General Augusto Heleno, futuro ministro do Gabinete de
Segurança Institucional
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Publicado originalmente no site G1 Globo, em 16/12/2018
General Heleno, homem forte do futuro governo e conselheiro
de Jair Bolsonaro
Por Andréia Sadi
"Isso aqui tá parecendo a 25 de março!", brincou o
general Augusto Heleno, no último dia 7, ao comentar o quão tumultuado estava o
novo local de trabalho, onde despacha desde que Jair Bolsonaro foi eleito.
"Isso aqui" é a sede do governo de transição, em
Brasília, no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB). Naquele dia, uma
sexta-feira, Heleno havia se encontrado no CCBB com o embaixador da Argentina,
com quem brincou sobre o vai e vem de gente no prédio. "Eu ia falar ao
embaixador que tava parecendo a 25 de março, mas como ele não ia entender,
falei: 'Isso aqui está pior que a Calle Florida'", referindo-se à famosa
rua de Buenos Aires, repleta de lojas e, por isso, também tumultuada.
O encontro com o embaixador era só um dos muitos
compromissos do general Heleno naquela semana, que se encerrava com a nomeação
da futura ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves. Àquela altura, Heleno
não a conhecia. "Se passar por mim, não sei quem é". Dias depois, em
12 de dezembro, o general já tinha opinião formada sobre a colega de Esplanada.
"Sabe que eu conversei com ela e me surpreendi?",
relatou.
Questionado se de forma positiva ou negativa, respondeu:
"Muito positivamente. Sabia que ela salvou uma criança indígena e a
adotou, salvando-a da morte?".
General Heleno gosta de conversar - mas, principalmente,
gosta muito de ouvir. Na rua, é reconhecido desde a campanha e ainda se
acostuma com os pedidos para selfies. Em um café em Brasília que frequenta
desde a campanha presidencial, ganhou o que chama de "café especial":
quando faz o pedido, o garçom traz a xícara com espuma com o número 17, o de
Bolsonaro na urna.
Heleno é bem humorado, costuma responder a cenários que
considera improváveis com tiradas engraçadas. Tem especial apreço pela
gramática. "Aquele ali tem algum problema com a concordância e
plural". E gosta de conversar - mas, principalmente, gosta muito de ouvir
Na equipe do futuro governo, evita criar arestas e, se for
acionado ou provocado, trabalha para apagar incêndios. "Essa coisa aí do
PSL é briga de irmão. Agora eu vi que já publicaram foto e tá todo mundo se
abraçando", minimiza ele, referindo-se ao bate-boca entre os deputados
Joice Hasselman e Eduardo Bolsonaro, em um grupo de WhatsApp, que vazou para a
imprensa.
Heleno se interessa por diversos temas. Mas, no governo
Bolsonaro, vai ocupar a chefia do Gabinete de Seguranca Institucional, um cargo
estratégico dentro do Palácio do Planalto, próximo ao presidente.
Chegou a ser cotado para o Ministério da Defesa, mas acabou
sendo nomeado para o GSI exatamente porque o presidente o queria por perto - e
o órgão é responsável pela segurança presidencial. Heleno é visto como homem de
confiança do presidente - o principal conselheiro e, fora do círculo familiar,
o personagem mais influente junto a Bolsonaro. Os filhos do presidente, por
exemplo, veem em Heleno um aliado leal do pai. Uma espécie de “pai do pai"
do presidente eleito.
Heleno, que também foi cotado para ser vice-presidente, é um
dos poucos auxiliares de Bolsonaro que contam com o respeito, inclusive, de
Carlos Bolsonaro - segundo filho do presidente, que já declarou publicamente
nas redes sociais que tem desconfiança com alguns assessores do pai. Mas com
Heleno, não.
O filho mais velho do presidente, Flavio Bolsonaro, quando
perguntado sobre qual general é mais próximo do pai, costuma lembrar
reservadamente que o pai trata Heleno por "Helenão", brincando com o
general. No núcleo politico, Heleno é visto também como uma espécie de perfil
"moderado" dentro do Palácio do Planalto.
"Ele vai cumprir o papel que o Villas Bôas cumpriu no
comando das Forças Armadas com outros poderes, mas dentro do governo também:
dialoga com todo mundo, equilibrado, discreto - e isso tudo com livre acesso ao
presidente", disse ao blog um presidente de poder.
"Villas Bôas" é o general Eduardo Villas Bôas,
querido dentro do Exército e amigo de longa data de Heleno. No ano que vem, ele
será substituído por Edson Pujol, já indicado por Bolsonaro para o posto. Falar
em Villas Bôas, que tem uma doença degenerativa, é um dos assuntos que emociona
Heleno. "Fico arrepiado quando falo no VB", costuma dizer o general.
