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quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

As férias de Bolsonaro já duram 3 anos

 

Post de Tabata Amaral, em sua fanpage no Facebook, de 28/12/2021

 

As férias de Bolsonaro já duram 3 anos. 


 E, enquanto ele curte as praias de Santa Catarina, a Bahia se afoga no caos de uma tragédia climática. 

 

O presidente deveria liderar o socorro às vítimas, mas, mais uma vez, foge de suas responsabilidades! 


(Arte: Desenhos do Nando) 


Imagem e texto reproduzidos da fanpage/Facebook/Tabata Amaral 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

''Machismo não é monopólio da esquerda nem da direita,'' diz Tábata Amaral

Publicado originalmente no site do jornal CORREIO BRAZILIENSE, em 02/08/2020

''Machismo não é monopólio da esquerda nem da direita,'' diz Tábata Amaral

A astrofísica, cientista política e parlamentar Tábata Amaral fala sobre mulheres na vida pública, os enfrentamentos com o governo Bolsonaro e a sua atuação como ativista pela educação

Por Bertha Maakaroun/Estado de Minas

Interrupções, piadas jocosas, ofensas, ameaças, críticas dirigidas à aparência, mensagens pornográficas, campanhas de difamação pela internet com sexualização da imagem... Essas são algumas das manifestações dirigidas a mulheres que conquistam representação na política, o que faz desse um dos espaços mais violentos contra vozes que se levantam pela igualdade de gênero. O relato é da astrofísica, cientista política e deputada federal Tábata Amaral (PDT-SP). ;Quantas vezes fui interrompida na Câmara? Quantas vezes disseram que não tinha capacidade, que eu era burra, que não deveria estar ali? Quantas vezes já insinuaram que eu era teleguiada por um homem, que eu não tinha capacidade para tomar as minhas decisões? O próprio presidente da República e os seus apoiadores já publicaram vídeos sexualizando imagens minhas. Essa violência toda não para por aí;, afirma a parlamentar, considerando que também dentro dos partidos grassa a discriminação.

O machismo não é monopólio nem da esquerda nem da direita, infelizmente está por todo lado, observa a Tábata, que acaba de lançar o livro Nosso lugar: O caminho que me levou à luta por mais mulheres na política (Companhia das Letras). Desde a infância pobre na periferia de São Paulo até a Universidade Harvard, a campanha eleitoral de 2018 para a Câmara dos Deputados ; em que conquistou 264 mil votos, apesar de desacreditada dentro de seu próprio partido ; são passagens abordadas no livro. Em entrevista ao Estado de Minas, a deputada fala sobre participação feminina na vida pública e outros assuntos, como a recente aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

O Fundeb foi aprovado pelos deputados apesar da postura do governo Bolsonaro, que só entrou na discussão na reta final, e depois comemorou a votação como se fosse vitória dele. Politicamente, como foram os esforços para a aprovação?

Começamos essa discussão há um ano e meio, em audiências, conversas e debates, trazendo a sociedade. O governo nunca participou. Nas últimas três ou quatro semanas, nos reunimos com integrantes do governo, mas com uma dificuldade muito grande, porque eles não conheciam a matéria, não dão a entender que priorizam a pauta da educação. No sábado, o governo apresentou uma proposta que não combina com um país que tem um problema tão grande na educação, que é o único caminho para que ele se desenvolva e seja mais inclusivo. Apresentaram uma proposta que deixaria 820 municípios, inclusive muitos de Minas Gerais, sem nenhum recurso do Fundeb, que retirava recurso da educação pública para a assistência social. Era proposta que se mostrou inconstitucional e, no fim das contas, fazia com que as pessoas tivessem de escolher entre um projeto de renda básica e um projeto de educação pública forte. Nós resistimos, a população participou e foi muito bonito ver, porque o governo logo se deu conta de que não teria os votos para aprovar a sua proposta. Conquistamos a duras penas o Fundeb permanente, maior, mais redistributivo, e pela primeira vez com o foco não só na equidade de financiamento, mas também na qualidade da educação, que é o que mais importa.

O campo da educação parece ter sido eleito pelo governo para uma ;guerra ideológica;. O que é possível esperar para o ensino público nos próximos anos?

O governo olha para o Ministério da Educação e vê uma oportunidade, um palanque para a sua guerra cultural, para a sua guerra ideológica: enxerga uma ideologia da qual discorda e quer colocar a ideologia dele no lugar. Eu e muitas pessoas vemos na educação a única oportunidade para que nosso país seja mais desenvolvido, justo e ético. Essa transformação não vai se dar com o MEC ditando ideologias ou atacando determinados grupos. Vai se dar se o MEC de fato sentar na cadeira um coordenador de políticas educacionais que diga: ;;Vou auxiliar as redes municipais e estaduais;. E pode fazer isso principalmente provendo recursos para melhorar os índices de alfabetização, melhorar a formação e a valorização dos professores, resolver os problemas de infraestrutura que temos ; como escolas que não têm acesso à água ou à internet. Isso vai muito além de uma discordância ideológica. É uma discordância de princípio, é injusto, é errado. Em quais momentos tenho esperança? Quando a gente vê a mobilização da sociedade, que no ano passado conseguiu reverter a maioria dos cortes na educação. Quando vemos este ano na votação do Fundeb.

Muitas mulheres sofrem e denunciam discriminação de gênero em suas trajetórias profissionais. Como tem sido a sua trajetória na Câmara dos Deputados?

Infelizmente, a política é um dos lugares mais violentos para as mulheres. E digo isso como pessoa que se formou também em astrofísica, um ambiente predominantemente masculino. Mas na política há tentativa constante de calar as mulheres. Isso se manifesta em piadas, interrupções, ofensas, ataques, ameaças. Se compararmos a forma como um deputado e uma deputada são criticados, é evidente que a forma de criticar a deputada vai mencionar a aparência, a roupa, seu tom de voz, sua vida pessoal. Quando as pessoas se sentem no direito de ofender e agredir dessa forma, outros se sentem autorizados a literalmente ameaçar e enviar mensagens pornográficas. A forma que encontrei de responder a isso é lutando para haver mais mulheres na política. Temos um movimento, Vamos Juntas, suprapartidário, e apoiamos nestas eleições 51 candidatas nas cinco regiões do país, de todo o espectro político, mulheres brancas, negras, com deficiência, mulheres trans. São elas que me dão esperança. Mas elas estão sofrendo coisas tão absurdas: ameaças, ataques, mensagens pornográficas. Isso no Brasil inteiro. Acredito que a cada ano vamos conquistar mais o espaço da política, mas essa conquista não virá por inércia. Não virá sem muita luta e muita resistência do outro lado.

