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quarta-feira, 9 de julho de 2025

Putin e o 'suicídio' dos infiéis


 Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI 9 de Julho de 20225

Putin e o 'suicídio' dos infiéis

Aumento de suicídios ou suicidados é atribuído a mudanças nos padrões exigidos para ser considerado fiel ao Kremlin - e poupado de coisa pior. Vilma Gryzinski:

Se todos são corruptos e se a roubalheira é permitida desde que dentro dos parâmetros estabelecidos por Vladimir Putin, por que tantos integrantes da elite russa estão sofrendo percalços, inclusive sob a forma de queda de andares altos e tiros na cabeça?

O caso que mais chamou a atenção no exterior foi o de Roman Starovoit, demitido do cargo de ministro dos Transportes – provavelmente quando seu corpo já estava sem vida no carro em que foi encontrado com um tiro na cabeça.

Suicidou-se ou foi suicidado? As dúvidas sempre persistirão, apesar do fato de que na verdade nem sempre sejam verdadeiros os boatos de assassinatos cometidos por agentes de Estado. Vladimir Putin mantém um controle tão absoluto que, em princípio, não precisa eliminar inimigos ou aliados que saiam da linha. Mas como há casos em que todos os fatos apontam para serviços de inteligência, a primeira reação a cada novo caso de suicídio ou outros percalços na elite russa é ver o longo braço do líder supremo.

E foram vários num prazo recente de poucos dias. Um ex-vice-ministro da Defesa, Timur Ivanov, foi condenado há treze anos de prisão na semana passada, por corrupção – além, obviamente, de perder todas as medalhas.

CONTRATO SOCIAL TÁCITO

Andrei Badalov, vice-presidente da Transneft, a maior rede de transporte viário conectada aos oleodutos russos, caiu da janela de seu apartamento em Moscou – o oitavo caso do tipo desde 2022. Konstantin Strukov, presidente executivo da terceira maior empresa de mineração de ouro do país, foi preso no sábado passado, dentro de jatinho particular no qual viajaria para a Turquia. Acusação: usar parentes e conhecidos como laranjas para desviar depósitos de ouro e de carvão.

Depois, aconteceu o suicídio suspeito de Starovoit, um tecnocrata que fez carreira como empresário e burocrata, tendo sido governador de Kursk, a região que teve uma parte invadida pela Ucrânia.

Ganhou força, assim, a pergunta: se todos roubam, sob a condição conhecida em outros países corruptos – pagar a parte devida aos detentores do poder -, por que tantos incidentes do tipo? Teriam todos sido gananciosos demais? Poderiam ter tentado passar a perna em ninguém menos que Vladimir Putin, cuja ascensão se deve, justamente, a colocar ordem na casa durante a fase da roubalheira sem regras da Rússia pós-soviética?

O historiador britânico Mark Galeotti, especialista em assuntos russos, disse ter ouvido de uma fonte a hipótese de que, sob a pressão da guerra na Ucrânia e dos efeitos deletérios que tem sobre a economia, as regras podem estar mudando.

“O contrato social tácito de Putin com a elite é que eles podem roubar, mas só dentro de determinados limites e na medida em que sejam leais ao Kremlin”, escreveu ele.

“Mas os limites aceitáveis de enriquecimento pessoal e o que significa ‘lealdade’ parecem estar mudando de maneiras imprevisíveis. Uma fonte bem informada de Moscou disse que ‘as elites querem ficar dentro da linha vermelha, mas o que as apavora é que ninguém mais sabe onde ela está’.”

SISTEMA EM RUÍNAS

O método de intimidar aliados é um clássico do exercício autoritário do poder. A história do império romano praticamente pode ser contada do ponto de vista dos senadores que eram intimidados, quando não degolados, por césares com quem disputavam pelo menos uma parte simbólica do poder.

Ao contrário da imagem que se consolidou, os imperadores não eram onipotentes e seus atos tinham que ser endossados pelo Senado – imaginem só os confrontos.

Calígula atribuía ao suicídio as mortes de senadores influentes – nada de novo se inventa sob o sol. Alguns eram obrigados realmente a se suicidar. Um dos casos historicamente mais famosos é do senador Tráseia Peto, o único, entre os colegas obsequiosos, que não elogiou a carta de Nero explicando por que havia mandado matar a mãe, a poderosa e igualmente sinistra Agripina. Estoicamente, cortou as veias diante do emissário que havia trazido a ordem de suicídio, dizendo que ao jovem “havia tocado nascer nesses tempos em que convém fortalecer a alma através de exemplos de retidão”. Classe é classe.

Putin criou um ambiente em que acabou com a instabilidade de um sistema em ruínas e garantiu a fidelidade das elites. Ele tem também nada menos que 86% de aprovação popular. Pode fazer o que quiser. Até quando não precisa se livrar de indivíduos que saem da sua linha justa, mas faz isso mesmo assim. Ou deixa todo mundo pensando que fez, o que tem o mesmo efeito mafioso de insuflar o medo e a subserviência.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

domingo, 18 de maio de 2025

Está chegando a hora: maioria em Israel apoia fim da guerra em Gaza.

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 16 de maio de 2025

Está chegando a hora: maioria em Israel apoia fim da guerra em Gaza.

Inclusive os que votam na direita; pesquisa mostra que a opinião pública mudou e Netanyahu terá que levar isso em conta. Vilma Gryzinski:

 certa altura, não dá mais. Mesmo com todos os motivos que explicam como Israel não teve alternativa depois de sofrer o brutal ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, o movimento, tanto internacional quanto interno, é por um acordo que encerre o conflito e liberte os reféns remanescentes. E caberá a Donald Trump encabeçar o processo.

