Publicado por João Marcos no blog Pava Blog, em 2 de outubro de 2014
Eu não tenho nojo de política
Por Fabrício Cunha
Acabei de ler um pequeno texto do Júlio Zabatiero. Concordo
quando ele diz que “não há neutralidade em política. Não há ausência de
política no exercício do poder religioso. Não se confundam, não se enganem. As
pregações pastorais são, sempre, políticas. São políticas pelo exercício de
poder. Só quem não saiu do jardim de infância ainda pensa que política só tem a
ver com partidos e eleições. Política tem a ver com o exercício do poder, em
todas as relações, em todos os níveis da vida social. ”
Todo cidadão é um ser político e precisa ter consciência
disso para o melhor exercício possível de sua cidadania.
Nosso desencanto com a política, nos afasta do
intransferível exercício de nossa cidadania por meio da escolha de nossos
governantes nas eleições, o que é uma péssima opção.
Quem tem nojo de política, será governado por alguém que não
tem, mesmo que esse alguém seja “nojento”, aprendi com o Frei Beto e com o
Bispo Robinson Cavalcanti.
Mas não é somente por meio da militância político-partidária
(a maior causa de afastamento do interesse dos cidadãos em política) que se
exerce a política. Existem, pelo menos, três opções:
1. O exercício da cidadania via eleições – é para todos. Por
isso é preciso envolver-se nas campanhas eleitorais, não necessariamente fazendo
campanha para alguém, mas conhecendo o mais de perto possível o candidato que
receberá o seu voto. Mais do que isso, acompanhar os mandatos de seus
candidatos e avaliar seus projetos e o cumprimento do que foi prometido. Todos
estamos inseridos nessa área;
2. A discussão de políticas públicas – O Estado não consegue
cumprir todas as suas responsabilidades e precisa contar com outras
instituições e com os cidadãos que o compõem. Mesmo que desencadeadas pelo
Estado, tais discussões em vistas do bem comum, devem ser protagonizadas pelos
cidadãos do Estado. Isso quer dizer que ninguém melhor do que você, para
discutir melhorias na área da saúde, educação, saneamento, segurança, tendo
como ponto de partida o posto de saúde de seu bairro, a escola da vizinhança,
os índices de segurança de sua região, etc. Discutir políticas públicas é
cooperar com o Estado na geração do bem coletivo visando a emancipação de todas
as pessoas. Todos devemos nos envolver com essa área;
3. Política partidária – acredito que nossa peregrinação por
essa terra só terá sentido se investirmos nossas vidas no exercício de nossas
vocações. Acredito que existam pessoas vocacionadas para ocuparem cargos
políticos visando a boa política. Nosso desalento se dá pelo fato de que não
reconhecemos as vocações de muitos dos políticos eleitos, exatamente por não
serem pessoas chamadas para tal. Muitos são oportunistas, manipuladores que
reclamam para si prerrogativas que são de todos, populistas que advogam em
favor de segmentos minoritários que dão base para seu mandato. Mas não podemos
demonizar todo um ambiente pelo fato de muitos de seus ocupantes serem
corruptos. Em todos os segmentos, existem pessoas boas e sérias, pessoas más e
corruptas, pessoas que estão no lugar certo, exercendo suas vocações, pessoas
aproveitando-se de um lugar, fazendo dele sua ocupação, para a realização de
seus próprios interesses. Se você tem vocação para a política, responda
ocupando o espaço que é teu. Se não é vocacionado, escolha alguém que seja, mas
não se meta onde não foi chamado. Esse espaço é para pessoas que têm um chamado
para a “vida pública”.
Portanto, todos somos chamados ao exercício da cidadania
política, usando nosso principal instrumento democrático, o voto. Todos,
também, devemos nos envolver com a discussão de políticas públicas, atentando
para sua aplicação em nossos contextos imediatos e maiores em vistas da
promoção da justiça e do bem comum. E apenas alguns são vocacionados para
ocuparem os espaços públicos e reconhecemos isso quando: 1. o candidato tem
projeto que gera mudanças estruturais que geram benefícios comuns, priorizando
o pobre e todo tipo de excluído, visando a uma sociedade melhor e mais justa
para todos; 2. o candidato tem história que autentica tais projetos com a
chancela de um caráter irrepreensível ; 3. quando acompanhamos não só o
processo de proposição mas também o cumprimento daquilo que se propôs.
Assim, ocupe seus lugares de direito com responsabilidade e
engajamento e escolha os seus representantes políticos com sabedoria e
critério, fazendo, assim, a política que poderá, de fato, mudar alguma coisa
para melhor.
Texto e imagem reproduzidos do blog: pavablog.com
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