Felipe Rigoni: o jovem que quer ser o primeiro deputado
federal cego do Brasil
Com discurso em defesa da igualdade de oportunidades,
eficiência de governo e investimento em educação, engenheiro de 27 anos propõe
mandato coletivo para renovar a política brasileira
SÃO PAULO - Aos 15 anos, depois de 17 cirurgias para tentar
reverter os problemas causados por uma uveíte, inflamação provocada nos olhos,
Felipe Rigoni ficou completamente cego. Os obstáculos, contudo, nunca impediram
o capixaba de Linhares de sonhar, fazer suas escolhas e alcançar objetivos.
Desta vez, aos 27 anos, depois de se formar engenheiro mecânico, fazer mestrado
no exterior e participar de momentos importantes em movimentos de renovação
política nacionais, ele quer ser protagonista em um feito inédito: ser o
primeiro deputado federal cego do Brasil e desempenhar um mandato
compartilhado, em que as decisões seriam divididas entre representantes de uma
centena de instituições e representações da sociedade civil. O pré-candidato
concedeu entrevista ao InfoMoney em julho.
"Lembro-me até hoje que estava em uma aula de português
quando um amigo virou para mim e disse: 'Felipe, você acabou de escrever três
vezes na mesma linha'. Olhei para o caderno e já não enxergava o que havia
escrito. Ficar cego gradualmente é muito duro, porque você fica com aquela
ponta de esperança de voltar a enxergar o tempo todo. E esse foi o momento em
que a corda da esperança teve que ser cortada", conta o jovem capixaba,
que chegou a entrar em um quadro depressivo, mas virou o jogo com o próprio
esforço, o apoio da família e amigos e oportunidades que agarrou com afinco.
Rigoni formou-se em Engenharia de Produção pela UFOP
(Universidade Federal de Ouro Preto) como um dos destaques em sua turma.
Durante a graduação, presidiu a empresa júnior do curso e foi um dos
responsáveis por aumentar o número de projetos de consultoria executados e o
faturamento do grupo em um ano. O bom desempenho o credenciou para voos mais
altos no comando da Federação Mineira de Empresas Juniores, e, mais tarde, foi
escolhido por lideranças de outras federações como o presidente do Conselho da
Brasil Júnior em 2015.
"Logo que saí da Brasil Júnior e acabou minha
trajetória no movimento, saí com uma vontade de transformar o Brasil muito
forte. Percebi uma coisa muito importante, que foi o que me levou à política:
além das próprias decisões de uma melhor performance, as pessoas precisam de um
ambiente que dê oportunidades para elas tocarem aquelas decisões em frente,
terem suporte e opções de escolha. Foi a partir daí que comecei a estudar toda
essa questão de igualdade de oportunidades e de como criar ambientes favoráveis
para isso", explica Rigoni.
Após uma tentativa de se eleger vereador por Linhares em
2016, chegando bem próximo do êxito, Rigoni volta à corrida eleitoral para
tentar um assento na Câmara dos Deputados pelo PSB. De lá para cá, ele deixou
seu antigo partido, participou da fundação do Acredito, movimento
suprapartidário em defesa da renovação política, fez mestrado em políticas
públicas em Oxford e foi bolsista do programa RenovaBR. Hoje, ele se diz mais
preparado para os novos desafios. "Tenho plena convicção de que, em 2019,
teremos uma chance real de colocar o país em um acelerador de desenvolvimento
ou em um abismo real. Vai ser uma responsabilidade gigantesca", afirma o capixaba.
Para arcar com as despesas da campanha em tempos de
proibição em doações empresariais, Rigoni organizou um crowdfunding. O programa
de financiamento coletivo conta até o momento com pouco mais de R$ 16 mil em
118 doações, valor ainda abaixo da meta do pré-candidato. Antes do início
efetivo do período de campanha, o capixaba tem usado as redes sociais para
disseminar ideias a partir de vídeos nas redes sociais e aproximação de
eleitores via aplicativos, como o Whatsapp. No mês passado, ele esteve na
redação do InfoMoney para uma entrevista. Confira os destaques:
BIOGRAFIA
Eu nasci em Linhares, nordeste do Espírito Santo, em 1991.