Heleno faz elogios a "VB"- e também a outros
generais amigos que ocuparão cargos estratégicos no Planalto, como o general
Santo Cruz ("ele fala até russo!"), o general Santa Rosa ("ele é
muito culto. Lê muito. Eu me ressinto disso hoje em dia. Com essa correria, só
tô conseguindo ler zap") e o general Floriano Peixoto ("ele tem uma
história muito incrível: ele comandava a missão de paz no Haiti, estava fora do
Haiti no dia do terremoto e só não morreu porque estava nos EUA").
Sobre o general Hamilton Mourão, vice de Jair Bolsonaro, ele
costuma dizer, quando perguntado, que o vice eleito é autêntico, porque
"fala o que pensa" - mas sempre registra que Mourão é leal ao
presidente eleito. Durante a campanha presidencial, algumas vezes, Heleno
brincava com o amigo quando alguma declaração polêmica repercutia na imprensa,
pedindo a ele que se segurasse.
Heleno não gosta de ser rotulado como "principal
general" de Bolsonaro. Tampouco aceita a definição de que será o
"moderado" do Planalto, o ponto de equilíbrio do governo e principal
conselheiro do presidente. "Não tenho essa pretensão", diz. Mas tem
ideias que gostaria de ver em prática no Brasil. Por exemplo, a implementação
de escolas militares nas favelas. Na avaliação do general, são mais eficazes do
que as UPPs.
Nos bastidores, o general é da turma que avalia que
"tudo que é preciso explicar é ruim". No caso de Onyx Lorezoni,
futuro ministro da Casa Civil, acusado de receber caixa 2, diz que não é
"elogiável" estar numa delação - mas que não prejudica a imagem do
governo.
No caso envolvendo Flávio Bolsonaro e um ex-assessor que
caiu nas garras do Coaf por ter movimentado R$ 1,2 milhão de forma suspeita,
ele cobra, nos bastidores, uma explicação do ex-motorista Fabrício Queiroz - e
lembra que ele foi soldado de Mourão no Exército em 1987. Mas o próprio general
não conviveu com Queiroz, por estarem em áreas diferentes no Exército.
Ao comentar pautas de costumes, e o quanto isso pesou na
campanha presidencial deste ano, ele diz que muitas coisas são
"impensáveis" para a geração dele.
Aos 71 anos, o general de quatro estrelas gosta de lembrar
dos tempos do Exército - e costuma emendar a frase "isso é uma história
interessante" quando vai resgatar algum episódio com riqueza de detalhes.
Recentemente, o blog relatou a ele que, ao comentar o novo
governo, Gilberto Gil relembrou que já esteve com Heleno no Haiti, quando o
cantor era ministro da Cultura do governo Lula. Heleno, após emendar a frase de
que "aquilo era uma coisa interessante", contou que, quando o
ministro e o general se encontraram, eram tempos difíceis e ele comandava a
missão de paz do Brasil no Haiti. O hoje homem forte do governo Bolsonaro
lembrava da visita do então ministro à missão, principalmente porque fora um
momento de respiro para os soldados brasileiros, em meio à tensão no país,
abalado por violenta crise interna.
Heleno, em tom de brincadeira, recordou ao blog que precisou
"restabelecer a ordem" para Gil conseguir cantar:
"Lembro que Gilberto Gil, em clima de cidade de
interior mesmo, sentou-se em um banco para tocar e cantar, cercado pela tropa
que não estava em operação. Um dos cabos, que liderava uma banda de amadores,
se entusiasmou com a presença do ministro-artista e pediu para apresentar uma
música. Gil permitiu, ouviu e elogiou. A banda resolveu cantar outra. Quando
senti que iam para a terceira, mandei um aviso ‘incisivo’ para o cabo: 'Se você
não deixar o Gil cantar, vou prender a banda inteira'".
"Na verdade, uma ameaça fake , mas que foi levada a
sério", acrescentou Heleno, ao blog.
A sério mesmo, ele espera que o futuro governo leve as
soluções para a crise econômica e de segurança pública no país. Defende a
reforma da Previdência, uma articulação habilidosa com o Congresso para a
aprovação do projeto, apesar de reconhecer as dificuldades da pauta, mas não vê
outra saída para o reequilíbrio das contas públicas.
Costuma repetir a Bolsonaro que o sucesso da gestão se dará
se o presidente eleito seguir o tripé: austeridade, honestidade e
transparência, além de dar o exemplo.
Quando perguntado se o governo vai dar certo, ele costuma
repetir a quem o questiona: "Pode dar errado? Pode. Mas precisa dar certo.
Senão, a única coisa que a minha geração terá visto dar certo terá sido o Pelé
jogar".
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/politica
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