A opinião pública está majoritariamente a favor disso, segundo mostra uma pesquisa encomendada pela Coalizão para a Segurança Regional, uma organização que não tem nada de pacifista e exalta os feitos militares de Israel, defendendo que todos os esforços devem se concentrar na ameaça representada pelo Irã.

A pesquisa, feita com israelenses judeus e árabes, que são 20% da população do país, indica que os israelenses estão dispostos a apoiar um acordo. Nada menos que 68,9% disseram que apoiariam uma iniciativa liderada por Trump que levasse à libertação dos reféns, o fim da guerra em Gaza, a normalização com a Arábia Saudita, o encaminhamento da separação com a população palestina não integrada ao Estado e à formação de uma coalizão regional contra o irã.

Cada uma dessas questões, obviamente interligadas, é de extrema complexidade. Para começar, o que fazer com o Hamas? A organização que mistura vários elementos – terror, militância armada, controle do que sobra das instituições de Gaza -, sofreu perdas enormes, provavelmente de um terço ou mais de seus integrantes, mas não está derrotada.

Interesses estratégicos

Qual força seria capaz de desarmá-la, o que nem todo o enorme poder das forças armadas israelenses conseguiu?

Só um acordo de enorme abrangência, envolvendo os países mais importantes do Oriente Médio = e nem assim com garantias absolutas.

Mas um dos passos mais importantes é a concordância dos israelenses, o que daria um colchão para Benjamin Netanyahu aterrissar caso seus aliados mais radicais saiam da coalizão de governo.

Note-se que, na pesquisa mencionada,, apenas 9,7% disseram que são contra um acordo. Os restantes 21,5% se declararam neutros.

Outra posição significativa: 61% dos israelenses apoiam a normalização com a Arábia Saudita – uma proporção na prática idêntica, de 60%, entre os que votaram em Netanyahu e aliados. Ou seja, a direita dá uma boa base de sustentação. Nesse espectro, 65% disseram que esse processo favoreceria os interesses estratégicos de Israel.

‘Fervorosa esperança’

Na visita à Arábia Saudita, Trump disse que o país deveria aderir à normalização, representada pelos Acordos de Abraão alcançados em seu primeiro mandato, em seu “próprio tempo”. Mas acrescentou ter “a fervorosa esperança, o desejo e o sonho” de que isso aconteça logo. É evidente que houve negociações que não se tornaram públicas.

Trump, como sempre, faz declarações contraditórias. Partidário firme do não intervencionismo, ele disse no Catar que “ficaria orgulhoso se os Estados Unidos” tomassem Gaza e transformassem o território numa “zona de liberdade”..

“Vamos deixar que coisas boas aconteçam, colocar as pessoas em casas onde estejam seguras”.

“Não é aceitável que as pessoas vivam debaixo dos escombros de prédios derrubados”.

Bem de Israel

Pode ser um ataque de trumpismo, mas o fato é que muitas coisas em Gaza estão se tornando inaceitáveis mesmo para quem apoia Israel e não faz absurdas declarações de genocídio.

Já está ficando clara, inclusive para os israelenses, a inutilidade da repetição dos mesmos ciclos – as forças israelenses reocupam constantemente as áreas das quais haviam se retirado, a população civil sofre as consequências dos ataques contra militantes emaranhados com ela, o preço em vidas e sofrimento é enorme, a imagem de Israel se consome e o impasse permanece.

Pelo bem de Israel e pela compaixão que todos os inocentes merecem, isso não pode continuar incessantemente.

Benjamin Netanyahu, um mestre em sobrevivência política, já deve ter percebido que os ventos mudaram. Ele teve razão em muitos momentos da guerra em Gaza, inclusive contra opiniões importantes, dentro e fora de Israel e não só da esquerda que o abomina. Se não fosse a ofensiva em múltiplas frentes, a situação seria diferente. Agora, com Donald Trump, com a situação no campo de batalha, com o apoio da opinião pública, pode ser a chance de mudar de tática.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Bolsas vão mal com o tarifaço? Imaginem se houver um ataque ao Irã

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 9 de abril de 2025

Bolsas vão mal com o tarifaço? Imaginem se houver um ataque ao Irã

Trump abre o caminho da negociação por um lado, por outro aumenta concentração de forças no cenário do Oriente Médio. Vilma Gryzinski:

“Não quero fazer o óbvio”, disse Donald Trump ao receber Benjamin Netanyahu. E o que é o óbvio? Em entrevista anterior, ele havia explicitado sua posição sobre o Irã: “Estamos na etapa final. Não podemos deixar que tenham uma arma nuclear. Alguma coisa vai acontecer logo. Eu preferiria um acordo de paz do que a outra opção, mas a outra opção resolverá o problema”.

Qualquer recurso à “outra opção” tem o potencial de desencadear uma crise de proporções épicas, mesmo que o último episódio – o bombardeio israelense a alvos da defesa antiaérea iraniana, em represália pelo ataque de drones e mísseis ordenado pelo regime teocrático – tenha sido absorvido com uma surpreendente contenção.

Os fatores em jogo agora são muito mais complexos: nenhum governante iraniano tem condições de desativar o programa nuclear, que nada secretamente vive no limiar da produção de uma bomba, e o país está vulnerabilizado pela perda ou enfraquecimento de aliados importantes.

O último acordo a respeito, negociado durante o governo de Barack Obama, foi fraco e deixou muitas portas abertas, amplamente exploradas pelo Irã.