Minha história começa com o fato de eu ser cego. Aos seis anos, meus pais
começaram a perceber que tudo que eu precisava fazer tinha que ser de muito
perto, porque senão não conseguia enxergar. Foi então que descobrimos que eu
tinha uma infecção chamada uveíte, sem cura na época. Isso foi evoluindo e
acarretando problemas como cataratas, descolamentos de retina etc. Até que, aos
15 anos, após 17 cirurgias para tentar corrigir o problema, acabei ficando
cego. Lembro-me até hoje que estava em uma aula de português, fazendo um
exercício de ortografia, quando um amigo meu virou para mim e disse: ‘Felipe,
você acabou de escrever três vezes na mesma linha’. Olhei para o caderno e já
não enxergava o que havia escrito. Foi neste momento que tive que reconhecer:
'Felipe, pare de se enganar. Você está cego'.
Ficar cego gradualmente é muito duro, porque você fica com
aquela ponta de esperança de voltar a enxergar o tempo todo, e aquele foi o
momento em que a corda da esperança teve que ser cortada. Foi muito duro
reconhecer e superar esse fato, entrei em um processo quase depressivo. Um dia
em que estava muito mal com o que estava acontecendo, meu pai sentou-se ao meu
lado e disse: ‘Felipe, lembra que você tem uma escolha’. E foi embora. Na
época, eu não entendi. Percebi o que ele havia me dito anos depois, quando li
‘Em Busca de Sentido’, de Viktor Frankl, um sobrevivente de Auschwitz, que diz:
‘o homem pode ser despojado de tudo, menos da liberdade de escolher que atitude
tomar diante das circunstâncias’. Eu estava quase na hora de fazer uma
faculdade. Comecei a mudar de pouquinho em pouquinho, por conta dessas
percepções, das amizades que estava fazendo, das pessoas que me ajudaram. Em
2008, passei em Engenharia de Produção na UFES (Universidade Federal do
Espírito Santo) de São Mateus e em Física na UFOP (Universidade Federal de Ouro
Preto). Visitamos as duas universidades e decidimos que a última estava mais
preparada para receber deficientes visuais.
Sempre gostei de cálculo, adoro fazer conta de cabeça.
Estava gostando do curso de Física, mas, no fim do primeiro semestre, percebi
que faltava lidar com pessoas, faltava algo ligado a liderança. Foi quando fiz
transferência interna para engenharia de produção na UFOP. Antes de começar o
curso, decidi fazer um intercâmbio em Bristol, Rhode Island, para melhorar o
inglês. Foi uma experiência muito enriquecedora, não digo prazerosa, como
muitas pessoas dizem. No meu caso, foi enriquecedor porque fiquei muito
sozinho. Isso foi muito importante, tanto para um sentido de reflexão da vida,
mas também porque foi desta maneira que aprendi a pedir ajuda, que é algo que
eu não sabia fazer antes. Para você ter uma ideia, eu ficava duas ou três horas
sentado no campus da UFOP até que alguém que me conhecesse fosse me buscar. Lá
nos EUA, ou eu pedia ajuda ou não tinha alguém para me buscar. Acabei tendo que
pedir na marra e isso me fez muito bem. Mudei muito minha atitude diante dessa
vulnerabilidade. Isso me fez aceitar muito mais quem eu sou, o fato de eu ser
cego, o fato de qualquer ser humano depender demais das outras pessoas.
