quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Reflexões sobre o conservadorismo

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 23 de dezembro de 2024

Reflexões sobre o conservadorismo

O conservador defende mudanças cautelosas, com prudência, sem experimentos radicais, respeitando a tradição, a liberdade e os direitos. Roberto Motta para a Oeste:

Minha experiência na política me convenceu da importância dos valores morais. Política sem moral é uma atividade estéril, insensata, perigosa e frequentemente inútil. A política sem moral anda em ziguezague ou em círculos: na melhor hipótese retorna ao lugar onde começou; na pior hipótese produz desastres. A essência da política é a busca por poder e isso nunca muda, claro. Mas a moral influencia como essa busca é realizada e o que é feito com o poder conquistado.

Na política brasileira predomina o relativismo moral. O que define se uma ação é certa ou errada é seu objetivo. Qualquer meio é justificado se os fins são considerados nobres. Essa é a regra. Sofri isso na pele, dentro de um partido que ajudei a criar e construir, o partido Novo (a história completa, com os detalhes inacreditáveis, foi contada no meu livro Os Inocentes do Leblon). Talvez o exemplo mais ultrajante, violento e destrutivo desse relativismo moral tenha sido a inexplicável anulação das condenações de vários políticos e empresários em processos por corrupção. Eles voltaram da situação de criminosos condenados para a de campeões nacionais e modelos de virtude. Como isso pode acontecer?

É óbvio que a moral deve preceder a política e a economia. Sempre pensei assim, mas parecia uma convicção solitária. Até que um dia, lendo Adam Smith, Edmund Burke, Russell Kirk e Roger Scruton, descobri que outros pensavam como eu. Scruton afirma que a ordem moral precede a ordem econômica. Nesse momento eu, que comecei na política me denominando liberal, me descobri conservador.

Enxergo o conservadorismo como o aperfeiçoamento do liberalismo, a defesa da liberdade não só nos planos econômico e político, mas também no plano moral. Conservadorismo sempre existiu como forma de pensamento desde a antiguidade clássica, mas o marco do conservadorismo moderno foi o trabalho do estadista irlandês Edmund Burke, por volta de 1790. Em sua obra mais importante, Reflexões Sobre a Revolução na França, Burke previu que a Revolução Francesa terminaria em um desastre, porque seus fundamentos abstratos, supostamente racionais, ignoravam as complexidades da natureza humana e da sociedade.

O conservadorismo ressurgiu em 1950 graças ao americano Russell Kirk. Kirk era lido por Ronald Reagan (dono de uma grande biblioteca), e seu pensamento orientou até a primeira campanha de Donald Trump. Roger Scruton é outro autor importante do conservadorismo atual: seu livro Como Ser um Conservador é essencial.

O primeiro fundamento do conservadorismo é a crença em uma ordem transcendente, uma lei natural que funciona como a consciência da sociedade. Os problemas políticos são, no fundo, problemas morais. O conservador acredita em preceitos morais e éticos que independem da época em que ele vive. Existem imperativos morais absolutos. Certo é certo, errado é errado — não importa se estamos em 1820 ou 2024.

O conservador sabe que uma racionalidade estreita não pode, sozinha, satisfazer as necessidades humanas. A realização plena da vida não depende da construção de uma sociedade perfeita, utópica, nascida dos devaneios de planejadores todo-poderosos e implantada a ferro e fogo por meio da destruição de todo o legado da humanidade. Os homens não são anjos; portanto, não é possível construir um paraíso terrestre. O conservador reconhece nessa utopia política quase uma religião, e se recusa a adotá-la.

A satisfação do ser humano depende, na verdade, do cumprimento de um pacto transcendente, feito entre os que já morreram, os vivos e os que ainda vão nascer. É em nome desse pacto que nos dedicamos a proteger e cuidar de nossa família, de nossa cidade e de nosso país, e a trabalhar para conservar a liberdade, a lei, a educação, os empregos, a saúde e o meio ambiente. Conservar é o ato que dá nome ao pensamento: conservadorismo — embora já tenha passado da hora de adotarmos um termo mais dinâmico e moderno.

Em vez de se apegar a dogmas ferrenhos, o conservador guia sua atividade política por princípios gerais. Esses princípios foram formulados ao longo de anos, com equilíbrio, por meio do desenvolvimento dos costumes e tradições. Mesmo esses princípios precisam ser aplicados com prudência, de forma adequada a cada nação e a cada época. Tanto o impulso de renovação quanto o desejo de conservar são necessários ao perfeito funcionamento de uma sociedade. A hora de adotar uma ou outra estratégia depende das circunstâncias.

É preciso reconhecer que nem toda mudança é positiva; inovações ou reformas inadequadas ou mal planejadas, em vez de sinalizar progresso, podem representar o início de graves conflagrações sociais. O conservador desconfia, acima de tudo, de mudanças radicais.

