Mostrando postagens com marcador MULHERES AFEGÃS. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador MULHERES AFEGÃS. Mostrar todas as postagens

sábado, 4 de janeiro de 2025

Inferno islâmico: Ongs terão que demitir mulheres no Afeganistão.

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 31 de dezembro de 2024

Inferno islâmico: Ongs terão que demitir mulheres no Afeganistão.

Nova onda repressiva atinge os pouquíssimos lugares onde mulheres ainda podiam trabalhar; são proibidas até janelas para “proteger” a castidade. Vilma Gryzinski:

O Afeganistão contribuiu com duas palavras para o vocabulário mundial. Elas praticamente resumem o que é o país. Uma é talibã, significando originalmente estudante (dos textos muçulmanos), mas transformada em sinônimo de radical que faz qualquer loucura. São eles hoje que voltaram ao poder e apertaram ainda mais os controles, como o uso da burka – a segunda palavra popularizada pelo país, usada para definir a mais severa forma de vestimenta islâmica para mulher, cobrindo inteiramente o corpo, a cabeça e o rosto, com apenas uma redinha à altura dos olhos. A mais recente medida de opressão quase além da imaginação foi a ordem para que as Ongs, nacionais ou estrangeiras, demitam imediatamente funcionárias mulheres.

Em geral, são mulheres que trabalham como parteiras ou em outras formas de atendimento de saúde, extremamente dificultadas já que é obrigatória a presença de um membro da família caso um médico homem atenda as pacientes. É mais uma iniciativa brutal para apagar a presença feminina da vida pública, como exige a interpretação ultrafundamentalista do Corão e de seus intérpretes.

A obsessão por esconder as mulheres é tanta que foi proibido construir janelas que dão vista para áreas onde elas são confinadas. “Ver mulheres trabalhando nas cozinhas, nos pátios ou tirando água de um poço pode gerar atos obscenos”, disse o porta-voz do regime que voltou ao poder com a vergonhosa retirada americana, em 2021. Casas e prédios que tenham janelas assim terão que obstruí-las.

As mulheres já não podem cursar além do ensino fundamental, trabalhar fora de casa, frequentar parques e até deixar que suas vozes sejam ouvidas em público, mesmo que estejam dizendo trechos do Corão. Além da interpretação religiosa, a extrema opressão tem raízes tribais, quase iguais às da época do profeta Maomé, no século VII.

DECLARAÇÃO POLÍTICA

Quando houve o renascimento do fundamentalismo muçulmano, no século XX, o uso do véu na cabeça virou uma declaração política, não uma prática que as mulheres pudessem escolher livremente. Em muitos países muçulmanos, houve um retrocesso: o véu voltou a ser socialmente imposto.

Um exemplo ao vivo de como isso acontece poderá ser visto na Síria. Nas áreas sob controle de rebeldes, que agora viraram governo, o hijab já é obrigatório. Com todos os horríveis defeitos de uma ditadura brutal, o regime derrubado de Bashar Assad promovia uma versão modernizada da religião muçulmana e seitas a ela ligadas. As mulheres cristãs, obviamente, não tinham que cobrir a cabeça.

Isso muito provavelmente não vai durar agora que fundamentalistas sunitas tomaram o poder.

Na versão xiita, a obsessão com cabelos femininos é a mesma. No Irã, é obrigatório usar o chador – véu na cabeça e um manto ou casaco comprido que disfarce as formas do corpo.

Temporariamente, foi suspensa uma lei que tornava mais rígido ainda o uso do chador. O regime iraniano está numa fase em que não pode se permitir novas ondas de protesto pela repressão às mulheres. “Perdeu” a Síria, depois de investir muito dinheiro e prestígio na proteção ao regime Assad. Viu a decapitação de seus apaniguados no Líbano, o Hezbollah. E sentiu em seu próprio território o peso da retaliação israelense, que destruiu seus sistemas de defesa antiaérea.

SHOW VIRTUAL

Mas é garantido que, quando a situação estiver mais estabilizada, retomará a aplicação da nova lei, com penas de até quinze anos de prisão e detalhes perversos, como exigir que empregadores e até pessoas comuns denunciem desvios no uso do chador.

Controlar a maneira como as mulheres se vestem ficou mais difícil com as redes sociais, com a multiplicação infinita de imagens. Mas isso não impediu a prisão, na semana passada, da cantora Parastoo Ahmadi por ter transmitido um show virtual sem usar o pano na cabeça.

No Afeganistão, sem nenhum tipo de oposição interna, pelo menos com força suficiente para intimidar o regime, os talibãs continuarão a terrível opressão que praticam em nome da defesa da “castidade”. É como se as mulheres estivessem sendo apagadas da vida, eliminando até o seu direito de falar.