Apesar das políticas de cotas desde a década de 1990, ainda assim temos a prática de candidaturas laranjas e o boicote dentro dos partidos para desviar recursos das candidaturas femininas. Como superar essa primeira barreira?

O machismo não é monopólio nem da esquerda nem da direita, infelizmente está por todo o lado; mas quantos partidos não burlaram essa regra? A explosão que vimos de suplentes de senador mulheres, candidatas a vice, candidatas que obtiveram financiamento só para as dobradinhas, que eram com homens. Então, é importante a mobilização da bancada feminina neste momento, para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dê uma regulamentação para isso, um direcionamento. Muitas das nossas conquistas históricas, infelizmente, primeiro avançaram no Judiciário e só depois no Parlamento. Quando falamos no Parlamento, há dois tipos de projetos apresentados, mas enfrentamos resistência para pautar: um deles coloca cotas no Parlamento, é a medida mais eficaz, mais rápida e que tem evidência mais robusta quando olhamos para outros países. Outro é um projeto de reforma partidária, que pede mais transparência, mais democracia interna e ética dentro dos partidos políticos. A luta é grande, mas este ano acho que conseguiremos fazer mais mulheres vereadoras e prefeitas. Temos hoje só cerca de 10% de representação feminina entre vereadoras e prefeitas, então temos espaço muito amplo a ser conquistado.

A senhora é frequentemente retratada como uma integrante da bancada Lemann na Câmara dos Deputados. Qual é a sua relação com Jorge Paulo Lemann?

Não apenas em relação ao Jorge Paulo Lemann. Dependendo da posição no espectro ideológico, vão dizer que sou financiada por fulano ou sicrano. Quando apoiadores do governo Bolsonaro querem me criticar e dizer que não estou aqui de uma forma legítima, dizem que sou financiada por George Soros, pelo comunismo, pelo globalismo que eu sequer sei o que significa exatamente. O que as pessoas querem dizer é que não é legítimo eu estar neste lugar, que alguém me colocou aqui. Jorge Paulo Lemann é um empresário, que tem uma atuação muito bonita por meio da Fundação Lemann, em prol da educação pública. Ele é ex-aluno de minha faculdade, um dos fundadores da Fundação Estudar, que me deu ajuda de custo quanto eu estudava em Harvard, mas uma ajuda que foi devolvida assim que consegui um emprego, quando voltei ao Brasil. E nenhuma dessas coisas me desabona. Tenho muito orgulho de ter conseguido essa bolsa da Fundação Estudar e tenho orgulho de ter podido devolver a minha bolsa na íntegra, pois tenho certeza de que isso vai ajudar outros estudantes. E a própria fundação tem essa cultura de retribuição. Então, tem de se esforçar muito para dizer que (sou influenciada) porque uma pessoa criou uma fundação, que me ajudou durante a faculdade, mesmo que eu tenha devolvido o dinheiro, mesmo que tenha recebido uma bolsa 100% de Harvard, trabalhado durante todo o período da faculdade, em posições administrativas e como babá, para me formar. Nunca recebi uma ligação de um empresário ou pessoa poderosa, para dizer como eu deveria votar. Este é um dos muitos absurdos que enfrento.

Eleita pelo PDT, a senhora recorreu à Justiça com pedido de desfiliação da legenda. Quando deixar a legenda, em qual partido no espectro ideológico pretende se filiar?

O meu partido se posicionou a favor de reforma da Previdência durante a campanha, apresentou uma proposta de reforma da Previdência que tinha um impacto maior do que aquela que votamos. Mas não conseguiu criar um consenso entre os deputados e, por uma decisão político-eleitoral, decidiu que seria contra a proposta que era votada. Votei de acordo com o que tinha dito que votaria, e de forma coerente com alguém que participou de todo o processo para melhorar o texto o máximo possível. Depois disso, o partido começou uma perseguição absurda contra mim e não contra os demais deputados que também haviam votado. Eu entrei com processo de desfiliação na Justiça faz um ano, ainda aguardo resultado. Eu me considero progressista, quem me acompanha não tem a menor dúvida em relação a quão objetivos são os meus posicionamentos. Mas não estou conversando com nenhum partido, pois não é o momento.

Num eventual cenário em que estejam concorrendo em 2022 Jair Bolsonaro à reeleição, Ciro Gomes, pelo PDT, um candidato do PT, a chapa Mandetta e Moro, João Doria pelo PSDB, Flávio Dino, pelo PCdoB, além da candidatura esperada do Psol, quem apoiaria para a Presidência da República?

A minha visão de mundo é extremamente conflitante com uma visão autoritária, antidemocrática, e espero fazer parte de uma construção que não leve à reeleição de Bolsonaro. Não tive a menor dúvida entre Bolsonaro e Haddad em 2018: soube que o meu voto seria no Haddad, porque me posiciono pela democracia, pelos direitos humanos, pela educação. Então, tenho certeza de que serão essas visões que irão guiar o meu voto. Mas acredito que essa é uma das coisas que mais atrapalham a nossa política. Estamos a dois anos das eleições, o que não faltam são problemas para resolver, aprofundados pela crise sanitária, e as pessoas gastam energia falando sobre uma questão que está tão distante. O que sei é que os princípios que me guiaram até aqui são os mesmos que vão me guiar nos próximos anos.

Texto e imagem reproduzidos do site: correiobraziliense.com.br

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

"Não gosto de definir o mundo em esquerda e direita". (Tabata Amaral)

Foto reproduzida da revista Veja e postada pelo blog para ilustrar a presente entrevista.

Texto publicado originalmente no site ESPORTE YAHOO, em 12 de fevereiro de 2021

"Não gosto de definir o mundo em esquerda e direita": dois anos depois, quem é e o que quer Tabata Amaral

Por Anita Efraim

Tabata Amaral foi eleita deputada federal em 2018, sendo a 6ª mais votada por São Paulo, com mais de 256 mil votos. Muito conhecida pela pauta da educação e da democratização do conhecimento e filiada do PDT, de Ciro Gomes, Tabata era entendida por muitos como um expoente da nova esquerda.

A parlamentar cresceu na periferia de São Paulo e tem como principal bandeira a educação. Dois anos depois de ter sido eleita, ela continua vendo na área seu grande tema de atuação e não tem medo de se colocar como progressista, já que a diminuição da desigualdade é um dos assuntos mais relevantes para ela. No entanto, pela vivência, ela diminui a relevância da divisão entre esquerda e direita.

“Eu sempre fui muito crítica, e acho que essa crítica tem a ver com eu vir da periferia, a resumirmos o mundo a esquerda e direita. Tem um comentário que eu ouvi durante a campanha, mas me lembro todos os dias, foi o Toni, companheiro da minha mãe, um sergipano super do bem, muito arretado, que me perguntou no final da campanha o que era essa tal de esquerda e direita que eu tanto falava. Porque, para quem está na ponta, isso não leva a nada”, afirma.

