sexta-feira, 31 de outubro de 2025

John Maynard Keynes, o “santo padroeiro” do planejador central.

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 30 de outubro de 2025

John Maynard Keynes, o “santo padroeiro” do planejador central.

 Artigo de C. J. Maloney, publicado pelo Instituto Mises:

Conversando com um economista morto

“Keynes não era um democrata, mas via a si mesmo como um possível membro de uma elite governante iluminada.” — James Buchanan e Richard Wagner (1977)

A afirmação de que “agora somos todos keynesianos” já é um fato amplamente estabelecido e, se você tivesse conhecido o próprio homem, há grandes chances de que teria gostado dele. O barão John Maynard Keynes não é apenas o economista mais famoso e influente de nosso tempo, ele foi, provavelmente, o mais carismático de sua era. Formado em Matemática em Cambridge, Keynes era expansivo, generoso com os amigos, um conversador brilhante e, sem dúvida, um homem de gênio. No entanto, após ler seu magnum opus, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, devo (com certa relutância) confessar que, do ponto de vista econômico, fiquei pouco impressionado. Reconheço que essa confissão me coloca no chamado “extremo lunático” da economia e, por isso, tudo o que posso fazer é pedir desculpas e apontar para o que está escrito.

Keynes inicia o livro afirmando: “as ideias aqui expressas com tanto esforço são extremamente simples”, e isso, de fato, é a mais pura verdade. Após percorrer quase quatrocentas páginas infladas e escalar montanhas de fórmulas matemáticas, o que resta é um simples apelo à inflação, o mesmo clamor que se ouve repetidamente desde o início da história monetária. A chamada “Revolução Keynesiana”, inaugurada por essa obra, nada mais fez do que desenterrar um cadáver e proclamá-lo como um recém-nascido; não se trata tanto de um tratado de economia, mas de uma proposta de política inflacionária, já que “não há outro remédio senão convencer o público de que queijo verde é praticamente a mesma coisa que dinheiro, e manter uma fábrica de queijo verde (isto é, um banco central) sob controle público”. Ter sido publicado em meio à Grande Depressão fez com que a promessa do livro de que, “se o dinheiro pudesse ser cultivado como uma colheita ou fabricado como um automóvel, as depressões seriam evitadas” se tornasse irresistível. E assim, A Teoria Geral foi recebida com hosanas.

Contudo, é preciso um alerta: A Teoria Geral possui uma reputação merecida de ser um livro notoriamente difícil de ler, pois Keynes esqueceu que o dever primordial de um escritor é a clareza. A leitura dá a impressão de ter sido escrita por alguém que tentou aprender o inglês, mas nunca chegou a dominá-lo completamente e o problema se agrava porque o estilo de Keynes pode ser descrito à semelhança do caixeiro da história “Três Anos”, de Tchekhov, aquele que “gostava de obscurecer sua fala com palavras eruditas, que entendia à sua própria maneira, e havia muitas palavras comuns que frequentemente empregava em um sentido diferente daquele que realmente possuíam”.

O livro é escrito de maneira tão descuidada que Keynes frequentemente parece confundir a si mesmo. Por exemplo, ele afirma que poupança e investimento são “duas atividades essencialmente diferentes”, mas, mais adiante, observa que “são apenas aspectos distintos da mesma coisa”. A obra está repleta dessas contradições que fazem o leitor franzir a testa, embora também proporcione algumas risadas involuntárias, como quando o autor comenta como uma “catástrofe como guerra ou terremoto” destrói o capital, para depois argumentar que “a construção de pirâmides, os terremotos e até as guerras podem contribuir para o aumento da riqueza”.

O que mais chama atenção nesse livro é sua atitude hostil em relação à liberdade de escolha e à propriedade privada. E, nesses pontos concretos do cotidiano, Keynes foi cristalino. A planificação central e a inflação são os heróis de seu sistema. A liberdade de escolha e a proteção da propriedade aparecem como vilões, e Keynes os ataca repetidamente com entusiasmo. Ele escreveu: “O equilíbrio, sob condições de laissez-faire, será aquele em que o nível de emprego é suficientemente baixo e o padrão de vida suficientemente miserável”. E ainda: “Essa conclusão perturbadora depende, é claro, da suposição de que a propensão a consumir e a taxa de investimento não são deliberadamente controladas pelo interesse social, mas deixadas, em grande parte, às influências do laissez-faire”. Keynes encerra o livro com um chamado que reflete bem o espírito de sua época: “Concluo que o dever de ordenar o volume corrente de investimentos não pode ser deixado com segurança em mãos privadas”.

Isso representaria uma enorme ampliação do controle político sobre a vida das pessoas, mas, segundo escreve Keynes, essa intervenção oferece uma promessa: “a poupança comunitária, por meio da ação do estado, deve ser mantida em um nível que permita o crescimento do capital até o ponto em que ele deixe de ser escasso”. Afinal, “(…) não existem razões intrínsecas para a escassez de capital” e, utilizando a “vontade comum, incorporada na política do estado”, seria possível fazer o capital fluir como água “em uma ou duas gerações”.