A ordem social, considerada essencial pelo conservador, é reflexo e fruto da ordem interna e pessoal de cada indivíduo. Essa ordem, orientada por justiça e liberdade, dá a cada indivíduo a oportunidade de construir seu próprio caminho, usando como base os costumes, tradições e instituições que herdamos dos nossos antepassados. Essa herança cultural e social permite que apliquemos em nossa vida diária a sabedoria e a experiência acumuladas pela humanidade durante centenas de gerações.

Toda a civilização que vemos ao nosso redor levou séculos para ser construída, mas pode ser destruída em pouco tempo. Esse é o objetivo dos revolucionários. O conservador sabe disso. Por isso não existe “conservador radical”. No conservadorismo não existem radicalismo, extremismo ou revolução. A essência do conservadorismo é a busca da estabilidade, respeitando as tradições, escolhendo o que funciona, separando o bom do ruim e promovendo independência e o progresso pelo trabalho.

Os conservadores acreditam na igualdade diante de Deus e perante a lei, mas reconhecem no conceito de igualdade material uma impossibilidade lógica e moral, já que a condição de cada um depende sempre, em maior ou menor grau, do resultado dos seus esforços. Todos os homens têm os mesmos direitos, mas não direito às mesmas coisas. A busca da igualdade material é um instrumento de criação de regimes totalitários porque os direitos de propriedade e de liberdade estão intimamente conectados. Quebrada essa conexão, o Estado se torna senhor de tudo e de todos.

A missão principal do político conservador é combater a ação nefasta dos radicais de esquerda, erradamente chamados de “progressistas”. Para esses radicais só existe uma pauta: a destruição das instituições e da ordem social para a construção de uma nova ordem, criada a partir do nada, baseada na centralização totalitária do poder nas mãos de um pequeno grupo de iluminados. O século 20 viu, inúmeras vezes, que esses experimentos acabam sempre da mesma forma: em ditaduras sanguinárias, campos de concentração, censura, miséria e fome. A missão do conservadorismo é impedir isso, e conservar nossa liberdade, segurança e direitos. Por isso, ser conservador nos dias de hoje é combater a ideologia de gênero, o racismo “do bem”, a censura nas redes, o “desarmamento” civil (que mantém o monopólio das armas nas mãos dos criminosos), os ataques ao ocidente, o ativismo judicial e o terror climático.

O conservador não deve ser confundido com o reacionário, que deseja um simples retorno a uma época imaginária no passado, na qual tudo era perfeito. Nunca existiu época assim. Na verdade, o reacionário é a imagem espelhada do revolucionário: os dois desejam uma mudança radical, o reacionário para voltar ao passado, e o revolucionário para criar uma utopia. O conservador sabe que o caminho para o progresso é uma evolução cautelosa, com prudência, sem experimentos radicais, respeitando a tradição, a liberdade e os direitos, e adaptando os conceitos teóricos às exigências práticas da vida real.

Os políticos brasileiros, em sua maioria, não são conservadores. São raros aqueles que conhecem e acreditam nas ideias do conservadorismo, e pautam sua vida e atuação política por essas ideias.

Há muito tempo publiquei um texto mostrando como a esquerda sempre gera ditaduras, o que nunca acontece com o conservadorismo. Lendo as respostas, fiz uma terrível constatação: pensei que iria argumentar com discípulos de Marx, mas acabei discutindo com alunos de Paulo Freire. O grau de desconhecimento e demonização das ideias conservadoras no Brasil é assustador, e pode ser ilustrado por uma pequena história, quase cômica.

Fui convidado a participar de um debate com três outros candidatos. Um deles era um rapaz que, embora se classificasse como “liberal”, limitava-se a repetir clichês progressistas. Quando o tema passou a ser segurança pública, vi uma oportunidade de desmascarar suas ideias.

Falei do tráfico de drogas e, citando fatos e dados, expliquei o papel central que ele desempenha na catástrofe do crime no Brasil.

O jovem “liberal” — na verdade, um esquerdista e, como quase todos, profundamente despreparado — reagiu furiosamente aos meus comentários. Depois de defender o “uso recreativo” da maconha e a estatização do tráfico de drogas, passou a atacar meu conservadorismo.

E aí vem a parte mais irônica, engraçada ou — dependendo do ponto de vista — trágica dessa história.

O jovem candidato narco-liberal, depois de dizer horrores do meu conservadorismo, se despede dizendo que só prometia a seus potenciais eleitores “sangue, suor e lágrimas”.

Essa expressão é de autoria de Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.

Churchill foi o homem que enfrentou, e derrotou, a Alemanha Nazista.

Churchill foi dos maiores estadistas conservadores da história.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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