É comum nas redes sociais que quem refute a relevância da divisão entre esquerda e direita seja automaticamente chamado de “isentão” ou seja acusado de estar em cima do muro. Tabata nega ser qualquer uma das duas coisas. Ela avalia ter posicionamentos fortes e diz que “isentona” é a última coisa da qual podem chama-la.

Justamente por ter sido compreendida como uma política de esquerda, a deputada foi alvo de duras críticas ao votar pela Reforma da Previdência em 2019 e, mais recentemente, por apoiar o projeto de independência do Banco Central. Pelo apoio a mudança no sistema previdenciário há quase dois, Tabata recebeu ameaças de expulsão do PDT e, recentemente, entrou com um pedido no Supremo Tribunal Federal para sair da legenda.

Sobre o partido, ela garante que vai tentar se reeleger para o posto de deputada federal em 2022, mas por outra legenda. “Entendo que consigo ainda trabalhar muito pela educação aqui [no Congresso], que meu lugar na luta pela educação ainda é no Congresso. Não será pelo PDT por 10 mil razões que eu poderia listar”, diz.

O principal motivo, diz, é ter sentido que o partido colaborou para as ameaças feitas contra ela, especialmente em momentos cruciais de discordância, como a questão da Previdência e do Banco Central. “Não há espaço para construir em um lugar como esse, em que a discordância não é tolerada quando ela vem de uma mulher jovem”, afirma.

Sobre os votos, Tabata explica que constrói seus posicionamentos baseada em estudos, leva horas pesquisando os temas, embasando o voto e tenta fazer um vídeo explicando, de forma simples, o posicionamento. Sobre o Banco Central, ela concorda com tantos que disseram que o tema não deveria ter entrado na pauta em um momento como o que o Brasil enfrenta, mas, a partir do momento em que teria de ser votado, precisou construir uma opinião. Votou a favor por entender que faz parte de uma ideia moderna de economia, entre outros motivos.

Apesar da explicação feita nas redes sociais, nada impediu que ela fosse atacada por opositores. “O que acontece no Twitter em meio a essa polarização toda: você tem expoentes dos dois lados que precisam dessa polarização, que se alimentam desse ódio, que precisam dessa máquina rodando, que mentem, contribuem para essa polarização, mas colocam jargões e são incendiárias e, por trás disso, tem esse efeito manada”, avalia.

Outro aspecto ressaltado pela deputada é que, dada a alta rejeição do governo Bolsonaro, tudo que parte do poder executivo é ruim e tudo que sai da oposição é bom. E ela discorda.

Também favorável à reforma da Previdência, após estudar sobre o tema e formar uma posição, ela assume que não está no espectro da chamada “esquerda clássica” quando o tema é economia. “Sobre a previdência, eu entendi que essas políticas eram importantes para o combate à desigualdade e para o desenvolvimento da economia que, por sua vez, é importante para o combate à pobreza”, argumenta.

A parlamentar classifica a visão econômica que tem como de centro, por isso, acredita que está no espectro da centro-esquerda.

ELEIÇÃO EM 2022

Mesmo com votos a favor de temas propostos pelo governo, Tabata não deixa de se considerar parte da oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Para 2022, ela se diz muito preocupada, mas tem clareza: não quer participar nem do projeto bolsonarista, nem do projeto do PT, cujo candidato pode ser, novamente, Fernando Haddad.

“Acredito que foi essa polarização que nos trouxe até aqui. Então, estou trabalhando para que a gente tenha uma alternativa viável a esses dois projetos”, explica. Essa tentativa de criar uma “terceira via” será determinante para que a deputada escolha para qual partido irá até a próxima eleição. Questionada sobre alternativas, ela diz que não pode apontar sequer duas opções, porque está longe de qualquer definição.

Tabata Amaral apoiou a candidatura de João Campos (PSB), namorado da parlamentar, nas eleições municipais. E também foi “madrinha” política de Malu Molina (Cidadania), durante a campanha para vereadora em São Paulo. Ela nega que essa proximidade com qualquer um dos dois seja motivo para pensar nas legendas das quais fazem parte. “Hoje eu não consigo trazer nada mais concreto, até porque eu acho que pessoas que estão há política há muito mais tempo que eu estão tendo muita dificuldade de entender o que está acontecendo. As coisas estão muito bagunçadas ainda.”

Questionada sobre a possibilidade de Ciro Gomes, do PDT, ser essa terceira via, Tabata afirma que gostaria de algo novo para impedir uma repetição de 2018. Ainda assim, caso fosse uma opção entre Haddad e Bolsonaro, votaria em Ciro Gomes.

EDUCAÇÃO E GOVERNO BOLSONARO

Sobre o governo Jair Bolsonaro, as críticas são focadas especialmente na questão da educação. A avaliação da deputada é que, durante o primeiro ano de governo, o Ministério da Educação foi usado para divulgar pautas ideológicas, não ligadas a educação. Depois, quando o atual ministro, Milton Ribeiro, esse aspecto diminuiu – o que não quer dizer que o trabalho da pasta tenha melhorado.

Tabata acredita que a pandemia expos e aprofundou as mazelas e desigualdades que já marcavam o sistema educacional brasileira. “Nenhum dos problemas que estamos enfrentando, ou as consequências deles, são exatamente novos. Quando a gente fala do aumento da evasão, do desalento que está tomando conta dos nossos jovens, dos problemas relacionados a saúde mental, da desigualdade que fica tão exposta na pandemia, com alunos que não tem acesso à internet, um canto para trabalhar, que tem que ir para rua para ajudar seus pais, tudo isso fica mais exposto e mais profundo”, aponta.

“A frase mais simbólica do ministro atual é quando ele diz em resposta a um requerimento de informação, em uma reunião, que esse problema [da educação na pandemia] não é de responsabilidade do MEC. E eu li isso muitas vezes. Me preocupa muito. Se o MEC entende erroneamente que não é seu papel coordenar os esforços na pandemia, apoiar as redes que mais precisam, de quem é a responsabilidade, então?”, questiona.

Para ela, o Brasil teve muito azar de viver uma situação tão complexa, como a pandemia do coronavírus, com Bolsonaro no poder.

“Eu digo brincando que eu só conheço a experiência de atuar na política de agora, eu não sei como era antes, porque eu sequer tinha uma vida partidária e não participava da política. Mas agora, sendo sincera e sem nenhum tom de brincadeira: é um grande azar para o Brasil, não para mim. Porque eu sou ativista de educação no final do dia. Eu sou muito grata por estar em um lugar em que eu consigo ver o meu propósito avançando. Poxa, ter um trabalho que te move é um privilégio muito grande, como esse trabalho me move. Mas é um azar para o Brasil, um Brasil já tão desigual, com uma educação tão desigual, com alunos que já estavam muito desesperançosos, diante de uma pandemia tem um líder que, se fizermos um paralelo com uma guerra, está disposto a sacrificar parte de sua tropa.”