Na volta ao Brasil, em 2010, comecei o curso de engenharia
de produção. Estava adorando, mas ainda faltava a questão da gestão, da
liderança. Foi quando conheci o pessoal da empresa júnior, ainda incipiente na
época. Eles diziam que era uma experiência de mercado antes de entrar no
mercado de trabalho, que colocava em prática os conhecimentos teóricos
adquiridos em aula através de projetos de consultoria. Eu me encantei por
aquilo. Passei no processo seletivo e entrei. Foi no movimento empresa júnior
que aprendi que dá pra fazer, dá pra liderar e engajar pessoas. Cheguei à
presidência da Projet, da UFOP, em 2013. Foi um ano bem legal, que, por conta
de várias coisas que fiz como presidente, das pessoas que conseguimos
selecionar e das iniciativas que elas mesmas fizeram, demos um salto brutal,
aumentando o número de projetos e o faturamento. Foi até case de sucesso de
empresas de juniores em Minas Gerais. Por conta disso, acabei me interessando
em percorrer outras instâncias do movimento.
Em 2014, fui eleito para ser presidente do conselho da
Federação Mineira. Basicamente, minha função era convergir as opiniões, os
interesses e as necessidades das 48 empresas juniores do estado. O maior
desafio de todos foi liderar um conselho de 96 pessoas. Naquele ano, percebemos
que ou a gente parava de crescer o número de empresas juniores, que não era uma
opção, ou a gente mudava o estilo de conselho que tínhamos.Tivemos que desenhar
um novo modelo de governança corporativa, um desafio grande de articulação e
negociação, já que muitas empresas não entendiam a necessidade queriam que isso
acontecesse. Por conta disso, o pessoal das outras federações [de juniores] do
Brasil me escolheu para ser o presidente do conselho da Brasil Júnior, em 2015.
Foi daí que nasceu essa minha vontade grande de transformar o Brasil. A missão
do Movimento Empresa Júnior é formar, a partir da vivência empresarial,
empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil. Isso eu vivi
intensamente por 5 anos e meio.
Em paralelo a isso, me formei e comecei a trabalhar com
coaching e desenvolvimento humano. Fiz vários outros cursos sobre esses temas
durante a faculdade, junto do Movimento Empresa Júnior, e percebi que era o que
eu queria fazer, pelo menos nos anos seguintes. Logo que saí da Brasil Júnior e
acabou minha trajetória no movimento, saí com uma vontade de transformar o
Brasil muito forte. Só que percebi uma coisa muito importante, que foi o que me
levou à política: além das próprias decisões de uma melhor performance, as
pessoas precisam de um ambiente que dê oportunidades para elas tocarem aquelas
decisões em frente, terem suporte e opções de escolha. Se não houver um
ambiente que faça isso por você, que lhe dê essas oportunidades, os
bem-sucedidos sempre serão exceções. Foi a partir daí que comecei a estudar
toda essa questão de igualdade de oportunidades e de como criar ambientes
favoráveis para isso.
PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
Decidi entrar na política e fui candidato a vereador pelo
PSDB em 2016. Foi uma experiência muito importante. É muito intenso, física e
emocionalmente, porque você se expõe o tempo inteiro para as pessoas, coloca
suas ideias sob o escrutínio de todos, além do próprio caráter, formação etc.
Recebi 1.156 votos em um pool de 80 mil votos válidos, fui o 14º mais votado,
sendo o mais votado da minha coligação, mas não fizemos votos suficientes para
eleger nenhum vereador. Inclusive, fui mais votado que dois dos eleitos. Muita
gente não conseguiu ficar sabendo da minha candidatura, decidi ir um dia antes
[do limite] de registrar a candidatura. Eu realmente tive 45 dias de campanha,
sem pré-campanha.
Uma lembrança que tenho daquele período é de uma visita que
fiz à casa de um amigo em um bairro pobre da minha cidade. Falei das minhas
ideias para 20 pessoas, tinha uma agenda clara de responsabilidade fiscal na
prefeitura e de um plano municipal de acessibilidade. Em determinado momento,
uma senhora chamada Gerusa disse: 'Felipe, tenho 53 anos, estou desempregada.
Só faço bico, tenho cinco filhos, dois dos quais são deficientes, um está
internado aos quatro anos, outro está preso porque roubou na rua aos 16 anos.
