quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O que significa ser “de direita”?

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 31 de agosto de 2025

O que significa ser “de direita”?

A posição ideológica dos políticos deve ser avaliada pelas ideias que eles abraçam e pelas políticas que eles apoiam. Roberto Motta para a Gazeta do Povo:

A melhor definição de direita é aquela dada por A. C. Grayling no seu excelente livro Ideas That Matter: “direita” é o conjunto das forças políticas que não são de esquerda. Hoje, no Brasil, todas as outras definições parecem inadequadas.

São frequentes as discussões sobre quem é, ou não é “de direita”. Políticos considerados de direita são criticados por se associarem com o chamado Centrão. Críticos, em postagens nas redes sociais, apontam características deste governador ou daquele parlamentar que os excluiriam da direita - como se existisse uma agência de certificação de direitistas, e como se muitos políticos que hoje adotam o rótulo de “direita” não defendessem, com frequência, ideias e políticas públicas características do pensamento de esquerda. Reina a confusão. Há razões para isso.

É fácil saber quem está na esquerda: são socialistas, comunistas, marxistas e progressistas (são todos, mais ou menos, o mesmo produto com embalagens diferentes). Os esquerdistas geralmente se identificam como tal e compartilham a mesma cestinha de ideias: fim da propriedade privada, controle da economia pelo Estado, descriminalização das drogas, desencarceramento de criminosos, criminologia crítica (o bandido é uma vítima e a polícia é opressora), controle do discurso (também conhecido como regulamentação da mídia e das redes) e ideologia de gênero. O militante esquerdista também é conhecido por preferir a bandeira vermelha à bandeira nacional e pela defesa de regimes ditatoriais como os de Cuba, Venezuela, Nicarágua, Coreia do Norte e até Irã.

Mas como saber quem está na direita? Essa é uma pergunta difícil de responder, embora seja possível listar algumas das correntes políticas geralmente consideradas de direita: conservadorismo (os conservadores foram os primeiros a se opor ao radicalismo do revolucionário francês de 1789), liberalismo (e aqui falamos do liberalismo clássico, na tradição de Adam Smith e John Locke, e não daquilo que os americanos de hoje chamam de liberalismo e que é, na verdade, esquerdismo), libertarianismo e anarcocapitalismo.

Onde entram os social-democratas nessa história? Por mais que isso possa desagradar a alguns, social-democracia é uma corrente de esquerda. Ela nasceu com a Sociedade Fabiana, um grupo de intelectuais do século XIX que defendia a implantação gradativa do socialismo através da evolução das políticas públicas, ao invés de uma revolução violenta.

No cenário geopolítico desse início de século XXI, a oposição entre esquerda e direita é, principalmente, uma oposição de visões sobre a relação entre Estado e indivíduo. Esquerdistas acreditam na necessidade de um Estado gigante, onipresente, intrusivo e todo poderoso, que controle o comportamento dos indivíduos nos mínimos detalhes, garanta a absoluta igualdade patrimonial (o que implica necessariamente no fim do direito à propriedade), regule o que as pessoas pensam e dizem (com a justificativa de combater “discurso de ódio”, um termo cuja definição é privilégio do Estado) e seja o planificador e controlador de todas as atividades econômicas. Essa é a marca do esquerdista: a crença na subordinação do indivíduo à máquina do Estado e no controle desse Estado por uma minoria de iluminados.

Esquerdistas trabalham pelo crescimento da máquina estatal, pelo aumento da cobrança de impostos (que, eles acreditam, ajudará a reduzir a “desigualdade”), pela imposição de regulações estatais cada vez mais complexas e pela subordinação dos direitos individuais à conveniência e vontade do Estado (que pode impor censura “só até o final do mês” ou “afastar garantias” quando quiser). Políticas que defendem essas ideias são políticas de esquerda.

Pensadores e políticos de direita defendem a supremacia do indivíduo sobre o Estado; para eles a justificativa essencial para a existência do Estado é a defesa dos direitos individuais, principalmente vida, liberdade e propriedade. Essa é a marca do direitista: a convicção de que o Estado deve ser tão enxuto quanto possível, de que seu poder deve ser submetido a controles e limites claros e de que a legitimidade de um governo é derivada do consentimento dos governados.

A posição ideológica dos políticos deve ser avaliada pelas ideias que eles abraçam e pelas políticas que eles apoiam, e não pelo rótulo que eles escolhem adotar. Um parlamentar que aprova uma lei para punir humoristas por piadas não é um político de direita. Políticos que apoiam a expansão da máquina do Estado não são políticos de direita. Congressistas que apoiam “regulação” de redes sociais com a desculpa de combater “adultização” de crianças (um neologismo tolo e sem qualquer significado) não são de direita.

Para ser “de direita” não basta – e talvez nem seja necessário - ser religioso, defender as tradições e cuidar de uma família; a marca que distingue o pensamento de direita é a defesa dos direitos individuais das garras do Estado.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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