Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 11
de março de 2021
A falsa narrativa do "Lula democrata"
A repetida tentativa de fraudar a democracia brasileira, o
desejo de controlar a imprensa e a amizade íntima com as ditaduras mais
nefastas do continente latino-americano não credenciam nenhum partido ou líder
a se denominar “democrata”. Editorial da Gazeta do Povo:
Lula está provisoriamente de volta ao páreo eleitoral,
tornado “ficha limpa” pelas mãos do ministro Edson Fachin, que anulou todos os
processos contra o ex-presidente na 13.ª Vara Federal de Curitiba. Para que ele
fique novamente impedido de competir, será necessário que um colegiado do
Supremo (o plenário, ou a Segunda Turma) reverta o ato de Fachin, e que a
Segunda Turma rejeite a tese da parcialidade do então juiz Sergio Moro – uma
feliz conjunção que manteria as condenações de Lula, mas que, por mais
desejável, positiva para o país e juridicamente correta que seja, parece
altamente improvável no momento.
O ex-presidente não se lançou candidato explicitamente – e
talvez isso nem seja necessário, especialista que é em dissimular campanha
antecipada –, mas a narrativa já está posta por seus apoiadores na imprensa e
na academia: 2022 seria um embate entre os autoritários, do lado do presidente
Jair Bolsonaro, e os democratas, agrupados em torno do petismo, seja com Lula,
seja com o “poste” que ele ungir. Um discurso que só tem como prosperar apoiado
na memória muito curta do eleitorado.
Afinal, autênticos democratas não fraudam a democracia da
forma como o petismo fez ao organizar os dois maiores esquemas de corrupção da
história do país. O partido quis, por duas vezes, anular a separação de poderes
por meio da compra de apoio no Poder Legislativo, seja pela distribuição pura e
simples de dinheiro, no caso do mensalão, seja pela pilhagem das estatais com o
apoio de partidos aliados e empreiteiras, no esquema desvendado pela Operação
Lava Jato. No julgamento do mensalão no STF, o então ministro Ayres Britto
descreveu o esquema como “golpe nesse conteúdo da democracia, que é o
republicanismo”, pois tratava-se de perpetuar “um projeto de poder (...). Não
de governo, porque projeto de governo é lícito, mas um projeto de poder que vai
muito além de um quadriênio quadruplicado, muito mais de continuidade
administrativa”. O petrolão foi apenas a continuação do mensalão por outros
meios, como ficou amplamente demonstrado pelas evidências levantadas pela Lava
Jato, e que nenhuma decisão judicial será capaz de apagar.
E, se Bolsonaro é reconhecidamente hostil à imprensa, o
petismo não fica atrás. No poder, o PT tentou controlar a atividade
jornalística ao pressionar pela criação de um Conselho Federal de Jornalismo;
depois de alijado do Planalto, o partido lamentou, em resolução oficial que
tentava explicar as razões para o impeachment de Dilma Rousseff, não ter colocado
um cabresto na imprensa, no Ministério Público, na Polícia Federal e nas Forças
Armadas. Sem falar, evidentemente, dos vários episódios de hostilização de
jornalistas por parte de militantes, incluindo o ataque à sede da Editora Abril
às vésperas do segundo turno da eleição de 2014, após a publicação, pela
revista Veja, de uma reportagem sobre o petrolão.
A ânsia de controlar a imprensa livre, aliás, anda de mãos
dadas com outra característica marcante do PT e de Lula: seu apreço por
ditaduras. Se há muitos motivos para se criticar a defesa que Bolsonaro faz da
ditadura militar brasileira, o petismo perde qualquer aspiração a ter
envergadura moral neste campo ao seguir apoiando entusiasticamente as ditaduras
venezuelana e cubana – no mais recente episódio desta camaradagem ideológica, o
PT manifestou sua satisfação com a farsa eleitoral realizada em dezembro do ano
passado e que elegeu uma Assembleia Nacional ilegítima, totalmente dominada
pelo ditador Nicolás Maduro.
A repetida tentativa de fraudar a democracia brasileira – e
a glorificação dos protagonistas de tais esquemas, aclamados como “guerreiros
do povo brasileiro” –, o desejo de controlar a imprensa e a amizade íntima com
as ditaduras mais nefastas do continente latino-americano não credenciam nenhum
partido ou líder a se denominar “democrata”. Que haja postulantes – pessoas ou
legendas – ao comando da nação com esse perfil, e que isso seja tratado com
enorme naturalidade, é apenas mais um sintoma da degradação moral por que passa
a política brasileira.
A narrativa de que 2022 será um embate polarizado não entre
petismo e bolsonarismo, mas entre autoritarismo (representado por Bolsonaro) e
democracia (representada por Lula), não passa de uma fraude dos defensores do
ex-presidente. Os brasileiros realmente comprometidos com a democracia, com as
liberdades, com o combate à corrupção e que porventura estejam também
descontentes com o atual governo não abraçarão o discurso de quem pode até
estar juridicamente “limpo”, mas não tem como apagar a verdade sobre o que é, o
que fez e o que defende.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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