cada vez mais discutidos na sociedade, em sua coluna.
Confira a conversa que tivemos com ela, a partir de agora:
Portal Alô News - (A.N.): Na sua opinião, qual a importância
da criação dessa coluna para a imprensa opinativa em Sergipe?
Linda Brasil - (L.B.): É um espaço inovador porque a gente
tem uma carência aqui em Sergipe, de meios como esses em que militantes LGBT e
principalmente uma trans, que sempre estiveram fora desses espaços de
comunicação possam falar sobre um tema que ultimamente está sendo perseguido e
estereotipado como é a discussão de gênero e de diversidade sexual para que
possamos assim, combater várias formas de violência derivadas de falta de
consciência e respeito às diversidades.
(A.N.): De quem foi a ideia de nomeá-la como Consciência e
(R)Existência?
(L.B.): A princípio eu tinha sugerido um nome na minha rede
social porque eu sempre gosto de compartilhas as minhas iniciativas nas redes
sociais com meus seguidores. Eu tinha colocado o nome ‘Consciência e
Resistência’, aí um dos meus amigos sugeriu que ao invés de ‘Resistência’ eu
adotasse o ‘(R) Existência’, pois tem a ver com as existências trans, LGBTS,
feministas, e sempre estamos buscando formas de existir resistindo. Então, esse
‘R’ na frente é para fazer um paradoxo e dar essa ideia de uma existência no
resistir. Eu achei muito interessante essa sugestão, não me lembro bem quem
foi, mas está lá nos comentários da publicação que fiz no perfil do Facebook.
(A.N.): Qual o impacto inicial que a divulgação dessa nova
coluna gerou nos meios de discussão dos assuntos da comunidade LGBT e
feminista?
(L.B.): Na minha rede social, teve uma repercussão muito
positiva. Várias pessoas parabenizando, e de uma certa forma apoiando essa
coluna, pois se sabe da importância para a luta LGBT e feminista de uma coluna
na qual uma pessoa que vivencia essas formas de opressão e há anos milita a
favor dos direitos humanos possa falar sobre assuntos tão necessários para a
sociedade sergipana.
(A.N.): Amigos ativistas já te sugeriram temas para
abordagem na coluna?
(L.B.): Algumas pessoas já me deram sugestões, mas como
coloquei no texto inicial irei falar sobre várias questões, principalmente
ligadas às temáticas de gênero, sexualidade e direitos humanos, que são
esclarecedoras para as pessoas, especialmente nesse momento em que vemos uma
descontextualização do termo ‘gênero’. E é preciso que a sociedade a
importância das discussões de gênero, entendendo que são papeis sociais que são
atribuídos a homens e mulheres, e eles acabam provocando diferenças,
desigualdades, opressões, violência e mortes. E, portanto, é sim importante se
falar sobre esses assuntos nas escolas, por exemplo, para que tenhamos pessoas
mais esclarecidas a respeito do tema da diversidade. Abordaremos, inclusive, no
próximo texto da coluna a questão da violência contra a comunidade LGBT.
(A.N.): O que a sua coluna irá trazer de diversificado para
o debate da questão de gênero no estado de Sergipe?
(L.B.): Vai trazer uma perspectiva de uma pesquisadora de
uma militante que além de fazer parte de movimentos sociais ligados à causa
feminista e LGBT, estou pesquisando isso; e acredito que esta junção do lado
ativista com o lado de pesquisadora vai ser muito importante para abordar temas
relevantes tanto para a sociedade em geral como para o próprio campo da
pesquisa científica que traz embasamento e fundamentação teórica sobre
necessidade de discussão desses assuntos.
(A.N.): Espera que a criação desse espaço incentive a
geração de novos canais de abordagem da questão pela luta de direitos das
minorias em Sergipe?