Que tipo de concessão seria aceita por Donald Trump nas conversações que começam no sábado em Omã, num contato que deixa o governo israelense nada feliz?

PROPORÇÕES IMPREVISÍVEIS

A imprevisibilidade de Trump não permite previsões. Para reforçar a posição em eventuais negociações, a concentração de forças no cenário do Oriente Médio também é enorme. São dois porta-aviões, o Harry Truman e o Carl Vinson, com todo o respectivo cortejo, tendo cada um deles maior poder de fogo do que as forças armadas de países inteiros.

Também foi devidamente notada a presença de seis “aviões do Batman”, os futuristas bombardeiros B-2. Deslocados para a base da ilha de Diego Garcia, no meio do Oceano Índico, eles não foram escondidos em hangares, mas deixados bem à vista para qualquer satélite fotografar. A mensagem é óbvia: os americanos querem que sejam vistos.

“É o maior deslocamento de B-2 numa base avançada”, disse ao site Klip o dinamarquês Hans Kristensen, um especialista em acompanhar a movimentação de armamentos nucleares a serviço da Federação de Cientistas Americanos. A organização é da militância desarmamentista, mas a foto dos aviões é incontestável.

O B-2, um esguio gigante que tem uma envergadura de 52 metros (um Boeing 737 tem 32) e alcance de mais de onze mil quilômetros, foi desenhado para ser um avião fantasma que engana radares antiaéreos. O objetivo original era ser capaz de entrar furtivamente no espaço aéreo russo no caso de uma guerra nuclear. Mas foi modificado e hoje pode levar o tipo de bomba convencional, mas de altíssima capacidade explosiva, capaz de penetrar em bunkers como os escavados nas montanhas iranianas para esconder o programa nuclear.

Ao contrário dos outros bombardeiros avançados na região, em bases na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos, os B-2 deslocados para Diego Garcia podem entrar em ação unilateralmente, sem autorização dos respectivos países.

Mesmo com toda sua fenomenal capacidade, não resolveriam sozinhos a fatura. Haveria brutais retaliações contra Israel e uma conflagração de proporções imprevisíveis. Também é difícil que as instalações petrolíferas não fossem atingidas, provocando uma já declarada retaliação contra a infraestrutura de petróleo da Arábia Saudita, com todas as consequências tempestuosas para o planeta inteiro.

NÃO DÁ PARA DORMIR TRANQUILO

Irão as conversações diretas dar algum resultado positivo? Dificilmente – embora só seja possível torcer por isso. A favor de um acordo, pesa o fato de que o Irã está enfraquecido, tendo sofrido a “perda” da Síria, onde o regime derrubado era seu cliente, além dos golpes sofridos por outros apaniguados, como o Hezbollah e o Hamas.

Se as negociações fracassarem, irá Trump partir para o ataque?

Era possível afirmar que o Trump do primeiro mandato não faria isso. Ao contrário da imagem agressiva que transmite, aquele Trump era fundamentalmente contra o envolvimento em guerras distantes.

Sobre o Trump do segundo mandato, não dá para garantir nada categoricamente. Ele tem feito muitas ameaças de grande efeito retórico que não são seguidas da ação correspondente, exatamente o oposto do que um líder deve fazer. Em contrapartida, não só cumpriu o que disse que ia fazer no caso das tarifas como foi muito além do esperado.

Atualmente, não dá para dormir com tranquilidade em lugar nenhum do mundo. Muito menos em Teerã.

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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Três camadas de mísseis protegem Israel, mas não são invulneráveis.


Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 9 de outubro de 2024

Três camadas de mísseis protegem Israel, mas não são invulneráveis.

O país consegue sobreviver relativamente intacto porque tem múltiplos sistemas antiaéreos, colocados à prova por ataques do Hezbollah e do irã. Vilma Gryzinski:

Imaginem qual a gravidade da situação no Oriente Médio, já altamente perigosa, se a ação conjunta de Hamas, Hezbollah e Irã tivesse provocado várias dezenas de milhares de mortos com seus múltiplos ataques de foguetes e mísseis.

“Estamos lançando centenas de foguetes e dezenas de drones”, jactou-se ontem o chefe interino do Hezbollah, Naim Kassem, celebrando o ataque que “mudou a face do Oriente Médio” e a própria entrada da organização terrorista numa guerra com a qual o Líbano não tinha nada a ver, em 8 de outubro passado, além da sobrevivência dos combatentes e das baterias aéreas da organização terrorista.

Kassem está numa posição de alta precariedade, considerando-se que o número 1 do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e seu sucessor designado – “E o substituto do substituto”, nas palavras do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – já foram mortos em bombardeios que penetram nos mais profundos esconderijos debaixo da terra. Sua “abertura” a um cessar-fogo, sem condicioná-lo a Gaza, como é habitual, indicou os pontos fracos.

Mas o fato é que o Hezbollah, mesmo atingido pela tática israelense de decapitar a cadeia de comando, conseguiu fazer uma demonstração de sobrevivência e alguns foguetes furaram a invisível barreira de proteção que salva Israel da destruição pretendida por seus inimigos.

JOGO DO INIMIGO

Também é fato que alguns mísseis iranianos disparados na terça-feira da semana passada atingiram a base aérea de Nevatim, embora sem afetar os aviões de guerra lá baseados. A conclusão foi tirada por analisas estrangeiros com base em fotos de satélites e minimizada pelas autoridades israelenses – na guerra, dizer onde o inimigo furou as camadas de defesa é fazer o seu jogo.