Como seu mandato, sozinho, vai fazer diferença na vida de pessoas como eu?'.
Existe uma relação: quando você melhora a responsabilidade fiscal da
prefeitura, aumenta a capacidade de entregar serviços públicos. Só que não é
tão direto assim. Eu saí daquele dia muito triste, era uma quinta-feira antes
das eleições. A percepção que tive foi que, se for eleito, não adianta ser
sozinho.
RENOVAÇÃO POLÍTICA
Foi quando encontrei um pessoal que estava fundando o
'Acredito', movimento de renovação política que luta por igualdade de
oportunidades. Naquele momento, eu planejava meu mestrado em Oxford (após
passar em outras duas universidades britânicas), que pôde se concretizar graças
a uma bolsa da Fundação Estudar e da Fundação Lemann, e a volta para o Brasil
com esse sonho de fazer renovação política. Lançamos o Acredito em setembro de
2017, mesmo mês em que fui para Oxford. Comecei a fazer vários vídeos de
políticas públicas nas redes sociais, para ver como funcionaria se eu realmente
fosse candidato. Em outubro, foi lançado o RenovaBR. Eles fizeram um evento de
apresentação, abriram processo seletivo e fui um dos 100 aprovados na época.
Naquele momento, pensei: 'agora não tem mais jeito, vou ser candidato a
deputado federal'.
Eu já havia me desfiliado do PSDB, no primeiro semestre de
2017, também não estava pensando muito mais em partido naquela época. Tivemos
vários problemas com as diretorias nacional e estadual do partido, tentamos
várias atividades e fomos bloqueados diversas vezes, como na de lançar uma
candidatura à prefeitura de Linhares em 2016. O resultado foi que, contra a
vontade da diretoria municipal, o PSDB se coligou ao prefeito atual, atendendo
à vontade das diretorias nacional e estadual.
No 'Acredito', temos nosso manifesto programático. Somos
basicamente liberais progressistas: liberais na economia e mais progressistas
nos costumes. Fizemos cartas de compromisso com alguns partidos, entre eles PV,
Rede, PSB, PPS, e o PDT de São Paulo, requerendo que os candidatos do movimento
tivessem independência programática no partido escolhido. Filiei-me ao PSB [em
abril de 2018]. Tenho boa relação com nomes do partido, como Renato Casagrande,
tenho facilidade de convergência com as ideias deles e me dão independência
programática.
RENOVABR
Houve muitas críticas infundadas ao RenovaBR. Falaram que
seria um grupo de empresários financiando liberais para tomar o governo. Não
tem nada a ver. Somos 19 partidos, da esquerda à direita, dos liberais aos
conservadores. É realmente da sociedade para a sociedade, uma iniciativa
incrível. A formação foi muito boa, muito bem pensada. Hoje existem faculdades
de ciência política, administração pública, políticas públicas, mas não há uma
escola de política, de como fazer campanha, de como atuar no Congresso, sobre política
partidária. Eles selecionaram pessoas que já são líderes em seus estados,
comunidades, ou líderes mais técnicos, para ensinar como fazer isso de forma
ética e eficiente. Lá, percebemos que discordamos muito, mas há também uma
brutal quantidade de coisas que concordamos. E é nelas que podemos convergir e
fazer o país dar certo. Em 70% das coisas concordamos, e estamos brigando por
conta dos 30% que não concordamos. Vamos fazer os 70% e depois conversamos
sobre o restante. Talvez discordemos dos detalhes, mas, no princípio, na
formulação da política pública, é muito fácil haver convergência.
MOVIMENTOS vs. PARTIDOS
Não acho que os movimentos serão os novos partidos, mas vão
ser grandes parceiros. Os movimentos Acredito, Agora e no RenovaBR, que é mais
um instituto do que um movimento, não são novos partidos, mas grandes parceiros
das siglas, porque democracia sem eles não existe. Nosso desafio é fazer com
que os partidos sejam bons: programáticos, democráticos internamente, que
realmente sejam espaços de discussão e absorção das necessidades da população.