Uma crueldade coletiva como poucas vezes aconteceu antes na história da humanidade, ocorrendo agora no começo do ano final do primeiro quarto do século XXI, bem diante de nossos olhos impotentes.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Mulheres afegãs: sem universidades, salões de beleza e pontos turísticos

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, 6 de agosto de 2023

Mulheres afegãs: sem universidades, salões de beleza e pontos turísticos.

A perseguição é resumida por porta-voz que, ao defender a burka, disse que “o valor da mulher diminui se os homens olham para ela”. Vilma Gryzinski:

Duas jovens afegãs já estavam dentro do avião, numa viagem com bolsa de estudos para cursar a universidade em Dubai, quando foram retiradas pelas autoridades.

A perversidade desse ato, ocorrido no mês passado, praticamente resume a perseguição do regime fanático do Talibã às mulheres do Afeganistão. Não basta ter proibido que mulheres façam curso superior, é preciso impedir até mesmo as que vão estudar no exterior, com bolsas bancadas pelo milionário filantropo Khalaf Ahmad Al Habtoor, que não quer ver a religião muçulmana conspurcada por radicais capazes de abusos desse tipo.

Desde que voltou ao poder, com a vexaminosa retirada americana, em 2021, o Talibã tem tentado apresentar um comportamento relativamente moderado, mas os fundamentos não mudaram. Pela doutrina oficial, as mulheres devem se cobrir inteiramente para sair em público, embora o uso obrigatório da burka esteja sendo retomado em etapas.

Um porta-voz do Ministério para a Prevenção do Vício e a Promoção da Virtude, Molvi Mohammad Sadiq Akif, resumiu o espírito da coisa: “É muito ruim que mulheres circulem sem cobrir a cabeça em algumas áreas e nossos estudiosos concordam que os rostos também deveriam ser cobertos”.

“A mulher tem um valor intrínseco e esse valor diminui quando homens olham para ela”.

O mesmo Ministério anunciou que as mulheres estão proibidas de visitar o Parque Nacional de Band-e-Emir, uma região de lagos naturais famosos pela beleza. Motivo: foram vistas mulheres cometendo o grave crime de circular na área sem cobrir a cabeça. “Visitar pontos turísticos não é uma necessidade para mulheres”, argumentou o órgão encarregado de patrulhar a população do ponto de vista da mais extrema e radical interpretação das leis islâmicas.

Também estão proibidos salões de beleza e academias de ginástica, mesmo que só frequentados por mulheres. Desaparece assim uma fonte de renda importante, num país em que praticamente todos os empregos femininos também foram proibidos.

A mesma obsessão por cobrir a cabeça das mulheres é vista no Irã, um país de maioria xiita que estaria na vanguarda do avanço em comparação ao praticamente miserável Afeganistão e seus fanáticos sunitas.

No domingo, foi fechado um parque aquático por causa de frequentadoras que “ignoraram as regras de modéstia”, circulando de cabelos à mostra.

Está fazendo um ano que a jovem curda Massa Amini, vítima de traumatismo craniano quando estava sob custódia policial pelo grave delito de deixar algumas mechas de cabelo aparecer sob o lenço obrigatório na cabeça. As grandes manifestações de protesto acabaram reprimidas, inclusive com a aplicação de morte na forca por casos de agentes da lei agredidos.

Em lugar de um retrocesso, o regime iraniano agora se sente fortalecido o suficiente para tornar mais rígidos os regulamentos sobre o modo de trajar das mulheres.

“Envolva o lenço da cabeça sobre o peito”, diz o Corão, num trecho suficientemente ambíguo para comportar diversas interpretações.

Cobrir a cabeça, principalmente no caso das mulheres casadas, é um hábito que já foi quase universal, em países de diferentes religiões, inclusive no Brasil colonial.

Curiosamente, nos anos setenta, afegãs e iranianas podiam circular pelo menos pelas grandes cidades vestindo roupas ocidentais, inclusive minissaias. A volta dos trajes longos e dos cabelos transformados em fontes de raios perigosos para os homens — é sério, foi dito isso por um líder iraniano “secular” — coincidiu com a politização da religião muçulmana.

E com uma estranha inversão de valores: na França, os protestos contra a proibição do uso de abaya, um manto comprido sobre as roupas, nas escolas são feitos pela extrema esquerda.

Autoridades iranianas anunciaram o uso de ferramentas de inteligência artificial para identificar mulheres que tirem o lenço da cabeça. Ou seja, serão perdidos até os rápidos momentos de liberdade, em cafés ou outros espaços que não patrulhavam os trajes femininos.

No Afeganistão, cerca de cem jovens foram impedidas de embarcar para cursar estudos superiores em Dubai. “Era uma tremenda oportunidade para nós, mas, como tudo mais, nos foi tirada”, disse uma jovem identificada apenas como Leila.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com