O ataque do Irã, embora muito longe de envolver 90% de acerto, como afirmou o regime dos aiatolás, em sua realidade paralela, teve 20% dos mísseis não interceptados. Do total dos duzentos mísseis disparados que explodiram nos céus, 20% foram interceptados pelos Estados Unidos antes de entrar em espaço aéreo israelense, com participação de forças britânicas e jordanianas.

A avaliação do que aconteceu indica que o regime iraniano aprendeu com o primeiro ataque, no dia 13 de abril. Deixou de lado os drones, que havia utilizado em massa no ataque inicial, porque são detectados com grande antecedência e são fáceis de derrubar. Um dos modelos de míssil disparado na semana passada é chamado de Fattah, com capacidade de voar a cinco vezes a velocidade do som. Quanto maior a velocidade, mais difícil a interceptação.

Como Israel faz para escapar, até hoje, com danos bastante pequenos, mesmo que as pessoas tenham que correr para abrigos antiaéreos quando soam os alarmes e vivam sob alta tensão?

SANGUE FRIO

São três as camadas de defesas antiaéreas que protegem o país, cujas dimensões reduzidas tanto o tornam altamente exposto a ataques – tem, por exemplo, apenas nove estações geradoras de eletricidade, o que faz cada uma ter importância vital – como facilitam a barreira invisível.

A primeira e mais conhecida dessas camadas é a Cúpula de Ferro, bateria móvel que derruba mísseis de curto alcance, de até 70 quilômetros de alcance e 10 quilômetros de altitude. São os foguetes mais comuns, do tipo usado pelo Hamas, muitas vezes feitos com tubulações que deveriam prover água aos habitantes de Gaza e fertilizantes turbinados.

Cada foguete disparado é detectado por radares. O sistema de controle calcula sua trajetória e os operadores – humanos – têm que resolver se acionam os mísseis interceptadores ou deixam que os artefatos mal direcionados explodam em locais não habitados. Cada interceptador custa 50 mil dólares e a ideia é otimizar seu uso, demandando extremo controle situacional, também chamado de sangue frio, dos operadores.

O sistema foi projetado pela Rafael Advanced Defense Systems e pelas Indústrias Aeroespaciais de Israel, com colaboração e muito dinheiro dos Estados Unidos. Muitos países sonham em ter uma proteção similar, com um índice de acerto calculado em 90%. Imaginem o que é sofrer um ataque de 180 foguetes, como o de ontem do Hezbollah, e não ter nenhuma vítima fatal.

VIDEOGAME LETAL

Para mísseis de alcance maior, o sistema de reação é chamado de Funda de Davi – ou Varinha Mágica para israelenses. Tem capacidade para atingir mísseis balísticos de curto, médio e longo alcance, além de aviões, drones e mísseis de cruzeiro, que alteram sua trajetória. Custa um milhão de dólares cada vez que é disparado.

O terceiro sistema de proteção, o Arrow (Flecha), não é percebido em terra, como os que oferecem o letal videogame visto várias vezes nos céus de Israel. Intercepta mísseis a 50 quilômetros acima da superfície, na camada superior ou alta da atmosfera. Os atacantes começam a entrar em seu alcance a 2,4 mil quilômetros de distância. Custa três milhões de dólares por míssil.

A ideia dos inimigos é, obviamente, saturar as defesas, disparar tantos artefatos que a tríplice proteção acabe não dando conta.

A grande questão que mesmeriza o mundo no momento é como vai ser a reação de Israel ao último ataque iraniano. Internamente, existe grande pressão por uma retaliação de largo alcance, abrangendo instalações petrolíferas e até nucleares.

“Netanyahu entraria para a história como defensor de Israel e do Ocidente”, insuflou o parlamentar Mose Saada, do Likud, mesmo partido do primeiro-ministro.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos fazem pressão por uma resposta moderada – em troca, ofereceram a Israel até um pacote de benefícios diplomáticos e em armamentos. Joe Biden vai falar hoje por telefone com Bibi, depois de semanas de comunicações mantidas em níveis mais baixos devido ao péssimo relacionamento entre os dois. Segundo o New York Times, a hipótese do ataque a alvos nucleares está suspensa.

ONDAS DE BOMBARDEIOS

O Irã espalhou as instalações nucleares em mais de uma dezenas de pontos, escavados debaixo de montanhas, justamente prevendo que um dia poderiam ser atacadas por Israel, o país que o regime fundamentalista diz que pretende varrer da face da Terra.

Só sucessivas ondas de bombardeios de alto poder explosivo, feitos com aviões, poderiam atingi-las. Seria uma operação de alta complexidade, exigindo reabastecimento em voo devido à distância de quase dois mil quilômetros de Israel até os alvos.

O Irã reagiria em grande escala e as três camadas de proteção antiaérea poderiam, a certa altura, ser furadas, com consequências gravíssimas.

Mesmo em todas as guerras anteriores de países árabes contra Israel nunca existiu uma situação de extremo perigo como a que o país enfrenta agora. E nunca a tríplice proteção, produto de alta tecnologia, engenhosidade e, claro, muito dinheiro, foi tão necessária.

Não existe dinheiro que pague salvar vidas de sua própria população e também prover uma garantia que funcionou bem até agora, permitindo em si mesma, pela ausência de grande número de vítimas, conflagrações controladas. A tríplice proteção bancou conflitos que não se alastram vertiginosamente.

