quinta-feira, 24 de julho de 2025

De cardeal a ex-dirigente do Mossad: guerra em Gaza tem que acabar.


Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 24 de julho de 2025

De cardeal a ex-dirigente do Mossad: guerra em Gaza tem que acabar.

É possível apoiar Israel e ao mesmo tempo apontar como é insustentável uma situação na qual pessoas esfomeadas são mortas ao buscar comida. Vilma Gryzinski:

“Moralmente inaceitável e insustentável”. Estas foram as palavras fortes do cardeal Pierbattista Pizzaballa sobre a situação em Gaza. Como ele se ofereceu para ficar no lugar nas crianças tomadas como reféns pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, tem estofo moral para dizer isso. Por motivos diferentes, ele não está sozinho na avaliação tanto do graves problemas causados pela guerra em Gaza, sobretudo envolvendo moradores desesperados para conseguir alimentos distribuídos para suprir a falência sistêmica do território, quanto na deterioração da imagem de Israel.

Os erros do governo de Benjamin Netanyahu pertencem tanto à categoria dos inevitáveis, numa situação de extrema complexidade como a de Gaza – como permitir que o Hamas retorne ao status anterior ao do massacre de 1,2 mil pessoas em Israel? – quanto dos desnecessários, produzidos por negligência ou falta de compreensão dos aspectos envolvidos.

Por que, por exemplo, permitir que o relacionamento com setores cristãos vitais para Israel, como os evangélicos americanos, se deteriorasse a ponto de o embaixador Mike Huckabee falar em retaliação?

Huckabee ficou exasperado com a relutância de autoridades israelenses em dar vistos para peregrinos evangélicos visitar a Terra Santa – sendo que o próprio embaixador é um pastor que chefiou muitas dessas viagens. O assunto foi resolvido apenas depois que ele passou uma reprimenda pública.

TIRO NA CRUZ

Também foi só por intervenção de Donald Trump que Netanyahu mandou emitir uma nota lamentando o bombardeio da única igreja católica de Gaza, uma construção modesta onde centenas de pessoas se refugiavam, incluindo portadores de necessidades especiais. É difícil acreditar que um tiro de canhão quase tenha arrancado a cruz no alto da igreja da Sagrada Família por um erro de cálculo.

“Eles dizem isso, mas ninguém acredita”, já declarou Pizzaballa, que tem o título de Patriarca de Jerusalém e cujo nome se tornou conhecido como um dos candidatos cogitados para ser eleito papa durante o conclave de maio passado.

O cardeal católico e o patriarca ortodoxo Teófilo III visitaram a igreja, obtendo uma raríssima autorização para entrar em Gaza.

As relações de Israel com a Igreja Católica não são nada simples e pioraram durante o papado de Francisco. Mas não é preciso ter uma visão antagônica à de Israel, bem acusá-lo de genocídio como vergonhosamente está fazendo o governo brasileiro, para ver como a situação em Gaza mina o país e causa iniquidades.

PERCEPÇÃO GLOBAL

Rami Igra, que foi da divisão de reféns e desaparecidos do Mossad, disse numa entrevista que a reputação do país é corroída pela guerra e é preciso sair dela da melhor forma possível. “Estamos sendo pintados como opressores de pessoas e exterminadores de crianças. Quer seja real ou fabricada, é esta a percepção global. Netanyahu não entende isso”, postou ele.

Na sua visão, o Hamas acabará conseguindo dos americanos garantias firmes de que a guerra vai terminar – exatamente sua reivindicação principal.

Ele também faz uma análise de extremo realismo sobre as opções à frente de Israel: “O Hamas é uma ideologia religiosa que não pode ser desmantelada pela força. Tem que ser desfeito por um processo de longo prazo, não meramente pela melhoria das condições econômicas, mas pela criação de um governo alternativo em Gaza”.

Antes, é preciso melhorar a administração da ajuda e evitar os tristes casos de desnutrição que são usados como propaganda pelo Hamas, mas também têm raiz na realidade. O sistema atual obviamente não está funcionando.

MOSAICO INTRINCADO

Massas de palestinos desesperados não seguem as rotas e as regras da distribuição de alimentos. Avançam desesperados e as forças de Israel, sentindo-se sob ameaça, disparam contra eles, com resultados trágicos. Mais de mil pessoas já foram mortas assim.

As forças israelenses não são treinadas nem equipadas para fazer controle de multidões. “Israel simplesmente não pode ter seus soldados, por acreditarem verdadeiramente que estão em perigo ou por falta de meios não-letais, matando numerosos civis em Gaza diariamente. Isso é imoral e indefensável”, escreveu David Horovitz no Times of Israel.

É bom para o futuro de Israel que estas palavras, além de ditas, sejam ouvidas. Ter uma discussão sobre o que é moral ou não é numa guerra é o que distingue Israel de todos os outros componentes do mosaico infinitamente intrincado do Oriente Médio.

Exibir força é um dos fundamentos da sobrevivência nessa região, mas os judeus têm também mandamentos morais aos quais não podem escapar. Não é um assunto que pertença apenas a Israel, pois eles são um dos pilares da civilização judaico-cristã. Dessa maneira, estamos todos envolvidos.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

Nenhum comentário:

Postar um comentário