sexta-feira, 1 de março de 2024

'Seria a destruição da civilização’: é para valer a nova ameaça de Putin?

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 1 de março de 2024

'Seria a destruição da civilização’: é para valer a nova ameaça de Putin?

A retórica apocalíptica da guerra nuclear já está incorporada ao discurso russo, uma tática usada para intimidar a opinião pública ocidental. Vilma Gryzinski:

Antes mesmo que descobríssemos onde fica no mapa a Transnítria, potencial nova frente de intervenção russa, Vladimir Putin já estava fazendo novas ameaças de guerra nuclear.

É possível que ele nunca tenha sido tão explícito quanto ao dizer: “Tudo o que o Ocidente faz cria a ameaça real de um conflito com o uso de armas nucleares e, portanto, da destruição da civilização”.

Normalmente, Putin deixa esse tipo de ameaça a um subordinado como o ex-presidente Dimitri Medvedev ou ao ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, aquele que já disse que Hitler “tinha sangue judeu”, uma barbaridade dentre tantas outras.

Putin e companhia sabem que a opinião pública dos países ocidentais fica fortemente impactada quando se fala em guerra nuclear, uma perspectiva apocalíptica que ronda a humanidade há quase oitenta anos.

ERRO DIPLOMÁTICO

Faz parte da propaganda russa usar esse tipo de tática para influenciar, acima de tudo, o debate nos Estados Unidos, onde tem tido um sucesso considerável.

Por isso, seria bom não alimentar a máquina russa como fez o presidente Emmanuel Macron ao dizer que nenhuma hipótese poderia ser excluída para impedir uma vitória putinista na Ucrânia, inclusive o envio de tropas. Foi um desatino diplomático do presidente francês que obrigou todos os aliados, da Polônia aos Estados Unidos, a dizer que a hipótese é fora de cogitação.

“Muitas das pessoas que hoje dizem ‘nunca’ são as mesmas que, há dois anos, diziam ‘tanques nunca, aviões nunca, mísseis de longo alcance nunca'”, argumentou Macron.

Apesar do erro diplomático e político, Macron tem razão. Os mísseis fornecidos pelos aliados ocidentais estão causando um estrago impressionante. O Ministério da Defesa disse que ataques ucranianos derrubaram nada menos do que dez aviões russos na mesma quantidade de dias, sendo dois caças Su-34 na terça-feira passada. A maior perda foi de um avião tipo Awacs, que funciona como um centro de vigilância e comando aéreo. A Rússia ficou com só seis aviões do tipo. O Awacs russo foi derrubado com um míssil antigo, um S-200 da era soviética.

Ao contrário da frente em terra, onde os russos viraram o jogo contra a Ucrânia, o teatro naval também tem sido um desastre. A Rússia perdeu onze embarcações no Mar Negro, sendo obrigada a deslocar sua frota para portos mais protegidos.

XADREZ GEOESTRATÉGICO

São perdas graves, mas estão longe de definirem a guerra. Putin está se sentindo tão seguro que fez mais um movimento no grande tabuleiro geoestratégico de xadrez: acionou os separatistas russos da Transnítria, um território que pertence à Moldova e fica na fronteira com a Ucrânia, para pedir a “proteção” de Moscou.

A questão da pouco conhecida Transnítria remete aos grandes deslocamentos populacionais ocorridos durante o estalinismo e a II Guerra Mundial. O território de quase 500 mil habitantes tem uma população etnicamente russa de 30% e se declarou independente em 1990, nos estertores da União Soviética. Manteve, curiosamente, a bandeira com a foice e o martelo.

Ninguém reconhece a independência da Transnítria (o nome se refere ao rio Dniepber, também chamado de Nipro), mas o território secessionista é um instrumento considerável para Moscou, da mesma forma que as regiões separatistas da Ucrânia.

Putin e asseclas sabem muito bem que regiões complicadas e desconhecidas jogam a favor da Rússia. Por que arriscar uma guerra mundial pela Ucrânia é uma pergunta que a máquina russa conseguiu plantar nas redes. E pela Transnítria, então?

Acrescentar uma ameaça explícita de guerra nuclear aumenta a pressão. Putin sabe muito bem disso.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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