ATAQUES E REDES SOCIAIS

Entendida por muitos em 2018 como uma jovem de esquerda, a frustração fez com que eleitores de Tabata Amaral, ao lado de opositores, passassem a atacar a parlamentar nas redes sociais.

“Eu faço terapia, faço aula de canto, converso com meus amigos, porque não é simples. Eu tomei um posicionamento técnico [sobre o Banco Central e Reforça da Previdência] e do dia para a noite eu começo a ser ameaçada, inclusive por pessoas que são do meu partido e não tem nem receio de me marcar e falar que eu deveria ser fuzilada, de que estão mandando um veneno para mim, me chamam de puta para baixo”, desabafa. “É muito pesado, porque é na física, é sobre o meu corpo, sobre a minha vida. Você vai aprendendo. O que eu sempre penso: está no pacote de ser deputada federal ser criticada pelas pessoas, mas não deveria estar no pacote que eu receba ameaças de morte, que eu seja ofendida com tanta força, que as pessoas mintam descaradamente sobre mim e sobre meus posicionamentos.”

Em dois anos convivendo diariamente com o ambiente parlamentar, Tabata afirma ter aprendido melhor a lidar, mas continua sem considerar que os ataques sejam normais. A deputada acredita estar mais madura e segura de seus posicionamentos. Se pudesse escolher uma palavra para definir a si mesma, seria resiliente. “E vou continuar achando que as ameaças e os abusos não cabem na política, não tem nada de normal nisso. E a gente vai trabalhar para mudar essa situação um dia.”

Texto reproduzido do site: esportes.yahoo.com

sábado, 10 de outubro de 2020

O financiamento... de transferência de renda terá que sair do andar de cima.


Publicado originalmente no Facebook/Tabata Amaral, em 9 de outubro de 2020

O financiamento de uma política de transferência de renda terá que sair do andar de cima. Falta coragem ao governo para enfrentar os privilégios daqueles que recebem salários acima do teto constitucional e também para enfrentar uma reforma tributária justa, que cobre mais dos mais ricos e menos dos mais pobres. Está claro que o interesses de Bolsonaro estão focados nas eleições de 2022 e não nos brasileiros mais pobres. Há rumores, inclusive, de que o governo só quer implementar uma política de renda básica em um período mais próximo das eleições presidenciais. Isso é uma covardia com os milhões de brasileiros que ficarão desamparados depois do auxílio emergencial. Na minha coluna da Folha de São Paulo desta semana falei mais sobre esse assunto urgente!

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Tabata Amaral

domingo, 3 de maio de 2020

Tabata Amaral: "Já ouvi que era burra no microfone da Câmara..."

A deputada federal Tabata Amaral (Imagem: Divulgação)

Publicado originalmente no site da UOL/UNIVERSA, em 12 de março de 2020

Tabata Amaral: "Já ouvi que era burra no microfone da Câmara dos Deputados"

Por Camila Brandalise (De Universa)

A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) começou seu mandato, em 2019, como a queridinha entre os nomes recém-eleitos para o Congresso Nacional. E com louvor: foi a segunda mulher mais votada para o cargo em todo o país. Era vista como um sopro de esperança em meio ao desalento político que tomava conta do Brasil, principalmente após peitar o então ministro da Educação, Ricardo Vélez, por falta de projetos e estratégias na área, em maio do ano passado.

Meses depois, porém, recebia pedrada de todo lado ao votar a favor da reforma da Previdência. Vieram críticas do próprio partido, da esquerda, de movimentos sociais envolvidos com pautas que ela defende e de uma infinidade de seguidores nas redes sociais.

Quanto a isso, ela diz não se abalar. "Segui tudo o que acredito e sei o quanto trabalhei para melhorar aquele texto", afirma. E critica a oposição: "Se a esquerda inteira tivesse entrado para a negociação, a gente teria um texto muito melhor. O problema é que tinha a direita trabalhando, alguns gatos pingados à esquerda e o resto de braços cruzados", afirma a deputada, que voltou à mídia nos últimos dias por ter apresentado um projeto que propõe distribuição gratuita de absorventes para mulheres que recebem até um salário mínimo domiciliar per capita.

A polêmica se instaurou com a divulgação de que o projeto custaria R$ 5,25 bi para os cofres públicos, o que, segundo Tabata, é um "cálculo ridículo", já que é o governo que vai estipular o orçamento. O custo para tentar acabar com a chamada pobreza menstrual seria de R$ 119 milhões, ou 44 vezes menos do que alardeou-se. "Dizem que sou comunista, que só quero que mulheres pobres tenham acesso a absorvente. Que é absurdo que todo mundo pague por uma coisa para parte da população, e que é um absurdo para o meio ambiente."

Depois de um ano de mandato, ela aprendeu como funciona o jogo político. O que a abala, ainda, são os diversos ataques que recebe por ser mulher: já foi chamada de burra no microfone do plenário e de incapaz de ser relatora de um projeto. Já saiu chorando do Congresso. E perdeu a conta de quantas vezes ouviu o clichê de que "não passa de um rostinho bonito".

Um dia antes de conceder esta entrevista a Universa, feita por telefone na quarta-feira (4), contou ter sido barrada três vezes na entrada da Câmara. Resultado da falta de representatividade feminina. É para mudar isso que ela, agora, pretende se empenhar: com o projeto Vamos Juntas, vai mentorar mulheres para que se enredem na política e comecem suas trajetórias já nas eleições de 2020.

Abaixo, ela fala das suas propostas para mulheres — que não deixam de abarcar o tema da educação, sua pauta desde sempre — e da relutância inicial em candidatar-se por falta de referências femininas. Faz críticas à esquerda que a repreende e pede mudanças no feminismo atual. "Uma parte das feministas quer 'tirar minha carteirinha'."

Até hoje seu nome é alvo de críticas por ter votado a favor da reforma da Previdência. Como avalia o episódio?

Segui exatamente o que acredito em relação ao combate à desigualdade. E tenho muita consciência do quanto trabalhei para melhorar aquele texto. Eu fui para reunião para falar da questão das mulheres, negociei com bancada para melhorar a situação para os professores. Sentei com o relator da reforma [Samuel Moreira (PSDB-SP], com o Marinho [Rogério Marinho, secretário especial de Previdência e Trabalho] para conseguir mudanças. Eu tive coragem de lutar pelo melhor possível. Muita gente achou mais fácil se posicionar nas redes sociais e ficar de braços cruzados sabendo que o resultado poderia ter sido muito melhor se eles trabalhassem. O que ficou para mim é que incomodei porque mostrei que havia um caminho diferente. Eu lutei pelo melhor texto possível e não pelo vídeo que iria viralizar mais. Se a esquerda inteira tivesse entrado para a negociação a gente teria um texto muito melhor. O problema é que tinha a direita trabalhando, alguns gatos pingados à esquerda e o resto de braços cruzados. Eles que são os responsáveis por esse texto não ser melhor. Na hora que você atua de forma diferente, escancara a hipocrisia das pessoas.

Quanto a incomoda ter perdido tantos apoiadores?

Muitas pessoas nunca foram meus apoiadores. Muita gente vem dizer: "Nunca mais vou votar em você", mas nem me conhecia na época da campanha. É a cultura do cancelamento. Fiz uma opção de longo prazo de ser guiada pelos meus princípios, não pelos likes. Se me preocupar com robô de rede social, que mandato vai ser esse? Em toda minha atuação, três pessoas nas ruas chegaram com abordagem violenta. Aconteceu uma vez de eu entrar num restaurante e tinha uma galera, no caso do meu partido, um pouco bêbada, um monte de homens, ficaram me xingando. Nesse momento fiquei com medo. Mas foram covardes, ninguém teria coragem de fazer aquilo sozinho.

Quais situações vividas na Câmara dos Deputados deixam evidente a falta de mulheres na política?

Até hoje sou barrada. Ontem mesmo eu passei pelos entrepostos entre a Câmara e o Senado três vezes. Nas três vezes fui barrada. Eu digo: "Sou de-pu-tada", mas parece que ouvem outra palavra. Falavam que era normal no começo porque ninguém me conhecia. Mas acontece todos os dias. É uma barreira. Também têm as situações de violência. Há poucos dias, as deputadas mulheres se posicionaram contra a fala absurda do presidente Bolsonaro sobre a jornalista Patrícia Campos Mello [o presidente disse em coletiva que Patrícia "só queria dar o furo"]. A gente pegou o microfone, e o Eduardo Bolsonaro [deputado pelo PSL-SP] começou a gritar dizendo que a gente deveria raspar o sovaco. E não foi interrompido. Eu já ouvi que eu era burra no microfone do plenário da Câmara. Assim, no microfone: "Você é burra". E já ouvi que "a Tabata é incapaz de ser relatora desse projeto" numa comissão. Com essa violência toda de todos os dias, não é de surpreender que mulheres não queiram entrar para a política.

Sua idade também já foi argumento para críticas, inclusive pelo próprio candidato à presidência do seu partido, Ciro Gomes, que disse que você ainda tinha "uma idade em que as pessoas podem errar" na época da reforma.

Acho que a idade se mistura com eu ser mulher. Muitas pessoas me dizem que "quando for mais velha" vou entender que elas estão certas. Ou então que sou nova, que não sei como as coisas funcionam, com o tempo vou aprender. Com homens jovens isso também acontece, mas num grau menor.

Tem horas que acha que não vai dar conta?

Sim. Tem dias que fico com medo por causa da forma que o governo ataca quem discorda de qualquer pauta, é muito violento. Já tive que cancelar evento meu, já fiquei em casa chorando. Já fui ameaçada de morte, mandam mensagens pornográficas. Teve vezes que saí da Câmara chorando. A melhor resposta para essa violência é falar cada vez mais alto e ajudar outras mulheres a entrarem na vida política.

Você criou o projeto Vamos Juntas para estimular candidaturas femininas. Como funciona exatamente?

A trajetória para as mulheres chegarem na política é mais difícil, tem mais barreira dentro dos partidos, elas recebem menos financiamento, têm que se provar todos os dias, é uma série de dificuldades. Agora que tive a oportunidade de ser eleita e estar nesse espaço que até pouco tempo atrás não era para mulheres, muito menos jovens e da periferia, a melhor contribuição é ampliar essa estrada para mulheres participarem também. No Vamos Juntas a gente está selecionando um grupo de candidatas. Vamos trabalhar primeiro com 50 mulheres, tinham 400 inscritas do Brasil todo que queriam participar da mentoria e fazer os cursos. Temos um time incrível, ex-coordenadores de campanhas, senadores, deputados, que querem mentorar as candidatas a vereadoras e prefeitas. Vamos fazer um barulhinho grande.

Quando foi a primeira vez que afirmou: vou ser deputada federal?

Só bati o martelo de que seria candidata em julho em 2018, o que é muito tarde [o prazo final de registro é agosto do ano eleitoral]. Não me via na política partidária porque cresci sem conhecer nenhum político, quem dirá política mulher, na periferia no máximo chegava um cabo eleitoral tentando dizer em quem você tem que votar. Me provocavam para ser, mas eu dizia: "Não tenho experiência, não tenho dinheiro". "Aquilo não era pra mim", eu pensava. Foi outra mulher, minha coordenadora de campanha, que saiu do emprego dela e falou que eu tinha que sair candidata e que coordenaria minha campanha. Outra mulher que teve que acreditar em mim. Eu só queria não passar vergonha e fui a segunda mulher mais votada do Brasil. Por isso, no Vamos Juntas, eu falo muito: "Sabe aquela mulher que é uma líder da ONG, da comunidade? Fala para ela se candidatar, e fala umas dez vezes". Tem que insistir.

Quais pautas para mulheres está defendendo na Câmara?

Destaco três. Uma delas estou trabalhando para ir para votação em plenário agora em março. É um mês que tem mais abertura para falar da pauta feminina, em outros momentos é mais difícil. Esse projeto é para criar a campanha nacional Namoro Sem Violência, junto com a deputada Aline Gurgel [Republicanos-AP] . É para falar de violência contra a mulher na escola. Claro que tem que falar de feminicídio e Lei Maria da Penha, mas não como se os adolescentes fossem adultos. Nessa fase, a questão tem mais a ver com relações abusivas. Conversei com diretoras e vi que eram os mesmos padrões se repetindo, as mesmas violências, mesmos abusos. Outro projeto que defendo é polêmico: reservar uma das duas cadeiras para senadores de cada estado para uma mulher. É a forma mais efetiva de aumentar a participação feminina. Esse movimento quem liderou foi a deputada Perpétua Almeida [PCdoB-AC]. Por último, a proposta que prevê distribuição gratuita de absorventes em escolas, presídios e postos de saúde. Em relação a esse, a reação foi muito virulenta. Fizeram um cálculo ridículo de que seria gasto R$ 5 bilhões, quando a gente deixa muito claro que é o governo que vai dizer o alcance do projeto, qual o orçamento. Dizem que sou comunista, que só quero que mulheres pobres tenham acesso a absorvente. Que é absurdo que todo mundo pague por uma coisa voltada só para uma parte da população. Que é um absurdo para o meio ambiente. Menstruação é uma coisa tão óbvia, tão presente na realidade de toda mulher. Mas é um problema invisível porque não afeta os homens.

Você se reconhece como feminista e defensora dos direitos das mulheres, mas afirmou em entrevista ao programa "Roda Viva", em outubro passado, ser contra a legalização do aborto, que tem a ver com direitos reprodutivos femininos. São posições contraditórias. Ainda as defende?

Minha visão não é um posicionamento contraditório. Acho que a sociedade está muito violenta, e aí, a partir do momento que eu discordo de uma pauta de parte das feministas, querem "tirar minha carteirinha". Essa é uma das razões pelas quais o feminismo é tão elitista no Brasil. Minha visão em relação ao aborto é a da maioria da população brasileira. Querer reduzir o meu posicionamento é intolerância. Acho um pouco absurdo que algumas mulheres que se consideram, sei lá, autoridades do feminismo, queiram calar quem pensa diferente quando deveriam estar abertas ao diálogo. Enquanto mulheres ricas intelectualizadas forem as únicas que discutem o feminismo, ele terá uma efetividade muito pequena.

Há um avanço de frentes parlamentares antiaborto que pretendem extinguir a interrupção legal de gravidez [garantida em caso de estupro, anencefalia e risco à mãe]. Em relação a isso, como se posiciona?

Defendo que a gente mantenha a legislação como está hoje. Não estou fechada a discutir uma ampliação da legislação em alguns casos. Mas não dá para ser em todos, é apontar para uma direção que seria uma grande violência em relação às convicções de grande parte da população brasileira. Acho que as pessoas têm que ser um pouco mais abertas a dialogar com quem pensa diferente. E essa visão [legalização em todos os casos] é péssima para a causa feminista como um todo porque exclui grande parte da população.

Texto e imagem reproduzidos do site: uol.com.br/universa

sábado, 30 de novembro de 2019

Brasileiros do Ano – Política – Tabata Amaral

Crédito: Wenderson Araújo

Publicado originalmente no site da revista ISTOÉ. em 29 de novembro de 2019

Brasileiros do Ano – Política – Tabata Amaral

Para fazer do Brasil um País “mais inclusivo e desenvolvido”, ela enfrentou o seu partido, o PDT, e votou a favor da Reforma da Previdência

Por Luisa Purchio

A paulista Tabata Amaral, apesar da pouca experiência política que tem, movimenta-se com desenvoltura pelos corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília. Ela acabou de completar 26 anos de idade em novembro, ou seja, elegeu-se com 25 por meio de uma campanha feita praticamente por voluntários — integrando o Partido Democrático Trabalhista (PDT), obteve 264.450 votos. No começo de 2019, assim que chegou a Brasília, dirigiu-se ao apartamento funcional para o qual fora sorteada. Ao chegar ao imóvel, estava ele sendo irregularmente ocupado pelo filho de um político. Tabata Amaral, já aí, mostrou quem é Tabata Amaral na política: foi às redes sociais e denunciou o fato. No final de março, integrando a Comissão de Educação da Câmara, ela demoliu o então ministro da Educação Vélez Rodríguez. Diante de suas falas desprovidas de sentido, a parlamentar foi cortante: “Onde estão os projetos do senhor? Quais são as suas metas?”. E fez-se o silêncio.

Nenhum fato, no entanto, marcou tanto a coerência de seus atos. Na votação da Reforma da Previdência, o PDT fechou questão no voto contrário ao pacote do governo. Tabata se posicionou de acordo com as suas convicções — discordou do anacronismo do partido e votou a favor da reforma. Mais: fez duras críticas ao vice-presidente do PDT, Ciro Gomes, mostrando que, de sua parte, existe sim a possibilidade de um Brasil que desenvolva uma nova política com olhos na contemporaneidade do mundo.

Humana e democrática

“Ser de esquerda não significa ser contra um projeto que pode tornar o Brasil mais inclusivo e desenvolvido”, declarou ela. A sua independência lhe custou um processo interno no PDT, que acabou extinto temporariamente pela própria legenda. Outra grande prova de que Tabata Amaral — que cursou Astrofísica e Ciências Sociais em Harvard — oxigena a Câmara foi dada em sua entrevista à ISTOÉ. Com a grandeza de quem se sabe humana e democrática, a parlamentar reafirmou a sua certeza de que a política, feita com integridade, é essencial ao Brasil: “Política se faz juntamente com pessoas. Aprendi a dialogar com todos os partidos. Os preconceitos, esses eu deixo em casa”.

Texto e imagem reproduzidos do site: istoe.com.br

segunda-feira, 15 de julho de 2019

A ousadia de ir além das amarras ideológicas


FOLHA DE SP - 15/07

A ousadia de ir além das amarras ideológicas

Por Tabata Amaral

Muitos partidos já não representam de fato a sociedade, mas somente alguns de seus nichos

Faço aqui, no espaço quinzenal que tenho nesta Folha, uma provocação que julgo saudável para a política e para os partidos, com o único intuito de contribuir para um debate que temos postergado, mas que a sociedade há muito demanda. É uma reflexão necessária diante do impacto provocado pelos oito deputados do PDT, dentre os quais me incluo, que votaram “sim” à reforma da Previdência, e os 11 do PSB, contrariando a orientação partidária. Não estamos falando de dois ou três parlamentares, mas de praticamente um terço das bancadas de duas relevantes siglas que ocupam posição mais ao centro no espectro da esquerda. A expressividade dessa dissidência acendeu ao menos a luz amarela nas estruturas?

Sabemos que a extrema esquerda não admite flexibilidade alguma de posicionamento, pois está enclausurada em suas amarras. No entanto, uma parcela da centro-esquerda quer dialogar com o contexto e a sociedade e caminha para se modernizar. Nisso nos fiamos, nós que temos convicções sociais fortes, olhamos para o futuro do Brasil e enfrentamos o desafio urgente de termos crescimento sustentável, condição para a consolidação da justiça social.

Muitos partidos já não representam de fato a sociedade, mas somente alguns de seus nichos. Embora tenham em seus quadros um número cada vez maior de deputados com visão modernizante, as siglas ainda ostentam estruturas antigas de comando, e na maioria faz falta mais democracia interna. Muitas vezes, consensos sobre pautas complexas não são construídos de baixo para cima, e cartilhas antigas se sobrepõem aos estudos e evidências. Quando algum membro decide tomar uma decisão que considere responsável e fiel ao que acredita ser importante para o país, há perseguição política. Ofensas, ataques à honra e outras tentativas de ferir a imagem tomam lugar do diálogo. Exatamente o que vivo agora.

A boa política não pode ser dogmática. Discordâncias são normais no cotidiano e o ajuste e as acomodações das diferentes visões vão se dando em questões menores, com as bancadas muitas vezes sendo liberadas para as votações. O que foge completamente a esse processo e demonstra o grau do conflito instalado é quando a “rebeldia”, como está sendo interpretado o voto de opinião, atinge um terço de bancadas expressivas. Encaro esse debate como de fato a única tentativa da centro-esquerda de se renovar, mas os partidos estão virando as costas para essa realidade. É mais fácil lidar no plano da insubordinação. A construção de novas mentalidades não é processo fácil e exige coragem.

No fundo, são dois os temas que se sobrepõem nesse momento. A lógica de funcionamento dos partidos políticos no presidencialismo e o processo de renovação da política brasileira. A combinação de presidencialismo e federalismo, como ocorre no país, favorece as chamadas “indisciplinas partidárias”. Busca-se reforçar o poder da liderança partidária punindo dissidentes pela máxima de que os partidos não podem passar sinais de fraqueza. Será preciso uma reforma muito profunda do nosso sistema político para produzir os incentivos necessários para “disciplinar” as siglas. Enquanto existir o presidencialismo, o multipartidarismo e a federação, as lideranças partidárias precisarão ouvir e negociar com suas bases, dissidentes ou não.

A ampla renovação política que está em curso e da qual faço parte agrava o quadro de conflitos internos dos partidos. É racional que as lideranças recorram a argumentos de ocasião para justificá-los. Mais racional contudo é pensarmos no Brasil.

Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal pelo PDT-SP. Formada em Harvard, criou o Mapa educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

Texto reproduzido do blog: avaranda.blogspot.com

sexta-feira, 24 de maio de 2019

“O meu sonho é que a Educação vire prioridade no país.” (Tabata Amaral)


Publicado originalmente no site da TV FUTURA, em 15/03/2019

“O meu sonho é que a Educação vire prioridade no país.”

Da escola pública na periferia de São Paulo a Harvard, conheça quem é Tabata Amaral, a jovem que quer transformar a Educação Pública no Brasil.

Por Tamíris Almeida

Estudante de escola pública, Tabata Amaral, recebeu uma bolsa integral para fazer graduação na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Formou-se em Ciência Política em 2016 e, de volta ao Brasil, foi eleita deputada federal pelo PDT de São Paulo em 2018. Uma de suas principais bandeiras é a defesa por uma Educação de qualidade para redução das desigualdades no Brasil.

Nascida na periferia de São Paulo, Tabata recebeu bolsa para estudar Ciências Políticas 
em uma das maiores universidades do mundo, Harvard. (Foto: Acervo Pessoal)

Futura & Educação: Como foi a sua trajetória até chegar a Harvard? Alguma vez você já imaginou que poderia ir tão longe?

Tabata Amaral: Eu tive a chance de participar da 1ª OPMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) e ganhar uma bolsa de estudos em São Paulo numa escola particular. Até então, eu estudava em uma escola pública na Vila Missionária [um bairro na periferia de São Paulo formado por migrantes de outros estados].

Assim, pude ter acesso a uma melhor qualidade no ensino e a matérias que eu não estudava. Vi que essa outra realidade era muito diferente. Nesta escola conheci pessoas que falavam outro idioma, viajavam para fora, já faziam intercâmbio. E eu, que demorava 4h para ir e voltar da escola, nunca tinha possibilidade de pensar em qual era o meu sonho. Conheci um mundo muito mais amplo que o meu.

Foi então que eu comecei a sonhar em fazer uma faculdade fora. Inicialmente, eu queria fazer Astrofísica. Os professores conseguiam um quartinho para eu ficar na escola. De onde eu venho, eu tenho claro como é a desigualdade no Brasil. Falta educação de qualidade para muita gente. Por alguns momentos eu conseguia vislumbrar essa realidade.

“De onde eu venho, tenho claro como é a desigualdade no Brasil. Falta educação de qualidade pra muita gente.”

Eu perdi meu pai 4 dias depois que fui aprovada em Harvard. O que fez que meu sonho em ser Astrofísica também mudasse. Daí, decidi que ia fazer Ciências Políticas. Fiz faculdade entre 2012 e 2016.

Futura & Educação: Qual a origem da sua família? Conta um pouquinho mais sobre a sua história.

Tabata: Minha mãe veio do interior da Bahia. Ela começou a estudar com 10 anos, mas quando engravidou de mim ela saiu da escola e foi trabalhar. Meu pai conheceu minha mãe quando ela estava grávida. Ele é de São Gonçalo e foi pra São Paulo com 15 anos, mas tinha doenças psicológicas e vícios. Ele nasceu na Paraíba, mas viveu em São Gonçalo. Ele junto com minha mãe foram morar numa ocupação na Vila Missionária, onde ela mora até hoje.

Tábata ao lado de Malala, uma de suas principais inspirações.
Foto: Acervo Pessoal

Futura & Educação: Como foi o período em que esteve em Harvard? O que mudou na Tabata?

Tabata: Uma coisa que mudou foi a minha visão do mundo. Eu tive muitas oportunidades muito jovem, mas eu sempre morei na Missionária. Hoje, eu tenho uma visão muito mais complexa da desigualdade. Lá [nos EUA}, eu conheci tanta gente: mulheres, homens, jovens, negros… pude ver que a solução não é simples, mas precisamos de políticas públicas para transformar a Educação no Brasil.

Futura & Educação: Por que decidiu voltar ao Brasil?

Tabata: Eu fui para Harvard quase sem falar inglês. Minha mãe ficou desempregada e não tinha condições de pagar um cursinho de idiomas. Eu só fui porque os meus professores do colégio e minha mãe me convenceram a ir. Na época, eu me sentia muito culpada por não poder ajudar meu pai. Só fui mesmo porque me convenceram que assim eu poderia mudar as coisas.

No segundo ano eu mudei de curso porque decidi estudar mais sobre Política e Educação. Queria – e ainda quero – mudar a realidade do Brasil. Nas férias, eu voltava para o Brasil. Eu sei que lá ganharia muito mais, mas acho que fazia mais sentido eu voltar. Conheci de perto a Secretaria de Educação no Ceará (Sobral) e depois a Secretaria pública de Salvador (BA). Eu pude ver o que é possível transformar a nossa Educação.

Tábata foi uma das 11 jovens selecionadas para 
conhecer Barack Obama durante a visita do 
ex-presidente americano ao Brasil.
Foto: Anna Carolina Negri

“Eu sei que lá ganharia muito mais, mas acho que fazia mais sentido eu voltar pro Brasil.”

Futura & Educação: Como mudar a educação pública no Brasil?

Tabata: É um conjunto de fatores. Atração, valorização de professores, ensino integral, rever FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e gestão de politicas públicas.

¾ dos munícios escolhem seus diretores por indicações políticas. Em muitos estados, não há vontade política para a Educação dar certo. Ela só vai dar certo com quando for colocada como prioridade de política pública.

Futura & Educação: O que você espera dos próximos anos na educação brasileira?

Tabata: O meu sonho é que a Educação vire prioridade no país para que a gente tenha a melhor educação pública do mundo. Temos uma população que não vai à escola, é analfabeta funcional. Tem que ter uma renovação política.

Futura & Educação: O Movimento Acredito tem essa proposta de renovação política?

Tabata: Sim, é um movimento de renovação política e temos agendas de combate a desigualdade e privilégios. Mais do que uma disputa entre esquerda x direita, defendemos bandeiras voltadas para a Educação, para que as pessoas voltem a acreditar na política, voltem a acreditar no Brasil e convocamos as pessoas para pensarem e mudarem suas realidades.

Já revitalizamos praças, já fizemos ação para que os jovens tirem título de eleitor, apoiamos jovens, fizemos abaixo assinado. Atuamos em 14 estados: Acre, Pernambuco, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.

Tabata faz parte de um movimento nacional suprapartidário formado por jovens insatisfeitos com a política desenvolvida atualmente no país. Saiba mais sobre o Movimento Acredito.

Futura & Educação: Quem é a sua principal inspiração para promover essa transformação política na educação?

Tabata: A Malala Yousafzai é uma pessoa que eu admiro muito. E vi o quanto ela é gente como a gente. Se ela sendo gente como a gente conseguiu fazer a revolução, por que também não conseguimos? Isso me inspirou muito. Em julho de 2018, ela deu uma palestra no Santander e eu fui uma das jovens selecionadas para participar da conversa sobre jovens e políticas. Ela falou que os jovens estão muito desanimados com a solução política, mas ela estimulou. Falou para não desistirmos.

Texto e imagens reproduzidos do site: futura.org.br

sábado, 15 de dezembro de 2018

Entrevista com Tabata Amaral

Tabata cumprimenta Barack Obama (foto de 2017)

Publicado originalmente no blog Brasil Decide, em 04/09/2018

Entrevista: Tabata Amaral

Tabata Claudia Amaral de Pontes é uma jovem de 24 anos da Vila Missionária, periferia de São Paulo, que conseguiu estudar nos Estados Unidos e é ativista por uma educação brasileira de qualidade para que todos tenham a chance que ela, uma moradora da periferia filha de um cobrador de ônibus e uma bordadeira, conseguiu.

Após estudar ciência política e astrofísica com possibilidade de morar nos EUA, Tabata preferiu retornar ao Brasil e criou o Mapa da Educação, organização social com objetivo de que a educação seja prioridade para eleitores e eleitos. Junto com outros jovens líderes de todo país criou o movimento político Acredito e resolveu sair candidata ao cargo de deputada federal por São Paulo.

Nessa entrevista que concedeu para o Brasil Decide, Tabata fala de como pretende agir se eleita para Câmara dos Deputados, não fugiu de pautas pertinentes ao parlamento se posicionando sem medo sobre assuntos espinhosos para uma candidata debutante na política partidária e eleitoral. Temas com o aborto, drogas, armas de fogo, política nas escolas, etc.

Por que escolheu o PDT para sair candidata a deputada federal?

Tenho uma grande afinidade com o partido que escolhi, que é a pauta da educação. Esta é minha maior bandeira e o que motiva o meu ativismo há muito tempo. Além disso, o PDT foi um dos poucos partidos a assinar uma carta-compromisso com o Movimento Acredito reconhecendo nossa liberdade política e de funcionamento. Isso significa muito para mim.

Qual o meio que buscará para bancar sua campanha?

Temos uma plataforma de financiamento coletivo [https://votolegal.com.br/em/tabataamaral/] para custear parte dos gastos. Outra parte virá de doações de pessoas físicas, captadas de forma transparente e legal.

Sua bandeira é a educação, como defenderá ela na Câmara?

Tenho como prioridade a reformulação do ensino médio, para que a escola permita aos jovens ter chances iguais de entrar na universidade e no mercado de trabalho, e o prepare para a vida. Além disso, é preciso garantir uma maior oferta de cursos técnicos que atendam às exigências do mercado de trabalho e garantam oportunidades de emprego. Por fim, é fundamental garantir a valorização dos professores, com um novo olhar para a profissão, valorizando a carreira através de melhor remuneração, condição de trabalho e formação para os professores. Essas são questão fundamentais, que precisam ser colocadas em pauta se quisermos avançar!

Acredito que é preciso ter vontade política para fazer andar os debates em torno da educação no Brasil. Muitos diagnósticos a respeito dos nossos principais problemas já foram feitos. O que precisa é gente com vontade de fazer. Eu tenho!

O que acha da discussão de gênero nas escolas e do “escola sem partido”?

Acredito que a escola deve ser vista como um espaço em que se fala de diversidade e respeito às diferenças, não como uma imposição, mas como uma abertura ao diálogo e ao combate à violência. Acredito que quando isso acontece, toda a sociedade sai ganhando.

Em relação ao projeto Escola Sem Partido, me posiciono contra. Não concordo com a influência partidária dentro das escolas, mas acredito que a política faz parte da nossa vida enquanto comunidade e nação. Sendo assim, não há razão para mantê-la longe das escolas e da formação das nossas crianças. Entender as atribuições de Deputados e Vereadores, aprender sobre diferentes teorias e correntes políticas, debater sobre as leis e decisões cotidianas que impactam diretamente a nossa vida deveria ser atividade cotidiana e curricular em todas as instituições educacionais do nosso país.

Qual seu posicionamento sobre aborto, posse e porte de arma de fogo, e descriminalização das drogas?

O aborto é um tema que, independente de opiniões e crenças pessoais, deve ser amplamente debatido pela sociedade, de forma transparente e democrática. Trata-se, antes de tudo, de um problema de saúde pública que coloca em risco a vida das mulheres mais vulneráveis e precisa ser tratado com muita seriedade.

Também acredito em uma nova política de drogas, em contraponto a uma guerra cara e ineficiente. O debate da descriminalização precisa acontecer. Defendo a ênfase na legislação para reabilitação do usuário e assistência social às populações vulneráveis.

Em relação ao porte de armas, me posiciono contra. Na área da segurança, acredito na reformulação da carreira policial, com ênfase na valorização e formação que garanta aumento da capacidade e na redução da letalidade.

Texto e imagem reproduzidos do blog: brasildecide.wordpress.com