domingo, 16 de dezembro de 2018

Discussão sobre gênero e sexualidade e como isto afeta sua vida

Foto: Pixabay

Publicado originalmente no site Alô News, em 14/12/2018

A importância da discussão sobre gênero e sexualidade e como isto afeta sua vida

Por Linda Brasil
Consciência e (R)Existência Diversidade e Direitos Humanos.

Por que falar de gênero e sexualidade é uma ameaça à “família tradicional” brasileira? Começo esse texto com essa indagação porque, ultimamente, estamos vivenciando uma onda de perseguição às discussões de gênero e sexualidade seja nas escolas, seja em ambientes sociais por parte de algumas pessoas com ideias reacionárias. Entre as alegações a mais recorrente é a de que esses assuntos podem induzir a homossexualidade, a bissexualidade ou a uma identidade de gênero não correspondente àquela designada pelo órgão genital no nascimento. Como se na história da humanidade não houvessem pessoas LGBT’s. Além de ignorar o que a ciência vem falando sobre o assunto ao longo do tempo. A ignorância e a má vontade se misturam a uma distorção da realidade e de informações. São ataques incabíveis e preconceituosos provocados, principalmente, por alguns fundamentalistas religiosos ou não, que dizem haver uma tal “ideologia de gênero” que acabam com os princípios da “família” formada por homem e mulher. Utilizando-se desse argumento, rotulam falas na imprensa ou em qualquer lugar a favor da discussão como uma estratégia de convencimento, assim, manipulam a sociedade e pressionam o Estado para que sejam retiradas essas discussões nas grades curriculares das escolas.

O Brasil é o país que mais mata LGBT’s no mundo, segundo estatísticas da ONU. No caso de mulheres trans e travestis, essa situação é ainda mais grave: no nosso país acontecem quase 50% de todos assassinatos. Além disso, 90% das mulheres trans e travestis estão compulsoriamente na prostituição, devido a várias formas de exclusão social. A primeira delas é a familiar, seguida pelas escolar e, em depois, pela exclusão no âmbito da profissionalização formal. Em virtude de tantas violências, a expectativa de vida dessas pessoas trans é de 35 anos.  Uma situação equiparada a que enfrentavam as mulheres cis em séculos passados, quando eram propriedade dos pais e quando não queriam ser tratadas assim, só restava a elas a vida religiosa ou a prostituição.

Quem ignora, maltrata ou persegue uma pessoa LGBT, demonstra que está ligada a uma forma de ver a vida que remete a pessoas de séculos passados. Pessoas que achavam normal escravizar e humilhar outros povos e naturalizavam subjugar mulheres, crianças, negros, estrangeiros. São pessoas que valorizam o ser humano não pelo coração, pelo caráter e pela sua personalidade mas por valores de poder ligados à dinheiro ou ao sexo. A base das relações é de poder e dominação, sendo usados para oprimir e ditar regras.  Isso fica claro quando olhamos para como as mulheres ainda são tratadas no país. No caso de violência contra as mulheres, o Brasil é o terceiro país que mais agride mulheres. A cada onze segundos, uma mulher é violentada, e a cada minuto, uma mulher é vítima de estupro.  A maior parte dos casos de violência com morte de mulher ocorre no lar, muitas das vezes na frente de crianças e adolescentes.

 Discutir gênero e sexualidade nas escolas e na sociedade em geral é fundamental e muito importante para que possamos despertar uma maior conscientização dos/as alunos/as, professores/as e gestores das instituições de ensino, bem como toda a população sobre fatores que levam ao comportamento discriminatório e violento em nossa sociedade. Conhecimento e reflexão sobre a heterocisnormatividade compulsória e sobre essas “caixinhas” de gênero que controlam nossas existências e nossos corpos podem contribuir para diminuir o sofrimento e a violência de gênero em nossa sociedade. Nesta cultura em que pessoas designadas no gênero masculino, brancas e heterossexuais estariam numa lógica de superioridade e as mulheres ainda são vistas como inferiores e menos capazes que os homens. Eles podem quase tudo, elas quase nada. Eles não podem chorar, porque isso é uma “atitude de menina”. Elas nasceram para tomar conta da casa e dos filhos. Isso tudo é fruto de uma sociedade que foi construída numa lógica de poder patriarcal, que sempre dominou e oprimiu as ditas “minorias”. A falta de informação a respeito de uma temática tão importante gera comportamentos preconceituosos e violentos a esses grupos historicamente perseguidos e marginalizados.

Por isso, quem é a favor da família que ama, da família dos verdadeiros valores cristãos, de fraternidade de serviço ao próximo sabe e é a favor de que essas discussões sejam mais comuns, não só no meio familiar, bem como nas instituições de ensino e na mídia em geral, para que mulheres, LGBT’s e também os homens não sejam vítimas desse sistema heterocisnormativo patriarcal e misógino que aprisiona, segrega e violenta pessoas por não se adequarem a algumas normas castradoras que excluem e provocam sofrimento a todos nós. Discutir e refletir sobre esses temas vai fazer com que você acorde e veja se sua família é a da fraternidade ou está tão só na disputa de poder e vampirizar uns aos outros. Pensar e falar sobre essas coisas é libertar-se de prisões e preconceitos! É vir para o século XXI. Em que século sua família vive?

Texto e imagem reproduzidos do site: alonews.com.br

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