As narrativas do tiozão do zap que se explodiu
Bolsonarismo tenta se descolar de Francisco Wanderley, mas a maioria das mensagens ecoa sua retórica. Felipe Moura Brasil para O Antagonista:
Em mensagens de WhatsApp enviadas a si próprio, Francisco Wanderley Luiz, o ex-candidato do PL que se explodiu na Praça dos Três Poderes após lançar artefatos contra a estátua do Supremo Tribunal Federal, fazia, em resumo, o seguinte:
*comparava a Suprema Corte e a Polícia Federal à SS (guarda de elite de Hitler) e à Gestapo (polícia secreta da Alemanha nazista), dizendo que elas só serviam para “prender velhinhas inocentes” (alegação típica do bolsonarismo, em defesa de réus dos atos de 8 de janeiro de 2023);
*xingava políticos à esquerda (Geraldo Alckmin, FHC, José Sarney) e um apresentador da TV Globo (William Bonner) de “comunistas de merda”;
*afirmava não gostar do número 13, do PT, que “tem cheiro de carniça, igual caxorro [sic] quando morre”, motivo aparente da escolha do dia 13 de novembro para soltar “uns foguetinhos”;
*pedia ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para (1) acelerar a “operação STORM”, uma ação de combate à pedofilia internacional que só existiu em fake news espalhada por bolsonaristas; e (2) mandar “o FBI aqui pra Ilha de Marajó”, localidade que foi alvo de denúncias bolsonaristas de exploração sexual infantil.
Redes sociais
Nas redes sociais, o ex-candidato do PL ainda seguia Jair Bolsonaro (PL) e uma série de contas de seus propagandistas.
Lá, porém, a claque do ex-presidente (que não deixa de associar à esquerda lulista o autor da facada em Bolsonaro, Adélio Bispo, ex-PSOL) agora tenta se descolar de Francisco Wanderley porque, em uma das mensagens, ele se dirige a “BOLSONARO E LULA” dizendo também em maiúsculas: “SE VOCES AMAM O BRASIL; AFASTEN-SE [sic] DA VIDA PÚBLICA!!! CHEGA DE POLARIZAÇÃO!!! ESTE É O MOMENTO DE VOCÊS PROVAREM QUEM VOCÊS SÃO – O POVO É UM SO POVO!!!”
Esse pedido genérico, em nome do fim de uma “polarização” que o próprio Francisco turbina, obviamente não muda o fato de que as principais narrativas ecoadas nas mensagens de tiozão do zap vêm do bolsonarismo, assim como postagens de Adélio ecoavam o lulismo, o que ficaria mais claro em seus depoimentos.
Oportunistas, impostores ou malucos
Eu, Felipe, alertei em 18 de outubro de 2018, ainda na corrida eleitoral daquele ano, contra malucos que poderiam barbarizar:
“Todo líder popular atrai, além de pessoas de bem, uma porção de oportunistas, impostores ou malucos, que podem praticar barbaridades mais cedo ou mais tarde. A diferença é que há líderes que as incentivam e outros que as desestimulam e repudiam”, escrevi no então Twitter, na ocasião.
Defendi há mais de seis anos, portanto, que eles fossem desestimulados pelo líder popular que os atraiu. Agora é tarde para posar de pacifista e lamentar outro ato bárbaro como “fato isolado”.
Como ilustram as falas do ministro do STF Alexandre de Moraes, que aproveitou as explosões para novamente posar de defensor da democracia e defender a regulamentação das redes sociais, recriminando o “gabinete do ódio”, o bolsonarismo é, como defini em 2021, a melhor cortina de fumaça do sistema. E continua sendo até hoje, dessa vez com o agravante da fumaça literal.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com
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