Katarina: "É um posto técnico, mas político também.
Então, sinto-me realizada, feliz em ocupá-lo
Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 11 de Dez de
2019
Coluna Política & Mulher, por Tanuza Oliveira
Katarina Feitoza: pioneirismo no enfrentamento ao machismo
institucional da polícia
Bacharela em Direito, especialista em Ciências Criminais e
em Gestão Administrativa, a delegada Katarina Feitoza, que hoje ocupa o cargo
de delegada-geral da Polícia Civil em Sergipe, ainda enfrenta julgamentos e
questionamentos em sua carreira comprovadamente bem-sucedida.
O motivo, óbvio, é o fato de ela ser mulher. Uma mulher
pioneira, frise-se. Katarina ingressou na polícia através de concurso nos anos
2000 e, de lá para cá, ocupou diversos postos, na capital e no interior, até
chegar, pela segunda vez, ao maior cargo dentro da Polícia Civil, excetuando o próprio
secretário de Segurança Pública.
O primeiro desses cargos foi o de coordenadora das
Delegacias do Interior, seguido de coordenadora das Delegacias da Capital,
corregedora-geral e, daí, o posto de delegada-geral, no qual ficou por quatro
anos. “Saí e fui para o Tribunal de Justiça, onde fui diretora de Segurança,
depois diretora da Cogerfisp - Coordenadoria de Subsistema e Inteligência da
Segurança Pública - até voltar para o posto de delegada-geral, há quase 3
anos", conta Katarina Feitoza.
Tudo isso regado a um desafio duplo, o que os próprios
cargos e a sociedade impõem a uma mulher nesse cenário. “Todos os dias me sinto
desafiada. Também por ser mulher. No início, na primeira delegacia que assumi
não sentia muito, mas eu era menos experiente e tinha tanta coisa nova
acontecendo que não percebia o preconceito intrínseco. Mas com o passar do
tempo, comecei a ver”, lembra.
Com o tempo e com os novos cargos também, pois, para
Katarina, quanto mais alto o posto que uma mulher ocupa, mais criticada ela é.
“Eu ocupei postos que homens tinham acabado de ocupar e percebi a diferença
entre a exigência em relação a mim e a eles. A exigência é muito maior. Querem
que a gente vista uma capa de mulher maravilha, que sejamos perfeitas”,
critica. Aliás: querem não, exigem.
“A sociedade e a própria comunidade policial não aceitam
menos que a perfeição da mulher, exigem que ela seja sempre correta, que
trabalhe mais, que mostre algo novo para ser reconhecida”, ressalta. Segundo
Katarina, a instituição policial em si ainda representa um ambiente
predominantemente masculino. “É inóspito para as mulheres, há um preconceito
velado pela forma que falamos, pelo que fazemos, pela forma como nos vestimos.
Tudo é mais pesado para nós”, resume.
Katarina diz que, assim como a maioria das mulheres, se
desdobra para não sucumbir a essas cobranças. E vê em sua equipe um auxílio
importante nesse enfrentamento. “Procuro me cercar de pessoas competentes e
leais, até acredito num trabalho em equipe, desde o escrivão até os diretores,
passando pelo agente de polícia e de toda a estrutura. O segredo de ter sucesso
em qualquer profissão, ainda mais dirigindo um setor, é colocar as pessoas
certas no barco”, assegura.
E, no barco dela, não cabem pessoas que não entendem o poder
de representatividade que há no cargo que ela ocupa. “É um posto técnico, mas
político também. Então, sinto-me realizada, feliz em ocupá-lo. Amo o que faço,
estaria sendo realizada também na delegacia, é de onde vim e para onde vou, mas
percebo o quanto é importante ocupar esse esse espaço, representando tantas
outras mulheres que sonham com isso”, destaca.
Embora reconheça esse viés político do cargo, Katarina
Feitoza diz que não tem pretensão de torná-lo um trampolim para a política
partidária. “Minha pretensão é só fazer parte da segurança pública, desenvolver
a política de segurança do Estado e vê-la dar certo”, define. Katarina é casada
há 25 anos e mãe de um menino de 19. “Como milhões de mulheres, tenho que dar
conta de tudo, de ser mãe, profissional, mulher... e dou”.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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