quinta-feira, 22 de maio de 2025

Ex-chefe da Aeronáutica reafirma apoio da Marinha em trama golpista.

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 21 de maio de 2025

Bolsonaro na cadeia? Ex-chefe da Aeronáutica reafirma apoio da Marinha em trama golpista.

Carlos Baptista Junior, em depoimento ao STF como testemunha, confirmou um plano de um golpe de Estado apresentado aos comandantes das Forças pelo ex-presidente e por assessores. Fausto Macedo para o Estadão:

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Junior afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira, 21, que, em novembro de 2022, o almirante Almir Garnier, então chefe da Marinha, colocou suas tropas à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro para um intento golpista.

A posição, ainda segundo o relato, destoou da postura do próprio Baptista Junior e do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que tentaram dissuadir o presidente da ideia de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

“O almirante Garnier não estava na mesma sintonia, na mesma postura que o general Freire Gomes. Em uma dessas reuniões, chegou a um ponto em que ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente”, disse.

O militar disse não se recordar a data exata da reunião, que teria ocorrido próximo ao dia 14 daquele mês.

Em depoimento ao STF, Baptista Junior também confirmou que o general Freire Gomes ameaçou prender Jair Bolsonaro, se fosse decretada Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para evitar a posse de Lula. O alerta foi feito em uma reunião no Palácio da Alvorada em novembro de 2022.

“General Freire Gomes é uma empresa polida. Não falou com agressividade, mas é isso que ele falou: ‘Se o senhor fizer isso, vou ter que te prender’. Foi algo assim”, disse Baptista Junior.

Na segunda-feira, 19, em depoimento ao STF também como testemunha, Freire Gomes disse que não deu voz de prisão ao ex-presidente.

Questionado pelo advogado de Almir Garnier sobre uma contradição nos depoimentos, respondeu: “Ele não deu voz de prisão ao presidente, não foi assim. Mas ele falou, por hipótese, que poderia prender o presidente”.

Em dezembro, Bolsonaro mostrou aos comandantes das Forças Armadas uma “minuta” de golpe, que propunha a realização de novas eleições e a prisão de autoridades do Judiciário. O documento foi apresentado pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira. Baptista Junior afirmou que ele e Freire Gomes se opuseram à proposta.

“O ministro Paulo Sérgio disse ‘trouxe aqui um documento para vocês’. Não me lembro se era Estado de Defesa ou Estado de Sítio. Perguntei: esse documento prevê impedir a assunção do presidente eleito? Ele disse ‘sim’. Eu disse: ‘não admito sequer receber esse documento. Não ficarei aqui’”, disse.

GLO para solucionar ‘crise institucional’

O ex-chefe da Aeronáutica relatou ainda que, nas conversas, Bolsonaro e auxiliares passaram a aventar a possibilidade de utilizar institutos como GLO, Estado de Defesa e Estado de Sítio a pretexto de solucionar uma “crise institucional”.

Entre os participantes da reunião que buscavam dar subsídios à ideia de estabelecer medidas de intervenção, estava o então ministro da Justiça, Anderson Torres.

Baptista Junior relatou que, nas primeiras reuniões realizadas com o presidente após o segundo turno das eleições, discutia-se GLO para lidar com possível convulsão social causada pela polarização política e mobilização de apoiadores de Bolsonaro. Mais tarde, segundo ele, ficou claro que o plano tinha como finalidade evitar a posse de Lula.

Em um dos encontros, houve, segundo Baptista Junior, um “brainstorming” sobre a possível prisão de autoridades durante reunião realizada entre os dias 1.º e 14 de novembro no Palácio da Alvorada com a participação de Jair Bolsonaro e dos chefes das Forças Armadas. Na ocasião, aventou-se a possibilidade de prender o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes.

“Eu lembro que houve essa cogitação de prender o ministro Alexandre de Moraes, que era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). ‘Amanhã o STF vai dar o habeas corpus para soltar ele e nós vamos fazer o quê? Vamos prender os outros?’”, relatou Baptista Junior, sem mencionar quem seria o autor da declaração.

Aviso a General Heleno

Baptista Junior relatou também ter avisado o chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, general Augusto Heleno, que a FAB não participaria de uma tentativa de golpe. Eles se encontraram durante uma formatura do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA).

Na ocasião, Heleno acompanhava a formatura de seu neto, quando foi convocado para uma reunião emergencial com o ex-presidente e pediu a Baptista Junior uma carona para Brasília em um avião da Força.

Os dois teriam se dirigido a uma sala, onde o comandante da Aeronáutica alertou Heleno que não admitiria tentativa de golpe. “Eu falei: ‘General, nós nunca conversamos sobre esse assunto. Não é normal o senhor sair no meio da formatura para uma reunião de emergência. No clima que o Brasil está, preciso falar algo para o senhor. Eu e as Forças Aéreas não vamos apoiar ruptura institucional’”, afirmou Baptista Junior no depoimento ao STF.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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