Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 20 de janeiro de 2025
Como Sobreviver a Trump e Big Techs
Por Fernando Gabeira (In Blog)
Para evitar compras supérfluas, resolvi consertar algumas roupas velhas. Por meio das redes sociais, consegui uma costureira que veio da Baixada Fluminense com sua máquina, trabalhou algumas horas e resolveu tudo.
Fiquei maravilhado com o fato de as redes sociais, além de terem importância comercial, abrirem fontes de renda para milhares de trabalhadores autônomos. Andei pesquisando, e alguns números indicam que cerca de 10 milhões de pessoas geram parte ou toda a sua renda nas redes. Numa pesquisa de 2023, mais de 60% das pequenas empresas brasileiras retiravam parte ou toda a sua renda de plataformas como Instagram e Facebook.
No momento, temos discutido muito o alinhamento da Meta ao governo Trump e a desmontagem de sua estrutura de checagem do material que veicula. Sem dúvida, um tema importante porque trata de questões políticas, democracia, liberdade de expressão, fake news e respeito à legislação nacional.
Vejo essa posição da Meta como uma ponta do iceberg. O fato principal é a existência de uma coalizão de bilionários donos das big techs com o governo dos Estados Unidos. Elon Musk, X, Mark Zuckerberg estão ao lado de Trump numa aventura inédita na História mundial.
De um ponto de vista econômico, que tipo de resistência é possível oferecer a essa nova coalizão?
Países como a China criaram suas redes sociais próprias: WeChat (semelhante ao WhatsApp, com funções adicionais de pagamento e comércio digital), Weibo (similar ao X) e Douyin (TikTok).
A China tem uma perspectiva de controle político, uma visão mais severa de segurança nacional e muita tecnologia. Não é o modelo.
Mesmo com o risco de parecer ingênuo, estou tentando formular algumas ideias que possam nos tornar menos vulneráveis a esse tremendo poder simbolizado pelo novo governo americano e as big techs.
Confesso que estou tateando. No entanto me arrisco a dizer que alguns fatores da luta contra o aquecimento global convergem diretamente para uma pauta de resistência democrática a essa formidável aliança de extrema direita.
O primeiro ponto que poderá nos fortalecer é uma transição rápida no campo da energia. Energia renovável e abundante é necessária não apenas para o crescimento sustentável, mas para amparar um avanço tecnológico. Centros de dados e a inteligência artificial são orazes consumidores de energia.
O país precisaria de mais satélites. Servem para monitorar o clima, mas também para basear uma estrutura própria de comunicação.
Aliás, nesse contexto tão delicado, redes de comunicação local, intranets, tecnologias off-line, tudo isso poderia ajudar. Assim como poderia ajudar o investimento em infraestrutura descentralizada, diversificação econômica e inovação tecnológica. O Brasil ficaria mais forte formando mais gente em cibersegurança, engenharia de rede e gestão de crises.
Outro aspecto que reduziria a vulnerabilidade é incentivar a produção local para reduzir a dependência das cadeias globais. Sentimos como na pandemia Índia e China tinham mais produtos médicos; na guerra na Ucrânia, corremos atrás de fertilizantes.
Não sei ainda se isso é um programa sensato para tornar o país menos vulnerável. No momento, o único fator que detém os bilionários das big techs é o lucro. O Brasil é um grande mercado. No entanto, em certos momentos, pode ser que, por motivos políticos, queiram dar um xeque-mate. Aí então, o conceito de soberania nacional transcende ao campo simbólico, não depende tanto de juízes do STF, mas sim da base material para começar uma conversa.
Não é preciso criar uma rede social nacional, mas estar próximo disso é um grande argumento: data centers, internet de alta velocidade, tecnologia de inteligência artificial e algoritmos, muita gente especializada e, sobretudo, recursos — tudo isso se acumulando no tempo acaba sendo um fator de dissuasão.
Texto e imagem reproduzidos do site: gabeira com br
Nenhum comentário:
Postar um comentário