Vereadora teve quase 53 mil votos para o cargo de deputada federal,
mas não se elegeu por causa da legenda
Foto: Divulgação/Gilton Rosas
Texto publicado originalmente no site do CINFORM, em 26 de dezembro de 2018
Emília Correia: “o número de votos que tive faz a minha
responsabilidade aumentar na Câmara”
Por Julia Freitas
Em entrevista exclusiva ao CINFORM, a vereadora Emília
Correia (PATRIOTA) falou sobre como os quase 53 mil votos que recebeu nas
últimas eleições para o cargo de deputada federal influenciarão nos seus dois
últimos anos de trabalho na Câmara Municipal de Aracaju (CMA). Com a saída de
Kitty Lima (PPS), que se elegeu como deputada estadual, a partir de 2019,
Emília será a única vereadora mulher da Casa, e da oposição.
CINFORM: Vereadora, a partir do próximo ano, a senhora será
a única vereadora da Casa. O que a Casa perde com essa pequena representatividade,
uma vez que as mulheres são a maioria da população?
EMÍLIA CORREIA: A Câmara, em 2019, perde um pouco, pelo
menos em termos de representatividade feminina, principalmente com a saída da
vereadora Kitty Lima. Agora vou conduzir os trabalhos sozinha, meio como que em
carreira solo. Mas eu acredito que as mulheres que eu vou estar representado
naquele lugar terão uma representatividade séria, forte e destemida, como
sempre foi. O número foi reduzido. Mas a qualidade de representar
principalmente as mulheres, a gente não vai perder. Inclusive a nossa
responsabilidade vai aumentar.
Alguns vereadores muito atuantes se elegeram para outros
cargos e os seus suplentes assumirão a partir de 2019. Já houve uma conversa
com eles sobre como eles irão se posicionar na Casa?
EC: Nós não conversamos com os suplentes que irão assumir o
cargo de vereador em 2019, eu não sei como será, como eles irão se comportar. A
gente espera que eles cheguem verdadeiramente para defender o povo. Porque nós
estamos ali para representar toda a população aracajuana, então esse tem que
ser o nosso objetivo. Eu espero que os novos vereadores venham para juntar
forças, para defender os interesses da população, independentemente de partidos
políticos.
No início de novembro deste ano a Prefeitura anunciou que a
vigilância presencial seria retirada das unidades de saúde da capital e no
lugar dela seriam instaladas câmeras de videomonitoramento. O que a senhora
pensa dessa ação da gestão do prefeito Edvaldo Nogueira?
EC: Seria perfeito casar a vigilância eletrônica com a
presença física de um vigilante, porque não tem sentido o monitoramento sem a
presença física. Até que a Guarda chegue, não vai dar para resolver certas
coisas. Por isso, nós pedimos um requerimento para saber os valores e gastos
com relação ao monitoramento, porque não tem sentido passar para a população
que há uma economia e uma eficiência. Eu acredito que não houve nenhuma, nem
outra. Pelo contrário! Nós pedimos informações sobre este contrato, mas veio o
recesso e não tivemos resposta. Em nenhum lugar, até na mesmo na casas destes
políticos, quem sabe, só tem câmeras. Eles têm câmeras, vigias, cachorros,
acesso automático a empresas de segurança que vão chegar rapidamente. E as
pessoas nos postos de saúde ou em escolas não têm. Eu achei essa mais uma ação
irresponsável, negativa, não explicada e sem transparência dessa gestão.
A senhora teve quase 53 mil votos para o cargo de deputada
federal nas últimas Eleições, mas não se elegeu. Como a senhora vê essa
situação?
EC: A quantidade de votos que tive para deputada federal
aumenta e muito a minha responsabilidade na Câmara. Só em Aracaju eu tive quase
35 mil votos, a mesma quantidade de votos que o Fábio Henrique teve e ele se
elegeu. Então, veja como a legenda frustrou a vontade do povo. Esse número de
votos em Aracaju mostra que o aracajuano aprova o meu trabalho e eu quero
corresponder a esta confiança nos meus últimos dois anos de mandato.
O Patriota, assim como outros partidos, não conseguiu
atingir o número mínimo de representantes e foi enquadrado na cláusula de
barreira. Já há uma conversa no partido sobre o futuro? A senhora permanecerá
no Patriota?
EC: Dentro do partido nós já temos uma conversa de fusão,
mas nada foi definido ainda. As conversas já começaram e devem ser definidas no
início do ano, até porque devemos ver como as coisas vão caminhar. Eu,
particularmente, preciso estar em um partido que não se quebre os meus
princípios e que me permita agir, lógico que dentro de um contexto partidário,
mas com uma certa independência. Antes de definir se vou ficar no Patriota,
preciso saber se ele vai ficar robusto. Já tive convites para outros partidos,
mas só vou definir em 2019.
Nos últimos anos, as mulheres ganharam força na política e
muitas foram eleitas para os mais diversos cargos políticos. Como a senhora vê
o machismo na política e sociedade brasileiras, principalmente na Câmara
Municipal de Aracaju?
EC: Eu fui atingida por colegas vereadores e por secretários
pelo simples fato de ser mulher. Agora mesmo, durante a votação da Lei
Orçamentária, o vereador Vinícius Porto falou que eu precisava de remédios e
que deveriam chamar o Dr. Façanha. Esse tipo de coisa acontece porque quando um
homem se perde um pouco e fala alto é porque ele é destemido e valente, mas
quando é uma mulher, ela é chamada de desequilibrada. Eu passei por isso e
chamo a atenção das mulheres, que inclusive represento na Câmara, porque elas
passam por isso. Somos interrompidas enquanto falamos porque isso é da cultura
deles, apesar de não admitirem.
Na última semana, O Ministério Público Estadual e a Polícia
realizaram mais uma etapa da Operação Metástase, que investiga irregularidades
no Hospital de Cirurgia – um dos objetos de CPI na Câmara – mas que teve
diversas interrupções por causa da Situação. Como a senhora vê esse desenrolar?
EC: É uma vergonha para a Câmara, porque ela tem o dever de
investigar as ações da Prefeitura, mas não quer fazer e ainda justifica de uma
forma triste, dizendo que “(…) mas a Polícia e o Ministério Público já estão
investigando”. Quanto mais investigação, melhor. Principalmente porque uma
instituição ajuda a outra a limpar a sujeira. Eu fico triste quando vejo a
Câmara se esquivar de cumprir com o seu dever de fiscalizar e investigar,
porque CPI é para isso, não para condenar. Seja na CPI da Saúde ou na do Lixo,
que até na Justiça foi parar.
Nas últimas Eleições políticos influentes e com história na
política sergipana não conseguiram se reeleger ou se eleger para os cargos que
almejavam. A senhora acredita que o eleitorado está mudando o pensamento e se
conscientizando do seu papel como cidadão?
EC: Eu começo a ver que tem uma turma boa no eleitorado que
já começou a enxergar que o voto não é um negócio de compra e venda. Eu peço a
Deus que seja tirada a venda das pessoas e que elas percebam o porquê das
coisas que elas passam, porque não tem medicamento ou médicos nos postos,
porque não temos seguranças. Nós levamos décadas para chegar neste lamaçal, mas
podemos levar menos tempo para sair dele. Nessas eleições a limpeza foi muito
grande, mas poderia ter sido maior se a abstenção não tivesse sido tão alta,
por exemplo. Talvez eu não veja essa mudança porque a nossa vida é muito curta,
mas se eu plantar essa semente eu vou ficar muito feliz.
Texto e imagem reproduzidos do site: cinform.com.br
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