Malala defende que a educação é o melhor investimento
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Publicado originalmente no site da revista Época Negócios, em 09/07/2018
"A melhor vingança que posso ter é educar todas as
crianças do mundo"
Malala Yousafzai, prêmio Nobel da Paz, defende em São Paulo
a importância da educação para o empoderamento feminino
Por Elisa Campos
Era 9 de outubro de 2012. Um ônibus escolar paquistanês foi
parado por membros do Talibã, na região de Swat. O alvo era uma garota de 15
anos. A punição, um tiro na cabeça por defender o direito de as mulheres
estudarem. Mas Malala Yousafzai não morreu naquele dia. A bala destinada a
calá-la fez com que nascesse uma das mais importantes e influentes vozes a
favor da educação feminina no mundo. Malala sobreviveu, continuou sua luta e se
tornou a pessoa mais jovem a ganhar um prêmio Nobel: o da Paz, aos 17 anos.
Hoje vive na Inglaterra e estuda em Oxford. Ao mesmo tempo, mantém um fundo
cujo objetivo é acabar com os obstáculos que impedem mais de 130 milhões de
meninas de irem à escola ao redor do globo.
Quando questionada se tem sede de vingança pelo que lhe
aconteceu, a paquistanesa que precisou abandonar sua terra natal evita o
discurso de ódio. "A melhor vingança que posso ter é educar todas as
crianças do mundo. Inclusive as das famílias daqueles que me atacaram",
disse, nesta segunda-feira (09/07), em um debate sobre educação e empoderamento
feminino promovido pelo Itaú, em São Paulo. "Você perde energia quando
fala com raiva. Transmitir a mensagem de maneira pacífica tem poder. É possível
que a resposta não seja rápida, mas você não será ignorado".
Malala conta que sua vida mudou quando ela acordou, após o
ataque do Talibã. "Eu percebi que educação era mais do que ler e escrever.
Era a maneira de as meninas se empoderarem. Desde então, tenho lutado pela
educação feminina." Como gosta de dizer, "uma criança, um professor,
uma caneta e um livro podem mudar o mundo".
E as mulheres precisam fazer parte dessa mudança. "A
diversidade traz beleza. Celebrá-la nas escolas é muito importante. É o que faz
as crianças acreditarem que podem ter qualquer sonho, independentemente de
gênero, cor ou etnicidade", afirma. "A diversidade promove a
tolerância. Com ela, deixamos de acreditar em estereótipos."
Ao comentar os desafios que enfrentamos na vida, a jovem
paquistanesa ressalta que além dos externos, como o extremismo, temos também de
enfrentar os internos. "É muito comum as mulheres subestimarem o poder de
sua voz. Em Oxford, é normal ver os homens se mostrarem exageradamente
confiantes, convictos, mesmo quando estão errados. Já as mulheres não
demonstram esse tipo de confiança."
Família
No caminho percorrido de criança a ativista, Malala conta
que seus pais foram fundamentais. Sua mãe foi a grande fonte de inspiração. Ao
contrário da filha, ela não estudou. Durante muito tempo, sequer sabia ler.
"Ao contrário de várias das histórias que ouço, na minha casa, quem fazia
as leituras era eu. Eu lia para a minha mãe. Quando ela era ainda criança,
vendeu seus livros e abandonou os estudos. Ela é um dos motivos pelos quais eu
luto", diz.
A jovem também elogia bastante a postura de sua família.
"Eu não tinha nada de especial em relação a minhas colegas de escola.
Várias delas defendiam a educação feminina. A diferença é que meus pais não me
pararam, não impediram de falar." Para ilustrar o argumento, Malala conta
a história de uma amiga. Como os irmãos dela eram contra sua ida ao colégio,
muitas vezes ela chegava atrasada, pois só conseguia sair de casa depois que
eles também tivessem feito o mesmo. "Meu pai antes de se tornar um pai
feminista precisou lutar contra si mesmo para não tratar sua filha como sua
família havia tratado suas irmãs, impedindo-as de estudar."
Eleições brasileiras
Falando para uma plateia lotada, uma boa parte dela formada
por jovens, Malala tentou inspirá-los e motivá-los. "Eu sei que há hoje
muita raiva e desesperança por conta da situação econômica e política no
Brasil, mas os ativistas têm o poder de trazer mudanças para a sociedade",
diz. "Quando morava em Swat, eu não ficava esperando que alguém falasse
por mim e defendesse o que eu acreditava. Vocês deveriam fazer o mesmo:
acreditar em vocês e no poder da sua voz."
Uma das batalhas para este ano, segundo ela, deveria ser
influenciar o debate político. "Numa eleição, a educação feminina deveria
ser um das prioridades", afirma. "Termos mais mulheres educadas
significa mais crescimento econômico e mais desenvolvimento." Nos próximos
dias, Malala adiantou, seu fundo deve anunciar parcerias para atuar no Brasil.
Aliás, é assim que ela se despede, encerrando o debate: "eu estou com
vocês, brasileiros".
Malala pretende conquistar no Brasil novas vitórias. Que um
dia elas sejam tantas que permitam que a jovem possa voltar a pisar em Swat. Em
março deste ano, ela retornou pela primeira vez ao Paquistão desde o ataque de
2012. A ida à região onde morava, no entanto, ainda não foi possível por razões
de segurança. As saudades são muitas. Aqui, em São Paulo, Malala elogiou a água
brasileira, em comparação com a da Inglaterra. "Tem o gosto parecido com a
da minha terra."
Texto e imagem reproduzidos do site: epocanegocios.globo.com
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