Ressalve-se o até agora.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Terrorista que explodiria fãs de Taylor Swift ‘acha certo matar infiéis’

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 9 de agosto de 2024

Terrorista que explodiria fãs de Taylor Swift ‘acha certo matar infiéis’

O que explica a ideologia ultrarradical de jovem de 19 anos planejou um atentado em grande escala contra show da cantora em Viena. Vilma Gryzinski:

“Ele claramente se radicalizou na linha do Estado Islâmico e acha certo matar infiéis”. As palavras do diretor de Segurança Pública do Ministério do Interior da Áustria, Franz Ruf, são de arrepiar. Mostram que a praga do extremismo islâmico que parecia controlada na Europa só procura uma brecha para aflorar de novo.

O terrorista, que confessou o crime planejado para ontem ou hoje, é austríaco com origem num país que a maioria das pessoas nem sabe que existe, a Macedônia do Norte. Foi identificado apenas como Beran A., como exigem as leis austríacas.

Vivia com a família num bom sobradinho – ser refugiado na Áustria tem muitas vantagens. A polícia está investigando se ele tinha cúmplices infiltrados no esquema de segurança do show cancelado de Taylor Swift. Um outro jovem, de 17 anos, também foi preso.

No atentado, ele planejava jogar o carro contra fãs da cantora do lado de fora do estádio onde seria o show, usar um colete-bomba e facas e machetes. Vários materiais explosivos foram encontrados em sua casa. As armas aparecem no vídeo que ele fez antes do atentado frustrado, prestando juramento ao Estado Islâmico.

É um ritual comum do terrorismo que se tornou tragicamente conhecido depois do 11 de Setembro de 2001, o maior conjunto de atentados terroristas da história.

AGENTE INFILTRADO

A radicalização, refletida em sinais externos como barba muito grande e roupas longas de mangas compridas, não era nenhum segredo. “Ele parecia um agente terrorista infiltrado”, resumiu uma jovem moradora do mesmo bairro.

Não seria um atentado sem precedentes. Em 22 de maio de 2017, Salman Abedi explodiu uma mochila-bomba no saguão de entrada do Manchester Arena, onde a cantora Ariana Grande atraía o habitual público de meninas e adolescentes. Foram 22 mortos, na maioria menores.

Abedi foi ajudado por seu irmão, Hashem, e deveria estar sob vigilância estreita – ou simplesmente ter sido expulso da Grã-Bretanha. Os dois irmãos tinham estado na Líbia e mantido contatos com o braço da Al Qaeda no norte da África.

A Inglaterra atualmente está vivendo momentos de alta volatilidade por causa de um outro caso, cujas investigações ainda são sigilosas, mas que provocou reações extremas: o esfaqueamento em massa de meninas que participavam de uma aula de dança com tema Taylor Swift na cidade de Southport. Três crianças morreram. O assassino é Axel Rubakubana, de 17 anos, filho de exilados de Ruanda.

ATÉ AS PEDRAS

O processo de ultra-radicalização de jovens que vivem em países democráticos, avançados e cheios de projetos para dar uma chance a todos (a polícia alemã, por exemplo, cogita dar um ano de Netflix grátis para imigrantes que entregarem suas facas) é intensamente estudado por autoridades de policiamento e inteligência, além de acadêmicos.

Todos costumam tomar os maiores cuidados para não criminalizar toda a religião muçulmana, com centenas de milhões de seguidores que vivem na lei e na ordem. Mas existe evidentemente uma conexão dos ultrafundamentalistas com os preceitos que se propagaram a partir do século VI. É possível tanto usá-los para uma vida pacífica, com atos de fé e filantropia, quanto usar trechos do Corão para pregar que os muçulmanos não podem “tomar cristãos e judeus como amigos” e que até as pedras dirão “tem um judeu atrás de mim, venha matá-lo”.

A radicalização sempre aflorou em várias correntes da religião muçulmana, mas o fenômeno moderno surgiu no Egito do começo do século XX, com a Fraternidade Muçulmana, um movimento cuja ideologia fundamentalista predomina entre os palestinos do Hamas. Pelo lado da minoria xiita, uma palavra que se tornou sinônimo de radicalismo, o extremismo domina as instituições do Estado no Irã. Ambos, atualmente aliados, pregam a extinção de Israel.

“SÓ UMA VEZ”

As autoridades policiais europeias têm feito um trabalho extraordinário para coibir atentados terroristas, inclusive como se viu agora na Áustria. Mas a realidade é que na Inglaterra, na França, na Bélgica e outros países com grandes populações com origem em países muçulmanos a quantidade de suspeitos de radicalismo que precisam ser acompanhados pelos serviços de inteligência é de muitos milhares. Os “lobos solitários”, jovens que se radicalizam na internet sem integrar uma organização, são os mais difíceis de policiar.

Na França, os suspeitos de extremismo são conhecidos como “ficha S”. Todos os autores de atentados terroristas no país estavam nessa categoria de vigiados, mas não processados. A vigilância foi redobrada por causa das Olimpíadas, mas é impossível garantir que algum desses radicais não consiga driblar os serviços policiais.

“Só precisamos dar sorte uma vez”, disseram os terroristas irlandeses do IRA depois de tentarem assassinar Margaret Thatcher com uma bomba escondida em seu quarto de hotel, em 1984.

Já a polícia tem que acertar sempre, como aconteceu agora na Áustria, nem que seja nos últimos instantes.

Imaginem o que é a tensão agora em torno dos shows de Taylor Swift em Londres, com protestos misturando a extrema direita, cidadãos comuns revoltados com o esfaqueamento das meninas, contramanifestações de esquerda e grupos organizados de muçulmanos atacando ingleses brancos. Um vereador foi preso por gritar “temos que cortar a garganta” dos fascistas. É uma amostra do clima que se instalou no país.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

domingo, 26 de novembro de 2023

A síndrome de Susan Sarandon: só vale o sofrimento das vítimas padrão

Publicação compartilhada do blog BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 23 de novembro de 2023

A síndrome de Susan Sarandon: só vale o sofrimento das vítimas padrão.

