Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 17
de março de 2021
O bafo da mentira e o beijo da morte
Ao levar o rebanho para o abismo da morte, mentindo,
Bolsonaro é o Anticristo da pandemia, dispara Josê Nêumanne no Estadão:
“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida”, disse Jesus
(João, 14; 6). João Evangelista, xará de meu avô paterno, era um marqueteiro de
gênio: o slogan, composto em tríduo, como convém a apelos que vão ao coração e
de lá à razão, resume bem a mensagem, que, creia-se ou não nela, é a mais
completa tradução da busca da civilização na demolição da barbárie: a imunidade
do espírito pela união do rebanho, com a busca permanente do conhecimento para
retardar o fim pela sabedoria. Em três anos de seminário menor, preparei-me em
orações, meditações e leituras para encarar o destino, não com trapaças e
rixas, mas com resignação e fé. Ou seja, uma mistura de coragem e prudência,
preservando o medo, forma imperfeita do cuidado.
Jair Bolsonaro diz-se cristão, exalta Deus como guia, mas,
como nunca se deu ao trabalho de ler coisa nenhuma, não se dá conta de que a
trilha que segue é o descaminho. Capitão na ativa do Exército, planejou,
juntamente com o parceiro de patente Fábio Silva, atentados a bomba em quartéis
e na adutora do rio Guandu. Foi condenado por 3 a 0 por terrorismo e
indisciplina, na primeira instância. O terror, arma do fundamentalismo
religioso radical, seja dos inquisidores católicos medievais, seja de atuais
fanáticos de Alá, é um coito de assassinos vocacionais. Ele próprio se define
como artilheiro, cuja modalidade é matar. Mente ao rememorar sua participação
no combate ao terror de esquerda durante a ditadura. Quando a guerrilha
comunista passou pelo Vale do Ribeira, onde morava, não tinha idade para o
serviço militar. Uma patranha fácil de desmascarar. Não serviu no Suez nem no
Haiti. Nunca participou de uma batalha ou de uma escaramuça. Nada fez de útil
em proveito de alguém que não seja ele ou parente seu.
Matar, para ele, não é ofício de soldado, mas vício de
charlatão. Em 27 anos na Câmara dos Deputados, em parceria com o médico petista
e sindicalista Arlindo Chinaglia, lutou, e ainda luta, pela aprovação da
picaretagem médica da pílula do câncer. Vendendo cloroquina a emas no jardim do
Palácio da Alvorada, faz o que sempre quis na vida toda: ser camelô de feira
livre vendendo óleo de cobra para quaisquer achaques. Ao deblaterar contra o
isolamento para evitar o contágio pelo contato com saliva infectada pelo novo
coronavírus, não o faz por vocação para a delinquência no exercício ilegal de
medicina, mas pela atração irresistível à propagação da morte. Artilheiro que
nunca atirou em alvo móvel, quer se consagrar como capitão sem noção das tropas
invisíveis do coronel vírus, venha ele da China ou da Martinica.
Apraz-lhe que este se propague pelo mundo e se aproveite
para fazer do Brasil cova rasa. Quando definiu a praga como “gripezinha”, não
quis desafiá-la, foi pelo mero prazer do engano pelo engodo. À falta de um QI
que o aproxime de seres humanos normais, orgulha-se da própria limitação, por
usá-la e assim se dar bem na vida. A oportunidade de voltar a mentir um ano
depois, valendo-se dos rebentos irracionais que gerou, é a oportunosa ensancha
de parecer superior aos outros pelo menos no cinismo sem limite. Num tribunal
eclesiástico medieval seria condenado à fogueira por blasfêmia após pecar
demais sem motivo justo algum. É o pleno Anticristo: o desvio, a mentira e a
morte.
Seu alter ego pelo avesso, Lula, proclamou que a Terra é
redonda para humilhar o inimigo, visto como terraplanista. Bobão! Bolsonaro não
passa de um oportunista rastaquera que se aproveitou da onda contra a
roubalheira e o petismo genérico, que a pratica, para ganhar a eleição
presidencial de 2018. E exercer o trabalho que esquerda desunida e Centrão
glutão não teriam coragem de realizar sem seu concurso: jogar a Lava Jato e
qualquer tipo de higienização na fossa, à qual também destinou o combate à
corrupção em geral.
O empresário carioca Paulo Marinho, suplente de seu
primogênito sonso, lembrou no Twitter: “Essa data me fez lembrar um dia durante
a campanha em que estávamos na minha casa e você disse: ‘Se nós não fizermos
tudo certo, podemos sair presos’. Hoje eu entendo a sua preocupação e não tenho
mais dúvidas de que você será preso, é uma questão de tempo. Sua omissão,
negligência e incompetência criminosas já custaram quase 300 mil vidas
brasileiras. O seu governo é o beijo da morte!”. O homem que cedeu a própria
casa para quartel-general de sua campanha vitoriosa não percebeu que sua disposição
de enganar elimina qualquer laivo de memória. O “cavalão de Troia”, que executa
no terceiro ano de gestão o que o Centrão e a esquerda não conseguiram em 16,
não perde tempo com nada que não seja o interesse pessoal e dos herdeiros, para
os quais lega o sangue, o suor e o pranto dos brasileiros que o elegeram ou que
não têm coragem de expulsá-lo do descaminho.
Os fanáticos que se manifestam a favor do contágio mortal da
pandemia em prol de lojas, estádios e cassinos abertos são oportunistas que o
veneram porque venderam a alma ao diabo, cujo pacto seduz mais do que a árdua e
nada prazerosa caridade cristã. O resto são cinzas frias.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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