Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 5 de outubro de 2025
Sociedade brasileira está presa no labirinto da delinquência nacional
Há muito tempo o país não se encontra tão emaranhado nos labirintos do poder em Brasília. Luiz Felipe Pondé para a FSP:
Haverá mais "pensamento crítico" nas décadas em que os seres humanos terão de competir e conviver com as tais inteligências artificiais? De onde tiraram essa ideia?
Perguntas como essas são delicadas de responder numa era em que a destruição do pensamento público é levada a cabo não só pela estupidez das ideologias políticas mas, também, pela ciência do marketing, essa devoradora de almas.
A delicadeza exigida por perguntas que se referem ao que de especificamente humano haveria de ser "preservado e desenvolvido" num mundo dominado pela IA se deve ao fato de que nos tornamos animais do ressentimento, e este, hoje, é monetizado.
Mentir para não ferir nosso coração ressentido é, desde o ridículo século 21, uma ciência de mercado e lei. O fato é que não temos a mínima ideia do que existe de essencialmente humano a ser preservado e desenvolvido em nós, a não ser ideias clichês, e uma delas é o tal do "pensamento crítico".
Mas, deixando de lado o medo de ferir esse coração desejoso de autoestima baseada em mitos que não chegam aos pés dos mitos antigos em dramaticidade, temo que esse tal "pensamento crítico" seja uma realidade da família dos gnomos, isto é, gente grande não deveria levar a sério.
Não nego que haja ou que tenha havido algum tipo de "pensamento crítico" na experiência humana —como um filósofo. Seria meio esquisito negar universalmente tal experiência, mas é sempre episódico, quase um milagre, fruto de um esforço semelhante a uma ascese. Como diria o grande Nelson Rodrigues, a respeito da razão, "uma ascese como a santidade".
A experiência é mais aparentada ao desespero do que a esperança numa humanidade melhor. Portanto, nada tem a ver com o glamour do que há a ser "preservado e desenvolvido" na experiência humana em um mundo que é dominado pela IA, no que tange à cadeia produtiva.
O mais perto que chegamos ao objeto que teria como representante linguístico a expressão "pensamento crítico", hoje mais do que nunca, seria identificá-lo com o que concorda com o que nós julgamos correto. Num espírito aparentado à filosofia baconiana, pensar é pensar contra nós mesmos, contra nossos ídolos, e essa ideia foi abandonada há algum tempo, talvez mesmo pelo próprio Bacon ao iniciar a linhagem ética em que pensar é um ato a favor do nosso bem-estar.
O que significaria um "pensamento crítico" nesse território ainda pouco desbravado da IA? Criticar as expectativas demasiado humanas de que a IA nos faça mais ricos e mais produtivos? Chamar a atenção dos ricos para o aumento de desigualdade social causada pela desigualdade de acesso à tecnologia? Ou repetir a ladainha de que os alunos deixarão de ler? Quase ninguém nunca leu nada para além da leitura funcional.
A atividade da leitura não pegou na nossa espécie. A educação pública brasileira, em sua maioria, mal consegue ensinar aos alunos fazer contas e ler legendas na televisão. Como esperar que essa educação ofereça solução para a imensa desigualdade geopolítica que a IA poderá gerar?
Afora as bravatas da moda no governo federal, pouco resta. O Brasil é um país que dormita na inércia histórica, afundado na corrupção e no oportunismo das classes dirigentes que gozam com as próprias palavras ditas em ritos públicos. Um país em coma —que delira com um "Lula Gandhi", que vergonha, meu Deus!—, em cuja enfermaria são penduradas bandeirolas coloridas de tom festivo.
Um país imerso num zumbido que mais lembra uma colmeia de abelhas do que um movimento real em busca de soluções. A vaidade nacional é um atestado da vergonha nacional. Voltando ao tal do "pensamento crítico".
Talvez um pequeno guia de sobrevivência na selva da ausência total de pensamento nos ajude. Preste atenção. Se você usa alguma dessas expressões abaixo, busque ajuda profissional.
"No mundo só os homens brancos ficam mais ricos. A culpa do aquecimento global é do patriarcado. Não quero ter filhos por culpa do patriarcado. A maternidade é uma forma de opressão. A extrema direita leva a pessoa à doença mental. Os globalistas querem dominar a Disney. As vacinas contra Covid-19 matam pessoas até hoje. Minha mãe é uma fascista porque reclama de mulher trans no banheiro feminino. O STF é globalista. Estou deprimido porque Trump é presidente. O Mickey e o Pateta são fascistas. Masculinidades. O homem do século 21 é vulnerável."
Há muito tempo o Brasil não se encontra tão emaranhado nos labirintos do poder em Brasília. A sociedade brasileira, tal qual o Minotauro de Creta, presa nesse labirinto da delinquência nacional, se exaure em tentativas malsucedidas de fazer uma sociedade mais realista e adulta.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com
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