(L.B.): Sim. Acredito muito, pois acho que o fato de ser
pioneira, da gente ter um espaço como esse assim, principalmente por ser
escrito por uma pessoa trans incentiva outas pessoas. Espero que isso possa
estimular outros canais de comunicação possam disponibilizar esses espaços para
outros representantes, levando a ampliar a discussão séria sobre o assunto que
ajudem as pessoas a se conscientizarem, com o acesso de uma informação
importante sobreas questões da diversidade. Como eu coloco em minha pesquisa,
isso é fundamental não só para diminuir a violência, mas também para fazer com
que as pessoas que sofrem busquem ajuda para superar as opressões físicas e
psíquicas e não decidam por se excluir socialmente, e em caso mais graves por
se suicidar.
(A.N.): O que a sua formação acadêmica pode lhe acrescentar
na discussão desses assuntos ?
(L.B.): Ela vai ser muito importante, já que na academia a
gente acaba tendo acesso a pesquisas científicas de autores que dedicam a sua
vida inteira para discutir esses temas; e o fato de eu poder acessar essas
informações e poder usá-las não só na militância do cotidiano em palestras e
eventos, mas também agora nessa coluna, onde poderei relatar reflexões
importantes a respeito de assuntos ligados à diversidade nesse contexto dessa
onda reacionária que estamos vivenciando e que está inclusive, prejudicando os
estudos de gênero, tão importantes para a sociedade.
(A.N.): Em geral, como é o relacionamento da imprensa
sergipana as atividades e manifestações organizadas por grupos organizados e
ligados a movimentos LGBT e feminista?
(L.B.): De um tempo pra cá, a gente percebe que está
ocorrendo uma abertura muito grande, mas ainda notamos que existe uma
dificuldade em abordar temas relacionados à população LGBT e mesmo à mulher, culpabilizando esses grupos
e oferecendo ainda um tratamento estereotipado,
sexualizando e desrespeitando as identidades de gênero, com o uso de
pronomes, tentando passar informações que não são necessariamente importantes e
que acabam expondo as vítimas, pois na maioria dos casos, já que na maioria das
vezes quando se fala dessas questões é quando ocorre uma tragédia ou violência.
E como eu digo, existem muitas vezes, duas mortes da pessoas trans: a morte
física e a morte moral, que é a morte da sua identidade social, muito
desrespeitada ainda. Mas, notamos sim, que está havendo uma abertura e uma
reflexão, principalmente depois que algumas instituições começaram a fazer uma
crítica na mídia acerca de comportamentos preconceituosos em relação à
população LGBT e feminina, como por exemplo as peças publicitárias que
costumavam sexualizar muito as mulheres.
(A.N.): Sempre que pleiteou espaço na imprensa local para
divulgar eventos ou atos, você teve acesso tranquilo?
(L.B.): Não, a gente ainda percebe uma resistência muito
grande quando vamos falar sobre eventos LGBT, mesmo que recentemente este
relacionamento tenha ficado mais aberto nos últimos anos. Ainda temos uma
dificuldade de falar sobre alguns temas, é um tabu. A imprensa escrita ainda
oferece uma maior abertura para nós, mas a televisiva e a radiofônica nota uma
resistência bem maior.
(A.N.): Por fim, deixe uma mensagem convidando a sociedade
sergipana a acompanhar as suas exposições na coluna Consciência e (R)
Existência
(L.B.): Convido a todas as pessoas não só a acompanhar, mas
também a divulgar esse espaço tão importante de reflexão, de conhecimento, de
transformação e de desconstrução, pois a gente é levado a pensar a partir de
uma lógica heterocisnormativa, e esse espaço é feito justamente para colocarmos
experiências e vivências não só minhas, mas da comunidade LGBT e feminista para
que a gente possa modificar algumas posturas equivocadas com relação à
diversidade. Então, desejo que todos os sergipanos possam acompanhar, divulgar
e deixar sugestões, perguntas e questionamentos para que a gente possa
desenvolver textos importantes para essa desconstrução; vamos assim com consciência
e “(r) existência” vivenciar esta experiência de forma coletiva.
Publicado originalmente no site Alô News, em 07/12/2018
Consciência & (R)existência
Confira o artigo de apresentação de Linda Brasil, nova
colunista do Portal Alô News
Consciência e (R)Existência - Diversidade e Direitos Humanos
Por Linda Brasil.
