Bandeira do Brasil manchada de "sangue" em protesto político em 2018.
MAURO PIMENTEL VIA GETTY IMAGES
Publicado originalmente no site Huff Post Brasil, em 17/09/2018
O alvo somos nós
A política virou alvo de abomináveis facadas e atentados a
bala, o que leva uma democracia à beira de sua escuridão.
Eduardo Mufarej Fundador do RenovaBR
Os eventos recentes jogam luz em um cenário preocupante: a
política brasileira virou alvo.
Virou alvo de abomináveis facadas e atentados a bala, o que
leva uma democracia à beira de sua escuridão.
Mas isso é apenas parte do problema. Virou alvo também do
descrédito, da desesperança, do voto estimulado pela raiva — ou, até pior, do
não voto. Nada pode ser mais corrosivo para um sistema democrático.
Se a política vira alvo, nós viramos vítima.
Neste primeiro ano à frente do RenovaBR, tive o privilégio
de olhar para a outra face da política — a face da renovação e da esperança.
Conheci a jovem que saiu da periferia de São Paulo para
estudar astrofísica em Harvard e agora é candidata a deputada federal. O rapaz
que impactou a vida de mais de 40 mil pessoas com programas educacionais de
excelência e decidiu concorrer ao Legislativo. Dezenas de pessoas comuns que
fazem pequenos milagres Brasil afora e agora sonham em transformar o País por
meio da política.
Exemplos como esses — e tantos outros que darão cores
vibrantes a estas eleições — são prova de que não podemos transformar essa
atividade em alvo. Dizer que política é lugar de corrupto ou palco para
demonstrações de ódio é o mesmo que dizer a essas pessoas comprometidas e
realizadoras: volte para casa, a política não é o seu lugar.
Falar que "político não presta" é uma maneira
bastante eficaz de transformar essa frase em verdade, afastando potenciais bons
políticos.
Pude ver de perto, ainda, como essa criminalização da
política atrapalha de maneiras sutis a sua renovação. Uma das maiores
dificuldades que as novas lideranças encontram, por exemplo, é a falta de
financiamento para suas candidaturas.
Se o dinheiro sujo da velha política parece nunca faltar, as
campanhas limpas — pagas por pessoas comuns que acreditam no País — sofrem com
a escassez de recursos. E por quê? Porque muitos possíveis doadores têm medo de
se associar à política. Não querem colocar os pés nesse lugar tão mal falado.
E, assim, eles deixam de tomar a atitude profundamente cívica e democrática que
é apoiar ideias por meio da força da sociedade civil. Novamente: a cada vez que
atacamos a política, deixamos o caminho mais livre para os maus políticos.
Os maus políticos já têm armas suficientes para se agarrar
ao poder. Lembro agora que, tão logo o RenovaBR surgiu, um deputado pediu a
instauração de uma CPI para investigar a iniciativa. Uma vez que a ONG sequer
existia na prática, só posso imaginar que o que assustou o parlamentar tenha
sido o nosso nome, mesmo.
A renovação não se deixou intimidar, e fomos em frente. Mas
definitivamente não devemos dar ainda mais força ao atraso, turvando o cenário
com descrença e polarização. A boa política pede águas claras, transparência.
Todos esses ataques e atitudes antidemocráticas me dão a
certeza de que nunca foi tão importante acreditar no voto, na democracia e na
política. A mudança que queremos tem tudo para acontecer, mas depende desta
matéria-prima: a coragem de acreditar.
Apesar da seriedade da situação do País, tempestades tendem
a ser o prenúncio de dias ensolarados. Estas eleições podem ficar marcadas como
um ponto de virada para a tão ansiada renovação parlamentar, graças às centenas
de candidatos sérios e preparados que têm boas chances de ocupar cadeiras na
próxima legislatura.
Creio que os ares do Congresso sejam bem mais respiráveis em
2019.
Portanto, da próxima vez que você sentir aquela vontade de
atacar a má política, faça da forma mais eficiente: acredite, vote, doe e dê força
à boa política.
Abrace a política.
Porque, sempre que ela se torna alvo, quem sangra somos nós.
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário