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terça-feira, 1 de julho de 2025

A fadiga do discurso conspiratório e autocentrado de Bolsonaro na Av.Paulista

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 29 de Junho de 2025

A fadiga do discurso conspiratório e autocentrado de Bolsonaro na Avenida Paulista

O ex-presidente mostrou-se incapaz de entregar mais do que ideias repetidas para reafirmar as convicções e emoções de seus apoiadores. Diogo Schelp para o Estadão:

Nem a sonoplastia dramática, acionada quando a voz ganhava certa intensidade, salvou o discurso de Jair Bolsonaro do marasmo. O público de verde e amarelo reunido na Av. Paulista neste domingo, 29, certamente saiu dali satisfeito com a oportunidade de prestar apoio ao seu líder político e de reafirmar as próprias convicções, como a teoria de que os atos de 8 de janeiro foram fabricados pela esquerda, e emoções, como o ódio a Alexandre de Moraes e a Lula, mas Bolsonaro já não é mais capaz de entregar muito mais do que isso.

A fadiga com o que ele tem a dizer é evidente. A repetição de bordões, como “Deus, pátria, família e liberdade”, e da retórica messiânica (“valeu a pena o sacrifício”) nem é o maior problema. A questão é que há uma desconexão entre o que Bolsonaro tenta ser para seus apoiadores, ou seja, o salvador da pátria (“a missão do capitão não acabou, ele ainda vai contribuir muito com o Brasil”, disse o governador Tarcísio de Freitas), e o que o ex-presidente realmente pode fazer por eles.

O máximo de esperança que Bolsonaro consegue oferecer aos seus admiradores é o de “mudar o destino do Brasil” se eles elegerem “50% da Câmara e 50% do Senado”. Uma fala que, analisada pelo ângulo correto, expõe a esperança que ele tem de mudar o próprio destino se seu grupo político conseguir a maioria absoluta no Congresso Nacional.

Bolsonaro quer mesmo é salvar a si próprio, não a pátria.

Tão entediante quanto falar mais uma vez que comprou vacina para todos, mas não tomou por causa da sua “liberdade”, ou que o Tribunal Superior Eleitoral “colocou” Lula na presidência foi a tentativa de dar visibilidade ao menos carismático de seus filhos, o Carlos, cuja pretensão é se lançar ao Senado por Santa Catarina. “O marqueteiro aqui me botou na presidência da República”, disse Bolsonaro, enquanto Carluxo, ao seu lado, colocava a mão de forma desajeitada, quase constrangida, sobre seu ombro.

O que deveria ser o ponto alto do discurso do réu por golpe de Estado, a julgar pelo tom de voz e pela quantidade de vezes que ele repetiu a frase, soou mais como uma confissão do que como a descrição de um ato de coragem: “Algo que me fez sair do Brasil não era apenas não passar a faixa. Jamais eu passaria faixa para ladrão. Jamais passaria faixa para ladrão.” E seguiu a ladainha sobre anistia, sobre injustiça, sobre ser preso ou ser morto, sobre a verdade que liberta e sobre pacificação. A Av. Paulista assistiu a um show de fadiga política.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

domingo, 21 de julho de 2024

O mercadinho dos Bolsonaro

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 20 de julho de 2024

O mercadinho dos Bolsonaro

Mesclando política e lucro, os Bolsonaro agora estão de olho no grafeno. Wilson Lima para a Crusoé:

Ao longo de toda a sua trajetória, a família Bolsonaro sempre colocou um pé na política e outro nos negócios. É o espírito empreendedor do clã. E as tentativas não foram poucas: lojas de chocolates, empresas de eventos, licenciamento de produtos, palestras e venda de bugigangas.

O mais novo negócio do clã foi revelado nesta semana por O Antagonista . Trata-se de uma companhia para venda e exploração de grafeno – material alardeado aos quatro ventos por Jair Bolsonaro que, com o nióbio, poderia revolucionar a indústria bélica e a geração de energia no mundo.

A Bravo Grafeno tem capital social de 100 mil reais e foi registrada na Junta Comercial do Distrito Federal em 11 de junho deste ano. Além de Jair e Flávio, aparecem como sócios na empreitada o assessor parlamentar de Flávio no Senado, Fernando Nascimento Pessoa, o ex-candidato a deputado distrital pelo Podemos, Pedro Leite, e o empresário gaúcho e o entusiasta armamentista Maichel Chiste.

Pela constituição acionária, Flávio é o sócio majoritário com 30% das ações. Jair e Maichel detém 20% das ações cada. Fernando e Pedro Leite são donos de 15% das ações cada. Apesar de Pedro ser o sócio minoritário do empreendimento, é ele quem vai administrar o negócio, segundo o contrato social.

Mas chama a atenção o aspecto, até o momento, improvisado da nova companhia. Ela está sediada em uma sala de coworking na cidade administrativa de Águas Claras, ao lado do Taguatinga Shopping. Nem Jair, nem Flávio, pisaram no local até hoje, conforme apurou Crusoé . Ou seja: eles registraram o nome, colocaram um endereço para constar e pronto. Agora é esperar que o negócio deslanche por algum acontecimento do destino.

Flávio Bolsonaro afirmou que a decisão de criar a empresa “ foi motivada pela verdade de que o grafeno representa uma revolução tecnológica , com grande potencial em vários segmentos ”.

“ Jair Bolsonaro é uma espécie de embaixador do grafeno, pois foi pioneiro em dar visibilidade para os benefícios singulares dessa abundância mineral no Brasil e sempre acreditou na capacidade dos pesquisadores brasileiros nesses segmentos. Por acreditar no potencial do grafeno, está liberado em fazer parte da empresa, o que muito nos honra ”, declarou o senador por meio de nota.

Na verdade, Bolsonaro sempre foi um entusiasta da produção de grafeno no Brasil. Desde 2016, ele bate nessa tecla. Quase que sozinho. Como presidente, Bolsonaro instituiu uma política pública, por meio do Ministério de Ciência e Tecnologia, para a exploração do material – o Programa de Inovação em Grafeno (InovaGrafeno). Agora, o ex-presidente tenta lucrar em cima do material que ele mesmo ajudou a promover no passado .

Mas esse não é o único exemplo de simbiose entre política e negócios envolvidos no clã. Jair Renan, o “ zero quatro ”, entrou na mira da Justiça após ter aberto uma empresa de eventos chamada Bolsonaro Jr Eventos e Mídia. A companhia foi criada em 2020. Segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal, o filho do ex-presidente da República cometeu crimes de falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e uso de documento falso na obtenção fraudulenta de três empréstimos bancários. O valor dos três empréstimos beirou os 300 mil reais. O caso tramita na 5ª vara criminal do DF. Segundo investigações da Polícia Civil do DF, a empresa de Jair Renan chegou a ter faturamento de 4,5 milhões de reais em um ano.

Mas a confusão não para por aí. Quando Jair Bolsonaro estava na Presidência da República, o “ zero quatro ” foi beneficiado com a reforma de uma bancada de escritório pelo empresário Felipe Belmonte, antigo aliado do ex-presidente e fundador da Aliança pelo Brasil – partido que Bolsonaro queria financiar. Foi Jair Renan que tinha pedido de reforma.

Mas o facto é que, já na reta final do mandato de Jair Bolsonaro, os filhos resolveram montar empresas próprias como se previssem, no futuro, que o facto de ter comandado o país por quatro anos poderia gerar lucros em outras áreas.

O senador Flávio Bolsonaro sempre foi o que teve mais espírito empreendedor da família. Além da Bravo Grafeno, existem outras duas empresas em que o senador da República é sócio: a corretora de seguros All in one, aberta em abril de 2022, e um escritório de advocacia.

A All in One foi fundada ao lado do empresário fluminense Marcello Freire Palha, um ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez, que também atua na área de aeroportos. A empresa surgiu um mês após o empresário ter deixado a direção comercial da Infracea, empresa que foi aquinhoada com cinco contratos com o governo federal durante a gestão Jair Bolsonaro. A empresa também presta consultoria na área de seguros.

Como advogado, Flávio tem seu próprio escritório de advocacia: o “ Flávio Bolsonaro sociedade individual de advocacia ”. A unidade funciona em uma residência no Lago Sul, área nobre da capital federal.

Já Eduardo Bolsonaro resolveu instituir com a esposa Heloísa Wolf Bolsonaro uma empresa especializada na venda de cursos e de produtos ligados à família, a H&E Produções – negócio fundado em abril de 2022 com o nome Eduardo Bolsonaro Cursos LTDA. É a idolatria dando lucro ao clã.

Eduardo Bolsonaro é o proprietário do site Bolsonaro Store, em que se vende de tudo ligado à família: calendários, livros, cadernos, quadros, fotografias e copos térmicos estilo Stanley. O carro-chefe do site é o curso Ação Conservadora, para candidatos de direita que têm o apoio da família. Um evento ocorrerá em São Paulo, na segunda semana de agosto, liderado por Eduardo Bolsonaro.

Além de cursos, Eduardo é presidente do Instituto Liberal Conservador, uma entidade de direito privado fundada principalmente para, na teoria, divulgar o conservadorismo no Brasil por meio de palestras e publicação de livros.

Até Carlos Bolsonaro, o Carluxo, tem seu CNPJ. Em agosto do ano passado, ele montou a WF Advisory LTDA, empresa de design e tecnologia com capital social de 120 mil reais. A sede dela? A própria residência do clã no Condomínio Vivendas da Barra, conforme consta nos dados da Receita Federal.

A multiplicação de CNPJs em nome do clã Bolsonaro confirma que a exploração da imagem e do legado da família vai muito além de uma simples bandeira política ou de uma disputa com a esquerda. Trata-se de um modelo de negócio que traz muito lucro ao clã. E, pelo menos por enquanto, sem se envolver em polêmicas como administração de uma loja de chocolates.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

terça-feira, 23 de abril de 2024

A falsa aparência legal do golpe de Bolsonaro

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 22 de abril de 2024

A falsa aparência legal do golpe de Bolsonaro

Se a gente espia os fatos sob o prisma da história brasileira, perceberá que a defesa de Silas Malafaia do ex-presidente no Rio não alivia a barra de Jair Bolsonaro. Diogo Schelp para o Estadão:

Na vigorosa defesa ao ex-presidente Jair Bolsonaro ocorrida neste domingo, 22, na Praia de Copacabana, o pastor Silas Malafaia tentou minimizar a chamada “minuta do golpe”. Ele nem se preocupou em negar a existência do tal papel. Apenas afirmou que se tratava de um “documento sugestivo” apresentado aos militares, perfeitamente amparado na lei. Deixou de dizer, entretanto, que não tem sido incomum aos conspiradores que implantam regimes autoritários se preocuparem com a aparência legal de seus atos. Ocorreu, por exemplo, nos regimes de 1937, com Getúlio Vargas, e em 1964, nossa última ditadura.

“Primeiro, eu quero destruir essa bandidagem de ‘minuta de golpe’, essa safadeza capitaneada pelo grupo Globo e eu vou provar”, bradou Malafaia em seu tom grandiloquente, em cima do trio elétrico, sob aplausos entusiasmados de parte dos 33 mil autodenominados patriotas e pessoas de bem, que estavam pelo local.

Na perspectiva do pastor, Bolsonaro apenas propôs um documento para análise dos comandantes militares sobre Garantia da Lei e da Ordem (GLO), baseado do famigerado artigo 142 da Constituição. Versaria também sobre Estado de Sítio e Estado de Defesa, conforme artigos 136 e 139. “Onde está a ilegalidade dessa potoca?”, perguntou. Pausa para um efeito sonoro percussivo incluído pelo ótimo sonoplasta do evento. Ele mesmo respondeu: “Em lugar nenhum!”.

Carroceria de caminhão com multidão em torno não é um lugar adequado para se debater circunstâncias. Mas alguém poderia ter avisado a Malafaia que, em 1937, Getúlio Vargas conseguiu do Congresso a implantação de um Estado de Guerra como forma de combater uma suposta tentativa de golpe comunista em andamento. O movimento de esquerda que inspirou o golpe, denominado Plano Cohen, foi uma fraude escrita por um militar governista: Olímpio Mourão Filho. Com a aparência legal, o Brasil enfrentou mais oito anos de um regime que flertou com nazifascismo e não tinha pruridos de assassinar, torturar ou deportar os opositores políticos.

O mesmo Mourão Filho, já como general, esteve também envolvido no golpe de 1964. O verniz legal do movimento foi a sessão do Congresso, na madrugada de 1º para 2 de abril, que declarou vaga a Presidência, mesmo com o então ex-presidente João Goulart ainda em território brasileiro, no Rio Grande do Sul. A manobra contou com a anuência e mesmo participação discreta do presidente, à época, do Supremo Tribunal Federal, Ribeiro da Costa, conforme conta Felipe Recondo em seu livro Tanques e Togas (Companhia das Letras).

Dia 21 de novembro de 2013, o Congresso anulou a sessão de 1964 sob protestos do futuro presidente Jair Bolsonaro, assumidamente um apologista da ditadura de 1964. “Isto é mais do que stalinismo, onde se apagavam fotografias. Aqui se estão apagando sessões do Congresso. Pelo menos está servindo para alguma coisa: botar por terra a farsa de que foi um golpe militar a destituição de João Goulart”, disse.

O que podemos concluir disso tudo? Se a gente espia os fatos sob o prisma da história brasileira, perceberá que a defesa de Malafaia não alivia a barra de Bolsonaro. O ex-capitão e ex-presidente apenas repetiu o estilo das conspiraratas brasileiras que nos leva às ditaduras. Busca justificar o injustificável por meio das leis vigentes. Para nossa sorte, em 2022, não deu certo e por isso o ex-presidente corre o risco de passar uma temporada na prisão.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A força de Bolsonaro e a fraqueza do Brasil

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 26 de fevereiro de 2024

A força de Bolsonaro e a fraqueza do Brasil

Eis a fraqueza do político brasileiro e do brasileiro comum: a falta de coerência moral. Não é porque o STF está cometendo abusos que precisamos desconsiderar os crimes cometidos por aqueles que são alvos da investigação. Catarina Rochamonte para O Antagonista:

Jair Bolsonaro, na mira do STF por articular decretação irregular de Estado de sítio e intervenção no TSE, convocou seus eleitores para defendê-lo no dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, e a massa de apoiadores compareceu.

No vídeo da convocação, Bolsonaro diz que se trata de um “ato pacífico em defesa do nosso Estado democrático de direito.” Sabe-se lá o que o Estado democrático de direito é na cabeça de um populista autoritário que faz reunião com todos os seus ministros para combinar a virada de mesa que iria mantê-lo no poder a despeito do resultado das eleições.

Bolsonaro queria um golpe de Estado, seu entorno planejou um golpe de Estado, que não aconteceu porque as Forças Armadas, como instituição, se negaram a implementá-lo, embora alguns militares, individualmente, tenham participado da “intentona bolsonarista.”

Em seu discurso, Bolsonaro falou da bíblia como uma “caixa de ferramenta”, dramatizou em torno do episódio da facada que sofreu em 2018, citou luta armada de 1970 e um tenente “executado pela esquerda”, lembrou sua “carreira das armas”, recordou os 28 anos como deputado “discursando para as paredes”, citou platitudes sobre seu governo até chegar ao momento “daquela coisa que aconteceu em outubro de 2022” e mostrou-se satisfeito por ter conseguido o que queria: “uma fotografia para o mundo.”

A instrumentalização do conservadorismo

Mas não faltou aquela carga ideológica caricata que, de fato, responde pela sua capacidade de aglomerar tão grande público: “Nós não queremos o socialismo para o nosso Brasil. Nós não podemos admitir o comunismo em nosso meio. Nós não queremos ideologia de gênero para os nossos filhos. Nós queremos respeito à propriedade privada. Nós queremos o direito à defesa à própria vida. Nós queremos o respeito à vida desde a sua concepção. Nós não queremos a liberação das drogas em nosso país.”

Eu e provavelmente mais da metade dos brasileiros concordamos com esse parágrafo. O que não concordamos é que o sujeito, por defender isso, não seja responsabilizado pelos desvios cometidos em outros aspectos fundamentais da ética, da moralidade, da civilidade. O problema é que o sentimento conservador do brasileiro comum foi manipulado, instrumentalizado por políticos desqualificados, ineptos e desonestos.

É uma cena burlesca ver os autoproclamados patriotas antipetistas aplaudirem com entusiasmo o discurso do presidente do PL, Valdemar da Costa, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no escândalo do mensalão, ocorrido no governo Lula.

Ainda mais constrangedor e decepcionante é ver um dos ícones da operação Lava-Jato, o ex-deputado Deltan Dallagnol, junto a outros expoentes do partido Novo, participar da manifestação bolsonarista, sob a justificativa de união da direita contra os abusos do STF.

Ora, todos sabem que a CPI da Lava-Toga, protocolada pelo senador Alessandro Vieira, em 2019, com o objetivo de investigar o judiciário, foi inviabilizada pelo bolsonarismo para livrar a pele de Flávio Bolsonaro das investigações do caso das rachadinhas. A foto do caloroso abraço de Bolsonaro aos ser recebido pelo ministro Dias Toffoli em sua casa, em 2020, diz tanto do Brasil quanto a foto da multidão bolsonarista na Paulista.

Lava-Jato e falta de coerência moral

Sérgio Moro, ao decidir apoiar Bolsonaro no segundo turno, após ter denunciado a intenção do ex-presidente de interferir na Polícia Federal e após ter feito uma espécie de pré-campanha para presidente na qual expôs em livro e em discursos o mal que Bolsonaro tinha feito ao combate à corrupção, acabou com a esperança política daqueles que acreditaram e defenderam a Lava Jato por princípio e por anelo de justiça e não por mero oportunismo.

Da mesma forma, Deltan Dallagnol, aderindo ao bolsonarismo, de certa forma despreza a parcela da direita antibolsonarista que viu nele alguém firme e inabalável no combate à corrupção.

Conforme escreveu Felipe Moura Brasil no artigo O Novo parasita o bolsonarismo, os valores e princípios inegociáveis do combate à corrupção foram sabotados por Bolsonaro e colar na direita bolsonarista não é o melhor exemplo de coerência moral.

Eis a fraqueza do político brasileiro e do brasileiro comum: a falta de coerência moral. Não é porque o STF está cometendo abusos – de fato, está – que precisamos desconsiderar os crimes cometidos por aqueles que são alvos da investigação. E entre os crimes está a tentativa de golpe, infelizmente minimizada pela direita, que compromete assim o seu papel de firme, porém democrática oposição.

Duas pontas que se retroalimentam

Em seu discurso, Bolsonaro também pediu uma anistia para “os pobres coitados que estão presos em Brasília”. Sim, eles merecem anistia. Foram massa de manobra de gente mais graúda. Eles estão presos na Papuda e o Brasil está preso a dois populistas grotescos e rasteiros que se retroalimentam, como escreveu a ex-deputada Janaina Paschoal, em postagem no seu perfil X, em momento de singular lucidez:

“Respeitando opiniões divergentes, eu vejo, com clareza, um novo teatro das tesouras. Duas pontas que se retroalimentam e, guardadas as particularidades, funcionam de forma muito parecida. Ambas têm seus fiéis, que veem crimes na outra ponta, ambas têm seus atos de dramatização e ‘despedida’. Uma ponta brinca de fazer calar a outra. Antes, eu tinha pena do povo, que acredita nesse teatro. Hoje, vejo que o povo gosta e também se alimenta disso. Pobre daquele que pensa que essa representação os aniquila mutuamente. Esse teatro os mantém vivos e eles sabem disso!”

A manifestação na Avenida Paulista foi exitosa. Deixou clara a tragédia política brasileira: só Lula e Bolsonaro conseguem mobilizar as massas e encher as ruas; e as aberrações de um fazem as aberrações do outro parecerem menores. A força de Lula e Bolsonaro é a fraqueza da democracia do Brasil.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

sábado, 17 de fevereiro de 2024

A mensagem do Comando do Exército sobre Bolsonaro...

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 16 de fevereiro de 2024

A mensagem do Comando do Exército sobre Bolsonaro que os generais investigados esqueceram

Texto produzido pelo Centro de Comunicação da Força em 1988 expôs Jair Bolsonaro e o classificou como indigno de usar a farda de militar. Francisco Leali para o Estadão:

General quatro estrelas tirado da cama cedo pela Polícia Federal é tudo o que o Exército não precisava. A Força, que teve parte de sua cúpula ocupando os principais postos da gestão de Jair Bolsonaro, acordou na semana passada sendo obrigada a sentir o gosto amargo de ter aderido ao capitão que um dia fora considerado indigno de vestir a farda.

A memória fez apagar o que, em 2021, o repórter Rubens Valente resgatou por meio da Lei de Acesso à Informação no acervo do Exército. Deve-se ao jornalista a publicidade do “Noticiário do Exército” divulgado em 25 de fevereiro de 1988 e que trazia o título “A verdade: um símbolo da honra militar”.

O que está estampado na capa da publicação editada pelo Centro de Comunicação do então Ministério do Exército é lição de como a cartilha castrense preza a verdade e a hierarquia. Dito de outra forma, mentira e insubordinação são inadmissíveis na caserna. Se um subordinado mente, não pode estar ao lado dos seus. Numa guerra, como confiar a própria vida ao colega que não honra a palavra que dá? O ensinamento é levado às academias militares.

O episódio da década de 1980, para quem não se lembra, envolve o capitão Bolsonaro e um colega. Os dois deram entrevista à revista Veja e noticiou-se a ideia de um plano de explosão de uma bomba para causar tumulto. Bolsonaro era aquele que ousara reclamar publicamente dos baixos soldos ainda como militar. No mundo sem internet e redes sociais, falar à imprensa sem autorização do superior era conduta vedada nas Forças Armadas.

Foi aberto um processo disciplinar e Bolsonaro condenado. Chamado a se explicar, mentiu para o comandante. E isso ficou registrado no texto do Noticiário do Exército para que toda a tropa soubesse que o comando estava naquele momento expulsando da Força o mentiroso. O mesmo que anos mais tarde subiria palanque usando texto bíblico falando da verdade que liberta.

O texto começa assim: “O cadete - futuro oficial do Exército - ao ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras, recebe uma miniatura da espada de Caxias, declarando solenemente: ‘recebo o sabre de Caxias como o próprio símbolo da honra militar’. Dentro dessa máxima é formado o oficial do Exército brasileiro”. O editoral destaca o culto a valores como honestidade, lealdade e amor à verdade. Na época, uma investigação concluiu que Bolsonaro e seu colega mentiram ao seu comandante. “Conscientemente (Bolsonaro e seu colega) faltaram com a verdade e macularam a dignidade militar”, diz o texto do Centro de Comunicação do Exército.

Depois disso, o caso subiu ao Supremo Tribunal Militar (STM) e o capitão safou-se apesar de laudos no processo atribuírem autoria a ele de croquis de bombas, como revelou mais tarde o jornalista Luiz Maklouf Carvalho no Estadão e em livro. Inocentado, ganhou de volta o direito de ser chamado de militar ainda que a decisão judicial tenha sido na contramão do que defendera o Ministério do Exército de então.

O salvo-conduto do STM deu a Bolsonaro álibi para voltar a ser recebido nos quarteis. Mas demorou um pouco até que a porta da frente lhe fosse aberta. Por anos, o capitão era só o parlamentar insignificante do baixo clero. Mas ganhou as ruas e as redes, virou um político pop e único com musculatura para derrotar o candidato petista em 2018.

Naquele ano, tinham chegado ao generalato uma geração que ouviu o capitão-deputado gritar por melhores soldos enquanto governo tucano de Fernando Henrique Cardoso arrochava as contas. O mesmo fora ao plenário defender a morte do então presidente, mas por conta da imunidade parlamentar e sua irrelevância política na época não foi punido.

Com Lula preso e o PT enlameado por denúncias de corrupção, Bolsonaro surfou direto para o Planalto. No final daquele 2018, num café organizado no comando da Força, um general e três coronéis chamaram alguns jornalistas para conversar. Entre biscoitinhos e café adoçado a gosto, queriam medir até onde a imprensa vinculava Bolsonaro, recém-eleito, às Forças Armadas.

Ao ouvir de um dos convidados que os militares no governo Bolsonaro se equiparariam ao PFL dono da cadeira de vice de Fernando Henrique, levando ônus e bônus da gestão tucana, o general se irritou. Questionou como as Forças Armadas podiam ser comparadas com partidos.

O agastamento do general, que seguiria para atuar na Presidência da República na gestão Bolsonaro, traduzia a sensação compartilhada por parte dos militares de que têm uma missão de resguardar o País acima de tudo, e quem, sabe acima de todos. Ali estava o germe da vontade de poder voltar a mandar nos civis, ainda que sob as ordens de um comandante-em-chefe que não tinha passado do posto de capitão.

As Forças são instituições de Estado e, teoricamente, não deveriam se inclinar na direção de legendas partidárias. A verdade que lecionam aos cadetes seguem sendo o alicerce da formação da tropa. Em 1988, a mensagem já era clara: “O Exército tem, tradicionalmente, utilizado todos os meios legais para extirpar de suas fileiras aqueles que, deliberada e comprovadamente, desmerecem a honra militar. A verdade é um símbolo da honra militar”.

A operação da Polícia Federal da semana passada pode ser, para boa parte dos que viam Bolsonaro como Messias, perseguição política engendrada pelo STF. Mas há quem considere lamentável para a imagem das Forças Armadas o fato de que ex-comandantes e oficiais generais tenham recebido visita da PF por terem, de fato, flertado com um golpe sob inspiração daquele que um dia foi chamado de indigno pelo Exército.

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segunda-feira, 10 de julho de 2023

Bolsonaro, nanico moral e político

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 9 de julho de 2023

Bolsonaro, nanico moral e político.

A categórica irrelevância do manifesto de Bolsonaro contra a reforma tributária explicita sua real dimensão política e moral. O autoproclamado grande líder da direita não lidera ninguém. Editorial do Estadão - no alvo:

Sempre houve especulações sobre o real tamanho que Jair Bolsonaro teria na vida nacional após deixar a Presidência da República. O tema ganhou novo destaque após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornou inelegível por oito anos. Qual será de fato o papel do ex-presidente na política brasileira? Sem poder se candidatar, qual será sua influência na vida nacional?

Nesta semana, o assunto saiu do campo da especulação e pôde ser observado na realidade. No dia 4 de julho, Jair Bolsonaro lançou um manifesto contra a reforma tributária em tramitação na Câmara, qualificando-a de “verdadeiro soco no estômago dos mais pobres”. O ex-presidente conclamou os deputados do seu partido, o PL, “pela rejeição total da PEC da reforma tributária”.

Em tese, era de esperar que um posicionamento tão incisivo, vindo de alguém que obteve 58 milhões de votos no segundo turno das eleições do ano passado, despertasse alguma comoção e representasse algum empecilho à tramitação da reforma tributária. A voz do autoproclamado grande líder da direita nacional – que se apresenta como representante do liberalismo e dos interesses do empresariado – deveria produzir alguma consequência sobre tema tão fundamental para o desenvolvimento social e econômico do País. No entanto, a oposição de Jair Bolsonaro à reforma tributária não gerou rigorosamente nenhum efeito. Nem no seu partido nem também naquele que é considerado um dos principais sucessores do bolsonarismo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Ainda que seja paradoxal, tendo em vista o cargo que Jair Bolsonaro ocupou até o fim do ano passado, a nulidade do manifesto bolsonarista contra a reforma tributária não deve, a rigor, surpreender ninguém. Ela expõe a exata dimensão da figura de Bolsonaro na vida nacional. Está em plena conformidade com suas quase três décadas de completa irrelevância como deputado federal.

Em 2018, diversos grupos sociais e políticos apoiaram a candidatura de Jair Bolsonaro. Mas esse apoio, como agora uma vez mais se comprova, foi meramente circunstancial. Bolsonaro nunca foi capaz de articular politicamente setores e grupos da sociedade. Basta ver sua trajetória de trocas contínuas de legendas e o fracasso, mesmo estando na Presidência da República, na hora de criar seu próprio partido. Uma coisa é organizar motociatas ou ter muitos seguidores (e robôs) nas redes sociais. Outra, bem diferente, é exercer uma efetiva liderança política, congregando interesses por meio de ações políticas coordenadas.

Com a publicação do manifesto bolsonarista contra a reforma, maliciosa e falsamente chamada no texto de “reforma tributária do PT”, era nítida a pretensão de Jair Bolsonaro de se recolocar como a grande liderança antipetista. Eis sua estatura moral. Na tentativa de alavancar popularidade, não teve pudor de opor-se integralmente à proposta, fruto de anos de trabalho legislativo, que busca superar um dos grandes entraves nacionais. O resultado da manobra foi, no entanto, um grande fiasco. Ninguém fez caso da sua opinião.

Evidencia-se aqui outro aspecto da pequenez de Jair Bolsonaro. Não é mera ausência de capacidade de articulação política. Diante de um cenário nacional de debate longamente amadurecido sobre o sistema tributário, seu manifesto pela “rejeição total” da reforma explicitou que Bolsonaro não tem nada a propor ao País. Seu discurso é feito exclusivamente de chavões e de desinformação. Não tem diagnóstico, não tem proposta, não tem argumento. Ou seja, a indiferença ao tal manifesto, tanto por parte dos agentes políticos como pelos vários setores da sociedade envolvidos diretamente na discussão da reforma, era mais que natural. Não havia nenhum motivo para alguém gastar tempo com tão evidente disparate.

Se é triste constatar a diminuta dimensão moral e política de quem ocupou a Presidência da República por quatro anos, é alvissareiro reconhecer que Jair Bolsonaro volta a ter agora o exato peso que sempre mereceu ter. A mais cabal e rigorosa irrelevância.

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sexta-feira, 5 de maio de 2023

PF diz ao Supremo que achou elo de Bolsonaro com milícias

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de  4 de maio de 2023

PF diz ao Supremo que achou elo de Bolsonaro com milícias

Segundo a Polícia Federal, surgiram evidências de "tratativas para execução de um golpe de estado" e "tentativa de abolição violenta" do regime democrático. José Casado para a Veja:

O Exército deve uma a Lula e a José Múcio, ministro da Defesa. Eles sabiam o que faziam, na sequência do 8 de Janeiro, quando decidiram revogar a promoção do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid.

Antigo chefe da Ajudância de Ordens de Jair Bolsonaro, ele havia sido nomeado meses antes para o comando do Primeiro Batalhão de Ações de Comando, sediado em Goiânia, a 200 quilômetros de Brasília.

No comando dessa unidade, Mauro Cid teria caminho livre para o generalato. Trata-se de uma força de elite do Exército, especializada em ações de sabotagem e contrainformação. Seus integrantes são recrutados em quartéis — oito em cada dez desistem durante o treinamento.

O tenente-coronel já era personagem de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, por cumplicidade com Bolsonaro em crimes contra a Constituição e o regime democrático.

A resistência em cumprir ordens do Planalto, entre elas a de revogar a entrega do Batalhão de Ações de Comando ao ajudante de ordens de Bolsonaro, levou à demissão do general Júlio César de Arruda, 23 dias depois de assumir o Comando do Exército.

Mauro Cid foi preso ontem a pedido da Polícia Federal. Na justificativa, admitida pelo juiz Alexandre de Moraes, do STF, o tenente-coronel está retratado como elo de Bolsonaro com milícias numa conspiração política.

Na investigação sobre fraudes em atestados de vacina para Bolsonaro, assessores e familiares, relatou a Polícia Federal ao juiz, surgiram evidências de “tratativas para execução de um golpe de estado” e “tentativa de abolição violenta” do regime democrático.

Os trechos transcritos por Moraes no mandado de prisão de Mauro Cid, por fraude em documentos do Sistema Único de Saúde, não detalham quais seriam os indícios ou provas disponíveis sobre o envolvimento dele e de Bolsonaro num plano para golpe de estado.

Indicam apenas que ambos contavam com a colaboração de milícias digitais e, também, mantinham laços com uma fração do crime organizado de Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense, “no planejamento de um golpe de Estado”. Mauro Cid estaria atuando com um militar da reserva, Ailton Gonçalves Moraes Barros, “e pessoas ainda não identificadas”.

Os repórteres Marco Antônio Martins e Carlos de Lannoy, do G1, resgataram a memória da expulsão de Ailton Barros do Exército, 17 anos atrás.

Paraquedista, era capitão vinculado ao serviço de Inteligência quando foi acusado de negociar com traficantes da Rocinha, bairro da zona sul do Rio, a devolução de armas roubadas de um quartel em São Cristóvão. As armas foram recuperadas nove dias depois, no domingo 12 de março de 2006.

Expulso, Barros virou advogado e ano passado elegeu-se suplente na Assembleia do Rio — atravessou a campanha apresentando-se como “o 01 de Bolsonaro”.

Na tarde desta quinta-feira (4), os repórteres Daniela Lima e Leandro Resende, da CNN, divulgaram algumas gravações de conversas entre Barros e o ajudante de ordens de Bolsonaro.

Numa delas, no dia 15 de dezembro do ano passado, Barros comenta com o tenente-coronel Cid o “conceito da operação”, referindo-se a um suposto plano de intervenção militar. “Como é que vai ficar o Brasil”. E acrescenta: “Como é que vai ficar a moral dos militares do glorioso exército de Caxias?”

Especula sobre um “pronunciamento” de Bolsonaro e do então comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes — o que não aconteceu. As respostas do auxiliar de Bolsonaro não são conhecidas.

Naquela semana, os comandantes do Exército, Marinha e da Aeronáutica haviam decidido reafirmar sua fidelidade a Bolsonaro com um gesto público de hostilidade política ao governo recém-eleito: deixariam os comandos militares de forma coordenada, fomentando uma crise com Lula. Pressionados nos próprios quartéis, acabaram optando por renúncias individuais.

Para a Polícia Federal, “seja nas redes sociais, seja na realização de inserções de dados falsos de vacinação contra a Covid-19, ou no planejamento de um golpe de Estado, o elemento que une [os participantes da conspiração] está sempre presente, qual seja, a atuação no sentido de proteger e garantir a permanência no poder”.

Acrescenta: “A milícia digital reverberou e amplificou por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando aos seus seguidores ‘resistirem’ na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para uma intervenção federal comandada pelas forças militares, sob o pretexto de atuarem como um Poder Moderador, com base em uma interpretação peculiar do art. 142 da Constituição Federal.”

“Os arquivos de áudio e capturas de tela de mensagens trocadas no aplicativo WhatsApp” — prossegue — “evidenciaram a arquitetura do plano criminoso pelo grupo investigado. Apesar de não terem obtido êxito na tentativa de golpe de Estado, sua atuação, possivelmente, foi um dos elementos que contribuíram para os atos criminosos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023.”

O relato policial foi aceito pelo juiz, que deu prazo até a segunda-feira 3 de julho para apresentação das evidências.

Ao impedir a ascensão de Mauro Cid ao comando do Primeiro Batalhão de Ações de Comando, Lula e o ministro José Múcio, no mínimo, livraram o Exército de um grande constrangimento.

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quarta-feira, 3 de maio de 2023

PF faz buscas na casa de Bolsonaro e prende ex-ajudante

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 3 de maio de 2023

PF faz buscas na casa de Bolsonaro e prende ex-ajudante: falsificação de dados de vacinação da Covid.

Ex-presidente e aliado são alvos da Operação Venire, deflagrada no bojo do inquérito das milícias digitais; celular de Bolsonaro foi apreendido em Brasília. Blog do Fausto Macedo:

A Polícia Federal fez buscas na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro na manhã desta quarta-feira, 3, e prendeu o tenente coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, no bojo de uma operação sobre a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.

Outros dois assessores de Bolsonaro também foram presos - Max Guilherme e Sergio Cordeiro -, assim como João Carlos Brecha, secretário de Cultura e Turismo de Duque de Caxias (RJ). Os investigadores ainda fizeram buscas contra o deputado federal Gutemberg Reis.

Durante as diligências na residência do ex-presidente, em Brasília, os investigadores apreenderam o celular de Bolsonaro. Tanto o ex-chefe do Executivo como os aliados foram instados a prestar depoimento à PF sobre o caso.

Batizada Venire, a ofensiva cumpriu mais três mandados de prisão preventiva e vasculhou 16 endereços em Brasília e no Rio de Janeiro. As ordens foram expedidas no bojo do inquérito das milícias digitais, que tramita sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal.

Segundo a PF, as inserções falsas sob suspeita se deram, entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, e 'tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários'.

A corporação indica que, com a alteração, foi possível a emissão de certificados de vacinação com seu respectivo uso para burla de restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia. Os investigadores suspeitam da falsificação de dados do cartão de vacinação do ex-presidente e de sua filha.

"A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19", indica a PF.

A Controladoria-Geral da União já investigava se houve inserção de dados falsos no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro nos sistemas do Ministério da Saúde. O órgão chegou a derrubar o sigilo do documento, em razão de 'interesse público geral e preponderante', mas as informações só serão divulgadas após o encerramento da apuração sobre inserção de dados falsos.

A ofensiva aberta pela PF nesta quarta-feira mira supostos crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.

Segundo a PF, o nome da operação, Venire, tem relação com o 'princípio Venire contra factum proprium', principio base do Direito Civil e do Direito Internacional, 'que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa'. " Significa 'vir contra seus próprios atos, ninguém pode comportar-se contra seus próprios atos'", informou a corporação.

Um dos alvos principais da ofensiva, Mauro Cid é um dos aliados mais próximos do ex-presidente. O tenente coronel é alvo de uma série de investigações em tramite no Supremo Tribunal Federal, na maior parte delas, figurando como investigado ao lado de Bolsonaro - como no caso da apuração sobre o caso das joias, revelado pelo Estadão.

Cid é alvo do inquérito das milícias digitais - no bojo do qual foi deflagrada a Venire - desde que ele foi aberto. Antes, o coronel era investigado por atos antidemocráticos - investigação que foi arquivada e originou a apuração sobre ataques a instituições de forma organizada nas redes sociais. Foi nesse inquérito que a PF encontrou diálogos entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e o blogueiro Allan dos Santos.

À época em que Bolsonaro passou a externar publicamente temores sobre a possibilidade de ser preso, o Estadão apurou que as investigações que mais preocupavam o ex-presidente eram as que atingiam seu ajudante de ordens. O ex-chefe do Executivo não é alvo de mandado de prisão no bojo da Venire.

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terça-feira, 4 de abril de 2023

O dilema de Tarcísio: a que distância se manter de Bolsonaro?

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 3 de qbril de 2023

O dilema de Tarcísio: a que distância se manter de Bolsonaro?

O risco é o de que, apesar de incapaz de liderar a oposição, Bolsonaro mate a chance de que outro representante da direita venha a fazê-lo. Diogo Schelp para a Gazeta do Povo:

O ex-presidente Jair Bolsonaro não tem condições de liderar a oposição ao governo Lula e até disse antes de embarcar para o Brasil que, de fato, não vai "liderar nenhuma oposição". Mas é exatamente esse papel que ele tem demonstrado que pretende exercer e também que o seu partido, o PL, espera dele.

Bolsonaro ganhou cargo de presidente de honra da legenda e um salário polpudo, equivalente ao de ministro do STF e que se soma às aposentadorias a que tem direito. Ele tinha a expectativa de ser recebido nos braços de apoiadores em sua chegada a Brasília, o que não ocorreu. Mas as cenas de multidões bolsonaristas ao redor do seu mito ainda podem acontecer, pois o PL planeja viagens do ex-presidente pelo país. Quais personalidades da política estarão ao seu lado nas motociatas? Tarcísio de Freitas? Romeu Zema?

É bastante provável que Tarcísio e Zema posem com o ex-presidente e o recebam com tapete vermelho em seus estados. O primeiro deve sua eleição ao governo de São Paulo em grande medida ao fato de ter sido o candidato do então presidente. O segundo apoiou Bolsonaro no segundo turno, quando já havia vencido a reeleição em Minas Gerais. Mas, de resto, ambos têm motivos para manter uma distância segura de Bolsonaro. Se eles quiserem alçar voos mais altos, precisam ganhar luz própria, não ficar à sombra do ex-presidente.

A situação é mais complicada para Tarcísio, que é visto como afilhado político de Bolsonaro. Zema nunca foi do mesmo partido e não dependeu do ex-presidente para se eleger. Tarcísio vinha se distanciado do bolsonarismo e adotando um estilo próprio de governar, mais pragmático e agregador, menos ideológico. Chegou a dizer que nunca foi bolsonarista-raiz e aproximou-se de Lula, com o bom argumento de que precisa do apoio federal para cumprir promessas de campanha, como a privatização do Porto de Santos.

Além disso, a possibilidade de que Bolsonaro esteja se preparando para pavimentar o caminho para voltar ao Palácio do Planalto tolhe as asas de Tarcísio nos tais voos mais altos. É claro que nada impede que ele busque uma candidatura própria. Mas isso significaria romper com o núcleo duro do bolsonarismo, que ele continua cultivando e adulando.

Esse rompimento até poderia acontecer em algum momento, mesmo que ele negue agora. Mas até lá, Tarcísio teria que manter Bolsonaro longe o suficiente para não ofuscar ou atrapalhar, com seu carisma, seu radicalismo e seus rolos das joias, a imagem do governador. E perto o bastante para não ser acusado de ter traído o "mito".

Vale lembrar que foi isso o que aconteceu com João Doria e com Wilson Witzel, ambos eleitos governadores para São Paulo e para o Rio, em 2018, com uma estratégia colada à imagem de Bolsonaro e que, quando colocaram as manguinhas presidenciáveis de fora, viraram alvo da fúria bolsonarista. Hoje estão fora da política.

Bolsonaro não parece disposto a aceitar o crescimento de nenhuma liderança de direita que não seja a sua própria. Ele deixou isso bem claro ao enterrar os planos que o PL tinha para construir uma candidatura qualquer para sua mulher, Michelle. Nem o protagonismo da própria esposa Bolsonaro foi capaz de permitir.

O risco é o de que, apesar de incapaz de liderar a oposição, Bolsonaro mate a chance de que outro representante da direita venha a fazê-lo. O PT agradece.

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Com 33 processos, Bolsonaro está imobilizado na política

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 4 de abril de 2023

Com 33 processos, Bolsonaro está imobilizado na política.

No poder, Bolsonaro utilizou a presidência como tribuna-livre de acusação. Sem imunidade, agora experimenta o banco dos réus. José Casado para a Veja:

A agenda de Jair Bolsonaro está congestionada pela defesa em três dezenas de processos judiciais. Ele está imobilizado na política. Seus planos e, também, os do Partido Liberal estão condicionados às decisões da Justiça.

É situação complexa para um ex-presidente que perdeu a reeleição nas urnas, com 58 milhões de votos, não aceitou a derrota e não é reconhecido pelos aliados como líder da oposição ao governo Lula.

Numa das ações judiciais mais relevantes, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral está prevista para sair nas próximas três semanas.

Se condenado, Bolsonaro pode ficar inelegível pelos próximos oito anos, o que o qualificaria como primeiro ex-presidente da República punido por crime de divulgação de notícias falsas durante o processo eleitoral, usando recursos públicos.

Ele tem prazo até sexta-feira para apresentar as alegações finais de defesa nesse processo em que é acusado de abuso de poder junto com seu ex-candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto.

Trata-se do caso da reunião no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros, em meados do ano passado, quando acusou de fraude — sem provas — o sistema eletrônico de votação usado há mais duas décadas. E disseminou suspeitas — sem comprovação — sobre a integridade de juízes de tribunais superiores.

Bolsonaro fez isso dois meses antes das eleições. Usou o palácio, instalação governamental, os recursos da empresa estatal de televisão e respectivas redes sociais.

Ao aceitar a denúncia, o tribunal entendeu que existiam indícios de abuso do poder para “obtenção de votos” e “aumento da popularidade”, com “risco evidente” de dano à competição eleitoral e ao sistema de justiça.

Na época, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Mauro Campbell, fez questão de registrar nos autos um precedente — as razões jurídicas da cassação do mandato do deputado federal Fernando Francischini, do União Brasil do Paraná, que também divulgara falsidades sobre o sistema de votação. O juiz identificou traços de similaridade entre os casos.

Ao mandar investigar Bolsonaro, destacou um trecho da sentença do TSE que cassou o mandato do deputado paranaense, um escudeiro bolsonarista: “Não há margem para dúvida de que constitui ato abusivo, a atrair as sanções cabíveis, a promoção de ataques infundados ao sistema eletrônico de votação e à própria democracia, incutindo–se nos eleitores a falsa ideia de fraude em contexto no qual candidato sobrevenha como beneficiário dessa prática.”

Agora há um “rico acervo probatório”, nas palavras escritas pelo juiz-relator, Benedito Gonçalves. O desfecho deve ocorrer em poucas semanas.

Além dessa, Bolsonaro ainda tem outras 32 ações para se defender em tribunais. Duas dezenas no circuito do Supremo Tribunal federal, por crimes constitucionais, e do Tribunal Superior Eleitoral, por delitos na fracassada campanha de reeleição. O restante em juízos de primeira instância, por transgressões ao Código Penal.

Num exemplo, amanhã, quarta-feira (5), tem depoimento marcado na Polícia Federal para apresentar sua versão sobre o caso de apropriação indevida das joias das arábias. Tanto aquelas de ouro e diamantes confiscadas pela alfândega, como as que já entregou por intimação e outras para as quais recebeu ordem de restituir ao Estado, mas ainda reluta.

Nesse caso é suspeito de peculato, definível como um crime típico de funcionário que, valendo-se da confiança pública, utiliza aquilo que furta em benefício próprio.

No poder, Bolsonaro utilizou a presidência como tribuna-livre de acusação. Sem imunidade, agora experimenta o banco dos réus.

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sexta-feira, 31 de março de 2023

Ele voltou. E daí?

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 31 de março de 2023

Ele voltou. E daí?

Bolsonaro tem recepção morna no retorno ao Brasil, enfrenta desafios na Justiça e terá que provar que é capaz de liderar a oposição. Vanessa Lippelt e Wilson Lima para a revista Crusoé:

Era 4h30 da madrugada quando dona Maria (nome fictício) acordou, quase duas horas antes do seu compromisso. Para garantir a maquiagem caprichada, cabelos penteados e vestir seu “uniforme” — como faz questão de chamar a blusa verde e amarela acompanhada de calça clara —, tomou um café da manhã apressado e chamou uma carro de aplicativo. “Deixei para comer qualquer coisinha quando chegasse ao aeroporto”, explicou ela, que mora em Taguatinga, distante 24 km de seu destino.

Na quinta (30), a senhora de 66 anos era uma das quase 300 pessoas que se amontoavam junto ao gradil do desembarque internacional do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek na esperança de ver, após três meses de “autoexílio”, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Diferente das vezes em que esteve com o “Mito” no cercadinho do Alvorada (“Fui duas vezes, só”), a ocasião esta semana provocava um certo frenesi que a mantinha colada nas grades que separavam os apoiadores do ex-presidente do local onde esperavam que ele aparecesse. “Cheguei cedinho para isso. Eu tinha medo que ele não voltasse, minha filha, que matassem ou mandassem prender ele lá fora. Mas olha, você é da imprensa? Não vou falar com vocês não”, encerrou a conversa.

Durante quase 40 minutos de espera frustrada, os eleitores desfiavam palavras de ordem como “Globolixo”, “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” e “Mito” a cada vez que a porta do desembarque se abria. A cada porta aberta, porém, uma decepção. Bolsonaro nunca saía. Como não saiu. Ele deixou o aeroporto sem ter contato com nenhum deles.

O plano, diga-se de passagem, chegou a ser outro em um determinado momento. Entre os aliados de Bolsonaro e lideranças de direita especulava-se que algo em torno de 5 mil pessoas estariam no aeroporto para recebê-lo de volta. A ideia era um retorno triunfal, nos braços do povo. Não aconteceu. Um policial militar no local, que temendo alguma punição pediu para não ser identificado, cravou que não chegava a 300 pessoas ali. O jeito então para o ex-presidente foi seguir o combinado com a Secretaria de Segurança do DF e sair à francesa.

O prêmio de consolação para os bolsonaristas veio com a aparição do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) quase no mesmo instante em que as pessoas começavam a se dar conta de que sairiam da recepção ao ex-presidente de mãos abanando. Sorridente, usando um colete a prova de balas por baixo da camisa, o 03 logo se viu cercado por dezenas de apoiadores do pai, ávidos por uma selfie, um vídeo, uma declaraçãozinha qualquer. “Deputado, seu pai vai sair por aqui?” Eduardo apenas sorria. E assim, numa massa coesa, foi guiando e afastando o grupo do local de desembarque a caminho do estacionamento do aeroporto.

Jair Bolsonaro embarcou em Orlando (EUA) de volta ao Brasil no Boeing 737 Max 8 da Gol às 21h15, no horário local. A bordo da aeronave temática com pintura em homenagem ao personagem Harry Potter, o ex-presidente foi calorosamente recebido por passageiros que estavam no mesmo voo. Celulares em punho, eles disputavam o melhor ângulo para registrar o retorno do ex-presidente ao Brasil. Porém, o furor durou até o avião decolar e a viagem transcorreu tranquila, conforme passageiros relataram a Crusoé. “Não tem muito o que fazer durante um voo. Todo mundo dormiu”, contou André Bortoni, o corajoso passageiro que, ao desembarcar em Brasília, teve a ousadia de “fazer o L” para a horda de apoiadores de Bolsonaro. Recebeu uma saraivada de “vai para a Venezuela”, “comunista”, “petista safado”, dentre outras delicadezas. “Não tenho medo. O tempo de ter medo era quando eles estavam no poder. Agora é esperar as consequências das atitudes que eles tiveram durante os quatro anos de governo”, declarou Bortoni a Crusoé.

O magnetismo que Bolsonaro exerce sobre seus fãs é bem conhecido, assim como a ojeriza que eles nutrem por qualquer um que demonstre apoio a Lula. Cenas como as vistas nesta quinta, portanto, devem se repetir. O que ninguém sabe dizer ao certo é se Bolsonaro será capaz de liderar a oposição até a próxima eleição presidencial, em 2026. “Sua volta foi um pouco frustrante, e não é certo se ele poderá se credenciar a liderança da centro-direita ou da extrema direita”, diz o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Desde sua derrota eleitoral no ano passado, Bolsonaro abandonou seus seguidores e não fez questão de guiá-los. Além disso, outros nomes surgiram que poderiam se fortalecer e assumir o seu lugar, como Hamilton Mourão, Damares Alves, Carla Zambelli e até mesmo sua esposa, Michelle Bolsonaro. Isso sem falar de vários governadores que poderiam ganhar mais fama nacional, como o mineiro Romeu Zema ou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Bolsonaro tem um inequívoco capital eleitoral, mas há dúvidas sobre o que ele poderia fazer com isso. “Não se sabe o quanto lhe sobrou de eleitores fiéis, os que se contentam em ser alimentados pelo seu carisma. Mas, supondo, numa estimativa realista, que ele mantenha entre 15% e 20% dos eleitores brasileiros, tem um cabedal insuficiente para vencer uma eleição presidencial, mas capaz de bloquear ou impulsionar candidaturas”, escreve o cientista político Leonardo Barreto em artigo nesta edição da Crusoé.

Para Barreto, Bolsonaro caminha para ser uma espécie de novo Paulo Maluf, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo. “Na fase final da sua carreira, não conseguia se viabilizar sozinho, mas era sempre cortejado pelo estoque de votos fidelizados que possuía“, escreve Barreto.

O ex-presidente ainda terá pela frente uma longa e dura disputa na Justiça, que deve render muitas notícias ao longo dos próximos anos. Somente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente é alvo de 16 ações de investigação por abuso de poder político e econômico. Das 16 ações, a que está em fase mais adiantada é uma impetrada pelo PDT de Ciro Gomes, que questionou a utilização da estrutura do Palácio do Planalto para uma live com embaixadores, na qual ele atacou o sistema de votação eletrônica no país.

Essa ação hoje está em fase de levantamento de informações. Segundo membros do Tribunal Superior Eleitoral ouvidos por Crusoé, a expectativa é que o julgamento ocorra já em 2024. A tramitação desse processo é considerada relativamente célere, em comparação com outras ações em tramitação na Corte. Especialistas em Direito Eleitoral que acompanham de perto o andamento das 16 ações afirmam que Bolsonaro tem “boas chances” de se tornar inelegível nas próximas eleições. Mas pode haver contratempos no meio do caminho. A ação de inelegibilidade contra a chapa Dilma-Temer, por exemplo, foi impetrada em 2014 e teve desfecho apenas em 2017, às vésperas do processo eleitoral.

Além de ter de prestar contas à Justiça Eleitoral, o ex-presidente é alvo de seis inquéritos distintos no Supremo Tribunal Federal. Entre eles há duas investigações relacionadas às milícias digitais, uma sobre disseminação de notícias falsas ao longo da pandemia de Covid, uma sobre tentativa de interferência na Polícia Federal e uma sobre o vazamento de dados sigilosos de investigações da PF.

Ainda na esfera criminal, Bolsonaro é alvo de oito investigações na primeira instância, entre elas uma sobre a utilização de crianças em campanhas armamentistas e outra desencadeada após pedido de indiciamento da CPI da Covid. Durante a CPI, o relator da investigação, Renan Calheiros (MDB-AL), imputou nove crimes ao então chefe do Poder Executivo: prevaricação, charlatanismo, epidemia com resultado morte, infração a medidas sanitárias preventivas, emprego irregular de verba pública, incitação ao crime, falsificação de documentos particulares, crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo) e crimes contra a humanidade (nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos).

E agora, mais recentemente, Jair Bolsonaro também terá que explicar os três lotes de presentes recebidos por ele por integrantes da Arábia Saudita. Até o fechamento desta reportagem, já foram identificados três pacotes com joias cujo valor total chega a R$ 17 milhões. O recebimento desses presentes já ensejou a abertura de procedimento administrativo pela Controladoria-Geral da União e pelo Tribunal de Contas da União, e um inquérito da Polícia Federal por possíveis crimes de tráfico de influência e corrupção passiva – quando um agente público recebe favorecimento.

Justamente por essa razão, conforme Crusoé apurou, Jair Bolsonaro tinha manifestado a algumas pessoas próximas receio de retornar ao Brasil. O medo do presidente da República era ser surpreendido por integrantes do governo federal – hoje comandado por Lula – ou por membros da Polícia Federal. Para alívio do ex-presidente e de seus apoiadores, isso não ocorreu.

Politicamente, o retorno de Bolsonaro é um fato relevante, mas ainda é cedo para dizer se ele terá condições de liderar a oposição ao governo Lula. Nem mesmo deputados e senadores aliados sabem quais serão as prioridades. Haverá uma ação coordenada? O PL vai entupir a gaveta de Arthur Lira com incontáveis pedidos de impeachment? Bolsonaro falará dia sim, dia não sobre o governo Lula? Vai adotar uma postura de “Comentador-Geral da República”? “Ainda estamos vendo como organizar essa oposição. Mas é fato que ela ocorrerá”, disse a Crusoé ex-ministro e agora deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ).

Algumas ideias já estão em gestação. Uma que ganha corpo é que Bolsonaro inicie uma série de viagens pelo Brasil já a partir do próximo mês, para que ele incentive o debate em torno das políticas públicas do governo Lula.

As cúpulas de PP e de PL estão recrutando uma série de assessores que vão acompanhar e auxiliar Bolsonaro na coleta de informações para subsidiá-lo com dados concretos sobre o governo Lula. Outro fator que vai facilitar essa tentativa de virada de chave na visão de correligionários bolsonaristas, conforme Crusoé apurou, é a experiência de ex-integrantes do governo federal, que conhecem a máquina pública e podem traçar cenários específicos para embasar as críticas de Bolsonaro.

Um nome apontado como possível integrante dessa espécie de “gabinete paralelo” é o ex-secretário de Relações Governamentais da Casa Civil Bruno César Grossi, tido como homem de confiança de Bolsonaro. Assim, a ideia é vender Bolsonaro como um líder mais ameno e menos radical, em uma reedição do que ocorreu em parte da campanha eleitoral. Outra ideia que já está sendo gestada por integrantes do antigo governo é reativar o chamado “gabinete do ódio“, mas sob a alçada do PL. Essa estrutura ficaria sob a tutela de Arnaud Tomaz, que também desembarcou com Jair Bolsonaro nesta quinta-feira.

A incógnita, no entanto, reside no próprio Jair Bolsonaro. Depois das eleições, o ex-presidente da República demonstrou cansaço a pessoas próximas e cogitou até desistir definitivamente da vida pública. “Ele ficou extremamente magoado com a campanha do ano passado. Sente que houve um processo de massacre da imagem dele na grande mídia e que o processo eleitoral não foi justo. É lícito que ele queira ficar à parte desse processo político”, admitiu um importante aliado político bolsonarista em caráter reservado à Crusoé.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil e líder do PP no Senado, Ciro Nogueira (PI), destaca que Bolsonaro seria o único político da direita que, neste momento, teria capacidade de enfrentar Lula. Ele defende que o ex-presidente adote uma postura propositiva e esqueça temas da chamada “agenda ideológica”, como urnas eletrônicas e críticas às vacinas contra a Covid. “O que eu tenho aconselhado é que ele fale sobre o que fez no governo. Fale sobre a pauta econômica e compare o que ele fez e o que o PT está fazendo. Esqueça conflitos e situações que não trazem equilíbrio para o país. É isso que as pessoas querem”, disse Ciro Nogueira (assista à entrevista nesta edição de Crusoé). Mesmo que ainda não tenha decidido qual papel irá exercer na política nacional, Bolsonaro deve chacoalhar muito a política brasileira nos próximos meses e anos.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com

Editorial do Estadão: Com Bolsonaro vem a bagunça

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 31 de março de 2023

Com Bolsonaro vem a bagunça

A volta do ex-presidente restabelece o caos na política. Bolsonaristas e lulopetistas prosperam nessa confusão, com que o País perde. Espera-se que a oposição civilizada se apresente. Editorial do Estadão:

O ex-presidente Jair Bolsonaro desembarcou ontem em Brasília trazendo na bagagem o caos. É espantoso que um político tão desqualificado como ele seja tido por seu partido como grande líder. Sem estatura intelectual e moral para nenhum cargo público nem para nenhum debate sério sobre os rumos do País, Bolsonaro pretende ser o catalisador da oposição ao petista Lula da Silva. Para Lula, por sua vez, a volta de Bolsonaro à ribalta é um presente valioso, porque coloca em segundo plano os muitos problemas de seu governo e ressuscita o cenário de confronto que o petista soube tão bem capitalizar na campanha eleitoral do ano passado. Ou seja, é uma situação de ganha-ganha para Bolsonaro e para Lula. Só o País perde.

Sendo agente do caos, Bolsonaro não tem nenhuma pretensão de oferecer uma visão alternativa à de Lula. Seu objetivo é apenas atrapalhar o máximo que puder, disseminando desinformação e promovendo o que há de pior na política nacional. Os pequenos bolsonaros eleitos para o Congresso não estão ali para propor nada nem para negociar nada: à imagem e semelhança de seu guru, pretendem testar os limites da decência e, com isso, amealhar ainda mais votos de eleitores desencantados com a democracia.

Eis por que cabe à direita democrática desvincular-se de Bolsonaro e oferecer ao País uma alternativa competente e moralmente correta de oposição ao governo petista. É preciso impedir não apenas que Lula da Silva cumpra suas ameaças de arruinar as bases da estabilidade econômica do País, como também que, na esteira desse provável desastre, Bolsonaro (ou alguém tão desqualificado quanto ele) se apresente como alternativa eleitoralmente viável.

O fato é que a volta de Bolsonaro tende a drenar as energias do País para temas tão divisionistas quanto irrelevantes para os destinos nacionais, como questões identitárias e culturais. A índole destrutiva de Bolsonaro, marca maior de seu tormentoso mandato, decerto seguirá produzindo efeitos nocivos para além de seus dias no poder, ainda que o ex-presidente venha a ser declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral – cenário que se descortina como altamente provável.

Para o bem do Brasil, este jornal espera que nem Lula nem os representantes dessa direita civilizada, que começaram a se reorganizar concluída a eleição, se deixem pautar pelas diatribes de Bolsonaro e, menos ainda, que lhe deem a brasa e o combustível para que ele incendeie o País. É tudo o que Bolsonaro quer para se manter relevante na política nacional. Tido e havido como “mau militar”, Bolsonaro se forjou como político em meio à confusão. A normalidade institucional do País não lhe faz bem.

Em relação a Lula, há pouca esperança para um comportamento magnânimo diante da oposição irracional que Bolsonaro representa. Petistas e bolsonaristas são representantes de forças políticas que se retroalimentam do medo e do ódio que nutrem uma pela outra. Lula sabe que o adversário ideal dele e do PT é e será a extrema direita. Se hoje o presidente encontra tempo para bater boca em público com um senador, é improvável que ignore olimpicamente seu adversário na eleição passada e faça o que tem de fazer pelo Brasil.

Bolsonaro, por sua vez, sabe que seu grande triunfo na política decorreu da exploração do antipetismo que anima grande parte do eleitorado. A ascensão de uma direita conservadora, não reacionária, democrática e republicana que possa antagonizar com o PT o levaria de volta a um lugar que ele conhece muito bem: a obscuridade. Justamente por isso, Bolsonaro volta agora ao País contando com uma parcela da sociedade eletrizada e dispersa para, a um só tempo, manter viva a guerra particular que trava contra Lula e impedir a ascensão de novas lideranças políticas à direita capazes de reduzi-lo a um mero acidente da história.

A esperança de um país menos tumultuado e mais concentrado em uma agenda de reconstrução e pacificação nacional recai sobre os ombros dos genuínos democratas, tanto à direita como à esquerda.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com