Hoje não são assim.
O nível de preparo que as pessoas que estão saindo do Renova
têm em comparação com as novas que estão em partidos é muito maior. Porque o
Renova se dedicou muito para fazer isso acontecer. E não é o que os partidos
fazem, porque todo o sistema de incentivos e estímulos é distorcido. Você não
estimula o partido a se virar para o cidadão e atender as necessidades, ouvir o
cidadão para que ele mesmo seja parte e sustente o partido, financeiramente,
inclusive. O estímulo é: 'vamos eleger gente para tomar mais parte do fundo
eleitoral'.
SISTEMA ELEITORAL
Sou a favor do voto distrital misto. Acho que precisamos de
uma proporcionalidade no Brasil, porque, além de muito grande, é muito diverso,
e só o sistema proporcional consegue abarcar uma diversidade tão grande. Mas o
jeito que é feito aqui gera muita distorção, é muito caro, distancia o eleito
do eleitor e a governabilidade vai quase a zero. Além de muitas siglas com
representatividade no Congresso, a disciplina partidária é quase nenhuma. O
distrital misto, com adaptações à realidade, seria uma solução muito boa.
Aproximamos o cidadão do eleito, reduzimos os custos de campanha e o número de
partidos, e forçamos os partidos a terem suas ideias concretas. Hoje temos
inúmeros partidos sem ideias concretas. Inclusive, é por isso que tantos
movimentos de renovação programáticos nasceram, como o 'Acredito', do qual faço
parte. Existe uma falta de programa brutal em vários partidos.
É claro, não tem como fazer um sistema distrital misto sem
fazer uma reforma partidária, se não vamos criar outra distorção. Haveria um
período de transição duro, mas forçamos ela. Talvez essa seja a coisa mais
difícil, senão impossível, de ser feita, porque partido não é democrático.
Sinceramente, o elo entre o poder e o cidadão é muito mais imperial do que
democrático. Também defendo a realização de prévias nos partidos. É mais
difícil para o candidato, porque são duas eleições, mas muito melhor para a
democracia.
O sistema político brasileiro, felizmente, na minirreforma
do ano passado, acabou com as coligações para 2020. Isso é o supra-sumo do
absurdo eleitoral que temos. O sujeito vota em quem ele quer e elege quem nem
conhece. Isso não pode acontecer. Outra coisa [importante de fazer] seria um
limite ao autofinanciamento. Em 2016, quando se proibiu o financiamento por
empresa (o que eu concordo), explodiu o caixa dois e o autofinanciamento.
Deveria haver limite, é mais uma desigualdade que precisa ser corrigida.
POR QUE DEPUTADO FEDERAL?
Logo após a eleição para vereador, por conta de ter passado
em Oxford, de algumas iniciativas que tive na Câmara Municipal e ter passado
como bolsista da Fundação Estudar, acabei ganhando projeção no Espírito Santo.
Outro fator é que todas as coisas que mais estudo que precisamos mudar no
Brasil precisam necessariamente passar pela Câmara Federal. É o caso das
reformas tributária, política, administrativa, além de melhorias no sistema
educacional. Se eu quero realmente causar impacto real, preciso estar na Câmara
Federal. O terceiro motivo é que a concorrência é maior na disputa para
deputado estadual, porque o número de candidatos é muito maior. O fato de ter
menos candidatos a deputado federal facilita campanhas programáticas como a
minha.
CAMPANHA
Preciso de 80 mil votos. Para fazer uma campanha efetiva,
calculamos que preciso de R$ 800 mil. Isso é muito dinheiro, mas, na média (em
comparação com outras campanhas), é barato até. Espero arrecadar cerca de R$
100 mil com crowdfunding. Temos uma frente com pessoas no Espírito Santo, como
empresários e pessoas da sociedade civil que querem ajudar a construir um
projeto como o meu. Há também pessoas de São Paulo, do Rio de Janeiro,
empresários, empreendedores que acreditam que precisamos renovar o Brasil. Na
campanha, vamos focar em três principais públicos: 1) as pessoas de Linhares,
porque sou de lá e tenho uma história lá; 2) universitários, pessoas que
estudam bastante e veem em mim uma identificação; 3) o público com deficiência.