A fé de Keynes nos homens empregados pelo governo é tão ilimitada quanto sua desconfiança em relação àqueles que não o são, e ele tem a esperança de ver o estado, “(…) que se encontra em posição de calcular a eficiência marginal dos bens de capital a longo prazo e com base no interesse social geral, assumir uma responsabilidade cada vez maior pela organização direta dos investimentos”. O fato de Keynes ter tanta confiança nessa capacidade do estado apesar de argumentar, apenas quinze páginas antes, que “(…) devemos admitir que nossa base de conhecimento para estimar o rendimento de um investimento daqui a dez anos (…) é pequena e, às vezes, inexistente; ou mesmo daqui a cinco anos (…)” foi um dos momentos mais engraçados do livro. Mas existem momentos nos quais não é possível rir, mas sim reprovar.

É no último capítulo do livro, “Notas conclusivas sobre a filosofia social para a qual a Teoria Geral pode conduzir”, que se chega à fronteira que deve ser ultrapassada para chegarmos à utopia prometida. Assim como em outros sistemas políticos populares de sua época, os ricos são proibidos de entrar nesse paraíso vindouro. Keynes argumenta que, uma vez que suas conclusões eliminam a necessidade de existirem pessoas ricas para poupar dinheiro e financiar o crescimento futuro (tarefas que seriam assumidas pelo estado), então “uma das principais justificativas sociais para a grande desigualdade de riqueza é, portanto, removida”. Quanto aos financistas e empreendedores, Keynes insiste que estes “(…) certamente são tão apaixonados por seu ofício que seu trabalho poderia ser obtido por um custo muito menor do que o atual, sendo colocado a serviço da comunidade em termos razoáveis de recompensa”. As massas trabalhadoras, por sua vez, também devem se contentar com “termos razoáveis de recompensa”, pois Keynes deseja “(…) convocar a geração viva a restringir seu consumo, a fim de estabelecer, com o tempo, um estado de pleno investimento para seus sucessores”.

No agregado (para roubar um termo amado por Keynes), tudo isso se resume à planificação central dos investimentos, das rendas e do consumo da sociedade, o que significa que o estado será o grande capitão, atuando “…em parte por meio de seu sistema de tributação, em parte fixando a taxa de juros e, talvez, de outras formas”. E, imitando a promessa sem sentido marxista do “definhamento do estado”, que supostamente ocorreria quando “o povo” estivesse no poder, Keynes promete que, uma vez que a classe política passe a controlar todas essas decisões, “(…) a teoria clássica [isto é, o livre mercado] voltará a ter validade a partir desse ponto”. Embora seja inevitável perguntar: o que restaria nesse ponto? Aparentemente, não a liberdade de ter filhos, pois Keynes acrescenta outra promessa, que seu sistema estabeleceria a paz mundial, uma vez que as nações aprendessem “(…) a garantir pleno emprego por meio de sua política interna e, devemos acrescentar, caso também consigam alcançar equilíbrio na tendência de sua população”.

Keynes adoça essa utopia lamacenta prometendo que ela ainda será “bastante compatível com certo grau de individualismo”, mas insiste que o benefício trazido pela “eutanásia do poder cumulativo e opressivo do capitalista de explorar o valor de escassez do capital” é uma troca justa. Em nome da justiça, é verdade que Keynes afirmou, próximo ao final da Teoria Geral, que a perda da escolha individual, algo que ele próprio passara o livro inteiro defendendo que deveria ser severamente limitada, “é a maior de todas as perdas no estado homogêneo ou totalitário”, mas ele também fez questão de lembrar seus leitores (no prefácio da edição da Teoria Geral publicada na Alemanha nazista) de que as ideias contidas nesse livro tão celebrado “são muito mais facilmente adaptáveis às condições de um estado totalitário” do que o seriam “sob condições de livre concorrência e ampla prática de laissez-faire”.

O Keynes que escreveu A Teoria Geral não era um economista, mas sim um sonhador utópico, que afirmou que “a única cura radical para a crise de confiança que aflige a vida econômica do mundo moderno seria não permitir ao indivíduo qualquer escolha” sobre como dispor de seu próprio salário. Em troca, a chamada Revolução Keynesiana prometia um futuro livre de preocupações, no qual o estado tomaria decisões sempre sábias em nome do “povo”, permitindo que este desfrutasse de uma enorme quantia de consumo interminável, em um mundo despreocupado, onde o capital seria tão barato e abundante quanto o próprio ar que respiramos. Mas, e isso o leitor atento do livro deve perceber, ainda que o capital possa ser tornado “gratuito” em termos monetários, ele custará uma fortuna em outras formas de pagamento, muito mais valiosas.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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