Entorpecimento moral das esquerdas não admite que israelenses judeus tenham sido massacrados porque isso não combina com narrativa. Vilma Gryzinski.

Susan Sarandon é um prodígio que chegou aos 77 anos ainda ativa numa indústria cuja matéria prima é a beleza – o talento vem bem depois. Teve uma vida movimentada no topo do mundo, ganhou Oscar, foi a Louise da Thelma de Geena Davis, colecionou namorados como Louis Malle, David Bowie e Sean Penn. Foi sempre esquerdista, à maneira americana. Aparentemente, nunca questionou suas convicções, um trabalho árduo só recomendado para quem quer sair da zona de conforto.

Firmemente instalada nessa zona, falou uma das maiores barbaridades do atual ciclo de horrores desencadeado pelo novo conflito no Oriente Médio. “Existe muita gente que está com medo, com medo de ser judeu nesse momento, e está experimentando o gosto de como é ser muçulmano nesse país, tão frequentemente submetidos a violência”, disse ela numa manifestação a “favor dos palestinos” – atos que se transformaram em manifestações anti-israelenses e antiamericanas.

Perdeu a agência de talentos que a empresariava e ganhou uma resposta irretorquível da jornalista conservadora Asra Nomani. Com a experiência de ter nascido numa família muçulmana da Índia, ela escreveu: “Não minimize a experiência de judeus americanos sanitizando o inferno que é ser muçulmano em países muçulmanos”. Segue-se uma lista de exemplos desse inferno, em comparação com a liberdade e as oportunidades encontradas pela família dela nos Estados Unidos.

Por que uma pessoa inteligente e experiente como a atriz não admite que judeus americanos estejam chocados com as manifestações de ódio de que são alvo e que judeus israelenses sofreram incontáveis atos de uma perversidade quase sem precedentes?

Porque a “narrativa” estabelece um padrão de pensamento: eles são os vitimizadores. Não podem ser vítimas. Mesmo com a abundância de testemunhos e provas do que aconteceu na coleção de kibbutz perto de Gaza – ironicamente, com uma maioria de habitantes simpáticos à esquerda, como herdeiros de uma das mais radicais experiências de coletivização já feitas em qualquer lugar do mundo, onde nem salários havia e todos trabalhavam por ideais, tirando da caixa comum o que precisavam.

Por causa dessa distorção, também não encontram eco nos meios esquerdistas as violências sexuais indescritíveis cometidas na invasão do Hamas. É difícil até escrever sobre testemunhos como o de uma mulher identificada apenas pela letra S que contou o que viu, enquanto se escondia num matagal na área da rave invadida pelo Hamas em 7 de outubro. Uma jovem de cabelos castanhos compridos, contou, foi estuprada por vários homens armados, teve o seio amputado e jogado entre os estupradores, como numa brincadeira. O derradeiro atacante deu um tiro na cabeça dela enquanto ainda a violava.

Uma exceção nesse estado de negação veio da França, com um abaixo assinado divulgado no dia 10 com nomes de esquerda, como a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e a atriz Charlotte Gainsbourg, apelando “às feministas e simpatizantes de nossa causa para que os massacres de mulheres perpetrados em 7 de outubro em Israel sejam reconhecidos como feminicídios”.

“As violências cometidas contra essas mulheres correspondem em tudo ao feminicídio, ou seja, a morte de mulheres ou meninas em razão de seu sexo. Mulheres foram exibidas nuas. Mulheres foram violentadas a ponto de fraturar o quadril. Seus cadáveres foram igualmente violentados. Seus órgãos genitais foram mutilados. Urinaram sobre seus restos mortais. Algumas foram decapitadas, outras desmembradas e queimadas. Outras foram tomadas como reféns”.

“Até uma triagem foi feita entre as reféns: as bonitas foram levadas e as outras, mortas. Mulheres deficientes também foram violentadas e mortas, como Noya, autista, e Ruth, tetraplégica”.

Como um ser humano pode saber disso e não se abalar? Como falar “todes menines” pode ser uma causa tão importante e um nível avassalador de violência em massa contra mulheres passar em branco?

A síndrome de Susan Sarandon tem que ser quebrada por pessoas que não consigam negar os fragmentos de humanidade que existem nelas. É de seu próprio interesse validar essa humanidade.

Quando os primeiros reféns estiverem sendo trocados amanhã, todos verão crianças pequenas que foram capturadas como troféus. Ninguém poderá negar quem fez isso, mas muitos certamente continuarão tentando.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

No mundo Telegram, adianta proibir o Hamas e a propaganda contra Israel?


Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 3 de novembro de 2023

No mundo Telegram, adianta proibir o Hamas e a propaganda contra Israel?

A Alemanha colocou na ilegalidade atividades relacionadas ao grupo fundamentalista, mas há dúvidas sobre a efetividade da proibição. Vilma Gryzinski:

Por motivos óbvios, ligados aos horrores do passado não tão distante, a Alemanha sente uma responsabilidade especial em relação a Israel.

Como já havia anunciado, o governo alemão proibiu uma organização chamada Samidoun, que diz, inocentemente, defender direitos de presos palestinos, e endureceu as interdições a atividades relacionadas ao Hamas, a quem já define como grupo terrorista. O primeiro anúncio foi feito logo depois que se conheceram as atrocidades praticadas em Israel e o Samidoun promoveu a distribuição de doces numa rua de Berlim, uma forma tradicional de demonstrar alegria.

“Realizar manifestações de júbilo aqui na Alemanha em resposta aos terríveis ataques terroristas do Hamas contra Israel comprova de maneira especialmente perversa a visão de mundo antissemita e desumana do Samidoun”, disse a ministra do Interior, Nancy Faeser.

A eclosão do conflito em Gaza, depois dos ataques terroristas, criou nos Estados Unidos e na Europa um conflito de reações: é lícito incentivar e comemorar as terríveis violências que deixaram 1 400 mortos? Jovens universitários e descendentes de imigrantes muçulmanos podem sair pelas ruas festejando esse festival de atrocidades, aos gritos de “Do rio ao mar, Palestina vai ganhar” – significando a erradicação de Israel?

Nos Estados Unidos, com as garantias à liberdade de expressão acima de tudo, é mais difícil controlar manifestações, mesmo as mais hediondas. A reação acontece em outros níveis: processos contra universidades que não garantiram a segurança de estudantes judeus e corte de contribuições feitas por ex-alunos milionários de ascendência judaica.

Na Europa, a Alemanha tomou uma iniciativa que o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, havia tentado, de proibir manifestações em favor da Palestina, mas o Conselho de Estado, que funciona como um Supremo Tribunal em questões constitucionais, derrubou a interdição.

Na Inglaterra, a polícia chamou para depoimento duas mulheres que participaram de manifestações levando coladas nas costas fotos dos parapentes usados por soldados do Hamas para atravessar a cerca que separava Gaza de Israel e praticar atrocidades como mutilar, fuzilar incinerar, sequestrar e estuprar pessoas de todas as idades.

Foi mais uma encenação. Na verdade, a atitude da polícia está sendo contestada depois que agentes da lei foram filmados arrancando retratos de crianças levadas como reféns para Gaza. Isso mesmo: parece inacreditável, mas a polícia suprimiu cartazes de vítimas em nome da “harmonia comunitária”.

Outra discussão envolvendo a polícia foi a respeito dos gritos de “jihad, jihad, jihad” enunciados em várias manifestações. Debateu-se se a convocação à guerra santa pode ser uma incitação à violência ou uma simples expressão de ânimo combativo segundo os preceitos da religião muçulmana.

Seria de dar risada se não fosse a gravidade do momento, com os ataques terroristas tendo provocado a previsível reação de Israel e a trágica sequência de mais vítimas.

Existe também um debate mais amplo: qual o sentido de tentar controlar gritos de incitação à violência nas ruas quando no mundo das redes sociais o tom é muito mais alucinado. Não é um debate que acontece no nada: o Parlamento israelense vai votar uma lei estabelecendo um ano de prisão para quem consome conteúdo gerado por terroristas de forma “constante e sistemática”, indicadora de “identificação” com a causa.

É, obviamente um perigo. Inclusive considerando-se que o conflito atual vem sendo travado, também no Telegram de uma forma como nunca se viu antes. Os ataques do Hamas contra as comunidades israelenses fronteiriças foram transmitidos ao vivo, literalmente. Como em vários outros aspectos, o “exército cibernético” de Israel foi pego de surpresa e saiu atrás na batalha virtual. Os próprios israelenses tomaram conhecimento dos ataques quando viram no Telegram soldados sendo trucidados e os jovens participantes da rave no deserto sendo massacrados.

Centenas de milhares de usuários baixaram o aplicativo, tanto em Israel quanto nos territórios palestinos, segundo uma reportagem da revista Wired. Pavel Durov, o russo que transferiu para Dubai a estrutura operacional do Telegram, disse que “todos os envolvidos deveriam ter acesso confiável a notícias e comunicações privadas nesses momentos difíceis”.

Enquanto o Hamas postava ao vivo, aperfeiçoando uma tática desenvolvida pelo Estado Islâmico, os canais oficiais israelenses, entre os mais sofisticados do mundo, ficavam em silêncio. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu só foi à televisão cinco horas depois do início dos ataques, anunciando que o país estava em guerra.

“Como aconteceu na invasão russa da Ucrânia, o Telegram se viu no centro de uma complexa crise geopolítica e humanitária”, disse a Wired, anotando a “estratégia de mídia mais sofisticada” do Hamas.

O terror hoje é viral, o Telegram é o seu profeta e múltiplos governos, como sempre, estão bem atrás da realidade.

Pavel Durov só interferiu ao bloquear um canal relacionado ao grupo do Daguestão que saiu numa “caça aos judeus” em aeroportos locais. “Perseguir pessoas com base em sua nacionalidade ou sua religião é inaceitável”, escreveu ele. “Canais que clamam por violência serão bloqueados por violar as regras do Telegram, do Google, da Apple e de todo o mundo civilizado”.

Esse mundo civilizado está passando por um tremendo teste no momento e as provações vão aumentar mais ainda.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Tchau, tchau: imposto sobre fortuna leva ricos a ir embora da Noruega.

Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 12 de abril de 2023

Tchau, tchau: imposto sobre fortuna leva ricos a ir embora da Noruega.

Até num país que parece perfeito, a animosidade contra quem tem muito — e a mordida do leão nórdico — provoca consequências indesejadas. Vilma Gryzinski:

Imaginem um país que tem tudo: o estado de bem-estar social cobre todas as necessidades básicas dos moradores, a renda per capita é de quase 89 mil dólares e o fundo soberano criado com a venda do petróleo e do gás do Mar do Norte, a salvação da pátria para muitos dos russosdependentes depois da invasão da Ucrânia, é o maior do mundo.

Por causa desse fundo, desde 2014 todos os 5 milhões de noruegueses são tecnicamente milionários: dividindo-se a reserva nacional por cada habitante, dá mais de um milhão para cada pessoa na moeda local, a valorizada coroa.

Ainda por cima, é um dos países menos corruptos do mundo, com o quarto lugar no índice da Transparência Internacional (o Brasil tem, vergonhosamente, noventa posições à frente).

Como nos outros países escandinavos, os benefícios custam caro e são resultado de um contrato social que faz com que as pequenas, homogêneas e igualitárias populações se vejam como sócias de um clube exclusivo: pagam uma mensalidade cara, mas desfrutam de muitas vantagens.

Pois até para quem está acostumado a sofrer uma nórdica mordida do fisco tem reclamado do aumento — de 0,1% — do imposto sobre riqueza, uma iniciativa do governo do Partido Trabalhista, de centro-esquerda.

Como dinheiro é um bicho muito sensível, principalmente quando existe a possibilidade de que seja estacionado em outro lugar, o jornal Dagens Naeringsliv fez uma reportagem enumerando o recorde dos muito ricos que estão deixando o país, indo se instalar na Suíça. No ano passado, foram mais de trinta bilionários a ir embora.

Ironia: a Suíça, como a Noruega e a Espanha, é um dos poucos países europeus a cobrar imposto sobre fortuna. Mas, além da estabilidade e da atmosfera parecida com a da Noruega, alguns cantões oferecem vantagens fiscais às pessoas que residem no país, mantendo a atividade profissional no exterior. Os impostos são baseados no padrão de vida e cobrados sobre gastos particulares.

Taxar fortunas é uma das bandeiras da esquerda desde que desistiu, de modo geral, de socializar os meios de produção. Embora demagógica, não é uma bandeira impopular: pela natureza humana, qualquer um que não seja muito rico tende a se incomodar com quantidades fabulosas de dinheiro que os empreendedores bem sucedidos — ou herdeiros confortáveis — conseguem criar.

Até 1990, doze países da OCDE taxavam fortunas, lembra o Telegraph. A expansão da globalização inverteu a tendência. Diante das facilidades para transferir negócios num mundo com fronteiras mais abertas, aumentou o risco de migração dos muito ricos.

A França, onde até pessoas razoavelmente esclarecidas continuam a achar que o jeito de equilibrar as contas públicas e manter a aposentadoria aos 62 anos é “taxar os ricos”, só acabou com esse imposto em 2017. Segundo uma empresa especializada no tema, 60 mil milionários franceses foram para outras bandas entre os anos 2000 e 2016. Isso sem retroceder ao desastroso programa de François Mitterrand, nos anos oitenta, quando a polícia revistava porta-malas de franceses que fugiam para a Suíça, assustados com a taxação jacobina. Deu tão errado que Mitterrand, o presidente socialista, teve que reverter tudo.

O imposto sobre fortuna, por motivos óbvios, acaba provocando o efeito oposto ao desejado: as contribuições são uma gota d’água no mar de necessidades dos estados modernos e acabam espantando muitos dos que poderiam justamente criar as riquezas que beneficiariam todo o país.

Nem é preciso ver o exemplo da Argentina. Mas vamos entrar no assunto assim mesmo. Em 2020, o governo do presidente Alberto Fernández, cedeu, como sempre, à pressão do primeiro filho, Máximo Kirchner, e criou a cinicamente chamada Contribuição Solidária e Extraordinária para “ajudar a abrandar os efeitos da pandemia”.

Cobrado uma vez só, o imposto foi pago por cerca de 10 mil argentinos das faixas mais altas de patrimônio. Produziu 247 bilhões de pesos — dá angústia quanto valeriam hoje, diante das desvalorizações constantes —e nenhum efeito. O país está lamentavelmente mais pobre, com 39,2% dos argentinos hoje incluídos na categoria — 18,6 milhões de pessoas, das quais 8,1% indigentes.

Como cobrar impostos justos sem produzir efeitos contrários, com a “descriação” de riquezas, é uma discussão eterna. Na Noruega, o imposto sobre fortuna corresponde a apenas 1% do total arrecadado pelo fisco. Também é de 1% o total cobrado de cada contribuinte sobre o que ganhe acima do equivalente a 160 mil dólares por ano. Desse total, 0,3% vão para os cofres nacionais e 0,7% ficam nos municípios.

Só quem não paga imposto são o rei Harald, a rainha Sonia e o príncipe herdeiro Haakon. Como os outros escandinavos, os membros da realeza têm hábitos menos caros e fortunas comparativamente modestas. A riqueza da família real norueguesa é calculada em 30 milhões de dólares, contra os 500 milhões que o rei Charles herdou no ano passado da mãe falecida. A realeza em Mônaco vale 1 bilhão e, na Arábia Saudita, 1,4 trilhão de dólares.

Não existe nada mais permanente do que um imposto temporário, dizia Milton Friedman, e o governo norueguês, instalado em 2021, está pensando numa taxação extra sobre quem deixa o país. Já foi tentado antes e até na tão bem sucedida Noruega tem boa probabilidade de dar errado. Os ciumentos vizinhos escandinavos, igualmente com alíquotas altíssimas de impostos nas camadas mais altas de rendimento (56,95% na Finlândia, 55,90% na Dinamarca e 52,90% na Suécia), estarão vigiando tudo — e, dizem alguns, torcendo contra.

Estão, pelo menos, garantidos: nunca terão um padrão de vida comparável ao da Costa do Marfim, o país que cobra mais impostos do mundo, com alíquotas até 60% — e tem um PIB per capita de 2,5 dólares.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com