quinta-feira, 24 de junho de 2021

Cala boca já morreu

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 24 de junho de 2021

Cala boca já morreu

Há muitos culpados da eleição de Jair Bolsonaro, mas a grande imprensa se destaca dentre todos eles. Sua desconexão com o mundo real se traduz numa incapacidade de compreender o pensamento do homem comum. Flavio Quintela para a Gazeta do Povo:

A grande imprensa brasileira perdeu a mão. Desaprendeu a fazer jornalismo.

Algumas décadas de domínio quase completo sobre redações e faculdades de jornalismo transformaram esse ofício, de suma importância para qualquer regime democrático, em mero exercício de transmissão ideológica. O fenômeno não é restrito ao Brasil, muito pelo contrário.

Onde estão as grandes reportagens investigativas? Onde estão os furos conseguidos de fontes supersecretas, fruto de carreiras dedicadas ao desvendamento da verdade? Onde está o jornalismo sem torcida, que mantém os olhos atentos para os atos do Leviatã?

A preguiça tomou conta das redações. Uma leitura das principais matérias dos principais portais jornalísticos do Brasil mostrará uma dolorosa realidade: grande parte dos jornalistas da atualidade não passa de usuários do Google. Há uma desconexão com o mundo real, e ela se traduz numa incapacidade de compreender o pensamento do homem comum. Há muitos culpados da eleição de Jair Bolsonaro, mas a grande imprensa se destaca dentre todos eles. Durante a última campanha presidencial, apostaram vez após vez no ataque às pautas conservadoras que Jair, então candidato, defendia. Desperdiçaram chance após chance de encurralá-lo com questões pertinentes e importantes. Pior que isso, toda vez que usaram suas polêmicas para confrontá-lo, deixaram a bola quicando na frente do gol. E todas as vezes ele marcou, e cada vez que o fez ficou um pouco mais perto da vitória.

Há muitos culpados da eleição de Jair Bolsonaro, mas a grande imprensa se destaca dentre todos eles. Sua desconexão com o mundo real se traduz numa incapacidade de compreender o pensamento do homem comum

Já na cadeira da Presidência, Bolsonaro viu que nada mudaria. Ele pode ser um sujeito tosco e ignorante, mas idiota ele não é. Novamente, em diversas oportunidades, soube usar os ataques pueris em seu favor. E, por achar ninguém que lhe fizesse uma oposição firme e inteligente, foi aumentando o tom de estupidez para com os repórteres. Descobriu, assim, que além de todas as falhas ligadas ao comprometimento ideológico e à falta de compromisso para com a verdade, essa imprensa era também chorona e vitimista.

O episódio em que o presidente manda a jornalista Laurene Santos calar a boca é somente um de muitos. A repórter, certamente treinada pela escola moderna de jornalismo brasileiro, não conseguiu reagir. Sua reação era necessária, imprescindível. O presidente-bully, que adora fazer piada com pênis de japonês e ânus de homossexual, teve seu comportamento reforçado mais uma vez. Bullies não ligam para repercussões a posteriori. Não ligam se a diretora lhes colocou de castigo depois do horário de aula. A única maneira de se deter um bully é revidando na hora. É não se calando. No caso de Jair, é invocando os valores que ele diz defender e esfregá-los em sua cara no momento do embate. Laurene Santos poderia ter empostado a voz e dito “Presidente, sua truculência não mudará em nada minha missão de informar as pessoas”. Ou então: “Presidente, para alguém que se diz defensor da liberdade de expressão, o senhor já extrapolou a cota de ‘cala-bocas’ há muito tempo”. Enfim, qualquer resposta que o colocasse em seu lugar.

Acordem de uma vez por todas. Eu sei que uma grande parte de vocês teve a mente lavada na faculdade. Sei que acham os Estados Unidos um país malvadão imperialista e Cuba, um sonho feito realidade. Sei que passam pano para o PT, PSol e companhia. Sei que adoram jornalismo lacrativo, aquele do feminismo radical, que chama aborto de “direito da mulher”. Infelizmente, vocês já deixaram de ser jornalistas há muito tempo, se é que um dia já foram. Os mais antigos desaprenderam e os mais jovens não chegaram a aprender o que é jornalismo de fato.

Ainda que vocês jamais se recuperem dessa letargia intelectual e desse viés ideológico monumental, há uma coisa que vocês podem e precisam fazer: aprendam a responder a esse ignorante que ocupa a Presidência da República. Ele se alimenta da covardia de vocês. Na verdade, ele fica na expectativa de que alguém lhe faça aquela determinada pergunta que acabará em mais um cala-boca.

Na minha época de escola, a reposta para um cala-boca era dada em verso. “Cala a boca já morreu, quem manda em minha boca sou eu.” Um garoto daquela época mostrava muito mais bravura que um jornalista chorão de 2021.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com

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