Publicado originalmente no Facebook/Marcos Cardoso, em 11/08/2018
A política não se renova
Por Marcos Cardoso
Muito se fala em renovação na política, mas de eleição em
eleição não se vê quase nenhum avanço. Os partidos prometem mudanças, os
eleitos repetem a mesma fórmula que outros já utilizaram, quando não os mesmos
erros e até os mesmos crimes. O eleitor reclama por mudanças e quase sempre
elege aqueles que nada mudam.
No corrente Brasil democrático reproduz-se exaustivamente o
equívoco de se falar mal dos políticos e de elegê-los vitaliciamente. E Sergipe
não é outro mundo.
Desde 1982 acontecem eleições para todos os cargos
majoritários estaduais. Os sergipanos votaram nove vezes para elegerem
governadores e 13 vezes para elegerem senadores. Parênteses: a primeira eleição
para prefeito de capital foi em 1985 e para presidente da República em 1989.
Somente 11 políticos se revezaram nos 22 cargos majoritários
estaduais disputados em Sergipe desde aquela eleição de 1982, quando os
governadores voltaram a ser escolhidos pelo voto popular.
E desses 11 políticos apenas quatro representaram alguma
novidade ou até surpreenderam: José Eduardo Dutra (PT), eleito senador em 1994;
Almeida Lima (então no PDT), eleito senador em 2002; Marcelo Déda (PT), eleito
governador em 2006; e Eduardo Amorim (então no PSC), eleito senador em 2010.
Jackson Barreto bateu na trave em 1994, quando quase
derrotou Albano Franco na disputa para o governo. Naquele momento, seria uma
novidade dentre os eleitos. Ele e Valadares são hoje os únicos remanescentes
daqueles 11 homens e seus destinos.
Pois na primeira eleição livre, de 1982, João Alves foi
eleito governador e Albano Franco, senador. Ambos eram do PDS. Em 1986,
Valadares foi o único governador do PFL em meio à quase totalidade dos eleitos
pelo PMDB. Lourival Baptista (PFL) e Francisco Rollemberg (PMDB) foram eleitos
senadores.
Em 1990, João (PFL) se elege para voltar ao governo e Albano
(PRN) se reelege para o Senado. Em 1994, Albano Franco, já no PSDB, se elege
governador e Valadares (PP) e José Eduardo Dutra (PT) se elegem senadores.
Em 1998, nada de muito extraordinário acontece. Albano se
reelege governador e Maria do Carmo Alves (PFL) ganha o primeiro cargo eletivo
e se elege senadora. Seria uma novidade não fosse ela a mulher do velho João
Alves.
2002 foi um ano do operário Lula carimbar o passaporte para
o poder. Mas por aqui a novidade foi Almeida Lima (PDT) eleger-se para o
Senado. Valadares se reelegeu já pelo PSB. E João Alves ganhou o terceiro
mandato de governador.
Em 2006, todos viram, João foi fragorosamente derrotado pelo
jovem Déda. Mas Maria do Carmo se reelegeu para o Senado. Em 2010, Déda
reeleito, Valadares reeleito e Eduardo Amorim (PSC) aparecendo como novidade
para o Sendo.
Por fim, em 2014 deu Jackson finalmente governador
consagrado nas urnas e Maria do Carmo (DEM) mais uma vez eleita senadora.
Por causa dessa repetição de nomes, na peleja deste ano, à
exceção de Valadares e Jackson, que querem disputar o Senado, os demais
postulantes a cargos majoritários não deixam de ser novidades.
Se o próximo governador eleito for mesmo Belivaldo Chagas
(PSD), Dr. Emerson Ferreira (Rede), Eduardo Amorim (PSDB) ou Mendonça Prado
(DEM), como se afigura, Sergipe terá um nome novo no Palácio de Despachos.
Embora Belivaldo, Eduardo e Mendonça não representem necessariamente o novo
original.
Belivaldo ingressou menino na escola de Valadares, mas se
transferiu para o grupo de Marcelo Déda e Jackson Barreto. Eduardo Amorim é
cria do próprio irmão, o onipresente Edvan Amorim, que foi alimentado na
cozinha de João e Maria, onde aprendeu a fazer política. Mendonça Prado também
cresceu bem nutrido na cozinha daquele apartamento na 13 de Julho. Inimigos
mortais, ele e Edvan um dia foram concunhados.
Dr. Emerson seria de fato uma novidade. Não se sabe se teria
carne suficiente para suportar o desafio de carregar nas costas um Estado em
crise.
De olho nas duas vagas do Senado temos também André Moura
(PSC), Pastor Heleno (PRB) e Rogério Carvalho (PT).
André seria um outsider não fosse filho de político,
Reinaldo Moura, e da velha escola de João Alves Filho e, agora, de Michel
Temer. Além de ter aplicado métodos nada inovadores na gestão pública, como
ex-prefeito de Pirambu, e na forma de fazer campanha eleitoral.
Heleno também não acrescentaria nada de novo ao Senado, onde
seria mais um representante da bancada evangélica. Também se mostrou mal gestor
quando prefeito de Canindé de São Francisco.
E Rogério teria perfil moderno não fossem as reincidentes e
mal explicadas acusações de administrar com imperícia o dinheiro da saúde
quando foi secretário estadual.
Está nas mãos do eleitor espremer o velho limão para tentar
fazer uma nova limonada. E depois não reclamar do gosto amargo.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marcos Cardoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário