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Publicado originalmente no site Alô News, em 14/12/2018
A importância da discussão sobre gênero e sexualidade e como
isto afeta sua vida
Por Linda Brasil
Consciência e (R)Existência Diversidade e Direitos Humanos.
Por que falar de gênero e sexualidade é uma ameaça à
“família tradicional” brasileira? Começo esse texto com essa indagação porque,
ultimamente, estamos vivenciando uma onda de perseguição às discussões de
gênero e sexualidade seja nas escolas, seja em ambientes sociais por parte de
algumas pessoas com ideias reacionárias. Entre as alegações a mais recorrente é
a de que esses assuntos podem induzir a homossexualidade, a bissexualidade ou a
uma identidade de gênero não correspondente àquela designada pelo órgão genital
no nascimento. Como se na história da humanidade não houvessem pessoas LGBT’s.
Além de ignorar o que a ciência vem falando sobre o assunto ao longo do tempo.
A ignorância e a má vontade se misturam a uma distorção da realidade e de
informações. São ataques incabíveis e preconceituosos provocados,
principalmente, por alguns fundamentalistas religiosos ou não, que dizem haver
uma tal “ideologia de gênero” que acabam com os princípios da “família” formada
por homem e mulher. Utilizando-se desse argumento, rotulam falas na imprensa ou
em qualquer lugar a favor da discussão como uma estratégia de convencimento,
assim, manipulam a sociedade e pressionam o Estado para que sejam retiradas
essas discussões nas grades curriculares das escolas.
O Brasil é o país que mais mata LGBT’s no mundo, segundo
estatísticas da ONU. No caso de mulheres trans e travestis, essa situação é
ainda mais grave: no nosso país acontecem quase 50% de todos assassinatos. Além
disso, 90% das mulheres trans e travestis estão compulsoriamente na
prostituição, devido a várias formas de exclusão social. A primeira delas é a
familiar, seguida pelas escolar e, em depois, pela exclusão no âmbito da
profissionalização formal. Em virtude de tantas violências, a expectativa de vida
dessas pessoas trans é de 35 anos. Uma
situação equiparada a que enfrentavam as mulheres cis em séculos passados,
quando eram propriedade dos pais e quando não queriam ser tratadas assim, só
restava a elas a vida religiosa ou a prostituição.
Quem ignora, maltrata ou persegue uma pessoa LGBT, demonstra
que está ligada a uma forma de ver a vida que remete a pessoas de séculos
passados. Pessoas que achavam normal escravizar e humilhar outros povos e
naturalizavam subjugar mulheres, crianças, negros, estrangeiros. São pessoas
que valorizam o ser humano não pelo coração, pelo caráter e pela sua
personalidade mas por valores de poder ligados à dinheiro ou ao sexo. A base
das relações é de poder e dominação, sendo usados para oprimir e ditar regras. Isso fica claro quando olhamos para como as
mulheres ainda são tratadas no país. No caso de violência contra as mulheres, o
Brasil é o terceiro país que mais agride mulheres. A cada onze segundos, uma
mulher é violentada, e a cada minuto, uma mulher é vítima de estupro. A maior parte dos casos de violência com
morte de mulher ocorre no lar, muitas das vezes na frente de crianças e
adolescentes.
Discutir gênero e
sexualidade nas escolas e na sociedade em geral é fundamental e muito
importante para que possamos despertar uma maior conscientização dos/as
alunos/as, professores/as e gestores das instituições de ensino, bem como toda
a população sobre fatores que levam ao comportamento discriminatório e violento
em nossa sociedade. Conhecimento e reflexão sobre a heterocisnormatividade
compulsória e sobre essas “caixinhas” de gênero que controlam nossas
existências e nossos corpos podem contribuir para diminuir o sofrimento e a
violência de gênero em nossa sociedade. Nesta cultura em que pessoas designadas
no gênero masculino, brancas e heterossexuais estariam numa lógica de
superioridade e as mulheres ainda são vistas como inferiores e menos capazes
que os homens. Eles podem quase tudo, elas quase nada. Eles não podem chorar,
porque isso é uma “atitude de menina”. Elas nasceram para tomar conta da casa e
dos filhos. Isso tudo é fruto de uma sociedade que foi construída numa lógica
de poder patriarcal, que sempre dominou e oprimiu as ditas “minorias”. A falta
de informação a respeito de uma temática tão importante gera comportamentos
preconceituosos e violentos a esses grupos historicamente perseguidos e
marginalizados.
Por isso, quem é a favor da família que ama, da família dos
verdadeiros valores cristãos, de fraternidade de serviço ao próximo sabe e é a
favor de que essas discussões sejam mais comuns, não só no meio familiar, bem
como nas instituições de ensino e na mídia em geral, para que mulheres, LGBT’s
e também os homens não sejam vítimas desse sistema heterocisnormativo
patriarcal e misógino que aprisiona, segrega e violenta pessoas por não se
adequarem a algumas normas castradoras que excluem e provocam sofrimento a
todos nós. Discutir e refletir sobre esses temas vai fazer com que você acorde
e veja se sua família é a da fraternidade ou está tão só na disputa de poder e
vampirizar uns aos outros. Pensar e falar sobre essas coisas é libertar-se de
prisões e preconceitos! É vir para o século XXI. Em que século sua família
vive?
Texto e imagem reproduzidos do site: alonews.com.br
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