Isso é muito importante para mim, não só para a eleição, mas com relação a
políticas públicas.
RESPONSABILIDADE
Sempre lembre que você tem uma escolha. Meu pai me disse
isso, depois fui aprender o significado com Viktor Frankl. Sempre temos a
escolha de que atitude tomar diante das circunstâncias. A responsabilidade é
enorme, não só porque posso ser o primeiro cego a ocupar uma cadeira na Câmara
Federal, mas porque vou ser um deputado federal em um momento de transição
muito grande no Brasil. Tenho plena convicção de que, em 2019, teremos uma
chance real de colocar o país em um acelerador de desenvolvimento ou em um abismo
real. Vai ser uma responsabilidade gigantesca. É por isso que meu mandato vai
ser compartilhado.
MANDATO COMPARTILHADO
Vou convidar um total de 100 instituições do Espírito Santo
e nacionais para fazer parte de um conselho parlamentar, que será responsável
por definir, junto comigo, quantas e quais serão minhas emendas, como votar em
determinada PEC. O partido será uma das instituições, mas minha liberdade já
está combinada com ele, porque tenho a independência via movimento Acredito.
Haverá instituições de empresários, trabalhadores, deficientes, cidades. Para
eu poder compartilhar isso com as pessoas e fazer o máximo possível.
Tenho três eixos de princípios para o mandato e a campanha
também: eficiência de governo, educação básica e empregabilidade. Tudo isso
coberto por um guarda-chuva de igualdade de oportunidades. Dentro disso, vamos
definir o que vai ser feito em específico. Esses grupos não se limitam a quem
apoiou a candidatura. Se for decidida alguma coisa que eu e minha equipe não
achávamos o correto, está decidido. Algumas questões já estarão postas para o
eleitor que votar em mim, mas a maioria das coisas não estarão e serão
decididas no conselho.
Por que eu acho tão importante fazer isso? Porque uma das
principais falhas da nossa democracia é a distância entre o eleito e o eleitor.
E se você já tem instituições que representam e ajudam as pessoas dentro de
várias classes e áreas da sociedade, por que não trazê-las para dentro do
mandato mesmo, com poder real? Vai ser uma experiência intensa. Com certeza
discutiremos demais, mas acho que vai valer a pena.
REFORMA TRABALHISTA
No geral, ela foi boa, embora tenha sido feita a toque de
caixa. Um problema específico gerado diz respeito ao acesso à Justiça, já que
um dos principais objetivos era reduzir a quantidade de ações trabalhistas.
Antes, a pessoa podia entrar com uma ação e, se perdesse, o Estado pagava os
honorários do advogado. Hoje, não existe mais isso. Antes, havia um estímulo
muito grande para todo mundo processar as empresas e um ônus muito grande para
a Justiça do Trabalho, era um exagero real. Agora, caiu drasticamente a
quantidade de processos. A gente corre um sério risco de estar restringindo o
acesso à Justiça para pessoas que têm menos dinheiro. Não tenho essa solução,
mas tenho discutido sobre isso. Como fazemos para não ter o estímulo de muitas
ações, mas também um sistema que permita a pessoa a ter acesso à Justiça,
principalmente quem não tem recurso?
De resto, vejo muito pouco problema. Isso que falaram de
tirarem direitos dos trabalhadores não acho que aconteceu, vai facilitar as
empresas a contratarem. Agora, uma coisa muito importante que não foi feita na
reforma trabalhista e deve ser feita na tributária é reduzir o custo da folha,
uma das principais reclamações, sobretudo das micro e pequenas empresas.
