Foto: CEFEP – Reprodução
Publicado originalmente no site da revista CARTA CAPITAL, em
8 de agosto de 2020
Morre o bispo Dom Pedro Casaldáliga, aos 92 anos
Ele foi um dos maiores defensores e propulsores da Teologia
da Libertação no Brasil e ajudou a defender a população de São Félix do
Araguaia
Faleceu neste sábado 8, aos 92 anos, Dom Pedro Casaldáliga,
bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia. Ele foi internado com um
quadro de insuficiência respiratória na segunda-feira 3.
Casaldáliga foi um dos maiores defensores e propulsores da
Teologia da Libertação no Brasil, mas não se limitou a ser bispo. É poeta, tem
veias jornalísticas e atuou ativamente contra a ditadura. Ajudou a defender uma
população pobre, esquecida, ameaçada pelo latifúndio e reprimida pelo Estado
militar em uma cidadezinha do interior brasileiro.
A sua vida foi relatada na biografia “Um bispo contra todas
as cercas”, da autora Ana Helena Tavares, lançada em 2019. A obra resgata a
vida do clérigo desde seus dias como Pere Casaldáliga (seu nome de batismo),
até transformar-se em Pedro, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia – um
lugar escondido no estado do Mato Grosso que teria destaque nacional pela
chegada do espanhol.
Dom Pedro Casaldáliga, o 'bispo do povo', ganha nova
biografia
Ao tornar-se bispo, Dom Pedro não perdeu tempo para relatar
o que via na região – uma predominância do latifúndio sobre a vida e a exclusão
dos cidadãos das tomadas de decisão das próprias terras e vidas.
Escreveu uma carta pastoral aberta intitulada “Uma Igreja da
Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, que alçou
voos, alcançou Leonardo Boff, José Oscar Beozzo e outros teólogos, e firmou
naquele ponto do mapa uma movimentação importante de ideais para a Igreja
Católica brasileira.
Se os nomes de Julio Lancellotti, Frei Betto e Dom Paulo
Evaristo Arns são projetados até hoje como referências para a discussão de
direitos humanos na Igreja Católica, Pedro Casaldáliga não fica atrás. Por
muitas vezes, esteve na vanguarda da linha de fogo. “Na década de 70, a
percepção da dimensão da figura do Pedro era outra. Ele teve uma projeção
nacional e internacional muito grande”, diz Ana Helena Tavares, que se
encontrou com o bispo em São Félix do Araguaia algumas vezes no processo de
escrita da biografia. “Ele é uma pessoa que se preocupou em dar divulgação ao
que fazia”.
A relevância dada à informação em tempos de censura fez com
que Casaldáliga estivesse na lista de mais censurados do jornal O Estado de S.
Paulo entre 1972 e 1975, mas não o impediu de denunciar as vezes em que foi
amordaçado em cartas para os bispos. “Como é bom ser perseguido pela causa do Evangelho,
da Justiça e da total Libertação!”, escreveu, na ocasião em que foi submetido a
um cárcere privado em uma das quatro vezes que a prelazia teve intervenção de
militares.
Para a autora, a escrita do livro vai contra “um Brasil que
não cultua a memória”. Tavares acredita que resgatar a imagem de Pedro, mesmo
depois de quase 15 anos de sua aposentadoria, é relevante para reverter o
processo vigente de ódio no país. Os diversos depoimentos de pessoas que
conviveram, admiraram e seguiram dom Pedro também evidenciam essa necessidade.
Casaldáliga, que também sofria de mal de Parkinson, vivia
acamado em São Félix do Araguaia.
“Ser o que se é / Falar o que se crê / Crer no que se prega
/ Viver o que se proclama / Até as últimas consequências”.
Texto e imagem reproduzidos do site: cartacapital.com.br
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