Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 22
de maio de 2021
O elogio da mentira
Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de
domingo, 23 de maio:
O general Pazuello mentiu seguidamente no depoimento à CPI
da Covid. Sabe que mentiu: disse que Bolsonaro nunca lhe deu ordens, quando ele
já havia dito (e escrito), ao cancelar contrato de compra de vacinas, que “um
manda e outro obedece”. Ele disse que o Brasil, desde o primeiro momento, disse
à Pfizer que queria comprar vacinas. Ele sabe (e isso foi dito não apenas por
um colega de Governo, Fábio Wajngarten, como pelo chefão da Pfizer, Carlos
Murillo) que por dois meses o Brasil ignorou as ofertas da Pfizer. E sabe
também que sua omissão está documentada. Por que, então, mentiu?
Porque é essa a tática usada por Jair Bolsonaro &
Filhos: mentir, mentir, mentir, que algumas pessoas vão pensar que é verdade.
Há bolsonaristas que, periodicamente (com o mesmo texto), dizem que a FDA, a
agência dos EUA respeitada por sua seriedade, aprovou a cloroquina para
tratamento da Covid. Falso: o que houve (é só olhar no site www.novartis.com) é
que a Novartis, grande produtora de cloroquina, pediu à FDA que estudasse o
remédio. Por que, então, insistir na mentira? Por questão de método. O uso de
mentiras, amplamente divulgada por redes sociais, é descrito no livro Os
Engenheiros do Caos, de Giuliano da Empoli. Antes disso, trocando as redes
sociais pelo rádio, foi usado por um professor alemão que fez muito sucesso.
Depois do sucesso, o alemão Goebbels matou os seis filhos e
a esposa e se suicidou, para que os Aliados, vencedores da 2ª Guerra Mundial,
não o capturassem.
As narrativas
A mentira não é chamada de “mentira”, mas de “narrativa”.
Exemplo: a omissão do Governo (e de seu ministro da Saúde, Pazuello),
comprovada por documentos, é desmentida pelo general. Sua frase, de que já
tinha dito cinco vezes que não houve omissão, foi transmitida pelos blogueiros
bolsonaristas como “Pazuello desmoraliza Renan”. A narrativa é que Pazuello
humilhou a oposição por falar, quando esperavam que ficasse em silêncio, e foi
vestido de civil, quando esperavam que fosse de farda. Quem pediu ao Supremo o
direito de calar-se foi ele. Quem falou em farda também foi ele. Mas a
narrativa é de que o valente general esfregou a verdade na cara da CPI. O fato,
sem narrativa, é que sem o habeas corpus ele sairia preso de lá.
Frente a frente
Seria ótimo promover uma acareação entre três membros do
Governo: o publicitário Fábio Wajngarten, que disse que Bolsonaro ignorou
ofertas de vacinas; o diplomata Ernesto Araújo, que confirmou a ordem do
presidente de negociar a importação de cloroquina; e Pazuello. É provável que a
tal “síndrome vasovagal”, que dizem que teve e levou à interrupção da sessão da
CPI, acabe sendo chamada pelo nome mais popular.
Dilmismo bolsonarista
O então deputado Jair Bolsonaro disse que, para o país tomar jeito, era preciso que morressem umas 30 mil pessoas. Donde se conclui que o general Pazuello atingiu a meta, dobrou a meta e dobrou-a de novo até ser afastado.
Panorama eleitoral
Três pesquisas de institutos diferentes coincidem e indicam
o crescimento rápido da candidatura de Lula à Presidência. A primeira, do
IPESPE-XP, foi divulgada em 11 de maio. O objetivo da XP, uma corretora, não é
político: é dar indicações da situação a investidores. Mostrou que a rejeição a
Bolsonaro ultrapassava 50% e que Lula já empatava com ele. A segunda, do
Datafolha, divulgada no dia 12, mostrava Lula em primeiro lugar no primeiro
turno, e vitorioso no segundo. A terceira, da Vox Populi para o ótimo jornal
virtual Metrópoles, de Brasília, dá Lula vitorioso no primeiro turno, por 43 a
24%. Junte-se a isso o esforço de Lula para se aproximar do centro político.
Conversou com Fernando Henrique, que disse ser contra a polarização.
Mas, se houver a disputa Lula x Bolsonaro, vota em Lula. A
seu ver, o mal menor.
Mas ainda é cedo
Falta quase um ano e meio para a eleição. Até lá, Bolsonaro
tem a caneta na mão. Um bom aumento no auxílio-Covid certamente lhe dará votos.
Espera-se que a vacinação se amplie e o número de mortos por Covid se reduza.
Passa-se o tempo e o eleitor tende a esquecer o descaso com a saúde dos vivos e
o desrespeito do presidente pelos mortos. O jogo não acabou. Só que a vantagem
que Bolsonaro tinha já se evaporou.
Centro rachado
Enquanto isso, os políticos da centro esquerda à centro
direita continuam discutindo o processo de escolha da candidatura. Pode até
acontecer de, por milagre, aparecer um candidato capaz de passar ao segundo
turno. Mas ACM Neto, do DEM, está irritado com Doria, que levou um prefeito
demista para o PSDB; Doria, apesar da vacina, não deslanchou; Tasso Jereissati,
que poderia ser um nome de união, não sabe se enfrenta Ciro, seu antigo
afilhado político.
Quem, diante de um quadro polarizado, não souber em quem
votar, que culpe o centro político, incapaz de se unir para combater os
extremos.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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