A partir desta sexta-feira, o Portal Alô News ganha um
reforço de peso. A ativista LGBT e transfeminista Linda Brasil passará a
escrever semanalmente artigos na nova coluna do site, a Consciência e (R)
Existência.
Neste espaço, Linda Brasil abordará temáticas que tem siso
cada vez mais discutidas na sociedade, como respeito à diversidade e a luta das
minorias por direitos civis Essa será uma oportunidade única para você entender
mais a respeito destas questões a partir de uma ótica de quem vive e sabe da
realidade das minorias em Sergipe.
Hoje, ela escreve seu artigo de apresentação no site; conta
um pouco sobre sua vida, os desafios que enfrentou, a trajetória no campo
ativista e as motivações que a fizeram aceitar o convite do portal Alô News,
para ter uma coluna opinativa no site.
Vale muito a pena conferir!
Consciência & (R)existência
Olá! Eu sou Linda Brasil, nasci em Santa Rosa de Lima, tenho
45 anos, graduada no curso de Letras Português/Francês, primeira mulher trans a
se formar e usar o nome social no sistema de cadastro da Universidade Federal
de Sergipe.
Mestranda em Educação também pela UFS, sou militante LGBT,
feminista e transfeminista. Fui integrante do Coletivo de Mulheres de Aracaju e
do Coletivo Queer Transfeminista (Des)montadxs, faço parte e sou uma das
fundadoras da AMOSERTRANS (Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e
Travestis), sou idealizadora e presidenta da CasAmor, uma casa de acolhimento
às pessoas LGBTQI’s que vivem em estado de vulnerabilidade social. Sou uma
cristã de visão saltoquantista, faço parte desde o ano 2000 do Instituto Salto
Quântico, Escola Espiritual Cristã liderada pelo médium, escritor e
apresentador Benjamin Teixeira de Aguiar. Sou beneficiária da instituição
frequentando suas palestras, grupos de estudo e outras atividades; sou
integrante de uma das reuniões de enfermagem espiritual e sou voluntária
participante do Grupo de Teatro.
No âmbito partidário, sou filiada ao Partido Socialismo e
Liberdade (PSOL), em 2016 fui candidata a uma vaga na Câmara Municipal de
Aracaju, obtendo 2.308 votos. Nesse ano de 2018, fui candidata ao cargo de
Deputada Estadual recebendo 10.107 votos, sendo votada em todos os municípios
de Sergipe e obtendo a marca de 6.555 votos somente no município de Aracaju.
Meu ingresso na política partidária, pleiteando as vagas de representações
públicas, aconteceu depois que ingressei na UFS e percebia a necessidade de me
engajar mais diretamente nos movimentos sociais. Com a vivência universitária e
a participação no Salto Quântico, foi crescendo em mim a conscientização da
necessidade de lutar pelos direitos das ditas ‘minorias’, mulheres, negras/os e
LGBTQI’s que têm suas existências ameaçadas e direitos negados.
Desde o meu ingresso na UFS em 2013 e a militância dentro do
movimento feminista e LGBTQI+, quase semanalmente, sou convidada para
participar de eventos e atividades em escolas, faculdades e instituições que
trabalham com os direitos humanos, discutindo questões sobre gênero e
diversidade sexual, contribuindo para uma maior conscientização das/os
alunas/os, profissionais e, consequentemente, um maior respeito à diversidade.
Por isso que meu projeto de dissertação de mestrado é pesquisar o impacto das
discussões sobre gênero e diversidade sexual para o combate ao machismo e à
LGBTfobia, visando diminuir as violências sofridas por esses grupos de pessoas.
Percebendo a necessidade de ampliar conquistas destes
segmentos e contribuir para evitar que a onda reacionária que assola o Brasil
destrua vidas e direitos já conquistados, estamos neste espaço como um canal de
conscientização, resistência, reflexão e proposição. Afinal, conhecimento e
respeito as diferenças é fundamental para que possamos viver numa sociedade com
menos violência e mais amor e felicidade. Bem vinda(o) à coluna Consciência
& (R)existência!
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