Imagem reproduzida do Google e postada pelo blog,
para simples ilustração do presente artigo
Texto publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 19/11/2018
A vida curta dos outsiders
Por Marcos Cardoso (Blog Infonet)
Antônio Carlos Valadares e Jackson Barreto tiveram a coragem
de encarar a síndrome do velho político que desafia as urnas e perderam. Da
mesma forma que Leandro Maciel em 1974, Lourival Baptista em 1994, Albano
Franco em 2010 e João Alves Filho em 2016.
Namoraram com o perigo de colocar-se diante do julgamento
popular quando já não contavam com o vigor da juventude para se apresentarem a
uma cada vez mais impaciente audiência de eleitores e despencaram no cadafalso
da senilidade.
O engenheiro civil Leandro Maynard Maciel foi um dos
políticos mais influentes de Sergipe no século 20, capaz de dividir as paixões
estaduais entre as décadas de 30 e 70. Foi o nome que melhor se identificou com
a poderosa União Democrática Nacional, a UDN. Deputado federal em três
mandatos, governador de 1955 a 1959, era senador em segundo mandato, em 1974,
quando não soube parar e queria se perpetuar no poder.
Contava já quase 77 anos quando se submeteu ao último
pleito, agora pela Arena, sendo derrotado pelo jovem médico propriaense João
Gilvan Rocha, do MDB, então com 42 anos. Uma surpresa até para o regime militar
naqueles tempos de campanha eleitoral restrita e vigiada e censura à Lei
Falcão.
Vinte anos depois, o vexame se repetiu. Desta vez com
Lourival Baptista, que em 1994 queria ir para o quarto mandato senatorial
seguido. Ele tinha sido deputado estadual, prefeito de São Cristóvão e deputado
federal duas vezes, mas chegou ao topo da carreira quando foi governador, o
primeiro escolhido pelo regime militar.
Lourival governou até o dia 14 de maio de 1970, quando se
afastou para disputar o Senado. Ocupou a câmara alta por três mandatos, de 1971
a 1994, sendo que o segundo mandato de senador não foi conquistado nas urnas,
mas por indicação. Foi um dos senadores biônicos pós Pacote de Abril de 1977,
uma resposta dos militares ao resultado daquela eleição de 1974.
Em suma, Lourival foi um político relevante, o governador
sergipano mais poderoso durante o regime. Mas no derradeiro pleito eleitoral
que disputou, em 1994, perdeu o bonde da história para o petista José Eduardo
Dutra. O velho político já contava com 79 anos, contra os 37 anos do jovem
geólogo do PT.
Albano Franco sofreu a derrota definitiva em 2010, quando
tentava retornar aos tapetes vermelhos do Senado, onde já havia pisado em dois
mandatos anteriores. Homem bem-sucedido na política e na economia, além de
deputado estadual, deputado federal, governador em dois mandatos, de 1995 a
2002, foi presidente da toda poderosa Confederação Nacional da Indústria por 14
anos sucessivos.
Albano estava às vésperas de completar 70 anos quando foi
derrotado pelo jovem médico e deputado federal Eduardo Amorim, que tinha 47
anos. Sabiamente, engoliu a derrota e decidiu aposentar-se das disputas
eleitorais, embora continue participando das discussões políticas.
Fiquemos nesses três casos de grandes políticos, que
chegaram a governar o Estado e perderam a eleição para o Senado na disputa com
um outsider. A história se repetiu agora com o delegado da Polícia Civil de
Sergipe Alessandro Vieira, que se elegeu pela Rede derrotando Valadares e
Jackson. O segundo eleito foi o médico e ex-deputado federal Rogério Carvalho,
do PT, que não pode ser considerado um outsider, porque sempre foi político,
deputado estadual e deputado federal.
O ex-governador Antônio Carlos Valadares, 75 anos
completados no dia 6 de abril, está no Senado já há mais de 23 anos, onde
sempre se destacou, mas já não guardava o mesmo ânimo e poder de convencimento
para tentar permanecer. Jackson Barreto, 74 em 6 de maio, deixou o governo de
Sergipe sem conseguir realizar a obra que gostaria e entrou na campanha marcado
pelo anúncio feito em 2014 de que aquela seria sua última eleição.
Mas é bom o senador eleito Alessandro Vieira se acautelar
para os caminhos e descaminhos da política, porque a história não tem sido
indulgente com os senadores outsiders, aqueles que não pertenciam a um grupo
político determinado ou ainda eram novatos nas artimanhas do poder.
O Médico Gilvan Rocha, o que derrotou Leandro Maciel, foi
senador de 1975 a 1983. Candidatou-se ao governo do Estado em 1982 e perdeu
para João Alves, saindo definitivamente da política.
O geólogo Eduardo Dutra, que derrotou Lourival Baptista em
1994, foi senador de 1995 a 2003. Já possuía experiência na política, na
militância sindical e partidária, e por já ter disputado o governo em 1990,
sendo derrotado por João Alves. Sofreu segunda derrota para João em 2002 e
também perdeu para Maria do Carmo Alves em 2006, em nova disputa para o Senado.
Foi presidente da Petrobras e da Petrobras Distribuidora, mas só conseguiu
eleger-se naquela única vez, em 94.
O médico anestesiologista Eduardo Amorim era de fato um
outsider quando se elegeu deputado federal em 2006, batendo um recorde de
votação. Em 2010 foi novamente muito bem votado para o Senado, mas agora perdeu
a eleição para Belivaldo Chagas, o quarto governador que vem das terras de
Simão Dias. É claro que Eduardo não está aniquilado para a política, mas terá
que remar muito para tentar voltar ao estrelato.
O jovem gaúcho Alessandro Vieira, 43 anos, tem que aprender
primeiro uma lição: a política exige que você tenha lado. Talvez muitos dos
seus 474 mil eleitores não simpatizem com o seu apoio a Bolsonaro e um suposto
namoro com o partido do presidente eleito, o PSL, já abandonando o partido pelo
qual se elegeu. A Rede não é exatamente um partido de direita ou bolsonarista.
Delegado Alessandro também já é apontado como
futuro integrante da “bancada da bala”, que dobrará de tamanho e terá mais de
100 representantes no Congresso no próximo ano. O tempo dirá se ele está certo
nas suas escolhas ou se sucumbirá à sina dos senadores outsiders
Texto reproduzido do site: infonet.com.br
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