Também sou totalmente a favor do fim do imposto sindical. É
a mesma coisa dos partidos: os sindicatos não tinham estímulo nenhum de
realmente representar seus filiados. Inclusive, Gandhi dizia que nenhuma
instituição representativa deveria ser financiada por obrigatoriedade. O fim do
imposto sindical vai forçar os sindicatos a representarem e olharem para quem
eles representam. Isso vai ser muito bom para o Brasil. Temos sindicatos
demais, igual partido demais, e representação de menos. O início é um período
duro, mas acho que vai valer a pena. Todos os trabalhadores representados pelos
sindicatos vão se beneficiar com isso.
REFORMA DA PREVIDÊNCIA
No fim das contas, não serviu para muita coisa aquela
reforma que foi proposta. A reforma da Previdência tem que atacar três
problemas: 1) O fim dos privilégios, quase absolutamente no setor público; 2)
Instituir uma idade mínima, mesmo que transitória. Há muita discussão sobre
isso dentro do Acredito; 3) Mudar o regime. O regime de repartição que temos
hoje não faz sentido nenhum. O bônus demográfico está acabando e a proporção de
trabalhador para aposentado está diminuindo cada vez mais. Então, é
simplesmente insustentável, será necessário um regime de transição do modelo de
repartição para capitalização. Eu gosto muito do regime em que as pessoas,
independentemente de contribuir ou não, recebam pelo menos um salário mínimo,
mas isso exige um período de transição grande.
GOVERNO HARTUNG
A gestão de Paulo Hartung tem uma qualidade muito grande,
que é a gestão eficiente. Ele tem uma escola de governo dentro do governo, que
é muito boa. Há pessoas do meu partido que não acham, mas eu particularmente
vejo no Escola Viva um programa fantástico. É claro que ele não pode ser
escalado para toda a população ainda, mas vai ser gradualmente. A transformação
que causa nos adolescentes é muito grande. Agora, o que faltou foi diálogo com
a população. Ele fechou o governo principalmente com o setor empresarial e
excluiu outros setores, como, por exemplo, o da segurança. Se tivesse havido um
diálogo aberto, franco e muito bem alinhado desde o início, acredito que não
teríamos tido aquele estado de guerra em 2017, com a greve de segurança.
OPERAÇÃO LAVA JATO
Talvez a Lava Jato seja o vetor de mudança mais importante
dos últimos anos no Brasil. Houve erros crassos, com certeza. Eu realmente
acredito que a liberação dos áudios por Sérgio Moro não poderia ter sido feita,
apesar de que, para alguns, o resultado foi bom. No fim das contas, foi provada
corrupção de Lula e ele está preso. Naquela época, ele teria sido protegido
pelo ministério, mas não acho que teria fugido disso. Não precisava ter tido o
exagero, e Moro poderia ter sido figura menos polêmica do que é. Mas a Lava
Jato tem créditos absurdos que não podem ser tirados dela. O primeiro foi
escancarar a corrupção estrutural que tínhamos no Brasil, só isso já foi um
avanço absurdo. E isso só foi possível por um movimento pela transparência de
muito tempo no Brasil. Isso é até crédito do PT, que fez ações que permitiram
que a CGU tivesse independência maior e levasse o Brasil ao nível de
transparência que teve. Talvez tenha sido um tiro pela culatra, mas foi um
benefício muito grande para o País.
PERSPECTIVAS
A gente sempre tem liberdade de escolher que atitude tomar
diante das circunstâncias. E as circunstâncias hoje no Brasil não estão
favoráveis. Corremos um risco seríssimo de levar o país a uma crise ainda mais
profunda, de colocar em cheque nossa democracia. É o momento de mudar, não dá
mais para negar a política. Está suja, é muita corrupção, mas ou quem é bom
gosta da política ou quem gosta da política vai mandar em quem é bom. Voto nulo
não anula nada, só anula a capacidade de o Brasil renovar e mudar. Se você acha
que todo mundo é ruim, vote no menos pior, mas tem que votar.
Texto e imagem reproduzidos do site: infomoney.com.br
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