quarta-feira, 28 de março de 2018

O Brasil de hoje. Ética, política e economia...


O Brasil de hoje. Ética, política e economia. O que podemos fazer ou esperar?

Não é segredo pra ninguém que o Brasil atual passa por uma profunda mudança de seus hábitos e costumes comumente aceitos. Uma moral única tende a se esfarelar frente à percepção, por todos nós, de que há diferentes visões de mundo, comportamentos, crenças e ideologias.

Nesta linha, a ética se torna uma matéria a ser compreendida. Afinal de contas, diferente da moral, a ética busca a compreensão e o entendimento das percepções individuais de cada cidadão na busca pela fundamentação de uma ‘moral’ mais coletiva, mais humana e aceita, ao menos, pela maioria dos cidadãos em um ambiente democrático.

A palavra ética tem origem no termo grego ethos, o que significa aquilo que pertence aos ‘bons costumes ou hábitos’ fundamentados pela razão e que se distanciam da moral que se fundamenta, muitas vezes, na obediência cultural e religiosa. Eis, então, parte significativa da confusão na atualidade política em que vivemos. Pois, de um ethos (ético) que busca um melhor modo de se viver entre os pares, ainda estamos sob o entendimento do mores (moral) da obediência aos hábitos e costumes impostos e pré-determinados por ‘ideias universais’ que, a cada dia, não são possíveis de se aceitar, senão por crenças e ideologias alienantes.

O multiculturalismo e a pluralidade de ideias e costumes, que se torna mais presente em nossas vidas pelo acesso tecnológico à diferentes culturas, aponta que há uma confusão sobre o que seria o ‘bem’, sendo o ‘bem’ algo universal ou o que é de fato o ‘bem’; ou apenas o objeto desejado, de aspiração por muitos que pensam diferentemente e que priorizam a concretude das relações humanas como, por exemplo, o bem-estar de se viver, ou da ‘vida como ela é’.

O maniqueísmo entre o ‘bem’ e o ‘mal’ está fortemente presente no ambiente social, político e econômico. É entendido, pela maioria de nós, possuidores de raízes culturais essencialmente religiosas, que o espírito racional é o ‘bem’ e a matéria irracional o ‘mal’, numa dualidade estranha à primeira vista, pois, somos a própria matéria, enquanto que o espírito permeia o mundo das ideias, das crenças, da razão. Matéria e espírito parecem ser uma única e mesma coisa, como já dissera uma vez o filósofo Espinosa em sua obra “Ética”, ao afirmar que o ser é uma única e mesma coisa, ou seja, a natureza substancial.

Em outras palavras, o que é certo para alguns claramente não o é para outros, pois suas visões de mundo muitas vezes conflitam, polarizam. Contudo, o homem é um ‘animal político’ e vive dentro de uma polis, onde são (supostamente) livres e ‘iguais’ em direitos, porém diferentes em suas aspirações individuais e coletivas, o que produz um encontro ético turbulento que tende a se auto-organizar em modelos políticos temporários.

O filósofo Fichte exigia que toda doutrina moral deveria ser reduzida à ‘autodeterminação do eu’, enquanto que para o filósofo Hegel, o objetivo das condutas humanas seria o Estado, pois o Estado é a totalidade ética de um povo ou uma nação, ou seja, uma eticidade. Não há verdades universais, este parece ser o fato a ser observado por todos nós.

É observável que o acesso e a inclusão de muitos cidadãos que se ‘sentaram à mesa de discussão’ por uma sociedade mais justa e igualitária, ocorrido nas últimas décadas, provocou uma mudança dos ‘costumes anteriormente aceitos como corretos’, causando certa diferença de percepção social e política. O status quo político está demorando para perceber essa mudança profunda nos cidadãos.

A política envelheceu e não atende mais as demandas dos novos movimentos que têm um olhar mais crítico e objetivo sobre como se deve organizar a vida em sociedade. Estaríamos vivendo uma revolução? Se considerarmos os aspectos de crescente evolução tecnológica que impulsiona as éticas individuais em uma sociedade cibertecnológica, pode ser.

Ao invés de acatar um modus operandi envelhecido, a sociedade clama por um novo modo de se fazer política e que esteja em sintonia com os novos movimentos sociais mais conectados, compartilhados, fluídos e rápidos. Estaríamos nos encaminhando a um modelo de ‘democracia direta’ que, pela tecnologia, nos permitirá que decidamos o rumo de nossas vidas em sociedade sem a necessidade dos atuais ‘representantes’?

Aqui entramos na parte essencial dessa crítica, afinal, o que nos move, neste modelo de sociedade utilitarista que vivemos, são as coisas — a matéria sensível e acessível pelo ‘dinheiro’. Este último está intrincado em nossos estilos de vida, como o ar que respiramos e a água que bebemos. A economia, então, passa a ser a chave de aceitação, ou não, das decisões políticas em sociedade.

A palavra economia vem do grego oikosnomos, ou ‘gestão da casa’, o que nos leva a entender que as decisões políticas organizam a casa ou Estado em que vivemos. Estaríamos inclinados a permitir que ‘representantes’ tomem as decisões por nós no momento em que observamos que diferentes agentes têm diferentes visões de mundo? Assim, estaríamos inclinados a começar a protagonizar novos movimentos políticos mais democráticos, distributivos, e de busca por uma auto-representação?

Parece, de fato, que será isso e uma socialização mais democrática ou então o retorno ao nefasto totalitarismo unilateral. Não há mais espaço para decisões que agradem uma minoria em detrimento de uma maioria. É só olhar para as ‘novas’ lideranças populistas que emergem mundo afora com a promessa de resolver esta questão.

O que fazer, então, com o Brasil de hoje? Estaríamos prontos, enquanto sociedade, a assumir esse novo modelo de fazer política? É o que veremos nos próximos anos, pois, para um desses lados, felizmente ou infelizmente, dependendo da percepção individual de cada um, nos encaminharemos.


Texto e imagem reproduzidos do site: medium.com/neurotrix

Nenhum comentário:

Postar um comentário