Ilustração reproduzida do blog: franciscombarros.blogspot
Política é cidadania
Por Mario Sergio Cortella
Educadores insistem em separar termos de significados
idênticos
Existe uma tendência a excluir a relação direta entre
política e cidadania, criando uma rejeição curiosa à política e valorizando
cidadania, como se fossem termos diversos. Há um vínculo inclusive de natureza
semântica entre as duas palavras, que, objetivamente, significam a mesma coisa.
A noção de política está apoiada num vocábulo grego, polis
(cidade) e cidadania se baseia em um vocábulo latino correspondente, civitatem.
Embora a origem etimológica seja diferente, os dois termos propõem que se pense
na ação da vida em sociedade (ou seja, em cidade). Isso significa que não é
possível apartar ou separar os conceitos.
Hoje, encontramos uma série de discursos, lemas e planos
pedagógicos e governamentais que falam em cidadania como se ela fosse uma
dimensão superior à política. Muito se diz que a tarefa da escola é a promoção
da cidadania, sem interferência da política. Não se menciona o conceito de
política, como se ele fosse estranho ao trabalho educacional; com isso,
pretende-se dar à cidadania um ar de ideia nobre, honesta, de valor positivo.
Sob essa ótica, política é sinônimo de sujeira, patifaria, corrupção. Claro que
não é assim.
Ambas as palavras e ações se identificam. É preciso recusar
a recusa do termo política no espaço educacional! Ainda temos essa rejeição ao
conceito, como se ele pertencesse a uma área menos significativa e menos
decente que a cidadania. Ora, não se deve temer a identidade dos conceitos,
pois só assim é possível construir cidadania, no sentido político do termo: bem
comum, igualdade social e dignidade coletiva.
Assim, é necessário debater a política e isso é debater a
cidadania. Falar em política envolve também os partidos, mas não se esgota
neles. É toda e qualquer ação em sociedade, portanto, toda e qualquer ação em
família, em instituições religiosas e sociais, no mundo das relações de
trabalho.
Num momento em que nosso país caminha para um revigoramento
do processo democrático, não é aceitável – porque poderá ganhar um ar
conservador e até reacionário – admitir que é princípio da escola "não
meter-se em política". Ao contrário, é porque se meterá em política que a
cidadania se reinventa. Porém, não é tarefa da escola a promoção da política partidária,
porque partido ou é uma questão de foro íntimo ou deve se dar nos seus espaços
próprios. É imprescindível levar esse tema para o debate no projeto pedagógico
da escola, sem assumir um viés partidário e sem, porém, invisibilizar o
conhecimento das múltiplas posturas.
Há uma diferença entre partidarizar e politizar. Mas a
política, no sentido amplo de cuidar da vida coletiva e da sociedade, é sim
obrigação escolar e componente essencial do currículo. Não pode a escola
furtar-se ao mundo da política, porque isso implicaria diretamente na
impossibilidade da cidadania.
Mario Sergio Cortella é Professor de
pós-graduação em educação
Texto reproduzido do site: uol.com.br
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